Educação é a chave para tudo!
Ao meio dia assistimos uma
reportagem mostrando o estado calamitoso que se encontram as escolas estaduais,
totalmente insalubres, inseguras, inadequadas para receberem crianças e
adolescentes.
A noite, assistimos reportagens
sobre ônibus sendo incendiados, falta de segurança e uma total inoperância das
forças públicas em tomarem atitudes que resolvam a situação.
As duas coisas estão intimamente
ligadas. A reportagem da noite é consequência direta da reportagem do meio dia.
Mas vivemos reféns de um governo que sucateia a educação e finge que está tudo
bem com a segurança, não assume a responsabilidade por nada, apenas aceita
passivo os infortúnios a que a população está passando. E a passividade se
incorpora na nossa cultura como um ranço, uma sujeira que de tão impregnada,
nos enche de preguiça de esfregarmos com força, talvez doa, mas estar limpo é
necessário, é o mínimo.
Por que falo isso no meu blogue
de paternidade?
Por que para ser o pai que a
Clara merece, preciso melhorar o cidadão que tenho sido. Eu a trouxe a esse
mundo, tenho a obrigação de melhorá-lo de alguma forma.
Acontece que a nossa cultura da
passividade, critica e condena qualquer movimento que se oponha ao status quo
da pasmaceira em que vivemos.
Nossa cultura passiva que aceita
quieta quando o governador aparece sorrindo dizendo que está tudo sob controle,
logo após o repórter noticiar o centésimo atentado terrorista em quinze dias, é
a mesma que propaga a cirurgia cesariana como uma maneira normal de se nascer.
Não é.
A aceitação acomodada destas duas
falácias, advém da nossa passividade em não nos educarmos a respeito de tudo o
que está acontecendo de grave ao nosso redor, e fingimos que é assim mesmo que
tem que ser, pois mudar dá muito trabalho.
Nada está sob controle, nada está
tranquilo, toque de recolher do transporte público não é normal, tanto quanto
bisturis e intervenções de toda sorte(ou seria azar?) também não são a maneira
ideal de se trazer uma criança ao mundo.
Por que misturei as coisas?
Por que me dei conta que as
mesmas pessoas que chamavam de vagabundos e baderneiros os estudantes que se
mobilizaram, tiraram suas bundas das cadeiras e foram às ruas reivindicar um
bem para toda a coletividade, combatendo as abusivas políticas de preço das
empresas de transporte público na grande Florianópolis, são as mesmas que hoje
me chamam de hippie e alienado pela minha defesa do parto natural e humanizado.
O cerne dos dois problemas é o
mesmo: EDUCAÇÃO!
Não nos instruímos a respeito,
não fomos ensinados a refletir e a ponderar. Aprendemos simplesmente a aceitar
o que se tem estabelecido como senso comum e ponto final. Não é assim que deve
ser. Devemos pensar, devemos questionar, devemos dizer, contradizer, devemos agir.
Os interesses única e
exclusivamente econômicos fizeram a grande maioria da população acreditar que
uma intervenção cirúrgica é melhor do que algo natural. O médico que te sugere
marcar a cirurgia cesariana, não está preocupado com o seu bem estar, está
preocupado com ele, com o próprio bolso, única e exclusivamente com seus
interesses pessoais. A cirurgia cesariana só é melhor do que um parto natural
em duas situações:
1 – Para o médico que está
cagando e andando para o fato de que aquele é um momento da mãe, do pai e da
criança, e pensa apenas na sua comodidade e no ganho financeiro em escala;
2 – Quando um dos dois reais
protagonistas, mãe ou bebê, correm alguma espécie de risco.
Mas nos disseram outra coisa.
Disseram para a mamãe que ela
pode escolher o signo e até o ascendente do seu bebê, veja só que coisa boa,
basta ela agendar a data do nascimento.
Ninguém falou que se a criança
nascer com data e hora marcada, ela está nascendo prematura. Não disseram que a
última etapa do desenvolvimento do aparelho respiratório da criança é exatamente o
nascimento, e antecipar o momento em que ambos os corpos – mãe e filho –
determinariam como correto, vai ocasionar naquela criança uma probabilidade
infinitamente maior de desenvolver uma série de problemas respiratórios do que
uma criança nascida naturalmente.
Disseram que gravidez planejada
envolve também o planejamento do parto, a mãe pode escolher o dia do nascimento
da vovó para a nova netinha, ou o pai pode coincidir o nascimento do filho com
o aniversário do seu time do coração. Que legal!
Ninguém falou que através de uma
intervenção cirúrgica agendada, a mãe vai ter muito mais dificuldade de
amamentar. Ninguém falou que o corpo da mãe está maturando junto com o da
criança, e que a ocitocina liberada na hora do parto será uma das grandes
responsáveis pela produção do leite, liberará a prolactina para que a mãe possa
iniciar de uma maneira mais tranquila e menos dolorosa, o lindo gesto da
amamentação.
Ao invés de alertarem a mãe que
uma cirurgia cesariana vai dificultar bastante o início da amamentação, disseram
que o hospital oferece um ótimo leite em pó para o bebê.
Disseram que parto normal dói e
que a cesariana é ótima, a mulher não sente nada.
Ninguém falou que a maior parte
da dor está ligada a relatos de mulheres que sofreram inúmeras violências
obstétricas, intervenções desnecessárias, sofreram muito com isso e foram convencidas de que
aquilo era parto normal. Ninguém falou que não precisa ser assim.Ninguém falou que cesariana é uma cirurgia, e como tal, traz consigo um alto risco de contaminação, de infecção hospitalar.
Hoje, seis meses depois de ter engravidado, fico com pena quando ouço alguém dizer que vai se submeter a uma cesariana eletiva. Por vários motivos.
Por que não tiveram acesso às
informações que estou tendo.
Por que médicos gananciosos,
inescrupulosos e obsoletos as convenceram de que aquele é o melhor caminho.
Por que aceitaram passivos o que
lhes foi passado por senso comum, sem questionar, sem averiguar, sem observar
com empatia o outro lado da moeda.
E talvez alguém que esteja aí
lendo e que defenda a cirurgia cesariana, esteja pensando que eu não estou
sendo empático para tentar entender os motivos desta opção.
Pelo contrário, eu não só
exercitei o me colocar no lugar do outro, como eu estive no outro lugar.
Até engravidarmos, nem no meu
pior pesadelo cogitaria um parto natural. Defendia a cirurgia cesariana e ponto
final.
Mas, ao engravidar, veio a
necessidade de me instruir a respeito de tudo o que cercaria a chegada da minha
filha, e nisso, eu me eduquei. A Priscilla teve a generosidade de me pegar pela
mão e me conduzir num mundo que eu não fazia ideia que existia, me ensinou, me
mostrou através de livros, textos, artigos, pessoas, profissionais, o quão
equivocada era a minha concepção de nascimento.
E sim, hoje, me tornei um “hippie
chato alternativo” para muitas pessoas.
Tanto quanto há alguns anos,
aqueles que ainda hoje são rotulados de baderneiros e vagabundos por muita
gente, garantiram a estas mesmas gentes o direito de transitarem de ônibus pelas
ruas e avenidas da nossa cidade com um valor de tarifa bem menor do que aquele
que pretendiam praticar a prefeitura e
empresas de transporte público.
Precisamos nos instruir,
precisamos nos educar.
Assim, na hora de votar saberemos
fazer nossas escolhas de maneira mais acertada.
Opções de gestores públicos melhores
do que as que hoje temos, hão de surgir se todos nos educarmos mais e melhor.
Parecem assuntos totalmente
distantes um do outro, mas não são tão longínquos assim, ambos caem no erro
pela passividade e falta de educação.
Não se permita deitar no conforto
da passividade. Se instrua, leia, busque, se informe.
O que está prestes a acontecer na
sua vida não é uma coisa qualquer, é o seu filho que vai chegar. A maneira como
você vai recebê-lo, fará uma grande diferença na vida dele desde o primeiro
momento fora da barriga da mamãe.
Nascer é algo muito mais bonito
do que um médico que segura numa das mãos o bisturi, e na outra ergue o seu
filho de cabeça para baixo, segurando-o pelos pezinhos. Seu filho não é um
pedaço de carne qualquer, não é uma paleta, um coxão mole, uma alcatra. Ele é
seu filho, preserve isso.
Unamo-nos, hippies, alienados,
baderneiros e vagabundos, no fim das contas, somos nós que mudaremos o mundo
para melhor.
Botemos o nosso bloco na rua!
"Para mudar o mundo, é preciso mudar a forma de nascer"
Michel Odent
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