Bom, voltemos então à ativa.
Hoje, depois do almoço, a Pri
estava dando uma passeada pelo Facebook e viu um post de uma amiga relatando
que, num local qualquer, haviam 9 babás com as respectivas crianças para as
quais fora contratada as suas supervisões, e apenas ela – a amiga - como mãe.
No mesmo post, uma outra amiga querida disse que, certa vez, indo passear no
Horto do Córrego Grande, ela barriguda do segundo filho e brincando com a
primeira filha naquele lugar lindo, observou três mães sentadas na sombra, e
suas crianças brincando cada uma com sua respectiva babá.
Nada contra, quem sou eu para
julgar alguém.
Ficamos apenas pensando no que
aquilo significava, o que aquilo representava tanto para a criança quanto para
a mãe. Qual o impacto de se terceirizar o cuidado e a proximidade com a
criança?
Sei que muitas vezes uma babá é
quase imprescindível, mas não me parece ser o caso das três mães sentadas à
sombra.
Um momento como esse é tão
singelo e bonito, se estabelece tanta cumplicidade, tanto carinho, que fiquei
com pena das mães por não estarem vivendo aquilo. Das crianças também, crianças
adoram quando seus pais estão perto, estão para eles e mais nada nem ninguém.
Inevitavelmente, fiz uma viagem instantânea
à minha infância.
Tive uma infância maravilhosa,
cresci num quintal cheio de árvores frutíferas, plantava alface e rabanete com
minha mãe, via meu pai fazer brinquedos de madeira, andava descalço, tomava
banho de chuva, descia o morro de rolimã, roubava goiabas do seminário que
tinha perto de casa, enfim, parece história do Chico Bento, mas nossa casa
ficava num local bem urbanizado, pertinho da universidade federal. Como disse
no começo do parágrafo, uma infância maravilhosa!
Mas, por estar associando minhas
memórias com a cena das mães com as babás, busquei nos arquivos do meu HD
cerebral as minhas melhores memórias com meus pais.
Mesmo que quisessem, por terem
cinco filhos com pouca diferença de idade entre um e outro, não teriam
condições financeiras de contratar uma babá.
Que bom!
Minhas melhores lembranças não
teriam espaço para uma babá, ou, caso houvesse uma, não seriam tão boas quanto
são as que tenho com meus pais.
A presença de uma babá jamais
substituiria uma manhã de fim de semana, quando meu pai acordou cedo e fez um
robô de madeira para mim, maior do que eu. Eu o vi fazendo, escolhendo as
madeiras, serrando, martelando, e eu ganhei o meu robô de madeira maior do que
eu. Eu o ajudei a pintar o robô, eu fiz um bigodinho de Salvador Dali (não, eu
não sabia quem era Salvador Dali, apenas achei que ia ficar engraçado, e
ficou), e batizei meu robô de madeira de Jean Pierre. Meus amigos tinham
carrinhos de controle remoto, mas se divertiam mesmo era com meu robô de
madeira. Fiz milhares de viagens intergalácticas com meu robô de madeira. Ele
foi meu co-piloto numa expedição submarina que fizemos certa vez, para
tentarmos descobrir onde ficava a casa do Aquaman. Quando eu tinha medo na hora
de dormir, deixava o meu robô de madeira perto da janela para que ele evitasse
que alienígenas entrassem no meu quarto enquanto eu dormia e me abduzissem. A
porta não precisava cuidar, pois do outro lado dela estavam meus pais, minhas
irmãs, se o medo apertasse eu correria para a cama da minha irmã mais velha.
Sempre que eu tinha medo de morrer (sim, eu era uma criança meio
hipocondríaca), a única coisa que me acalmava era dormir com minha irmã Bebel.
E ela deixava, sempre deixou. Acho que se eu ficar com medo hoje, e pedir, ela
ainda deixa. Não sei se uma babá me daria estas lembranças tão marcantes.
Teve outra vez, também com o meu
pai, que eu já estava virando um mocinho e minha mãe falou para o meu pai que
estava na hora de ter uma conversa de homem para homem comigo. Nós fomos.
Fizemos de tudo, menos a tal conversa para dizer o que é sexo. Ele sabia que eu
já sabia. Não lembro como soube, mas um dia eu soube. Saímos só eu e meu pai,
fomos ao cinema, assistimos “A Malandrinha” no Cine Carlitos. Depois, fomos ao
Mac Donald’s, recém inaugurado na cidade. Eu tinha curiosidade, ele me levou para
conhecer. Foi extremamente frustrante, para mim. Vi a foto de um sanduíche
lindo, e me serviram um negócio pequeno e amassado. Poucas vezes depois desse
dia voltei ao Mac Donalds. Não fazia sentido comer aquele sanduíche sem graça,
se minha mãe fazia sanduíches lindos para nós, enormes, com bifes inteiros
dentro de pães de trigo e com alface do quintal. Foi um dia especial, só eu e o
meu pai. Uma babá poderia me levar nos mesmos lugares que ele me levou, mas não
seria a mesma coisa. Por mais querida, carinhosa e cuidadosa que ela fosse, não
seria o meu pai. Mas, para minha sorte, foi o meu pai!
Mas se me perguntassem qual a
melhor coisa da minha infância, diria sem pestanejar um segundo: O SEQUESTRO!
Sim, eu fui sequestrado quando
era criança.
Mais de uma vez, inclusive.
Para ser fiel aos fatos, várias
vezes!
Quando minha mãe tirou carteira
de motorista, vez ou outra ela chegava para mim e para meu irmão e dizia: Hoje
eu vou sequestrar vocês!
Aqueles eram os melhores dias!
Saíamos eu e meu irmão com minha
mãe, sem saber para onde ela iria nos levar, mas com a certeza de que sempre
seria num lugar que adoraríamos ir.
Íamos à Ponta do Leal – onde hoje
rola a discussão sobre virar área de preservação permanente, parque público ou
hotel de luxo e, enquanto não se decidem, funciona como um ótimo lugar para se
fumar crack – e passávamos a tarde toda brincando nos troncos de árvore, no
mato, nas paredes caídas daquilo que um dia foi uma construção. Depois íamos na
sorveteria Baraúna tomar banana split. E brincávamos, corríamos, nos
arranhávamos e depois, no fim do dia, voltávamos pra casa imundos de tanto
brincar e felizes como toda criança merece ser.
Hoje, prestes a receber minha
primeira filha, tenho a total consciência de que ela vai precisar de muita
coisa vinda de mim, menos de uma babá.
E não, não estou falando mal de
babá ou dizendo que elas não são necessárias, muitas vezes elas são a salvação
da lavoura. Estou afirmando apenas que, fossem meus pais naquele horto, eles
não estariam sentados na sombra, eles estariam brincando comigo, e isso me
faria muito feliz!
Se eu for presente e
participativo como foram meus pais, se conseguir deixar na memória da nossa
Clarinha lembranças tão boas quanto as que meus pais deixaram na minha, vou ter
certeza de ter feito meu papel direitinho.
Mãe, pai, muito obrigado! Sou um
sortudo, um privilegiado por ter nascido de vocês, tanto quanto a Clara é uma
baita duma mini-sortuda por ter avós tão legais!
3 comentários:
Lindo, lindo texto, vindo do coração!!
Lindo texto, também adorei!!!!
Você é a cara do seu pai! rs...
Com quem será que a Clarinha vai se parecer?
Muito bom !!
Tu escreve bem mesmo hein. Parabéns!
Vou acompanhar teu blog. Abraço.
Postar um comentário