No post de ontem, publiquei um
documentário produzido por algumas corajosas mães que aceitaram expor suas
histórias no intuito de alertar e evitar que outras mulheres passem pela
crueldade que elas passaram.
O documentário, como disse no
curto parágrafo de ontem, é muito triste, mas seria ótimo se todos assistissem
para que as pessoas tivessem consciência de como nosso estado trata nossas
mulheres, esposas, filhas, mães, irmãs, tias, elas que sempre estão dispostas a
cuidar de nós, quando de nós precisam, ficam expostas a violências daquela
ordem.
Dado o momento que estou vivendo,
o vídeo me sensibilizou muito mais do que naturalmente já sensibilizaria e,
assim sendo, mais do que indicar a todas as pessoas que acessam este humilde
blogue, creio que principalmente os pais, homens devam assisti-lo, e tomem uma
postura mais ativa a frente da gravidez que compartilham com suas esposas.
Sim, gravidez compartilhada.
A Priscilla está grávida com
nossa menina no ventre, mas eu estou tão grávido quanto ela, ainda que por mais
que minha barriga teime em crescer, não haja nada além de gordura dentro dela.
Amigos já riram de mim quando me
ouviram dizer que estou grávido, quando digo que tenho consulta no “nosso”
obstetra.
Não sou psicólogo, entendo pouco,
quase nada sobre o ser-humano, mas tenho minhas convicções e creio que boa
parte delas podem, se não mudar determinadas atitudes de outros homens, pelo
menos contribuir para que reflitam sobre o modo como têm agido nos seus papéis
de homens, pais, maridos.
Escrevi esses dias sobre a
coadjuvância masculina durante a gravidez, mas não quis com isso dizer que não
somos importantes, muitíssimo pelo contrário! Nosso papel de coadjuvante tem a
importância que dermos a ele, e protagonistas sempre brilham mais quando têm ao
seu lado um coadjuvante a altura do seu talento. Amigos, posso não entender
muito sobre o ser-humano, mas tenho certeza, sua mulher, esposa será uma mãe
tão melhor quanto melhor for o apoio que você der a ela.
Você não terá o poder de
transferir para você os enjoos de início de gravidez, mas fará toda a diferença
para ela, se você estiver ao seu lado para alcançar-lhe o papel higiênico para
que ela limpe a boca após vomitar no vaso.
Você não terá o poder de
transferir para você o desconforto que ela vai sentir no final da gravidez, mas
fará toda a diferença se comprar um travesseiro melhor para que ela se acomode
da melhor maneira que for possível.
Você não terá o poder de
transferir para você a insônia que talvez ela sinta no meio da noite, mas fará
toda a diferença se abdicar do seu sono e passar alguns minutos conversando com
ela, para que volte o sono.
Você não terá o poder de
transferir para você os pés inchados, mas fará toda a diferença se procurar
aprender uma massagem relaxante para os pés da sua amada.
Você não terá o poder de poder
amamentar seu bebê, mas fará toda a diferença se procurar tornar o ambiente
onde estiverem o mais confortável possível para que sua esposa possa amamentar
pelo tempo que for necessário, com toda a tranquilidade e harmonia que esse
momento tão bonito e íntimo pede, sem permitir que outras pessoas interfiram
e/ou atrapalhem.
Ao ver os depoimentos no vídeo
postado ontem, não pude me conter de pensar: “onde estavam os maridos dessas
mulheres???”.
E não me perguntei isso pensando
exclusivamente no momento do parto, pois ali eles provavelmente se sentiram tão
vulneráveis quanto elas, diante da desumana saúde do nosso país. Mas antes,
durante os nove meses que se antecederam àquele momento, onde estavam os
maridos?
Será que se eles estivessem mais
presentes nos nove meses que antecederam ao parto, todo aquele sofrimento não
teria sido evitado?
Quantos deles trataram o obstetra
como um médico não da mulher, mas do casal?
Quantos deles pesquisaram sobre o
médico, quantos deles procuraram se instruir tanto quanto as mulheres acerca da
melhor maneira de trazer seus filhos ao mundo?
Quantos deles leram pelo menos um
texto que trouxesse nas suas linhas os benefícios e riscos que existem tanto na
cesariana quanto no parto normal?
Quantos deles acompanharam as
esposas nos exames pré-natal?
Talvez eles tenham buscado o
conhecimento, talvez tenham sido presentes, mas será que o suficiente?
Será que eu estou sendo grávido o
suficiente para acompanhar a minha grávida?
E eu sei que você,
homem-pai-grávido que está lendo, talvez pense “sim, eu fui/sou um pai-marido
bastante presente!”, mas será que o suficiente?
Hoje eu me peguei fugindo das
minhas responsabilidades de homem grávido. Sem querer, não por maldade, mas
percebi que o comodismo da minha condição de coadjuvante, quis me tirar da
frente da câmera numa cena que eu deveria estar presente.
Teremos nosso terceiro pré-natal
na sexta-feira pela manhã. Após termos feito nosso primeiro ultrassom na última
quinta-feira, e termos visto que está tudo ótimo com a nossa Clarinha, pensei
automaticamente: “ah, já acompanhei ela nas consultas anteriores à gravidez,
quando estávamos nos preparando para engravidarmos, já acompanhei ela nas duas
primeiras consultas pré-natal, estava segurando a mão dela quando ouvimos pela
primeira vez o coraçãozinho da nossa filha, estava ao lado dela quando o médico
disse ‘deem boas-vindas a Sra. Clara’, acho que ela pode ir sozinha na próxima
consulta, vai ser meio chato eu faltar de novo o trabalho.”
NÃO, ELA NÃO PODE IR SOZINHA!
E mesmo que ela vá com a mãe
dela, não é a minha sogra que está grávida, SOU EU!
EU ESTOU GRÁVIDO!
A Priscilla não poderia dizer não
à consulta, não é justo que eu possa, eu estou tão grávido quanto ela!
Sim, não é nada bom me ausentar
do trabalho, mas basta eu ser honesto com meus superiores, eles saberão – como
sabem –que se trata de um momento muito especial na minha vida, entenderão a
minha ausência. Caberá a mim, nas horas em que estiver presente, trabalhar mais
e melhor, ser mais produtivo, não só para compensar a compreensão dos meus
superiores, mas pela minha filha, para que meu desempenho profissional seja
também um bom exemplo para ela.
Ser pai não é pagar o plano de
saúde da esposa, não é sustentar a casa, vez ou outra lavar uma louça. É algo
certamente muito maior.
Repito, sei muito pouco sobre as
pessoas, mas tenho certeza que o mínimo que eu faço para ajudar minha esposa,
para participar com ela da nossa gravidez, faz com que ela se sinta feliz, e
esse sentimento tem origem não só psicológica, mas química também. E tanto uma
sensação quanto outra, a minha filha sente também. Cada vez que minha esposa se
sente bem, acolhida, a minha filha também se sente do mesmo modo. E, hoje, a
única coisa que me faz realmente feliz, é saber que as duas mulheres que eu amo
estão bem, felizes, seguras e tranquilas.
Eu sou o primeiro referencial
masculino da Clara, e essa referência interferirá diretamente na maneira como
ela se relacionará com os homens no futuro. Se ela crescer me observando distante
da sua mãe, um marido burocrático, frio, apenas um provedor de dinheiro para
pagar as contas, ela aprenderá que é assim que são os relacionamentos entre
homens e mulheres, e o primeiro cara que aparecer na vida dela oferecendo o
mínimo, parecerá o suficiente. Não sei para você, para sua filha, mas para a
minha filha o mínimo nunca será o suficiente! Ela merece mais, ela merece o
máximo que uma mulher pode ter! Sendo assim, do mesmo modo, o contrário também
vale! Se ela crescer me observando respeitar a Priscilla, cuidar da Priscilla,
incentivar a Priscilla, admirar a Priscilla, amar a Priscilla, ela aprenderá
que é assim que as mulheres devem ser tratadas, e ainda que eu não possa
afirmar/prever os relacionamentos futuros da minha menina, será menos provável
que ela admita que um homem a trate de uma maneira diferente da que o seu pai
tratava a sua mãe. Respeito, carinho, cuidado, será para ela algo natural,
cotidiano.
Não vai ser sempre que eu vou
conseguir, mas vou tomar o máximo de cuidado para que a Clara tenha na sua casa
um pai que a encha de orgulho, que pelo exemplo que ela vai ter em casa, jamais
diga como dizem muitas mulheres: “os homens são todos iguais!”. Os homens não
são todos iguais, as mulheres não são todas iguais, os casamentos não são todos
iguais, os filhos não são todos iguais. E é exatamente aí que está toda a
graça, nas diferenças. Nas minhas, nas suas, nas nossas.
E você pode até não concordar, se
colocando na condição apenas de: “Pai, marido da minha esposa grávida”.
Mas pode ter certeza, ela, a sua
esposa, ele o seu bebê, serão muito mais felizes já a partir de agora, ainda na
barriga, se você se colocar na orgulhosa condição de: “Pai, marido-grávido da
minha esposa-grávida!”
Um comentário:
Sensacional!!!!!!!!!!!!
Pai-marido-grávido!!!
Sinto que você vai desmaiar no momento do parto!!! Me veio esse pensamento agora, sei lá, fique imaginando a cena!
E penso na música da Cassia Eller - Luz dos olhos! (deu vontade de te dizer)!
Parabéns!!!
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