Imagine a cena:
Marisa, uma mulher simples e
recatada, embora meio deslumbrada pelo conforto recente da sua condição de nova
rica, chega ao prédio com uma amiga, quando Marcos, o porteiro, que gosta muito dela, lhe
alerta encabulado: “olha, dona Marisa, eu não queria dizer nada não, mas o seu
marido tá com uma outra dona lá no seu apartamento. Mais do que isso, sempre
que a senhora sai, em seguida ela vem pra cá e os dois passam a tarde inteira
juntos!”.
A amiga olha surpresa e indignada
para Marisa, como pode uma coisa daquelas!
Sempre sensata, Marisa pondera:
“Calma,precisamos averiguar os fatos, não podemos sair acreditando na primeira
coisa que nos dizem!”
As amigas entram no apartamento
e, para surpresa geral, encontram o marido, Seu Luís nu, vestindo apenas o par
de meias pretas, de pau duro, em frente à sua secretária, Rose, que por sua vez
estava totalmente nua.
O marido, coagido pelo flagrante,
diz assustado: “Calma, Marisa, minha companheira, eu posso explicar tudo! Ou
melhor, eu não posso não, na verdade eu nem sei o que está acontecendo aqui!
Rose, minha filha, por que você está pelada na minha frente?”
A amiga revolta-se, solidarizada
com o óbvio escárnio do marido infiel para com sua esposa, diz: “Vamos Marisa,
você não precisa passar por mais humilhação, fique lá na minha casa enquanto
você resolve o divórcio.”
Mas Marisa, calmamente, olha para
sua amiga, e diz: “Divórcio? Que divórcio?”
_Como assim, que divórcio,
Marisa? O teu marido está te traindo!
_Você viu alguma coisa de
concreta? Viu o meu marido mantendo alguma relação com aquela mulherzinha?_Marisa, o teu marido está nu!
_Não, minha querida, ele não está
nu. Olha ali, ele está de meias pretas!
_Marisa, ele está de pau duro,
Marisa!
_Nunca ouviu falar em tesão de mijo?
Os homens tem disso direto!
_Marisa, a secretária está nua na
frente dele!
_Ora, meu bem, com esse calor que
tem feito, quarenta graus na sombra, até eu tenho vontade de andar nua por aí!
_Marisa, por favor, é óbvio que
ele está te traindo!
_Não, por favor, minha querida,
não sejamos injustas, não cometamos julgamentos precipitados! Até concordo
contigo que possam haver indícios que nos levem a crer que havia alguma coisa
estranha por aqui, mas não havia nada de concreto, não temos o direito de
condenar alguém só por causa de um indício, sem que haja uma prova concreta de
fato!
_Marisa, o porteiro falou que eles
sempre vêm pra cá, se encontram assim que você vira as costas!
_Ora, por favor, não me venha com
mais esse argumento vazio! Quem tem mais credibilidade, o porteiro que todo
mundo sabe que gosta de tomar umas biritas de vez em quando, ou o meu marido
que proporcionou todo esse conforto para mim, paga meu cartão de crédito, me dá
carro com motorista e não me pergunta onde gasto o nosso dinheiro, apenas
garante que eu possa continuar gastando?
_Marisa, eu não estou acreditando
no que eu estou ouvindo...
_Por favor, o Luis é ótimo pra
mim! Ele é meu tudo, é minha casa, minha vida!
Imaginou a cena?
Eu pensei nesta cena depois de
ler no facebook um acalorado debate num post do inteligentíssimo – isto não é
ironia, eu realmente o admiro demais, sou seu fã de verdade, embora discordemos
de muita coisa quando o assunto é política – Ulysses Dutra.
Ele alegava que ao comparar a
palavra de Marcos Valério, que agora acusa Lula de envolvimento no mensalão,
com a do ex-presidente, preferia ficar com o que diz o segundo. E mais,
contestava ainda o fato de o julgamento do mensalão estar sendo conduzido com
base na presunção dos fatos, e não em fatos concretos, por mais indícios
escandalosos que haja nestas tais presunções.
Importante destacar que a
presunção dos fatos não é uma invenção tucana, como talvez queiram alegar os
calorosos defensores de Lula, é uma corrente mundial que vem pautando uma nova
maneira de se entender o direito, praticada em vários países, e não apenas na
condução do caso do mensalão.
Estou há dois dias pensando
naquele post do Ulysses, quase escrevi um milhão de vezes no próprio post, mas
preferi esperar um pouco para amadurecer mais a ideia.
Há quem diga que seria impossível
acontecer tudo o que houve, sem que nossa autoridade máxima na oportunidade
estivesse ciente.
Há quem diga que prefere
acreditar em sua palavra, quando ele diz que não sabia de nada.
Há quem diga que Lula merece
crédito por ter sido – e isso não se discute – o presidente da história do país
que mais realizou avanços sociais, não importando os meios e as consequências
para/das tais realizações.
Do mesmo modo que há quem diga
que Paulo Maluf foi o cara que mais realizou obras em São Paulo.
Tanto quanto há quem diga que ele
enriqueceu muito com isso, e possui algumas belas e gordas cadernetas de
poupança no exterior, na segurança tranquila de paraísos fiscais.
Enfim, toda essa história me
lembrou o título do romance de Lourenço Mutarelli, que parafraseei no título deste
texto: “A arte de produzir efeito sem causa”. É o que me parece que Lula fez.
Muita coisa estranha aconteceu
nos seus dois mandatos bem embaixo do seu nariz, mas ele não sabia de nada.
Tudo bem que as pessoas escolhidas por ele para tocar o barco, todas da sua mais
altíssima confiança e credibilidade, sabiam. Mas ele não.
É, para mim, sem sombra de
dúvidas, uma bela demonstração da arte de produzir efeitos sem causa.
Ou talvez valha aqui uma
adaptação para: “A arte de produzir dano sem culpa”.
Salve Ulysses!
Salve Lula!
Salve Jorge!
Salve-se quem puder!
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