Olá, cavalheiros.
Falemos de nós, deixemos elas um
pouco de lado por enquanto. Meninas, será por pouco tempo, prometo.
Publiquei esses dias um texto que
saiu na revista TPM, tratando do “Novo Pai”, um texto muito legal, mas como
sempre, escrito por uma mulher.
E nós, o que pensamos disso tudo?
Será que temos pensado nisso o
suficiente?
Quando mudei o foco deste blogue,
passando dos contos para o Diário do Papai, o fiz com o intuito de criar
conteúdo para que homens-pais, pudessem encontrar-se nele, pois existe pouca
coisa sobre nosso papel na vivência da chegada de um filho. Aprendemos meio que
no facão, como pessoas de olhos vendados com nossas companheiras por perto
indicando a direção, “mais para a esquerda, mais para direita, tá quente, tá
frio”. E isso, na verdade, não se resume a paternidade em si, se resume à
maneira com que nos relacionamos desde sempre com as mulheres ao nosso redor. Desde
o sexo, precisamos das orientações delas para aprendermos a fazer direito.
Conosco é fácil, é só a mulher chegar perto do camarada com qualquer parte do seu
corpo que tá tudo certo. Com elas, não. Para nós, é bom até quando não estamos
afim. Para elas, não. É preciso clima, é preciso querer, é preciso paciência, é
preciso calma, é preciso aprender os traquejos, os meios, os atalhos, para que
no fim das contas a experiência valha a pena para os dois, e não se resuma a um
cara satisfeito roncando virado para o outro lado da cama, enquanto ela está
ali, na metade do caminho.
E assim como precisamos das mulheres
para aprender a ser na cama aquilo que dizemos aos amigos do bar que somos,
precisamos aceitar que serão elas quem nos ensinarão a sermos os pais que
nossas crianças precisam.
Isso por culpa da nossa cultura
machista que, desde sempre, nos ensinou que no passado bastava um tacape na
cabeça da mulher para conquistar a fêmea desejada, e passamos os anos e eras tentando
disfarçar a forma do tacape, alguns físicos, outros psicológicos, mas, por
apegados que somos à ele, temos dificuldade em deixá-lo de lado e admitirmos
que precisamos de atitudes mais femininas para chegarmos ao título de “Novo Pai”.
A força não está com Darth Vader,
com Lucky Skywalker ou com o mestre Yoda, eles são homens. A força está com a
Princesa Léa, ela é a mulher da parada.
Elas têm coragem de chorar. Nós,
nem isso.
E, talvez por isso, por nos
acovardarmos na nossa condição de coadjuvantes, deixamos nas mãos delas o que é
ser um bom pai, como se já não lhes bastasse o desafio de tornarem-se boas
mães.
Meus caros, já estamos bem
crescidinhos, tá na hora de nós mesmos encontrarmos nossos caminhos, termos
coragem de defendê-los diante dos machismos retrógrados da maior parte da nossa
sociedade, que ainda enxerga o homem como provedor e a mulher como mantenedora,
e assumirmos com orgulho nossa paternidade ativa.
Sempre com a ajuda e tutoria
delas, mas podemos mais do que temos feito.
Como dizem os textos escritos por
mulheres, paternidade ativa é mais, bem mais do que revezar a troca de fraldas.
A paternidade ativa começa antes do filho nascer.
No meu caso, a gravidez foi
planejada, o que facilita tudo, inclusive a minha participação.
Sim, pois uma gravidez planejada
já pressupõe que houve o consentimento de ambos, ou seja, começamos a nos fazer
ativos antes mesmo da concepção.
Planejar uma gravidez, não
significa parar de tomar anticoncepcional, parar de usar camisinha ou qualquer
outra espécie de tratamentos contraceptivos. Planejamento parte de uma conversa
séria, madura, adulta. Estamos preparados? A sua companheira vê em você alguém
preparado para ser o pai do seu filho? Você vê na sua companheira alguém
preparada para ser a mãe do seu filho? Vocês são ótimas pessoas, mas o casal
que formam está maduro o suficiente para trazer ao mundo uma criança? E
maturidade não é tempo de relação, quilometragem rodada e afins. Isso pode
contribuir, mas não é preponderante. Maturidade é saber que os dois estão numa
sinergia tal, que ambos saibam que ao seu lado existe alguém capaz de segurar o
tranco quando as coisas não correrem bem. Maturidade significa ter a confiança
de que, mesmo que a relação homem-mulher que existe no momento da gravidez um
dia acabe, isso não afetará a relação familiar que se criou.
Se um dia vocês se separarem e a
sua mulher vir a se casar com outro cara, ele pode até ocupar o lado da cama
que antes era o seu, na casa que antes era a sua, assar uma picanha na
churrasqueira que antes você relaxava aos sábados, mas na cabeça da criança, o lugar
de pai é seu. O outro pode ser um cara legal, mas você tem que ter a maturidade
e atitude suficientes para, mesmo sem estar mais ao lado daquela mulher a quem um dia você
jurou amar pra sempre, saber que não deverá delegar a ele o referencial
masculino que sua criança precisa.
No planejamento, devemos tomar a
consciência de que a partir do momento que aquela criança vir ao mundo, nós
seremos o seu exemplo, o seu modelo. E aí, meu amigo, você é um bom exemplo a
ser seguido? Será que vale a pena trazer ao mundo outra pessoa com atitudes
parecidas com as suas, ou suas atitudes já são cagadas o suficiente para este
mundo, não precisa de mais alguém as replicando? Você está disposto a deixar de
lado determinadas crenças, manias, hábitos, vícios, para que se torne um bom
exemplo para aquela folhinha em branco que vem ao mundo e precisará da sua
ajuda para escrever a sua história?
Planejar a gravidez numa
paternidade ativa, é pensar nisso tudo, é admitir que precisaremos nos
tornarmos homens melhores para influenciarmos positivamente aquele novo
serzinho.
Quando se faz com honestidade e
franqueza estas reflexões, saberemos admitir que talvez ainda não estejamos
preparados para sermos pais, e adiar os planos de levar um menino ao estádio
com a camisa do seu time talvez seja o melhor a ser feito, pois além do jogo de
domingo, haverá outros seis dias na semana repletos de fraldas, birras, febre,
tarefas da escola, dentinhos a serem escovados, banhos a serem dados, limites a
serem impostos, estímulos a serem dados, enfim, há muito mais coisas entre o céu
da maternidade e o mar da paternidade, do que supõe a vã filosofia do nosso
time do coração.
Agora, uma vez concluindo que
sim, estamos preparados para nos tornarmos pais ativos, participativos,
exemplos para nossos filhos, exemplos que certamente falharão um milhão de
vezes, mas para cada uma destas falhas teremos a coragem de pedir desculpas e
nos comprometeremos a tentar melhorar a partir daquele aprendizado, aí sim,
poderemos engravidar.
Sim, nós homens, nós grávidos.
Não é a mulher que engravida, é o
casal.
Não é o filho que vai nascer, é a
família.
Na paternidade ativa, cada vez
que você falar do filho que estão esperando, você não dirá que sua esposa está
grávida, você dirá que vocês estão grávidos.
Na paternidade ativa, o pré-natal
é uma consulta para os dois, não apenas para ela. Evidente que, eventualmente,
motivos de força maior podem acabar impedindo você de estar ao lado da sua
companheira na consulta pré-natal, mas esforce-se ao máximo para que a sua
força de vontade de estar presente, seja maior do que o motivo de força maior.
Fará bem para a sua mulher, saber que pode contar com você. Fará bem para o seu
bebê, saber que você está sempre presente. Fará bem para você, que se sentirá
cada vez mais parte integrante e fundamental de todo o processo. Você não
apenas dirá, mas se sentirá efetivamente grávido.
O ginecologista é o médico da mulher.
O obstetra é o médico do casal.
Você não dirá mais “o obstetra da
minha mulher”, você dirá “o NOSSO obstetra”.
E, não raro, homens que se
envolvem efetivamente na gestação, sentem também sintomas similares aos das
grávidas. Sintomas de fundo psicológico, evidentemente, mas sim, eles o sentem.
Enjoos, tonturas, chororô por causa de uma propaganda de margarina, tudo isso
podemos sentir, e não devemos nos envergonhar por sentir, faz parte do nosso
aprendizado. Em cinco meses de gravidez eu já chorei vendo documentários,
Jornal Nacional, propaganda do Boticário, A Grande Família e, o meu recorde: Os
Simpsons. Faz parte.
Na experiência da minha gravidez,
da espera pela minha Clara (estou dizendo “minha”, mas não estou excluindo a
Priscilla, falo assim pelo foco do texto), tornei-me um militante do parto
humanizado. Entre as pessoas envolvidas com o parto humanizado, fala-se
bastante sobre o processo de empoderamento da mulher, um sentimento que é
construído ao longo dos nove meses para que no momento do parto, a mulher
sinta-se pronta, apta e capaz de trazer seu filho ao mundo da maneira mais
natural possível.
Nós, pais ativos, também
precisamos passar por este processo de empoderamento. E a primeira etapa deste
processo, é nos permitirmos sermos frágeis, emotivos e admitirmos que sim, por
mais planejada que tenha sido a gravidez, estamos cheios de dúvidas,
inseguranças e medo de quando aquela criaturinha chegar aos nossos braços, não
sabermos exatamente como agir. Essa parte é muito difícil. Tão difícil, que só
agora, transcorridos cinco meses da minha gestação, vários livros, artigos,
blogues lidos sobre o assunto, estou aqui escancarando minha fragilidade
masculina para quem tiver saco de ler meus extensos textos.
E isso é difícil, pois ao mesmo
tempo em que precisamos nos permitir sermos frágeis, temos que saber dosar
quando, onde e com quem vamos extravasar nossa fragilidade, pois nossas
companheiras estarão num processo de revolução hormonal gigantesco, e enquanto
nós estaremos psicologicamente fragilizados, elas estarão não só
psicologicamente, mas fisicamente em ebulição. A dosagem das nossas emoções é
importante para que elas saibam que podem contar conosco, que ainda que
estejamos emocionados, somos a pessoa com quem ela mais vai poder contar nessa
caminhada tão linda de 42 semanas. Mas que tenhamos consciência, dosar não é
represar.
Isso foi difícil para mim, pois sempre
procurei me colocar para a Priscilla como um porto seguro, sempre gostei de
dizer frases como “fica tranquila, eu estou aqui, pode deixar que eu dou um
jeito em tudo”, e de repente, tudo era novo e eu não sabia que jeito se dava
quando ela acordava no meio da madrugada vomitando mais do que eu na pior das
minhas bebedeiras em 33 anos de vida. Eu sabia que deveria mais uma vez dizer
que estava ali, que tudo ficaria bem, mas naquela hora eu queria também alguém
do meu lado dizendo a mesma coisa para mim. E eu não podia admitir, eu era o
homem, o macho alfa, o forte. Que palhaçadinha era aquela de ficar com vontade
de chorar por ver um pacote de fraldas na prateleira do supermercado? Coisa de
mulherzinha...
Como dosar o apoio que nossa
companheira precisa, com a emoção que queremos sentir, o exemplo que queremos
nos tornar para nossa criança?
No meu caso, que escolhi fazer do
meu blogue um diário da minha experiência, isso se tornou um grande desafio,
pois queria trazer aqui minhas angústias, minhas inseguranças, mas como fazer
isso sabendo de antemão que a Priscilla seria a primeira pessoa a ler, e de
repente fazer com que ela se deparasse com um turbilhão de sentimentos meus, os
quais eu tentava disfarçar o máximo possível para que ela não ficasse ainda
mais sensível do que já estava. No fim das contas, acabei me afastando da ideia
original, que era discutir nosso papel como pais ativos, e transformei a maior
parte dos meus textos em lugar comum, fáceis de serem encontrados em qualquer
outro blogue. Poucas vezes eu tive coragem de mexer no vespeiro dos meus
sentimentos, e quando o fiz, tentei disfarçar ao máximo.
A saída quem me apontou foi a
Priscilla, mãe da estonteante Clara que está por vir. Conversei com ela sobre
essa minha angústia, de querer desabafar, mas não deixá-la abalada com as
minhas inseguranças, e ela me falou: Encontre alguém que não seja eu, e fale
sobre isso. Parece óbvio, e talvez até seja, mas não é fácil. A primeira pessoa
com quem falei a respeito, foi com a Ligia do site www.cientistaqueviroumae.com.br,
que de orientadora virou amiga, e como me ajudou. Aos poucos, fui encontrando
outras pessoas. Para minha sorte, nosso grupo de amigos é fantástico, e vários
deles estão passando pela mesma experiência que nós, e consequentemente as
dúvidas são parecidas, as angústias são parecidas e juntos, encontramos nossos
atalhos sentimentais para que possamos exercer nossas paternidades ativas.
E foi por conversar com outros
pais com anseios similares aos meus, pela ajuda constante que a Priscilla me
dá, pelo conhecimento que tenho procurado, que consegui chegar a este texto,
escrevê-lo sem medo de admitir minhas incertezas, mesmo sabendo que a Priscilla
será a primeira pessoa a lê-lo.
Bom, escrevi muito e talvez você
já esteja cansado de ficar na frente do computador, mas o assunto está só no
começo.
Mas está aqui dada a largada,
amigos. Comecemos nós, homens, a discutirmos nossa paternidade ativa, consciente,
presente.
Assim como as mulheres estão
buscando o seu protagonismo no nascimento das nossas crianças, retirando dos
médicos o papel que eles lhes surrupiaram com a proliferação das cesáreas
eletivas, busquemos nós também o nosso protagonismo paterno, elas não precisam
de mais essa incumbência, já estamos bem grandinhos e podemos começar a
caminhar com nossas próprias pernas. Sempre ao lado delas, no mesmo caminho,
mas chega de sermos carregados no colo!
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