Saí do restaurante apressado pra
voltar ao escritório antes que o chefe voltasse do seu almoço certamente mais
caro e melhor do que o meu, e me pedisse o relatório atrasado desde segunda. No
trajeto, além da sensação de ter comido mais do que devia e da consciência de
que aquele pirão de feijão me acompanharia pelo resto da tarde, tanto na
sonolência que já me cutucava, quanto no aperto que me obrigaria passar uns
bons minutos terminando de ler a reportagem da Superinteressante que explicava
por que a cor vermelha não se mistura com a branca nas pastas de dente
bicolores, me acompanhava também uma incomoda couve, acompanhamento do pirão de
feijão, que se alojara entre meus dentes do fundo da boca, e parecia
determinada em não sair de lá nunca mais. Foi neste ponto que lembrei de você.
Lembrei de tudo entre nós, do
amor vivido, daquele fio de cabelo não muito comprido, mas depois de estar
grudado no nosso suor, se alojou entre meus dentes e só me dei conta quando saí
da tua casa e, no ônibus, tentava em vão tirá-lo do espaço que reservava com
esmero às cáries que me acompanham desde muito novo.
É que, você sabe, quando a gente
ama, qualquer coisa serve para relembrar.
Para minha desgraça de folhetim
mexicano, não sobrou um restinho do seu perfume num frasco qualquer sobre a
minha penteadeira. Pior, eu nem tenho penteadeira. Mas você tem, e talvez lá
haja um frasco com um restinho do seu perfume que só de chegar perto me fazia
pulsar da cintura pra baixo.
Sabe, quanto tempo não te vejo,
cada vez você distante, por quê? Eu pensei que fosse fácil, esquecer seu jeito
frágil de se dar sem receber... Como você dava... Por que a puta da saudade não
vai aí e te convence em aparecer? Talvez, se você aparecesse, fizesse valer a
merda do meu viver.
Fala pra mim, diz a verdade, o
que mudou assim tão de repente? Porra, partir até que tudo bem, mas precisava
tanta indiferença? É a sua indiferença que me mata!
Você podia ao menos ter tido a
dignidade de me mandar uma carta pedindo para que eu desaparecesse, que eu
nunca mais te procurasse e pra sempre te esquecesse.
Eu tentaria fazer tua vontade,
atender tua vontade, mesmo sabendo que tentar te esquecer seria bobagem, tempo
predido...
Só queria que você me explicasse
o que fazer com essa dor que me invade! Queria ir aí e matar você, mas o que
tem me matado é o ciúme que sinto por imaginar que já há outro aí na tua cama,
olhando para tua penteadeira com aquele frasco de perfume que abriga uma sobra
do teu perfume que me faz pulsar da cintura pra baixo.
Porra, a gente morou e cresceu na
mesma rua, caralho! Como se fôssemos o céu e a lua dividindo o mesmo céu,
cacete!
Agora fico aqui sentindo na boca
o sabor amargo do ciúme daquele cara que eu nem sei se existe, o tempo passando
e eu aqui calado, sem conseguir tirar você do pensamento, porra...
Fico sozinho pensando que deveria
ter confessado que estava apaixonado, mas imaginando que ainda receberei um
convite do seu casamento, com letras douradas num papel bonito, e que no verso,
lá no cantinho, vai estar escrito que você está casando, mas o grande amor da
sua vida sou eu.
Mas você partiu e eu fiquei. Nem
adeus eu disse. Acho que nunca aprendi a dizer adeus. Não sei se sei guardar a
minha dor. E eu tinha tanto pra dizer... Mas só o meu silêncio falou por mim.
Mas o silêncio é mudo, porra! Disse porra nenhuma, esse silêncio de merda. E
não me venha com esse papinho de que amores vem e vão, são aves de verão, já
que você me deixou, a última coisa que eu quero é que você seja então feliz,
pois por mais que a porra do inverno passe e o verão venha cheio de mulheres
bronzeadas, nada apaga essa merda de cicatriz, ferida aberta do caralho!
Se você voltasse, eu cantaria
Jhon Michael Montgomery em versão sertaneja, eu juro!
Você era meu motivo pra sorrir, o
caminho certo pra seguir, meu verdadeiro amor.
Eu juraria, por mim mesmo, por
deus, por meus pais. Cantaria de verdade, eu juro!
Agora estou aqui sozinho, no escuro,
e lá fora as luzes da cidade acesas, iluminando tua foto sobre a mesa, e ando
bebendo tanto que volta e meia te encontro nos goles que dou nas minhas várias
cervejas. Pior é que eu sei que você não liga por eu não te ligar. E agora eu
choro como sei que, se um dia você voltar, eu vou chorar. Mas você não volta, e
fico aqui conversando com minha tristeza...
Chuva no telhado, vento no
portão, e eu aqui nessa solidão. Doido pra sentir seu cheiro, doido pra sentir
seu gosto, louco pra beijar seu beijo, matar a saudade desse meu desejo...
Coração tá reclamando, tô aqui
sozinho, tô te esperando...
Queria que você chegasse com a
roupa encharcada da chuva lá de fora para eu poder mandar a saudade sair, ser
tua toalha e teu cobertor e visse cair sobre nós um temporal de amor!
Vê se não demora muito, coração
tá reclamando...
Tô aqui sozinho, tô te
esperando...
Mas você não vem e eu ando
sozinho pela rua, falo com as estrelas e com a lua, deito na porra do banco da
praça e adormeço pensando em você.
Aí eu sonho. No meu sonho, você
veio provocante, me deu um beijo doce e me abraçou, mas na hora H, no ponto
alto do nosso amor, o filho da puta do guarda me acordou.
Disse pra ele que não sou
vagabundo, que não sou delinqüente, disse que sou só um cara carente que dormiu
na praça pensando em você. Pedi para que ele fosse meu amigo, aceitei que me
prendesse, até que me batesse, mas que só não me deixasse ficar sem você. Ele riu
da minha cara e eu fiquei lá, na porra do banco da praça. Pensando em você...
Não sei dizer o que mudou, mas
nada está igual, se borboletas sempre voltam por que você não se dá conta que o
seu jardim sou eu????
Não me diga que não tem graça
amar assim, foi tudo tão bonito...
Mas, de verdade, estou com raiva
de você!
Tenho tanto para oferecer, e você
nem aí!
Sabe o que me dá vontade?
Dá vontade de fazer um leilão,
saber quem dá mais pelo meu coração.
Queria que alguém desabasse sobre
mim como um meteoro da paixão!
Mas, no meu leilão, eu preferiria
que a vencedora fosse você...
Por favor, me ajude a voltar a
viver...
Porra, te daria o céu, te daria o
mar, já é teu meu coração, que merda, era tão bom poder te amar...
Depois que te conheci fui mais
feliz, você sempre se encaixou tão perfeitamente em mim!
Agora você é só um raio de
saudade...
Se era um sonho, não precisava
ter me acordado...
Me dê mais uma chance, só mais um
chance...
Porra, assim você me mata...
Você não vai se arrepender, só
mais uma vez e eu tenho certeza que você não vai se arrepender.
Só me dê mais uma chance, pode
ser no sábado, na balada, e você vai ver...
Ai se eu te pego, você não vai se
arrepender.
Ai, ai se eu te pego...
Não iríamos pra tua casa, iríamos
direto pra minha humilde residênica!
Delícia!
2 comentários:
Pronto, terminei de ler. Posso vomitar agora?
Haahaaaa que meleca!
mas gostei do texto, apesar dos contras, assim você me mata!
:)
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