quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O dia em que me tornei um ser humano melhor!


Tenho dois textos quase prontos para publicar, um sobre um livro escrito por Humberto Gessinger, outro sobre a Maratona Cultural de Floripa, mas esse exigiu a prioridade que lhe é de direito na ordem das coisas importantes do universo.

Bom, já emprestei dinheiro sabendo que não receberia de volta, já fiz campanha do agasalho para os atingidos pelas chuvas, já adotei bichinhos de rua, já ajudei velhinha a atravessar a rua, já fui voluntário em instituições para cegos, já dei aula de graça na favela, já fiz algumas coisas boas, mas nada disso se compara ao meu recente progresso como ser-humano. Apenas depois do dia 28 deste mês de novembro, eu realmente me tornei uma pessoa melhor: FUI AO SHOW DO CHICO BUARQUE!!!

Foi, sem sombra de dúvidas, sem comparações possíveis, sem parâmetros compatíveis, o melhor show da minha vida!


A coisa foi tão boa que, ainda no aeroporto de Floripa, enquanto Priscilla e eu esperávamos o horário de embarque, faltou luz e o vôo inevitavelmente atrasou. Que merda, nervosismo, por que justo esse vôo teve que atrasar, justo o vôo que me levaria até Porto Alegre para assistir o meu ídolo maior???? Enquanto esperávamos, fiquei refletindo sobre a Maratona Cultural de Floripa – aquela que ainda renderá um texto – e pensando que para chegar a tempo nos shows que meus amigos fariam na Célula Cultural, tive que abrir mão do show do Yamandú Costa no Ribeirão da Ilha. Eis que, para nossa surpresa e encanto, um cidadão gordinho, entediado com a falta de luz do aeroporto, resolveu sacar de um case creme um violão de 7 cordas, e começou a fazer para os poucos felizardos que esperavam impacientes a autorização para seus embarques, um pocket show extremamente pessoal, íntimo e gratuito. Sim, era ele mesmo, Yamandú Costa, aquele que tive que abrir mão estava ali ao nosso lado improvisando daquele jeito que só ele é capaz no mundo.

Mas vamos ao que interessa, vamos ao seu Francisco.

Teatro sensacional (igual deve ficar o CIC daqui uns 49 anos, quando encerrarem a reforma que fechou o principal espaço cultural da capital catarinense), público educado, lugares privilegiados com o microfone no centro do palco bem à nossa frente.


Afortunado que estava naquela noite, ainda comprei um vinil do último disco, Chico. Isso mesmo, um vinilzão como os de antigamente! Que coisa boa a sensação de comprar um vinil zero quilômetro, lacradinho, coisa cada vez mais rara! Só faltou o selinho da finada Brunetti.

Meu amigo, que tremedeira quando vejo aquele senhor de cabelos grisalhos passando por trás da bateria, vindo até o front, empunhando seu Takamine e mandando os primeiros acordes daquela que viria a ser uma apresentação irretocável, mesmo com os pequenos erros, ou também por causa deles.

O show foi curto, mas valeu a espera de 32 anos para presenciá-lo. No set estava o novo disco na sua totalidade. Não vou fazer uma resenha do disco, pois não teria a imparcialidade que uma crítica exige, não sei não gostar de algo que ele grava, admito minha limitação. Talvez eu goste tanto do disco, pois, no auge da minha fossa relatada no post anterior, Maittê - que gosta tanto do Chico quanto eu, mas talvez conheça mais do que eu - me enviou por email a primeira música divulgada, Querido Diário, que abre o disco e cuja primeira estrofe me pareceu ter sido escrita em minha homenagem (Hoje topei com alguns conhecidos meus / Me dão bom dia cheios de carinho / Dizem pra eu ter muita luz, ficar com Deus / Eles têm pena de eu viver sozinho).

Gosto muito do disco novo, e todas as canções estavam lá. Entre uma e outra do novo trabalho, algumas clássicas, como Geni e o Zepelim, música que ele nunca tocara em seus shows, e uma boa quantidade de parcerias suas com Tom e Vinícius.

A banda era de uma qualidade que não cabe neste texto, e se houve algum erro, foi do próprio Chico ao confundir os acordes em Valsa Brasileira, interromper e recomeçar com uma risada dizendo, Peraí, errei tudo, vamos fazer de novo.

Plateia em transe, aplausos enormes e calorosos entre cada canção e permanência maciça do público ao final do show, fazendo com que fossem três os bis da apresentação.

Não tenho muito mais o que dizer, pois estou até agora sem palavras para descrever o estado de estupefação em que ainda me encontro.

O set, se não me falha a memória, foi este:

Velho Francisco
De volta ao Samba
Injuriado
Desalento
Querido Diário
Rubato
Tipo um Baião
Essa Pequena
Sem você 2
Chico Bandido
Se eu soubesse
Bastidores
Todo Sentimento
O meu amor
Teresinha
Anos dourados
Sob medida
Valsa Brasileira
Geni e o Zepelim
Nina
Barafunda
Sou eu
Tereza da praia
Baioque
Cálice
Sinhá
A felicidade
Futuros amantes
Correria

Deve ter tido mais uma ou duas que não me lembro bem, a ordem das músicas não foi exatamente esta, mas estas com certeza estiveram lá!

Puta merda, que show!
Já falei que o show foi bom?
Caso não tenha ficado claro, que fique agora, foi O show!

Vou ali sorrir mais um pouco feito um idiota lembrando do show e curtir a sensação de ter cumprido a minha missão na terra, depois volto para publicar os dois textos que falei no início deste.

Saravá!


(PS: Personal Fotografetor deste escritor, responsável pela obra de arte que abre este texto e você pode imprimir, emoldurar e enfeitar a parede da sua casa: Priscilla Rebello)

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Eu voltei! ( e, veja só você, feliz!)


Eu tenho uma dificuldade enorme para me relacionar com a felicidade.

Sei lá, acho ela meio esquisita.

Mas eis que, depois de quase dois anos, resolvemos dividir a mesma cama.

E, admito, a minha ausência prolongada deste espaço, é culpa dela.

Safada!

Bandida!

Acontece que minha inspiração é diretamente proporcional ao meu sofrimento. Quanto mais eu sofro, mais eu crio. Como tenho ocupado meus dias e os minutos que a eles cabem na enjoativa tarefa de ser feliz, me sobrou pouco tempo pra investir na velha inspiração que me inundava de contos.

Para que fique mais claro, iniciei este blogue no dia 10 de dezembro de 2009, vinte e cinco dias após ter me separado.

Fossa colossal!

Não acredito que alguém aceite ir até a frente de um padre (ainda mais sendo ateu), na frente de um juiz de paz, sem que se tenha uma fé tremenda de que aquilo é para sempre. Mas, vez ou outra, as coisas não saem exatamente conforme o planejado, ou imaginado.

Não que essa mudança de planos seja uma coisa ruim, mudanças costumam ser traumáticas, mas quando com elas se aprende, a tendência é que se tornem coisas boas, por mais assustadoras que no início se mostrem.

Acontece que, nas profundezas da culpa (culpa é pior que Diabo Verde, se pudesse ser engarrafada, não teria vaso sanitário entupido que resistisse ao seu poder de corrosão!), canalizar aquelas minhas noites embriagadas e mal dormidas em textos, foi a terapia que me coube.

Meus amigos mais antigos, aqueles que me conhecem desde os 14, 15 anos, dizem que sou o pai do Emo. Naquela época, quando Cauby Peixoto não sabia falar, Hebe Camargo era de fato uma gracinha e a Dercy Gonçalves ainda era virgem, eu queria ser músico. Tinha certeza que seria músico. Mais do que isso, tinha certeza de que depois de mim, o mundo mal se lembraria que um dia haviam existido uns tais Jhon e Paul. Não é exagero, eu realmente tinha certeza disso! Eu queria cantar, mas não sabia. Ainda não sei. Eu tocava bateria. Eu tinha uma banda com aqueles tais amigos. Por ser baterista e fazer questão de ser um marco na história da música mundial, eu era o compositor. Só eu. Não aceitava parcerias. Todas tinham que ser minhas. As músicas, já que as mulheres por força dos costumes ficam com os vocalistas. Mas minhas músicas eram todas, invariavelmente, repletas de dor de cotovelo, pés-na-bunda, um sofrimento enorme e infindável, mesmo com tão pouca idade. Por isso, virei o pai do Emo, segundo meus amigos mais antigos.

Minhas melhores músicas (esse “melhores” é questionável) vinham na mais intensa dor provocada pelos foras e chifres que rotineiramente eu levava das minhas namoradas.

Mas, um dia, eu fiz dezenove anos e me dei conta que, por mais que alguns anos antes eu tivesse tanta convicção em mim mesmo, me dei conta de que não era tão bom assim. Mais do que isso, nem pra bom eu servia, e resolvi me aposentar da música.

Aposentadoria por invalidez.

Outro dia, eu cresci. Virei adulto, sabe?

Cresci e era razoavelmente feliz, mesmo sem ter me tornado um marco na história da música mundial.

E, por ser razoavelmente feliz, já não tinha motivos para compor.

Um dia, ainda feliz, meu querido amigo Maykon Lontra Desmaiada me convidou para escrever num site chamado Tô Puto!

Criei uma coluna chamada “Mattos Sem Cachorro”, onde escrevia crônicas engraçadinhas sobre diversos temas. A coluna deu algum ibope, mas o site ficou chato e eu caí fora.

Aí eu ouvi a música “Mais vinho pra mim”, de Jean Mafra e Thiago Gomes, e fiquei tão tocado com a música que fiquei com vontade de sofrer. A música era, e é, muito linda, ela merece um sofrimento intenso. Mas eu não sofria. Então resolvi escrever um livro homônimo e escrevi. O livro ainda é inédito, mas eu gosto bastante dele. Acho realmente que ficou bom. Hoje escreveria algumas coisas que estão lá de modo diferente, mas não me permito alterar nada para não trair aquele cara daquela época que escreveu aquela história. Qualquer dia desses eu publico aquele livro. Pelo menos eu espero que isso ocorra.

Eis que, depois de alguns anos vivendo naquela felicidade, me casei e deixei de ser razoavelmente feliz para ser feliz de fato. E era, e fui. Mas um dia a coisa mudou. Aí me separei, e fiquei triste, muito triste.

Aí surgiu o blogue, meio sem querer, meio que uma terapia, e o que no início não sabia muito bem que finalidade dar, de repente virou uma espécie de livro virtual de contos. E, não sei se deus viu, mas eu vi que aquilo era bom!

E aquilo tomou cada um dos minutos que antes eu dedicava a sofrer. E, mais uma vez, a tristeza se chegou pra junto de mim encantadoramente inspiradora. Foram dois anos de textos e mais textos, alguns dos quais eu gosto muito, tenho realmente um grande orgulho de tê-los escrito, outros que fiz pra cumprir tabela, pra não ficar muito tempo sem publicar. Mas, sendo uns ou sendo outros, eles vinham facilmente, fluidamente, instintivamente. Eu estava triste, e ficar triste é ótimo pra criar! Pelo menos pra mim.

Por mais que eu já tenha me revelado como o pai precoce do Emo, não é melodrama, os frutíferos meses de vida deste blogue, foram meses muito difíceis de vida minha.

Se não fosse tão egocêntrico, teria procurado um psicólogo, um psiquiatra, a depressão teve momentos realmente preocupantes. Hoje eu vejo com a clareza que só o distanciamento dá, alguns dias foram preocupantes. Eles certamente teriam me receitado algum daqueles tarja preta que prescrevem quando percebem que a coisa tá feia. A coisa tava feia. A eminência do suicídio foi uma constante, sem exageros. Cheguei a tentar, mas não fui tão bem sucedido na tentativa de me dar um fim quanto na de dar continuidade ao blogue.

Mas eis que, uma hora, a maré mudou. Pra ser preciso, foi no dia do meu aniversário. Embora coisas e pessoas boas, ótimas, tenham entrado na minha vida antes disso, foi no dia do meu aniversário, quando completei 32 anos de vida, que ela, a minha vida, mudou.

Já tinha me conformado em jubilar na faculdade, não tinha saco pra escrever o meu TCC, quando um professor da primeira fase, que sempre admirei muito, entrou na loja em que trabalho e, depois de ganhar um desconto especial ao comprar um cortador de grama, me disse que me orientaria no TCC e faria com que eu me formasse.

Uma semana depois, coloquei este blogue em recesso para escrever o tal do TCC, e escrevi. Escrevi 181 páginas em dez dias. E ficou bom. Era pra ser matado, só para garantir o diploma, mas sou obrigado a chutar a modéstia pra escanteio, o trabalho ficou bom.

Era pra ter voltado ao blogue no início de novembro, conforme prometido no post anterior a este, mas aí resolvi curtir umas férias daquela tristeza que antes eu cultivava com tanto esmero, cerveja e cigarro.

E foi então que me dei conta que, mesmo antes do meu aniversário, já havia alguém que estava cuidando de mim com muita paciência, uma paciência que eu provavelmente não teria.

E, somando uma coisa à outra, cheguei a conclusão de que estou feliz.

O que é bom, mas por conseqüência, não tive mais ideias nem vontade de escrever.

Mas eu gosto de escrever, gosto de fazer daqui o meu rascunho. Eu quero verdadeiramente me tornar um escritor cada vez melhor, só preciso encontrar um meio de fazer isso sendo feliz.

Por que agora eu estou feliz, e não me imagino diferente de como agora sou. Não abro mão de sentir o que hoje sinto, nem pelos meus escrivinhados.

Bom, chega de lenga-lenga, venho comunicar-lhes oficialmente que este espaço está reaberto para a nova temporada. Vai me dar mais trabalho, mas vou continuar a escrever meus textos. O próximo, novo, inédito, estará no ar semana que vem.

Contudo, o blogue sofrerá algumas modificações, não será mais predominantemente um blogue de contos, intercalarei meus textos com posts pessoais, como este.

Por quê?

Por que eu quero, oras.

Aos que esperaram, obrigado pela paciência, aos que se cansaram, espero que voltem.

Vou tentar fazer textos melhores do que os anteriores, apesar da minha impertinente felicidade atual.

E que fique registrado, não precisei dos tais tarja-preta para me sentir feliz.

O que me deixou feliz?

Três coisas, as duas primeiras: o Figueirense e o Avaí, cada um a sua maneira.

Mas, principalmente, ele: o amor.

Ah, o amor...