sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Test-Drive: Aprendendo a lidar com meninas

 
Joga um menino na minha mão, e eu me viro. Sei direitinho o que fazer para entreter o moleque até ele estar totalmente esgotado, mesmo que eu já esteja há algum tempo. Tudo questão de uma apurada técnica desenvolvida pela convivência com meus sobrinhos Gustavo e Thiago. Hoje tenho mais dois, a Sofia e o Pedro, com o Pedro eu me viro que é uma beleza, com a Sofia vou com mais cuidado, é um território ainda estranho o mundo das brincadeiras de menina.
Menino é fácil, primeiro, brinca de lutinha. Pega o moleque, vira de cabeça pra baixo, joga no chão, senta em cima dele, bagunça o cabelo, deixa escapar, corre atrás, pega no colo, vira de novo de cabeça pra baixo, bagunça de novo o cabelo.

Pausa.
Video game.

Fim da pausa.
Pega a bola e bora pra qualquer espaço minimamente retangular que se pareça com um campo, e manda ver na correria. Primeiro um dribla o outro, depois ele é o goleiro e tu chuta, depois, quando o cansaço começa a aparecer, ele chuta e tu és o goleiro, depois, quando a exaustão toma conta, dá uma bicuda o mais longe que puder e diz que é treinamento de jogador de verdade, ele tem que correr atrás, pegar a bola, voltar com ela dominada nos pés e passar para que você dê mais uma bicuda o mais longe que puder, até que ele se dê por vencido e peça para voltar pra casa, exaurido, mas feliz por ter o melhor tio do mundo!

Mas acontece que eu estou esperando uma menina, e esse, como disse acima ao citar minha sobrinha Sofia, ainda me é um território meio hostil.
Como se brinca com menina?

Eu não conheço meninas que brincam de lutinha.
Tudo bem, elas brincam de bola também, mas não há nada no mundo que se diga que as convença de que não podem pegar a bola com as mãos no meio de campo.

Pois bem, para resolver este impasse e me tornar um pai minimamente preparado para entreter a nossa Clarinha, dia desses resolvemos fazer um intensivão. Raptamos para nossa casa quatro meninas lindas: Luana (a tia da Clara e melhor cunhada do mundo), Rafa (melhor amiga da Lu), Ana Julia e Ana Carolina, primas da Luana, ou algum laço de parentesco que se pareça com primas. Meninas com idades variando entre quatro e nove anos.
Primeiro é preciso conquistar a simpatia das visitantes, para tanto, tratei de permitir que elas escolhessem o cardápio, fosse ele qual fosse. Elas escolheram bolinha de queijo, coração de galinha e chocolate, combinação meio estranha, mas tudo bem. Para beber, suco de uva e guaraná. Lá vou eu ao supermercado, primeira dúvida: quanto come uma menina? Quanto comem quatro meninas? Na dúvida, disse para a moça da padaria: “vira toda essa bandeja aí de bolinha de queijo no saco de pão, e embrulha pra viagem.” Ela se assustou, as meninas, quando cheguei em casa, também se assustaram com a quantidade. Enquanto comiam as bolinhas de queijo, acendi o fogo na churrasqueira para preparar os coraçõezinhos. Enquanto o fogo acendia, brincar de pegar com a Ana Carolina, a caçula. Neste ponto, além de administrar as descobertas do mundo feminino-mirim, lidar também com as diferenças regionais. Disse sorrindo enquanto fazia cócegas na barriga dela, “sua bagunceira”, em tom carinhoso. Acontece que “bagunceira” na cidade onde ela mora, é bronca. Beicinho e corre para a barra da saia da Pri, ela sabe que a Pri já é mãe, e mãe é o melhor consolo para qualquer tipo de sofrimento.

Coração no fogo, baralho de Uno para jogar com as mais velhas.
Coração servido concomitantemente a uma barra de Shot, terceira temporada dos Simpsons na TV para nos fazer companhia enquanto comemos.

Depois, esconde-esconde num apartamento de dois quartos, uma se cansa, quer continuar a assistir os Simpsons, outra quer brincar com o Zé, a pequena esqueceu que estava chateada e queria de novo brincar de pegar, a mais mocinha começando a ficar cansada, mas, no fim, acho que todas se divertiram.
O primeiro teste até que foi mais fácil do que eu pensei. Se dei conta de quatro, acho que consigo me virar com a nossa Clarinha. Tudo bem, eu fiquei com elas pouco tempo, só a partir do momento em que cheguei do trabalho, já lá pelas 18:30, quem se dedicou com afinco no aprendizado foi a Pri, que passou toda a tarde com a meninada, foi à quadra com elas, montou uma comitiva para levar o Zé para passear, enfim, ela é que segurou a onda. Mas vamos com calma, um aprendizado homeopático será menos assustador.

Agora acho que já estou me entendendo um pouco melhor com esse mundo feminino-mirim. Ao longo destes cinco meses restantes, farei novas incursões neste universo, aumentando gradativamente a dosagem para, lá para junho do ano que vem, esteja totalmente pronto para divertir a minha menina até deixa-la extasiada de tanta brincadeira, desenvolvendo técnicas tão apuradas quanto as que já domino na arte de brincar com meninos.
Além do aprendizado, o principal saldo é ter observado a personalidade de cada uma daquelas quatro meninas, e começar a torcer para que a nossa Clara tenha um pouquinho de cada uma delas: espoleta como a Ana Carolina correndo pra cima e pra baixo sempre com aquela deliciosa gargalhada que só criança muito feliz tem, que curta Simpsons como a Ana Julia para me acompanhar nas minhas intermináveis sessões, que curta um Rock’n’Roll como a Luana para que passemos horas ouvindo música juntos, e que seja boa de papo como a Rafa, para esquecermos do tempo jogando conversa fora.

Muito obrigado, meninas, voltem sempre!

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Dezessete semanas: E o tempo passa leve como o sono de um bebê!

Passados os deliciosos festejos natalinos, repletos de comilança, presentes e um monte de gente que amamos tanto quanto nos amam, vamos às atualizações do desenvolvimento da nossa menina linda!

Dezessete semanas!
Nossa menina já está com 12 centímetros, pesa algo em torno de 100 gramas. É incrível como a barriga da Pri cresceu nos últimos dias. Na última semana ela deu uma arredonda bem perceptível, nunca esteve tão linda, e sei que a cada dia ficará ainda mais e mais.

O bom de estarmos nessa fase, é sabermos que o período de risco mais alto de um aborto espontâneo já se foi. Nos 3 primeiros meses, temos que ter um cuidado todo especial para que nossa filhota passe bem por esta etapa da gestação. Dá bastante medo, evitamos falar no assunto, só focamos em uma alimentação exemplar e todo o cuidado do mundo para a mamãe.
Mas esta fase passou e a Clara vai muito bem, obrigado.

Neste momento a Clarinha está se divertindo com o seu primeiro brinquedo, o cordão umbilical. Sua mãozinha, onde já começam a nascer as pequenas unhazinhas, se distrai apertando o cordão que a liga a mamãe, mas sem força suficiente para bloquear a passagem do oxigênio, apenas de farra mesmo. Ela continua treinando o processo de sucção e deglutição que tanto usará para diminuir nossas horas de sono daqui a pouco e, mesmo assim, cansados pela noite picotada, estaremos transpirando felicidade por tê-la nos nossos braços, toda miudinha, lindinha, vestindo o body dos Rolling Stones e mandando ver nas tetas da mamãe.
É engraçado que quando falamos da nossa gravidez, inicialmente ainda temos na nossa cabeça o período de 9 meses, mas agora faltam apenas 5 meses. Já estamos quase na metade do caminho. O tempo está voando! Ou melhor, flutuando, pois estamos desfrutando tanto de cada semana, mesmo com ela na barriga, que o tempo tem nos parecido mais leve.

Mais leve e mais bonito, como o soninho de um bebê.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Pais ateus



Sabe a Clara, aquela menina linda que virá ao mundo no meio do ano que vem?

Então, ela tem pais ateus!

Oooohhhh, que coisa horrorosa!!! Coitada dessa criança, que espécie de lar será este em que ela vai crescer, sem a presença do nosso senhor Jesus Cristo, sem o batismo?????
Pois é, pais ateus, veja só você. E por mais incrível que pareça, ateus, mas até que são boas pessoas. Pelo menos eram até agora, né?

Antes de falar sobre o que isso influi na nossa maternidade/paternidade, vamos colocar alguns i’s embaixo de determinados pingos soltos.

1 – Ateus não são adoradores do diabo. Tanto quanto não acreditamos em deus, o mesmo vale para o capeta.

2 – Não, não somos ignorantes que não tiveram uma experiência mística que nos fizesse ver a luz. Simplesmente estudamos a respeito, lemos bastante sobre o assunto, sobre as diferentes religiões que nos rodeiam, analisamos com um indispensável distanciamento de toda a ladainha que nos foi repetida desde pequenos e, por conseguinte, concluímos que não havia muito sentido naquilo que nos era propagado.

3 – Não somos pessoas sem valores morais, acreditamos sim em fazer o bem, mas não o fazemos esperando receber em troca um paraíso como prêmio ou por medo de um eventual castigo eterno num lugar quente repleto de dor, enxofre e ranger de dentes.

Eu costumo evitar este assunto, pois quando digo que sou ateu, depois dos olhares reprovadores iniciais, se me perguntam por que sou ateu, meus motivos costumam soar ofensivos, como se eu estivesse debochando da pessoa que me interpelou, e não é esse o objetivo. Não quero converter ninguém ao ateísmo, se são felizes acreditando em Deus, Jesus, Alá, que fiquem assim. Gostaria apenas que as pessoas tivessem atitudes reflexivas, críticas acerca das suas crenças, e não simplesmente as repetisse por que desde pequenos alguém lhes disse que é assim por que é assim e pronto. Nada é assim por que é assim e pronto. Tudo deve ter uma razão, uma lógica, um porquê. Para algumas perguntas simplesmente não teremos respostas, mas isso não precisa ser respondido sob a alegação de que é assim por que uma entidade mágica invisível quis que fosse assim. Eu não sei limpar um carburador, fazer neurocirurgia e nem a raiz quadrada de 1789, mas não por que estas são questões que cabem apenas à compreensão divina, e sim por que eu não me instruí a respeito. Por falta de interesse, acesso ou seja lá o que for.

Fui criado numa família cristã, num lar católico, fui batizado, fiz catequese, primeira comunhão tudo conforme manda a cartilha e, sim, boa parte dos valores que pautam minha conduta até hoje, vêm dos valores cristãos que me foram ensinados. Assim como os motivos que começaram a me fazer desconfiar daquela história, vieram também dos mesmos ensinamentos. Tanto quanto o soro antiofídico é feito a partir do veneno da cobra, o David ateu foi feito a partir das incoerências percebidas nos ensinamentos cristãos. Incoerências que talvez você nunca tenha percebido, ou talvez não lhe pareçam incoerências, mas a mim não só pareceram, como de fato são incoerências.

Meu raciocínio nunca conseguiu conceber por que o Deus que me disseram que existia, deu de presente para os homens o livre arbítrio, mas caso os homens decidissem agir diferente do que Ele mandava, seriam castigados. Então, sendo assim, o tal do arbítrio não é tão livre assim, não é mesmo?

Também nunca me pareceu muito lógico o tal Deus mandar para o mundo o seu filho, ter feito com que ele morresse de uma maneira cruel alegando que era para pagar o pecado dos outros, e mesmo com a morte dele os outros permanecessem obrigados a se confessar e pedir perdão.

Nunca me pareceu muito inteligente criar Adão e Eva, colocá-los num paraíso para que desfrutassem dele, e criar uma árvore com uma fruta proibida. O cara não é Deus? Por que criou uma árvore proibida? Não seria mais fácil simplesmente não criar a tal árvore? Ele não é onisciente, atemporal, onipresente? Então ele sabia que Adão e Eva comeriam a tal fruta, por que castigá-los? Sadismo? Me parece algo parecido com amarrar rojão em rabo de gato, é óbvio que o bichinho vai se machucar, então pra que fazer? Que espécie de diversão torta é essa?

Poderia escrever um livro inteiro só relatando as passagens bíblicas que me parecem absurdas pela incoerência, e como as pessoas não se dão conta delas. Mas não é esse o caso.

Quando comecei a refletir a respeito das histórias bíblicas sem medo da danação eterna, a única coisa que me pareceu lógica foi o fato de os homens terem sido criados à imagem e semelhança daquele Deus. Os homens são cruéis, vingativos, ciumentos, narcisistas. Aquele Deus da Bíblia, também. Ou as coisas são do Seu jeito, ou a Sua ira divina vai ferrar com a vida deles! O Deus da Bíblia é a exata imagem e semelhança dos homens, ou da maior parte deles, cheio de falhas e fissuras no caráter. Não me pareceu inteligente crer e defender um Deus daquele.

Se você analisar a nossa história política recente, ela já será extremamente dúbia, pois é sempre contada a partir de um determinado ponto de vista. Dependendo de quem conta, o mocinho vira vilão, e vice-versa. Se isso pode ser feito agora, nos tempos atuais, se hoje em dia os fatos são dúbios, imagine uma história contada há mais de dois mil anos. Detalhe, contada num livro que foi escrito 300 anos depois dos supostos fatos terem acontecido. Imagine hoje, sem fotos, livros, sem o google, sem a internet se seríamos capazes de escrever um livro fidedigno sobre o que aconteceu em 1.700, apenas através dos relatos contados de boca a boca. Nosso passado é sempre mais glorioso do que de fato foi, quando o contamos para algum conhecido. Nos nossos relatos, somos sempre mais safos, espertos, pegadores, talentosos do que de fato éramos. Imagine isso lá, 300 anos depois do tal Deus ter enviado seu filho para ser crucificado na terra.

Quando engravidamos, no início o que eu mais ouvia dos próximos a mim, era: “agora quero ver tu dizeres que não acreditas em deus, agora tu vais entender o milagre que é a vida”.

No começo eu não dizia nada, só dava um sorriso amarelo e deixava por isso mesmo. Depois começou a me incomodar, ficava com a sensação de estar sendo chamado de burro, estúpido, ignorante, coisas essas que não sou.

Milagre é um conceito questionável. Há quem chame de milagre uma coisa que é absurdamente bonita, como se milagre fosse superlativo de beleza, neste caso, sim, o nascimento de uma criança é um milagre, pois é lindo!

Agora, se milagre diz respeito a alguma reação mágica, sobrenatural, neste caso não, o nascimento não é um milagre, pois no frigir dos ovos tudo não passa de um espermatozoide que encontrou um óvulo, é uma reação química, física, biológica, não uma mágica.

Minha filha não será batizada em nenhuma igreja, não até que ela possa decidir se quer ou não receber o batismo.

Minha filha não nasceu marcada pelo pecado original. Ela nasceu do amor que eu sinto pela Priscilla e que ela sente por mim. E amor, não é pecado.

As pessoas batizam por convenção social, mas não levam o batismo a sério. Eu, que sou ateu, respeito muito mais o batismo do que a maior parte dos fiéis. Eu não vou jurar numa cerimônia que criarei minha filha sob os preceitos de determinada religião, que a levarei à igreja, sendo que já sei de antemão que não o farei. Como a maior parte das pessoas que estão lendo e têm filhos batizados, não faz/fez. Batizou, mas não cumpriu o juramento.

Quando escolho não fazer o juramento, estou respeitando àqueles que realmente creem e o fazem de coração, certos de que seguirão o que estão jurando.

Se jurasse, começaria a relação com a minha filha mentindo para ela, e isso eu me recuso a fazer.

Jamais iniciaria a minha filha numa religião cujos preceitos determinam que pai e mãe devem ser respeitados, mas não diz nada sobre os pais respeitarem os filhos. Sim, honrar pai e mãe é preciso e minha filha será ensinada sobre isso, tanto quanto será ensinada que ela também é merecedora de igual respeito e consideração.

Jamais iniciaria a minha filha numa religião cuja entidade divina máxima, ordenou que um pai sacrificasse seu filho como prova de lealdade. E não me venha dizer que depois ele mandou um anjo segurar a mão de Abraão, impedindo que seu filho Isaac morresse pelas mãos do próprio pai. Isso não é bondade, é tortura psicológica. Qualquer espécie de ameaça que é feita a uma criança, é também uma violência. Você pode não concretizar a ameaça, mas tê-la feito já é uma agressão à criança.

Minha filha não vai ser iniciada numa religião que diga que ser gay é pecado ou feio, pois talvez ela seja e faço questão que ela se sinta segura para assumir aquilo que a fizer feliz.

Minha filha não vai ser iniciada numa religião que diga que aqueles que creem diferente do que prega, estão errados. Ela aprenderá apenas que um mesmo fato pode ter diferentes pontos de vista, assim como o meu irmão prefere a cor azul, e eu a preta. Nenhum de nós está certo, nenhum de nós está errado. Minha filha aprenderá que amar e respeitar o próximo é importante, mas não do jeito cristão, pois se o próximo for diferente de mim, mesmo assim, ele é merecedor do meu respeito.

Nenhuma criança nasce cristã. Talvez seja dolorido admitir, mas ninguém, nem você, nem seu filho, nenhum de vocês nasceram cristãos. Vocês foram ensinados a serem cristãos, foram doutrinados assim. Do mesmo modo que se tivessem nascido numa cultura diferente, talvez hoje fossem islâmicos, judeus, ou seja lá o que for.

Se você tivesse nascido no meio do mato e passado toda a sua vida lá, jamais sentiria falta de Cristo, e não seria infeliz por isso, pois não faria parte do seu mundo, da sua realidade.

Do mesmo modo que eu, você, o seu vizinho, a Clara também não nascerá cristã. A diferença é que ela não será doutrinada a ser cristã. Ela terá toda a informação que precisar, e será ensinada desde pequena a pensar a respeito das coisas, a refletir, a criticar – e quando digo criticar, não estou dizendo falar mal, mas pensar sobre – para que ela mesma possa concluir se o que lhe for passado de informação é ou não válido para ela. Ela saberá os motivos pelos quais os seus pais são ateus, vou pedir para que ela converse com o vovô Abelardo para que ele lhe explique por quais motivos é católico, com o vovô Adriano para aprender por que ele se identificou com uma religião africana, a Nação, e hoje faz parte dela, com a tia Mary para saber o que é o espiritismo e, a partir das suas próprias conclusões e experiências, tome suas decisões, faça suas escolhas e seja feliz com elas, segura de que optou por aquilo que lhe faz bem. E, mais do que isso, ela saberá que caso escolha alguma religião para seguir, será respeitada e apoiada tanto pelo seu pai quanto pela sua mãe, pois na casa em que ela vai crescer, os valores que receberá lhe dirão que ser ou crer diferente não faz de ninguém pior nem melhor, faz simplesmente diferente.

É a diferença que nos torna interessantes, ela é bonita, nos ensina, acrescenta, soma, merece e deve ser respeitada.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

2012: O Gran Finale! ou: O Melhor Ano da Minha Vida!


Acordei hoje bem cedo, e enquanto as mulheres da minha vida dormiam, comecei a pensar sobre as revoluções que ocorreram na minha vida, especialmente no último ano. Se o que dizem por aí se confirmar e o mundo de fato acabar no próximo dia 21, como foi o último ano da sua vida? O meu foi sem dúvidas o melhor, os anteriores também foram ótimos, mas esse foi especial. Sei que com a chegada da nossa Clara em 2013, anos infinitamente melhores estão por vir, mas 2012 é, até então, um ano dos sonhos!

Comecei a analisar meu ano em retrospectiva, e compartilho com vocês:

Janeiro:

  * Pela primeira vez na vida, ganhei dinheiro como escritor. Pouco, é verdade, praticamente simbólico, mas é tão boa a sensação de ser remunerado por algo que é feito sem pensar na remuneração, simplesmente por gostar de fazer.


Fevereiro:

     * Depois de estar com a faculdade terminada há dois anos, faltando apenas a entrega do TCC, finalmente me formei com toda a pompa e circunstância!


     * Presenciamos o nascimento da Rebecca, filha dos nossos queridos amigos Alex Bagual Aimbiré e Verônica, uma criança super especial cuja chegada me deixou profundamente emocionado e feliz!



Março:

      * Conheci um novo grande amigo: Aldo Junior. Uma dessas fantásticas coincidências da vida. Havia trabalhado com o pai dele em 2002, quando ele mal tinha saído das fraldas. Por intermédio de outro grande amigo, o Carioca, conheci este cara sensacional, e hoje, com o Aldo pai já falecido, agora me intitulo pai do Aldo Jr.!





Abril:

     * Fomos ao show do Paul McCartney, um sonho realizado!



      * Casamos num boteco, rodeados por amigos preciosíssimos!



Maio:

    * Casamos em família!


      * Ganhamos um carro de presente!


       * Casamos no cartório!


     * Passamos uma semana num resort all inclusive na Bahia!


Junho:

     * O Zé veio morar conosco! Sabe o livro/filme “Marley e Eu”, que diz que aquele labrador é o pior cachorro do mundo? Então, o Zé é o contrário, ele é o melhor cachorro do mundo! Medroso, cagão, se borra de medo dos nossos gatos, mas sem sombra de dúvidas o melhor cachorro do mundo!


     * Nasceu a Ana Beatriz, filha do Jean e da Ana, uma criança muito especial e aguardada com todo o amor do mundo por todos os que convivem e amam esses dois que agora são três!


Julho:

         *Mudei de emprego – com o coração apertado até hoje, pois adoro a minha ex-empresa e as pessoas maravilhosas que conheci lá – mas muito feliz por ter sido lembrado por uma ex-colega de trabalho lá de 2007, sido indicado com a melhor das referências e aceitado assumir um desafio muito grande, numa empresa também muito legal. Melhor de tudo, todo fim de ano eu estabeleço quanto eu vou estar ganhando no fim do ano que se inicia, e corro atrás para alcançar. Este ano, em julho eu já estava no patamar que tinha estabelecido para dezembro!

          *Casamos no Ilê de Xangô do Ribeirão da Ilha, numa cerimônia tão linda, mas tão linda que até hoje quando lembro fico emocionado. Pensávamos que seria apenas uma benção, mas foi algo realmente lindo, com tanto simbolismo e verdade, que outras religiões deveriam observar e aprender a fazer parecido, pelo menos no que é dito. Embora não façamos parte daquela religião – e de nenhuma outra - , pessoas que amamos muito fazem parte e fizeram a cerimônia para nos homenagear, e por isso seremos eternamente gratos. Não é sempre que se ouve um celebrante dizer algo como: “Não queremos que fiquem juntos para sempre, mas fiquem pelo tempo em que forem capazes de se fazerem mutuamente felizes. Se em algum momento um dos dois não estiver feliz na relação, que o outro tenha a grandeza de deixa-lo livre para ser feliz.”. É nisso que acreditamos, na felicidade diária, não na eterna. Foi muito especial!



Agosto:

        *Fui ao prédio de Mariana Morena, iniciar com ela o trabalho de Coaching que, embora esteja momentaneamente meio estacionado, me ajudou muito em muita coisa. Morena é uma grande amiga minha que me ajudou muito quando eu estava super deprimido na época da minha separação. Olhando aquele prédio, pensei: “Caramba, que lugar lindo, que prédio legal, quando será que vou poder morar num lugar assim???”

       *Encontramos os médicos obstetras cuja filosofia vinha de encontro para o que acreditávamos ser a maneira ideal de se ter e receber um bebê, a cada nova consulta ficamos mais fãs deles. Um salve para os doutores Marcos Leite e Pablo Queiroz, que receberão junto conosco nossa filha Clara;

     *Começamos o processo de engravidamento;

Setembro:

      *ENGRAVIDAMOS!!! (embora ainda não soubéssemos disso)


Outubro:

        *Fiz 33 anos comemorando com uma grande ceia, sem que algum amigo me traísse ou meu pai me crucificasse dizendo que estava fazendo isso pelo bem dos outros;


     
        * Confirmamos nossa gravidez!!!!



Novembro:

      *Lembra do prédio legal, lindo, da minha amiga Mariana Morena, lá do mês de agosto? Nos mudamos para este prédio, estamos morando dois andares abaixo da Morena;

      *Embora eu já tivesse certeza disso, o ultrassom nos confirmou que estamos esperando uma menina, a nossa Clara!



      *O Figueirense caiu para a segunda divisão. Ok, isso não tem absolutamente nada de positivo, mas não existe um final grandioso sem um pouco de drama.

      *Comemoramos o aniversário da Pri só nos três, na nossa casa nova ainda vazia, e foi tão legal, tão marcante para nossa família em formação!


          *Pegamos autógrafos do Fernandes, Wilson, Tulio, Soares, Chico Lins na primeira camisa do Figueira da nossa Clarinha!



     *Nossos grandes amigos Jean e Ana Carina nos apresentaram duas pessoas fantásticas por quem já temos um enorme carinho, tamanho os ensinamentos que eles tão generosamente têm nos dado: Ligia e Frank e a linda filhotinha que também se chama Clara!




Dezembro:

         *Penduramos na parede da nossa casa duas obras do genial e saudoso artista plástico Mausé, são elas: “Terno de Reis” e “Mosaico”;
*
   * Começamos as festividades de fim de ano com o dia mais esperado de dezembro, o Bingo da família Mafra-Baron;

*

Fala a verdade, foi ou não foi um ano sensacional?!

Se o mundo de fato acabar no próximo dia 21, 2012 foi um gran finale  apoteótico, e só não desejo que ele dure para sempre, pois é preciso que 2013 chegue para que traga a Clarinha para os nossos braços!

Feliz fim de mundo pra todo mundo!




quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Politicando: "A arte de produzir efeito sem causa" ou A arte de produzir dano sem culpa. Para Ulysses Dutra e Luis Inácio Lula da Silva, com carinho.

Mais uma breve pausa no diário do papai, para politicarmos outra vez. Tudo bem pra você?



Imagine a cena:
Marisa, uma mulher simples e recatada, embora meio deslumbrada pelo conforto recente da sua condição de nova rica, chega ao prédio com uma amiga, quando Marcos, o porteiro, que gosta muito dela, lhe alerta encabulado: “olha, dona Marisa, eu não queria dizer nada não, mas o seu marido tá com uma outra dona lá no seu apartamento. Mais do que isso, sempre que a senhora sai, em seguida ela vem pra cá e os dois passam a tarde inteira juntos!”.

A amiga olha surpresa e indignada para Marisa, como pode uma coisa daquelas!
Sempre sensata, Marisa pondera: “Calma,precisamos averiguar os fatos, não podemos sair acreditando na primeira coisa que nos dizem!”

As amigas entram no apartamento e, para surpresa geral, encontram o marido, Seu Luís nu, vestindo apenas o par de meias pretas, de pau duro, em frente à sua secretária, Rose, que por sua vez estava totalmente nua.
O marido, coagido pelo flagrante, diz assustado: “Calma, Marisa, minha companheira, eu posso explicar tudo! Ou melhor, eu não posso não, na verdade eu nem sei o que está acontecendo aqui! Rose, minha filha, por que você está pelada na minha frente?”

A amiga revolta-se, solidarizada com o óbvio escárnio do marido infiel para com sua esposa, diz: “Vamos Marisa, você não precisa passar por mais humilhação, fique lá na minha casa enquanto você resolve o divórcio.”
Mas Marisa, calmamente, olha para sua amiga, e diz: “Divórcio? Que divórcio?”

_Como assim, que divórcio, Marisa? O teu marido está te traindo!
_Você viu alguma coisa de concreta? Viu o meu marido mantendo alguma relação com aquela mulherzinha?

_Marisa, o teu marido está nu!

_Não, minha querida, ele não está nu. Olha ali, ele está de meias pretas!
_Marisa, ele está de pau duro, Marisa!

_Nunca ouviu falar em tesão de mijo? Os homens tem disso direto!
_Marisa, a secretária está nua na frente dele!

_Ora, meu bem, com esse calor que tem feito, quarenta graus na sombra, até eu tenho vontade de andar nua por aí!
_Marisa, por favor, é óbvio que ele está te traindo!

_Não, por favor, minha querida, não sejamos injustas, não cometamos julgamentos precipitados! Até concordo contigo que possam haver indícios que nos levem a crer que havia alguma coisa estranha por aqui, mas não havia nada de concreto, não temos o direito de condenar alguém só por causa de um indício, sem que haja uma prova concreta de fato!
_Marisa, o porteiro falou que eles sempre vêm pra cá, se encontram assim que você vira as costas!

_Ora, por favor, não me venha com mais esse argumento vazio! Quem tem mais credibilidade, o porteiro que todo mundo sabe que gosta de tomar umas biritas de vez em quando, ou o meu marido que proporcionou todo esse conforto para mim, paga meu cartão de crédito, me dá carro com motorista e não me pergunta onde gasto o nosso dinheiro, apenas garante que eu possa continuar gastando?
_Marisa, eu não estou acreditando no que eu estou ouvindo...

_Por favor, o Luis é ótimo pra mim! Ele é meu tudo, é minha casa, minha vida!
 

Imaginou a cena?
Eu pensei nesta cena depois de ler no facebook um acalorado debate num post do inteligentíssimo – isto não é ironia, eu realmente o admiro demais, sou seu fã de verdade, embora discordemos de muita coisa quando o assunto é política – Ulysses Dutra.

Ele alegava que ao comparar a palavra de Marcos Valério, que agora acusa Lula de envolvimento no mensalão, com a do ex-presidente, preferia ficar com o que diz o segundo. E mais, contestava ainda o fato de o julgamento do mensalão estar sendo conduzido com base na presunção dos fatos, e não em fatos concretos, por mais indícios escandalosos que haja nestas tais presunções.
Importante destacar que a presunção dos fatos não é uma invenção tucana, como talvez queiram alegar os calorosos defensores de Lula, é uma corrente mundial que vem pautando uma nova maneira de se entender o direito, praticada em vários países, e não apenas na condução do caso do mensalão.

Estou há dois dias pensando naquele post do Ulysses, quase escrevi um milhão de vezes no próprio post, mas preferi esperar um pouco para amadurecer mais a ideia.
Há quem diga que seria impossível acontecer tudo o que houve, sem que nossa autoridade máxima na oportunidade estivesse ciente.

Há quem diga que prefere acreditar em sua palavra, quando ele diz que não sabia de nada.
Há quem diga que Lula merece crédito por ter sido – e isso não se discute – o presidente da história do país que mais realizou avanços sociais, não importando os meios e as consequências para/das tais realizações.

Do mesmo modo que há quem diga que Paulo Maluf foi o cara que mais realizou obras em São Paulo.
Tanto quanto há quem diga que ele enriqueceu muito com isso, e possui algumas belas e gordas cadernetas de poupança no exterior, na segurança tranquila de paraísos fiscais.

Enfim, toda essa história me lembrou o título do romance de Lourenço Mutarelli, que parafraseei no título deste texto: “A arte de produzir efeito sem causa”. É o que me parece que Lula fez.
Muita coisa estranha aconteceu nos seus dois mandatos bem embaixo do seu nariz, mas ele não sabia de nada. Tudo bem que as pessoas escolhidas por ele para tocar o barco, todas da sua mais altíssima confiança e credibilidade, sabiam. Mas ele não.

É, para mim, sem sombra de dúvidas, uma bela demonstração da arte de produzir efeitos sem causa.
Ou talvez valha aqui uma adaptação para: “A arte de produzir dano sem culpa”.

Salve Ulysses!
Salve Lula!

Salve Jorge!
Salve-se quem puder!

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Papai-Doula


Você sabe o que é uma Doula?

Sabe o que ela faz?
Sabe se é de comer, beber, fumar ou cheirar?

Eu também não sabia, até engravidar.
Resumidamente, Doula é uma acompanhante da parturiente, também conhecida como “mamãe”. Não é médica nem alguém da equipe responsável pelos procedimentos médicos, mas pode ser alguém tão importante quanto qualquer um destes.

Em tempos de combate à violência obstétrica, a Doula é alguém que atua exatamente no sentido contrário às agressões que muitas mulheres sofrem no momento de trazerem ao mundo seus bebês. O seu papel é dar suporte emocional à mamãe e também ao papai, que muitas vezes não sabe como agir quando é chegada a hora de pegar seu filhote nos braços. Normalmente as Doulas são fisioterapeutas, psicólogas, professoras de yoga que fazem o curso específico de formação em Doula, para que estejam capacitadas para acompanharem as futuras mamães antes, durante e depois da chegada dos seus filhotes. Segundo o site www.doulas.com.br, o papel das Doulas é:
“Antes do parto a ela orienta o casal sobre o que esperar do parto e pós-parto. Explica os procedimentos comuns e ajuda a mulher a se preparar, física e emocionalmente para o parto, das mais variadas formas.

Durante o parto a doula funciona como uma interface entre a equipe de atendimento e o casal. Ela explica os complicados termos médicos e os procedimentos hospitalares e atenua a eventual frieza da equipe de atendimento num dos momentos mais vulneráveis de sua vida. Ela ajuda a parturiente a encontrar posições mais confortáveis para o trabalho de parto e parto, mostra formas eficientes de respiração e propõe medidas naturais que podem aliviar as dores, como banhos, massagens, relaxamento, etc..

Após o parto ela faz visitas à nova família, oferecendo apoio para o período de pós-parto, especialmente em relação à amamentação e cuidados com o bebê.”

 As Doulas especializam-se em massagens próprias para o relaxamento das gestantes, procuram orientar a mamãe e o papai sobre como será o momento do parto, informar-lhes sobre detalhes que talvez eles não tenham pensado, mas que viverão a partir de agora.
Não é um profissional imprescindível, mas é alguém que pode sim auxiliar a tornar a experiência do nascimento num momento realmente especial e inesquecível, atuando desde algum relaxamento na hora do parto para a mamãe, como ajudar o papai a contribuir na hora da amamentação.

Por que estou trazendo este assunto a tona? Simples, por que resolvi fazer o curso de Doula!
Sim, serei um Papai-Doula da minha esposa!

Não que eu ache que uma profissional externa não possa fazer esse papel, claro que pode, elas se preparam para isto, mas acontece que eu também quero me preparar!
Se a intenção é dar suporte psicológico, emocional e também físico a mamãe, ninguém melhor do que o papai que estará ao seu lado durante todo o processo, toda a bela caminhada da gravidez!

As Doulas são importantes, por que a maior parte dos homens não participa como poderia da gravidez, atua como “engravidador”, quando o ideal seria atuar como “grávido”. Mas não digo isso para rotular os homens de insensíveis, cruéis e indiferentes a este momento. Se agimos assim, é por que culturalmente foi assim que nos ensinaram a agir. Os homens só aprendem a trocar fraldas depois que seus filhos nascem – quando aprendem – por que cresceram ouvindo que brincar de boneca é coisa de menina ou mariquinha. Não podiam brincar de casinha, só de carrinho, de bola e de polícia e ladrão. E, quando brincávamos de casinha, fazíamos o papel do papai, que era o de sair, trabalhar e voltar para jantar. Nunca trocar a fralda do bebê-boneca das meninas.
Os meninos tornam-se adultos ouvindo que homem não chora, aí acabam agindo com frieza, por que esse é o jeito que lhes parece ser forte, que é o jeito que homem tem que ser. Duro, insensível e sem glândulas lacrimais.

É tanta coisa dita por tanto tempo, que na hora de tornarem-se pais, não sabem como agir. A mulher precisa de apoio, carinho, suporte, paciência, mas nunca foi dito que deveríamos saber isso tudo, esqueceram de nos ensinar isso.
Mas nem tudo está perdido, amigos! Não nos ensinaram, mas nada nos impede de corrermos atrás de prejuízo e aprendermos agora! Temos nove meses para isso, amigos, dá tempo! O negócio é corrido, mas dá tempo!

Tenho estudado muito, tanto através de livros quanto da informação de amigos que tiveram filhos há pouco tempo. Claro que não irei impor a minha participação como Doula, até por que talvez, por mais que eu estude, eu também precise desta ajuda na hora da chegada da nossa menina. Sei que estarei emocionado, feliz, inseguro e eufórico, tudo na mesma proporção, tentarei fazer o meu melhor, mas se quando for chegada a hora, eu perceber que não estou preparado para oferecer à Priscilla o apoio que ela precisará, sem dúvidas procuraremos alguém que esteja pronto. Contudo, entretanto, porém e todavia, creio que terei o equilíbrio emocional necessário, estou me preparando para isso.
Farei o curso, tão logo esteja frequentando as aulas contarei para vocês os aprendizados e minha conclusão, se posso realmente ser a pessoa indicada para desempenhar este papel de Papai-Doula.

Para quem quiser maiores informações sobre o assunto, aqui tem um site legal sobre o tema: www.doulas.com.br

 

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Quinze semanas, nossa pequena preparada para o verão!

Quinze semanas!

Nossa menina está a mil por hora, semana passada fizemos nosso terceiro pré-natal e, novamente, pudemos ouvir o coraçãozinho acelerado da nossa Clarinha! No ultrassom que fizemos dia 29, ela media exatamente 6,7cm (6,66cm para ser mais exato, altura muito apropriada para a filha de um herege como eu), mas hoje, passadas quase duas semanas do nosso primeiro ultrassom, ela já cresceu bastante e deve estar com aproximadamente 10cm. Seu peso deve estar em torno de 50 gramas, ou seja, nosso mini-pedaço de mal caminho está com as medidas super em dia para abalar no verão!
Nesta altura da nossa gravidez, nossa filhota já percebe a luz, mesmo que seus olhinhos permaneçam fechados. Mas, ainda assim, se um flash for disparado muito próximo a barriga da mamãe, ela já perceberá a claridade. Do mesmo modo, cada vez escuta mais e melhor os sons que vem do lado de fora da barriga, e para entreter minha pequena fico fazendo versões de músicas, por exemplo, o hit do fim de semana, foi: “O Clarinha tão bonitinha do pai, você vale ouro, todo o meu tesouro...”.

No sábado fomos ao Bazar Coisas de Mãe, uma feira muito legal realizada no SESC do Cacupé uma vez por mês, idealizada e organizada pela sensacional Lígia Moreiras Sena, autora do site www.cientistaqueviroumae.com.br , mãe de uma linda menina que também se chama Clara, esposa do grande Frank Maia, que generosamente aceitou meu pedido para orientar este espaço, de modo a torna-lo não só um caderno de lembranças sobre este período tão lindo de descobertas e aprendizados que tenho vivido, mas também um local onde os homens encontrem conteúdos que lhes ajudem a tornarem-se pais melhores e mais participativos. Em breve iniciaremos a parceria. Além dos deliciosos minutos de conversa muito instrutiva para o papai aqui, compramos camisetas, body para nossa pequena, ganhamos um livro de presente e brincamos no parquinho com a Clara (não a nossa, ainda, mas a da Ligia e do Frank) e com minha querida cunhada Luana.

 
Fim de semana maravilhoso, domingo preguiçoso na companhia das mulheres da minha vida, e aquela sensação de que o tempo está voando e se arrastando ao mesmo tempo, só aumenta!
No nosso terceiro pré-natal, nosso obstetra nos emprestou um livro muito legal que trata das vantagens e riscos na escolha do modo de se realizar o parto. Traz as particularidades e consequências sobre cada uma das possibilidades: césarea ou parto normal.

Tão logo termine a leitura, farei aqui minhas considerações a respeito.
No mais, saudações do papai cada vez mais maravilhado e babão com essa experiência tão linda e singular!

Para finalizar, a musiquinha que coloquei para acordar minhas amadas no sábado:



quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Eu homem, eu grávido!



No post de ontem, publiquei um documentário produzido por algumas corajosas mães que aceitaram expor suas histórias no intuito de alertar e evitar que outras mulheres passem pela crueldade que elas passaram.
O documentário, como disse no curto parágrafo de ontem, é muito triste, mas seria ótimo se todos assistissem para que as pessoas tivessem consciência de como nosso estado trata nossas mulheres, esposas, filhas, mães, irmãs, tias, elas que sempre estão dispostas a cuidar de nós, quando de nós precisam, ficam expostas a violências daquela ordem.

Dado o momento que estou vivendo, o vídeo me sensibilizou muito mais do que naturalmente já sensibilizaria e, assim sendo, mais do que indicar a todas as pessoas que acessam este humilde blogue, creio que principalmente os pais, homens devam assisti-lo, e tomem uma postura mais ativa a frente da gravidez que compartilham com suas esposas.
Sim, gravidez compartilhada.

A Priscilla está grávida com nossa menina no ventre, mas eu estou tão grávido quanto ela, ainda que por mais que minha barriga teime em crescer, não haja nada além de gordura dentro dela.
Amigos já riram de mim quando me ouviram dizer que estou grávido, quando digo que tenho consulta no “nosso” obstetra.

Não sou psicólogo, entendo pouco, quase nada sobre o ser-humano, mas tenho minhas convicções e creio que boa parte delas podem, se não mudar determinadas atitudes de outros homens, pelo menos contribuir para que reflitam sobre o modo como têm agido nos seus papéis de homens, pais, maridos.
Escrevi esses dias sobre a coadjuvância masculina durante a gravidez, mas não quis com isso dizer que não somos importantes, muitíssimo pelo contrário! Nosso papel de coadjuvante tem a importância que dermos a ele, e protagonistas sempre brilham mais quando têm ao seu lado um coadjuvante a altura do seu talento. Amigos, posso não entender muito sobre o ser-humano, mas tenho certeza, sua mulher, esposa será uma mãe tão melhor quanto melhor for o apoio que você der a ela.

Você não terá o poder de transferir para você os enjoos de início de gravidez, mas fará toda a diferença para ela, se você estiver ao seu lado para alcançar-lhe o papel higiênico para que ela limpe a boca após vomitar no vaso.
Você não terá o poder de transferir para você o desconforto que ela vai sentir no final da gravidez, mas fará toda a diferença se comprar um travesseiro melhor para que ela se acomode da melhor maneira que for possível.

Você não terá o poder de transferir para você a insônia que talvez ela sinta no meio da noite, mas fará toda a diferença se abdicar do seu sono e passar alguns minutos conversando com ela, para que volte o sono.
Você não terá o poder de transferir para você os pés inchados, mas fará toda a diferença se procurar aprender uma massagem relaxante para os pés da sua amada.

Você não terá o poder de poder amamentar seu bebê, mas fará toda a diferença se procurar tornar o ambiente onde estiverem o mais confortável possível para que sua esposa possa amamentar pelo tempo que for necessário, com toda a tranquilidade e harmonia que esse momento tão bonito e íntimo pede, sem permitir que outras pessoas interfiram e/ou atrapalhem.
Ao ver os depoimentos no vídeo postado ontem, não pude me conter de pensar: “onde estavam os maridos dessas mulheres???”.

E não me perguntei isso pensando exclusivamente no momento do parto, pois ali eles provavelmente se sentiram tão vulneráveis quanto elas, diante da desumana saúde do nosso país. Mas antes, durante os nove meses que se antecederam àquele momento, onde estavam os maridos?
Será que se eles estivessem mais presentes nos nove meses que antecederam ao parto, todo aquele sofrimento não teria sido evitado?

Quantos deles trataram o obstetra como um médico não da mulher, mas do casal?
Quantos deles pesquisaram sobre o médico, quantos deles procuraram se instruir tanto quanto as mulheres acerca da melhor maneira de trazer seus filhos ao mundo?

Quantos deles leram pelo menos um texto que trouxesse nas suas linhas os benefícios e riscos que existem tanto na cesariana quanto no parto normal?
Quantos deles acompanharam as esposas nos exames pré-natal?

Talvez eles tenham buscado o conhecimento, talvez tenham sido presentes, mas será que o suficiente?
Será que eu estou sendo grávido o suficiente para acompanhar a minha grávida?

E eu sei que você, homem-pai-grávido que está lendo, talvez pense “sim, eu fui/sou um pai-marido bastante presente!”, mas será que o suficiente?
Hoje eu me peguei fugindo das minhas responsabilidades de homem grávido. Sem querer, não por maldade, mas percebi que o comodismo da minha condição de coadjuvante, quis me tirar da frente da câmera numa cena que eu deveria estar presente.

Teremos nosso terceiro pré-natal na sexta-feira pela manhã. Após termos feito nosso primeiro ultrassom na última quinta-feira, e termos visto que está tudo ótimo com a nossa Clarinha, pensei automaticamente: “ah, já acompanhei ela nas consultas anteriores à gravidez, quando estávamos nos preparando para engravidarmos, já acompanhei ela nas duas primeiras consultas pré-natal, estava segurando a mão dela quando ouvimos pela primeira vez o coraçãozinho da nossa filha, estava ao lado dela quando o médico disse ‘deem boas-vindas a Sra. Clara’, acho que ela pode ir sozinha na próxima consulta, vai ser meio chato eu faltar de novo o trabalho.”
NÃO, ELA NÃO PODE IR SOZINHA!

E mesmo que ela vá com a mãe dela, não é a minha sogra que está grávida, SOU EU!
EU ESTOU GRÁVIDO!

A Priscilla não poderia dizer não à consulta, não é justo que eu possa, eu estou tão grávido quanto ela!
Sim, não é nada bom me ausentar do trabalho, mas basta eu ser honesto com meus superiores, eles saberão – como sabem –que se trata de um momento muito especial na minha vida, entenderão a minha ausência. Caberá a mim, nas horas em que estiver presente, trabalhar mais e melhor, ser mais produtivo, não só para compensar a compreensão dos meus superiores, mas pela minha filha, para que meu desempenho profissional seja também um bom exemplo para ela.

Ser pai não é pagar o plano de saúde da esposa, não é sustentar a casa, vez ou outra lavar uma louça. É algo certamente muito maior.
Repito, sei muito pouco sobre as pessoas, mas tenho certeza que o mínimo que eu faço para ajudar minha esposa, para participar com ela da nossa gravidez, faz com que ela se sinta feliz, e esse sentimento tem origem não só psicológica, mas química também. E tanto uma sensação quanto outra, a minha filha sente também. Cada vez que minha esposa se sente bem, acolhida, a minha filha também se sente do mesmo modo. E, hoje, a única coisa que me faz realmente feliz, é saber que as duas mulheres que eu amo estão bem, felizes, seguras e tranquilas.

Eu sou o primeiro referencial masculino da Clara, e essa referência interferirá diretamente na maneira como ela se relacionará com os homens no futuro. Se ela crescer me observando distante da sua mãe, um marido burocrático, frio, apenas um provedor de dinheiro para pagar as contas, ela aprenderá que é assim que são os relacionamentos entre homens e mulheres, e o primeiro cara que aparecer na vida dela oferecendo o mínimo, parecerá o suficiente. Não sei para você, para sua filha, mas para a minha filha o mínimo nunca será o suficiente! Ela merece mais, ela merece o máximo que uma mulher pode ter! Sendo assim, do mesmo modo, o contrário também vale! Se ela crescer me observando respeitar a Priscilla, cuidar da Priscilla, incentivar a Priscilla, admirar a Priscilla, amar a Priscilla, ela aprenderá que é assim que as mulheres devem ser tratadas, e ainda que eu não possa afirmar/prever os relacionamentos futuros da minha menina, será menos provável que ela admita que um homem a trate de uma maneira diferente da que o seu pai tratava a sua mãe. Respeito, carinho, cuidado, será para ela algo natural, cotidiano.
Não vai ser sempre que eu vou conseguir, mas vou tomar o máximo de cuidado para que a Clara tenha na sua casa um pai que a encha de orgulho, que pelo exemplo que ela vai ter em casa, jamais diga como dizem muitas mulheres: “os homens são todos iguais!”. Os homens não são todos iguais, as mulheres não são todas iguais, os casamentos não são todos iguais, os filhos não são todos iguais. E é exatamente aí que está toda a graça, nas diferenças. Nas minhas, nas suas, nas nossas.

E você pode até não concordar, se colocando na condição apenas de: “Pai, marido da minha esposa grávida”.
Mas pode ter certeza, ela, a sua esposa, ele o seu bebê, serão muito mais felizes já a partir de agora, ainda na barriga, se você se colocar na orgulhosa condição de: “Pai, marido-grávido da minha esposa-grávida!”

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Violência Obstétrica

Amigos, segue um vídeo triste, mas fundamental para que se tenha ideia da violência que nossas mulheres sofrem diariamente justo no momento que deveria ser o mais lindo de todos.

Amanhã escreverei mais e melhor a respeito, agora fica a divulgação e o registro da minha mais profunda admiração por essas corajosas mulheres que aceitaram compartilhar conosco suas tristes histórias, no intuito de nos alertar sobre essas atrocidades que acontecem em todos os hospitais do Brasil.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Parto Normal ou Cesariana?



Passado o primeiro trimestre da nossa gravidez, agora tentarei trazer pelo menos uma vez por semana, algum assunto mais prático e científico a respeito do processo de espera e chegada de uma nova pessoa à família. Não sei se conseguirei realizar esta meta, pois sou um leigo em ciências da saúde, e o que escreverei será fruto das minhas constatações após as inúmeras leituras que tenho feito, conversas com nosso obstetra e com amigos que também estão desfrutando do privilégio da maternidade/paternidade.
Para início dos trabalhos, falemos, pois, sobre a dicotomia: Parto Normal X Cesariana.

O assunto é polêmico, mas não deveria ser. E a polêmica se deve, basicamente, por desinformação, ou por tomada de decisão em cima de análises superficiais de algo que deveria ser refletido com mais atenção e cuidado, uma vez que trata de como receberemos nossa menina depois dela ter passado 9 meses no quentinho da barriga da mamãe.
Sempre tive uma opinião que me parecia absolutamente normal, natural e óbvia. Acreditava que não poderia haver maneira melhor de realizar um parto, do que a cirurgia Cesariana. Mas, antecipo, não acreditava nisso por pensamentos que muitos defensores da Cesárea têm, de que Parto Normal é coisa de hippie e afins, nada disso. Pensava assim por que na minha família isso era o normal. Minhas irmãs e cunhada trouxeram ao mundo 3 meninos e uma menina, todos via cesariana. Quatro crianças saudáveis, felizes, inteligentes e bonitas nascidas de cesariana. Na minha cabeça, esse era o jeito certo de se ter um bebê, sendo que o Parto Normal – em tempos modernos como o que vivemos – só era feito em situações de emergência, caso a mãe não conseguisse aguardar a chegada até a maternidade, aquela coisa de policial fazendo parto no meio da rua, enfim, pode parecer – e de fato é – uma baita ignorância tal confissão vinda de um cara com 33 anos, curso superior, vindo de uma família classe média, que já leu uma penca de livros, mas era o que eu acreditava. Por ignorância, eu admito, mas era o que eu tinha como normal.

Foi quando engravidamos, que comecei a estudar a respeito, ler e me instruir com mais atenção sobre as coisas que envolveriam a chegada da nossa Clarinha. A Priscilla já tinha muito clara a diferença das consequências, implicações, vantagens e desvantagens sobre um método ou outro. Pela certeza de que um dia seria mãe, já havia estudado o assunto com bastante profundidade há muito tempo. Ou seja, aprendi muito com ela, pois, até então eu não enxergava o Parto Normal como uma possibilidade – exceto num parto emergencial – e ela, estranhamente, não via a Cesariana como uma possibilidade – exceto num parto emergencial. Alguma coisa naquela discussão não estava se encaixando, nós dois tínhamos preferências distintas, com a mesma ressalva, alguma pecinha estava fora do lugar. Foi quando a Pri pediu que eu me afastasse um pouco da tela, para conseguir enxergar a imagem inteira, com o nariz colado nela, eu só enxergava borrão. Enfim, através da Priscilla eu entendi o quão equivocado eu estava, não por mal, mas por ignorância.
E ao buscar informação, artigos acerca deste tema, me deparei com fóruns acalorados onde aparentemente o que se vê é mais vontade de ter razão, fazer o seu ponto de vista se sobressair sobre o do outro, do que um esclarecimento recíproco.

Nestas discussões, vejo três tipos de pessoas:
1 – Pessoas mais esclarecidas, que buscam se informar e embasar suas respostas antes de argumentar acerca de um ponto de vista ou de outro;

2 – Pessoas preconceituosas e burras (há uma diferença bastante grande entre a burrice e a ignorância, enquanto o segundo não teve acesso à informação correta, o primeiro não faz questão de aprender, pois acha que as coisas acontecem assim por que sim e tá acabado), que não se dão ao trabalho de ouvir o outro lado e refletir a respeito das suas convicções e, ao invés de praticar a empatia, se colocar no lugar do outro para tentar entender suas razões, prefere rotular de hippie, natureba, bicho grilo e uns tantos outros adjetivos menos elogiosos do que estes que eu citei.
3 – Pessoas ignorantes, como eu era até então, que simplesmente nunca haviam sentido a necessidade de se informar a respeito do tema, e aceitavam como certo o que seus próximos lhes dizia, mas que agora, por estarem vivenciando a experiência da maternidade/paternidade, estavam ali naqueles fóruns buscando ampliar seus entendimentos sobre aquele turbilhão de emoções.

Nestes estudos, se percebe claramente a falta de informação, falta de estrutura das maternidades – mesmo as particulares -, falta de profissionais capacitados de uma maneira mais humana, enfim, vai da informação a infraestrutura básica as questões que envolvem a decisão mais adequada sobre o parto.
Mais do que defender o parto normal, importante que se diga, há situações em que sim, a cesariana é imprescindível, sob pena de mãe, bebê ou ambos, estarem com suas preciosas vidas em risco. Em casos assim, não há o que se discutir, mesa de cirurgia na hora!

Contudo, em condições normais de temperatura e pressão, não há argumento que justifique a escolha pela cesariana em detrimento do parto normal.
Cesárea pode ser mais cômodo para o médico, para a mãe que quer se esquivar da dor – que nem sempre ocorre, importante que se diga – para o pai que não quer ver a esposa chorando, enfim, uma série de razões, mas, o mais importante é saber que não se deve tomar as decisões que envolvam a chegada de um bebê baseadas no comodismo. Se o comodismo é importante para os pais, mais cômodo ainda é não ter filho, pois o bebê vai chorar, vai ter cólicas, vai exigir atenção, vai cagar e a esposa vai pedir para você trocar a fralda justamente na hora em que o jogo do seu time vai estar passando na televisão, aquela parte do orçamento reservada para o happy hour de sexta pode ter que ser destinada às fraldas, enfim, um bebê envolve milhares de coisas e experiências maravilhosas, menos comodismo.

Antes de engravidarmos, fizemos um test-drive com uma série de ginecologistas e obstetras para encontrarmos um que nos fizesse sentir seguros na condução da gestação que programávamos. Analisávamos como se comprássemos um carro novo todos os opcionais dos profissionais. Do atraso na consulta as titulações, das convicções ao cuidado em esclarecer as dúvidas, do local onde ficava o consultório as maternidades onde ele realizavam seus partos, enfim, uma série de fatores para que estivéssemos totalmente seguros de termos encontrado a pessoa certa para nos ajudar no momento mais importante das nossas vidas. Encontramos!
Mas, mais importante do que termos encontrado os profissionais que estão acompanhando o crescimento da Clarinha, foi descobrir os diferentes tipos de médicos que existem. Claro, em qualquer profissão há diferença, mas é mais delicado quando o assunto é gravidez.

Depois de muito ler, cheguei a conclusão de que um médico obstetra que de início indica cesárea, NÃO É UM PROFISSIONAL SÉRIO!
Evidente que a decisão final cabe aos pais, eles deverão estar seguros de qual método optarão para receber o seu bebê, mas um bom médico deverá sempre aconselhar a escolha do parto normal como primeira opção.

Talvez você esteja se perguntando, como eu me perguntei, por quê, então, tantos profissionais indicam de cara a cesariana?
Por comodismo!

Assim como o comodismo não combina com homens e mulheres que querem ter um filho, o mesmo deveria valer para médicos obstetras.
Mas que comodismo?, você me pergunta novamente.

Vários. Compreensíveis se pensarmos num ser-humano que pode estar cansado, mas incompatíveis com quem assume a missão de trabalhar com a saúde. Sim, provavelmente mais do que as outras ciências, medicina é uma missão que precisa ser levada muito a sério, não cabe leviandades no seu exercício.
Imagine, sábado a noite, você e sua esposa resolvem ir à Lagoa da Conceição comer um sushi, pedem uma garrafa de saquê ouro, e quando o garçom faz a bebida transbordar pelas bordas do seu copo para desejar-lhe sorte, toca o seu telefone, uma paciente entrou em trabalho de parto e, mesmo sendo 22:30, você terá que largar sua esposa, o saquê, o sushi e ir voando para a maternidade. Mais do que isso, a sua paciente pode passar a noite inteira de sábado, o domingo inteiro e, só quando estiver passando a evolução – ou não – do Ronaldo no Medida Certa do Fantástico, é que o bebê nascerá e você estará finalmente liberado para ir pra casa, comer um sanduíche – a despeito do sushi da noite anterior – e desabar de sono na cama, rezando para que nenhuma outra paciente entre também em trabalho de parto. Aí, você como médico pensa, peraí, o que é melhor, eu posso marcar uma cirurgia para o sábado a tarde, termino em 30 minutinhos e a noite posso ir comer meu sushi e tomar meu saquê sossegadinho, sem me preocupar com chamadas noturnas, por que vou passar esse trabalho todo? POR QUE MEDICINA NÃO ENVOLVE COMODISMO! Se queria algo mais fácil, que escolhesse outra profissão, medicina é lindo, mas assim como a paternidade, não é cômoda. Que fizesse o que eu fiz, optei por administração. Não, não estou dizendo que administração, gestão, gerência é fácil. Não estou dizendo que qualquer um pode fazer administração. Se você quiser ser um bom administrador e crescer na profissão, vai ter que estudar muito, suportar muita pressão, mas dificilmente vão te ligar no meio da madrugada para rever com urgência um item do planejamento estratégico do seu setor. Antes que xiitas venham me criticar, não, não escolhi administração por comodismo, ela também envolve vocação, uma vocação que eu acredito ter, mas assim como eu tenho que ter responsabilidade na hora de tomar uma decisão que envolva o fluxo de caixa da empresa que me contratou, sob o risco de colocar em crise a saúde financeira da empresa, um médico deve estar totalmente ciente que suas decisões envolvem a saúde e a vida de pessoas. Enfim, se quiser ser um profissional medíocre, fazer o curso nas coxas, tanto faz a escolha, medicina ou administração, você pode ser pra sempre um sub-gerente medíocre ou um emissor de atestados de posto de saúde. Em qualquer área do conhecimento há espaço para os medíocres e para os brilhantes, mas jamais admitirei que um médico medíocre chegue perto da minha filha.

Além da comodidade que uma cesariana oferece ao profissional obstetra, ele pode ganhar em escala ao optar em dar preferência por este procedimento. Dificilmente um bom profissional fará um parto, seja ele cesariana ou parto normal, pelo plano de saúde. E não os culpo, é ridículo o que os planos de saúde pagam aos médicos. Por um parto o médico recebe em média R$250,00 da Unimed, isso é um valor ofensivo! Coloque aí que entre faculdade, residência e especialização, um médico estuda aproximadamente 10 anos para receber a titulação de obstetra, não é justo que depois de tanta dedicação para se capacitar, ele receba apenas R$250,00 pelo exercício do seu delicado ofício. Eu não acreditaria na qualidade de um médico que fizesse um parto por este valor. Enfim, um parto custa em média algo entre R$3.000,00 e R$5.000,00, outra quantia que deve ser colocada no planejamento dos casais que pretendem engravidar. Mas pensemos em economia de escala, se eu sou médico e cobro R$3.000,00 para realizar um parto, se eu realizar o parto normal corro o risco de realizar apenas um procedimento ao longo do dia, pois o trabalho de parto pode ser demorado. Agora, se eu oriento minha paciente a realizar cesariana, procedimento que pode ser realizado tranquilamente em 30, 40 minutos, posso realizar 3 partos de manhã, mais 3 partos a tarde, ou seja, posso faturar brincando R$18.000,00 num dia, trabalhando apenas em horário comercial, podendo deixar meu celular desligado no período da noite e ir comer o sushi na Lagoa com a minha esposa tranquilamente, vou me estressar pra quê?
Além do aspecto financeiro, há o risco que uma eventual imperícia pode representar para os médicos. Se num parto normal a utilização do fórceps for feita de maneira inadequada, posso machucar gravemente tanto o bebê quanto a mãe. Alguns dos casos que envolvem algo muito tratado recentemente no excepcional site:  www.cientistaqueviroumae.com.br, que trata da violência obstetrícia. Caso ocorra um problema desta natureza, o médico estará sujeito a uma série de implicações legais, um risco que talvez ele não esteja disposto a correr “só” para que a criança possa nascer de uma maneira mais natural do que uma intervenção cirúrgica.

Além do risco que envolve uma eventual imperícia, há o problema crônico do nosso país de falta de infraestrutura. Florianópolis, capital de Santa Catarina, um estado rico, um lugar onde ainda que as pessoas não andem todas de iate, as desigualdades sociais, oportunidades e acesso a saúde são bem melhores do que nos estados do norte e nordeste, enfim, aqui em Floripa existe apenas uma, repito, UMA sala de parto. Aí você pode dizer, claro que não, Floripa têm várias maternidades, tem as públicas, umas 4 ou 5 particulares, tem um monte de salas de parto. Não, meus amigos, sala de parto existe apenas uma em uma clínica particular, sala esta que pretendemos utilizar para recebermos a nossa Clara, todas as outras possuem única e exclusivamente centros cirúrgicos. Existe uma diferença muito grande entre uma sala de parto e um centro cirúrgico. Se sua esposa puder optar em ter o bebê na cama, numa banheira, de cócoras, num lugar com iluminação regulada, temperatura ambiente controlada, conforto, aconchego, este lugar onde está a sua esposa é uma sala de parto. Você vai olhar e pensar que está num quarto de motel, sentindo falta, talvez, apenas do espelho no teto. Mas não, não é um quarto de motel, é apenas um lugar aconchegante para receber alguém muito especial, seu bebê, e dar o máximo de conforto para a mulher da sua vida, a mamãe. Agora, se sua esposa tiver como única opção deitar numa maca, a sala tiver iluminação branca com spots focais de luz voltadas a ela, sala com azulejos nas paredes, um tanque de aço inox numa das paredes, neste caso ela terá seu filho num centro cirúrgico, mesmo que o parto seja normal. Pense comigo, você passa nove meses criando um ambiente especial para receber seu bebê, decora o quartinho, busca um berço legal, brinquedos coloridos, tudo para que seu filho se sinta acolhido quando chegar em casa, mas no primeiro contato com o mundo ele estará num lugar frio parecendo uma bancada de açougue de supermercado.
Resumo da ópera, nos falta informação, infraestrutura, profissionais conscientes do seu papel e de suas responsabilidades, falta muita coisa.

A natureza é sábia, o corpo da mulher é de uma perfeição extraordinária, todo preparado para o momento do nascimento, para que aquela experiência seja o mais tranquila e fácil possível. Evidente que nem sempre um parto normal é viável, mas quando não houver nada que coloque em risco a saúde da mamãe e do bebê, ele será sim a melhor opção. Muito melhor do que uma intervenção cirúrgica feita antes dos organismos da mãe e do bebê sentirem-se prontos, aptos para o tão ansiado nascimento da criança. Os dois saberão o momento certo de fazer a coisa acontecer, saberão muito mais e melhor do que um bisturi gelado.
Ainda que esta primeira análise tenha sido extensa, ela é superficial, tem muito mais a ser dito e estudado a respeito, falei de aspectos iniciais, mas voltarei ao tema para descrever o que representa para o bebê e para a mamãe vir ao mundo de um jeito ou de outro.

O certo é que, caso não haja nada que coloque as mulheres da minha vida em risco, nossa Clarinha nascerá de parto normal. Não é sadismo de minha parte, não afirmo isso por que quem vai sentir dor é ela, como já ouvi acusações neste sentido, nada disso. Será assim, por que decidimos isso juntos, por que ela me ensinou que este é o melhor caminho. Não sentirei as dores do parto, mas estarei lá do lado da Pri, vou segurar a mão dela por quanto tempo for necessário, vinte minutos, vinte horas, elas me dirão o tempo que o parto durará, quanto tempo precisarão e, até que eu possa pegar nossa menina nos braços, não largarei a mão da mamãe mais linda do mundo!