segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Parto Normal ou Cesariana?



Passado o primeiro trimestre da nossa gravidez, agora tentarei trazer pelo menos uma vez por semana, algum assunto mais prático e científico a respeito do processo de espera e chegada de uma nova pessoa à família. Não sei se conseguirei realizar esta meta, pois sou um leigo em ciências da saúde, e o que escreverei será fruto das minhas constatações após as inúmeras leituras que tenho feito, conversas com nosso obstetra e com amigos que também estão desfrutando do privilégio da maternidade/paternidade.
Para início dos trabalhos, falemos, pois, sobre a dicotomia: Parto Normal X Cesariana.

O assunto é polêmico, mas não deveria ser. E a polêmica se deve, basicamente, por desinformação, ou por tomada de decisão em cima de análises superficiais de algo que deveria ser refletido com mais atenção e cuidado, uma vez que trata de como receberemos nossa menina depois dela ter passado 9 meses no quentinho da barriga da mamãe.
Sempre tive uma opinião que me parecia absolutamente normal, natural e óbvia. Acreditava que não poderia haver maneira melhor de realizar um parto, do que a cirurgia Cesariana. Mas, antecipo, não acreditava nisso por pensamentos que muitos defensores da Cesárea têm, de que Parto Normal é coisa de hippie e afins, nada disso. Pensava assim por que na minha família isso era o normal. Minhas irmãs e cunhada trouxeram ao mundo 3 meninos e uma menina, todos via cesariana. Quatro crianças saudáveis, felizes, inteligentes e bonitas nascidas de cesariana. Na minha cabeça, esse era o jeito certo de se ter um bebê, sendo que o Parto Normal – em tempos modernos como o que vivemos – só era feito em situações de emergência, caso a mãe não conseguisse aguardar a chegada até a maternidade, aquela coisa de policial fazendo parto no meio da rua, enfim, pode parecer – e de fato é – uma baita ignorância tal confissão vinda de um cara com 33 anos, curso superior, vindo de uma família classe média, que já leu uma penca de livros, mas era o que eu acreditava. Por ignorância, eu admito, mas era o que eu tinha como normal.

Foi quando engravidamos, que comecei a estudar a respeito, ler e me instruir com mais atenção sobre as coisas que envolveriam a chegada da nossa Clarinha. A Priscilla já tinha muito clara a diferença das consequências, implicações, vantagens e desvantagens sobre um método ou outro. Pela certeza de que um dia seria mãe, já havia estudado o assunto com bastante profundidade há muito tempo. Ou seja, aprendi muito com ela, pois, até então eu não enxergava o Parto Normal como uma possibilidade – exceto num parto emergencial – e ela, estranhamente, não via a Cesariana como uma possibilidade – exceto num parto emergencial. Alguma coisa naquela discussão não estava se encaixando, nós dois tínhamos preferências distintas, com a mesma ressalva, alguma pecinha estava fora do lugar. Foi quando a Pri pediu que eu me afastasse um pouco da tela, para conseguir enxergar a imagem inteira, com o nariz colado nela, eu só enxergava borrão. Enfim, através da Priscilla eu entendi o quão equivocado eu estava, não por mal, mas por ignorância.
E ao buscar informação, artigos acerca deste tema, me deparei com fóruns acalorados onde aparentemente o que se vê é mais vontade de ter razão, fazer o seu ponto de vista se sobressair sobre o do outro, do que um esclarecimento recíproco.

Nestas discussões, vejo três tipos de pessoas:
1 – Pessoas mais esclarecidas, que buscam se informar e embasar suas respostas antes de argumentar acerca de um ponto de vista ou de outro;

2 – Pessoas preconceituosas e burras (há uma diferença bastante grande entre a burrice e a ignorância, enquanto o segundo não teve acesso à informação correta, o primeiro não faz questão de aprender, pois acha que as coisas acontecem assim por que sim e tá acabado), que não se dão ao trabalho de ouvir o outro lado e refletir a respeito das suas convicções e, ao invés de praticar a empatia, se colocar no lugar do outro para tentar entender suas razões, prefere rotular de hippie, natureba, bicho grilo e uns tantos outros adjetivos menos elogiosos do que estes que eu citei.
3 – Pessoas ignorantes, como eu era até então, que simplesmente nunca haviam sentido a necessidade de se informar a respeito do tema, e aceitavam como certo o que seus próximos lhes dizia, mas que agora, por estarem vivenciando a experiência da maternidade/paternidade, estavam ali naqueles fóruns buscando ampliar seus entendimentos sobre aquele turbilhão de emoções.

Nestes estudos, se percebe claramente a falta de informação, falta de estrutura das maternidades – mesmo as particulares -, falta de profissionais capacitados de uma maneira mais humana, enfim, vai da informação a infraestrutura básica as questões que envolvem a decisão mais adequada sobre o parto.
Mais do que defender o parto normal, importante que se diga, há situações em que sim, a cesariana é imprescindível, sob pena de mãe, bebê ou ambos, estarem com suas preciosas vidas em risco. Em casos assim, não há o que se discutir, mesa de cirurgia na hora!

Contudo, em condições normais de temperatura e pressão, não há argumento que justifique a escolha pela cesariana em detrimento do parto normal.
Cesárea pode ser mais cômodo para o médico, para a mãe que quer se esquivar da dor – que nem sempre ocorre, importante que se diga – para o pai que não quer ver a esposa chorando, enfim, uma série de razões, mas, o mais importante é saber que não se deve tomar as decisões que envolvam a chegada de um bebê baseadas no comodismo. Se o comodismo é importante para os pais, mais cômodo ainda é não ter filho, pois o bebê vai chorar, vai ter cólicas, vai exigir atenção, vai cagar e a esposa vai pedir para você trocar a fralda justamente na hora em que o jogo do seu time vai estar passando na televisão, aquela parte do orçamento reservada para o happy hour de sexta pode ter que ser destinada às fraldas, enfim, um bebê envolve milhares de coisas e experiências maravilhosas, menos comodismo.

Antes de engravidarmos, fizemos um test-drive com uma série de ginecologistas e obstetras para encontrarmos um que nos fizesse sentir seguros na condução da gestação que programávamos. Analisávamos como se comprássemos um carro novo todos os opcionais dos profissionais. Do atraso na consulta as titulações, das convicções ao cuidado em esclarecer as dúvidas, do local onde ficava o consultório as maternidades onde ele realizavam seus partos, enfim, uma série de fatores para que estivéssemos totalmente seguros de termos encontrado a pessoa certa para nos ajudar no momento mais importante das nossas vidas. Encontramos!
Mas, mais importante do que termos encontrado os profissionais que estão acompanhando o crescimento da Clarinha, foi descobrir os diferentes tipos de médicos que existem. Claro, em qualquer profissão há diferença, mas é mais delicado quando o assunto é gravidez.

Depois de muito ler, cheguei a conclusão de que um médico obstetra que de início indica cesárea, NÃO É UM PROFISSIONAL SÉRIO!
Evidente que a decisão final cabe aos pais, eles deverão estar seguros de qual método optarão para receber o seu bebê, mas um bom médico deverá sempre aconselhar a escolha do parto normal como primeira opção.

Talvez você esteja se perguntando, como eu me perguntei, por quê, então, tantos profissionais indicam de cara a cesariana?
Por comodismo!

Assim como o comodismo não combina com homens e mulheres que querem ter um filho, o mesmo deveria valer para médicos obstetras.
Mas que comodismo?, você me pergunta novamente.

Vários. Compreensíveis se pensarmos num ser-humano que pode estar cansado, mas incompatíveis com quem assume a missão de trabalhar com a saúde. Sim, provavelmente mais do que as outras ciências, medicina é uma missão que precisa ser levada muito a sério, não cabe leviandades no seu exercício.
Imagine, sábado a noite, você e sua esposa resolvem ir à Lagoa da Conceição comer um sushi, pedem uma garrafa de saquê ouro, e quando o garçom faz a bebida transbordar pelas bordas do seu copo para desejar-lhe sorte, toca o seu telefone, uma paciente entrou em trabalho de parto e, mesmo sendo 22:30, você terá que largar sua esposa, o saquê, o sushi e ir voando para a maternidade. Mais do que isso, a sua paciente pode passar a noite inteira de sábado, o domingo inteiro e, só quando estiver passando a evolução – ou não – do Ronaldo no Medida Certa do Fantástico, é que o bebê nascerá e você estará finalmente liberado para ir pra casa, comer um sanduíche – a despeito do sushi da noite anterior – e desabar de sono na cama, rezando para que nenhuma outra paciente entre também em trabalho de parto. Aí, você como médico pensa, peraí, o que é melhor, eu posso marcar uma cirurgia para o sábado a tarde, termino em 30 minutinhos e a noite posso ir comer meu sushi e tomar meu saquê sossegadinho, sem me preocupar com chamadas noturnas, por que vou passar esse trabalho todo? POR QUE MEDICINA NÃO ENVOLVE COMODISMO! Se queria algo mais fácil, que escolhesse outra profissão, medicina é lindo, mas assim como a paternidade, não é cômoda. Que fizesse o que eu fiz, optei por administração. Não, não estou dizendo que administração, gestão, gerência é fácil. Não estou dizendo que qualquer um pode fazer administração. Se você quiser ser um bom administrador e crescer na profissão, vai ter que estudar muito, suportar muita pressão, mas dificilmente vão te ligar no meio da madrugada para rever com urgência um item do planejamento estratégico do seu setor. Antes que xiitas venham me criticar, não, não escolhi administração por comodismo, ela também envolve vocação, uma vocação que eu acredito ter, mas assim como eu tenho que ter responsabilidade na hora de tomar uma decisão que envolva o fluxo de caixa da empresa que me contratou, sob o risco de colocar em crise a saúde financeira da empresa, um médico deve estar totalmente ciente que suas decisões envolvem a saúde e a vida de pessoas. Enfim, se quiser ser um profissional medíocre, fazer o curso nas coxas, tanto faz a escolha, medicina ou administração, você pode ser pra sempre um sub-gerente medíocre ou um emissor de atestados de posto de saúde. Em qualquer área do conhecimento há espaço para os medíocres e para os brilhantes, mas jamais admitirei que um médico medíocre chegue perto da minha filha.

Além da comodidade que uma cesariana oferece ao profissional obstetra, ele pode ganhar em escala ao optar em dar preferência por este procedimento. Dificilmente um bom profissional fará um parto, seja ele cesariana ou parto normal, pelo plano de saúde. E não os culpo, é ridículo o que os planos de saúde pagam aos médicos. Por um parto o médico recebe em média R$250,00 da Unimed, isso é um valor ofensivo! Coloque aí que entre faculdade, residência e especialização, um médico estuda aproximadamente 10 anos para receber a titulação de obstetra, não é justo que depois de tanta dedicação para se capacitar, ele receba apenas R$250,00 pelo exercício do seu delicado ofício. Eu não acreditaria na qualidade de um médico que fizesse um parto por este valor. Enfim, um parto custa em média algo entre R$3.000,00 e R$5.000,00, outra quantia que deve ser colocada no planejamento dos casais que pretendem engravidar. Mas pensemos em economia de escala, se eu sou médico e cobro R$3.000,00 para realizar um parto, se eu realizar o parto normal corro o risco de realizar apenas um procedimento ao longo do dia, pois o trabalho de parto pode ser demorado. Agora, se eu oriento minha paciente a realizar cesariana, procedimento que pode ser realizado tranquilamente em 30, 40 minutos, posso realizar 3 partos de manhã, mais 3 partos a tarde, ou seja, posso faturar brincando R$18.000,00 num dia, trabalhando apenas em horário comercial, podendo deixar meu celular desligado no período da noite e ir comer o sushi na Lagoa com a minha esposa tranquilamente, vou me estressar pra quê?
Além do aspecto financeiro, há o risco que uma eventual imperícia pode representar para os médicos. Se num parto normal a utilização do fórceps for feita de maneira inadequada, posso machucar gravemente tanto o bebê quanto a mãe. Alguns dos casos que envolvem algo muito tratado recentemente no excepcional site:  www.cientistaqueviroumae.com.br, que trata da violência obstetrícia. Caso ocorra um problema desta natureza, o médico estará sujeito a uma série de implicações legais, um risco que talvez ele não esteja disposto a correr “só” para que a criança possa nascer de uma maneira mais natural do que uma intervenção cirúrgica.

Além do risco que envolve uma eventual imperícia, há o problema crônico do nosso país de falta de infraestrutura. Florianópolis, capital de Santa Catarina, um estado rico, um lugar onde ainda que as pessoas não andem todas de iate, as desigualdades sociais, oportunidades e acesso a saúde são bem melhores do que nos estados do norte e nordeste, enfim, aqui em Floripa existe apenas uma, repito, UMA sala de parto. Aí você pode dizer, claro que não, Floripa têm várias maternidades, tem as públicas, umas 4 ou 5 particulares, tem um monte de salas de parto. Não, meus amigos, sala de parto existe apenas uma em uma clínica particular, sala esta que pretendemos utilizar para recebermos a nossa Clara, todas as outras possuem única e exclusivamente centros cirúrgicos. Existe uma diferença muito grande entre uma sala de parto e um centro cirúrgico. Se sua esposa puder optar em ter o bebê na cama, numa banheira, de cócoras, num lugar com iluminação regulada, temperatura ambiente controlada, conforto, aconchego, este lugar onde está a sua esposa é uma sala de parto. Você vai olhar e pensar que está num quarto de motel, sentindo falta, talvez, apenas do espelho no teto. Mas não, não é um quarto de motel, é apenas um lugar aconchegante para receber alguém muito especial, seu bebê, e dar o máximo de conforto para a mulher da sua vida, a mamãe. Agora, se sua esposa tiver como única opção deitar numa maca, a sala tiver iluminação branca com spots focais de luz voltadas a ela, sala com azulejos nas paredes, um tanque de aço inox numa das paredes, neste caso ela terá seu filho num centro cirúrgico, mesmo que o parto seja normal. Pense comigo, você passa nove meses criando um ambiente especial para receber seu bebê, decora o quartinho, busca um berço legal, brinquedos coloridos, tudo para que seu filho se sinta acolhido quando chegar em casa, mas no primeiro contato com o mundo ele estará num lugar frio parecendo uma bancada de açougue de supermercado.
Resumo da ópera, nos falta informação, infraestrutura, profissionais conscientes do seu papel e de suas responsabilidades, falta muita coisa.

A natureza é sábia, o corpo da mulher é de uma perfeição extraordinária, todo preparado para o momento do nascimento, para que aquela experiência seja o mais tranquila e fácil possível. Evidente que nem sempre um parto normal é viável, mas quando não houver nada que coloque em risco a saúde da mamãe e do bebê, ele será sim a melhor opção. Muito melhor do que uma intervenção cirúrgica feita antes dos organismos da mãe e do bebê sentirem-se prontos, aptos para o tão ansiado nascimento da criança. Os dois saberão o momento certo de fazer a coisa acontecer, saberão muito mais e melhor do que um bisturi gelado.
Ainda que esta primeira análise tenha sido extensa, ela é superficial, tem muito mais a ser dito e estudado a respeito, falei de aspectos iniciais, mas voltarei ao tema para descrever o que representa para o bebê e para a mamãe vir ao mundo de um jeito ou de outro.

O certo é que, caso não haja nada que coloque as mulheres da minha vida em risco, nossa Clarinha nascerá de parto normal. Não é sadismo de minha parte, não afirmo isso por que quem vai sentir dor é ela, como já ouvi acusações neste sentido, nada disso. Será assim, por que decidimos isso juntos, por que ela me ensinou que este é o melhor caminho. Não sentirei as dores do parto, mas estarei lá do lado da Pri, vou segurar a mão dela por quanto tempo for necessário, vinte minutos, vinte horas, elas me dirão o tempo que o parto durará, quanto tempo precisarão e, até que eu possa pegar nossa menina nos braços, não largarei a mão da mamãe mais linda do mundo!

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