quarta-feira, 30 de junho de 2010

Fidelidade


Foi no silêncio agressivo que veio na pausa após o gole simultâneo que demos nos nossos capuccinos, o meu com creme, o seu sem, que tive certeza, Se for para ter um filho, terá que ser desse homem.

Mas você torce para o Palmeiras, e homem nenhum oferece a mim o que o Corinthians me traz.

Um pouco mais cedo, lá no trabalho, em vão tentei resistir, mas mandei um email para você confessando o impacto da sua presença em mim, como um tapa bem forte, meio na face, meio na têmpora, desses que deixam a mulher tonta por minutos que assemelham-se a séculos.

Inventava desculpas para levantar da minha mesa, só para ver você, esforçando-me para que ninguém percebesse o imã que sua imagem era para meu olhar. Nunca tomei tanto café na vida, nunca tomei tanta água na vida, nunca fui tanto ao banheiro – sem precisar – na vida, só para ver você um pouco mais. Pensei, Se for para ter um filho, terá que ser desse homem.

Mas você torce para o Palmeiras, e ainda que lindo, beleza nenhuma se compara àquela camisa branca com o timão no lado esquerdo do peito.

Eu tenho a mais convicta certeza de que você tem a exata dimensão da simetria dos seus traços, da sua beleza inequívoca, do seu porte irretocável, da sua elegância ímpar. Você sabe, seja pelo seu perfume ou pelo seu porte, não há mulher que não repare no tanto que você é.

Ainda no trabalho, você levantou para pegar um café, eu fui atrás, como quem não quer nada, só para sentir um pouco do seu perfume que me desnorteia. Você sorriu para mim como quem olha para uma qualquer, como que sabendo que me desmontava com aquele sorriso, e piscou com o olho direito de um jeito que nenhum outro mortal é capaz. Eu pensei, Se for para ter um filho, terá que ser desse homem.

Mas você torce para o Palmeiras, e homem nenhum, por mais belo que seja, traz a beleza do branco sobreposto ao preto, como o Corinthians traz na sua carga genética.

Foram dois os seus casamentos e, de um deles, ainda que tenha sido sofrido pela possessividade dela, nasceu o que você fez de melhor na vida, uma filha linda, com traços tão perfeitos quanto os seus. Quis ser ela, sua primeira esposa, só para ser eu a privilegiada que gerou um filho seu.

Mas você torce para o Palmeiras, e sua filha também. E no Parque Antártica eu só entro se for na torcida visitante.

Pensei em conquistar você, eu sei que posso. Posso até não ser o ideal da beleza feminina, ando meio fora de forma, eu sei disso, tanto quanto sei que ainda tenho meu charme. Pensei em conquistar você só para mostrar-lhe que, por mais esperança que o verde traga, para o Corinthians nada é impossível.

Tive que me conter para não dar pulos de alegria quando meu celular acusou uma mensagem sua me convidando para um capuccino após o expediente.

Foi tão lindo ver você tão lindo e tão perto de mim, tão só meu, ao menos naquele momento. Pensei, Se for para ter um filho, terá que ser desse homem. Naquele Café que fomos, tive certeza, mulher nenhuma faria por você o que eu faria. Homem nenhum faria por mim o que você já faz.

Mas, meu amor, por mais amor que talvez eu já sinta, você não é o Corinthians.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Amor equivocado


Não é saudável viver sem algum vício.

Disse isso para te proteger, ou para tentar te proteger daquela força tarefa politicamente correta que te recriminava pelo cigarro que foste fumar lá fora, enquanto todas ficaram entretidas com assuntos seriíssimos como bolsas, botas e o cara mais gato que estava no bar, mas, infelizmente, chegara acompanhado.

Devo ter me apaixonado por ti na primeira vez que fomos à praia, depois que voltei de viagem. A gente começa a perceber o mundo com outros olhos, depois que se passa um tempo em Paris. Não sei se é o ar, o Louvre, os vinhos, a comida ou simplesmente a distância, mas alguma coisa muda.

Fato é que talvez para o mundo minha visão tenha permanecido a mesma, mas meus olhos, quando te miravam, certamente eram outros, depois que voltei.

Tu bem sabes que eu sempre achei brega essa mania exibicionista, algo meio terceiro mundo, de mulher ir à praia de fio dental. Mas quando fomos à praia depois que voltei de viagem, e te vi de biquíni, lamentei profundamente o quão comportado ele era. Teu corpo é perfeito demais para ficar escondido em tanto pano. Ele pede um pouco da indecência terceiro mundista que eu tanto recriminava

Se tem uma coisa que o primeiro lugar do ranking das amizades trás de bônus, é o privilégio da nudez. A falta de vergonha em permitir que a amizade primeira presencie provas de roupa, banhos de porta aberta, e tudo o mais que apesar de ingenuamente excitante, provoca as piores intenções em qualquer pessoa que tenha o mínimo de sanidade.

O ônus desta amizade privilegiada é ter que demonstrar indiferença cada vez que te vejo tão explendorosamente vulnerável.

Tem sido difícil viver perto de ti e fingir desinteresse.

Como pode um corpo tão magro guardar formas tão precisas?

Não te falta nada.

Não te sobra nada.

És perfeita. Mais do que um resumo de tudo o que é belo, és um desafio à matemática, tamanha a tua exatidão.

Sei que a única maneira de eu ficar perto de ti é manter minha dissimulação, e para te ter perto de mim vale o sacrifício de te ver sofrer por outras pessoas, enquanto eu fico aqui tão indefinidamente disponível.

Tudo o que eu mais queria nessa vida era ser teu amor.

Mas, desgraçadamente, nascemos irmãs.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Filosofia Moderna


Diga-me com quem andas, e te direi quem és.

Se não me disseres, não tem problema.
Acessarei teu facebook e saberei do mesmo jeito.

Mas depois não te direi quem és, postarei no meu twitter e farei uma campanha para queimar teu filme.

Só irei parar quando estiveres nos Tranding Topic!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Pilar & José


Como te sentes?

Está a me doer menos a saúde que quase já não me há, do que a falta que já me fazes.

Como fico agora, o que será de nós?

O que havíamos de ser, já fomos. Ainda somos, há que se respeitar o crédito de que os factos são merecedores, mas já tive contigo vida tão boa que sequer a escreveria.

Tua saudade finda logo, a minha há de dormir comigo ainda por alguns anos, que quase desejo, não me sejam muitos, não me fazem muito sentido sem ter-te aqui perto.

Se nos fazemos falta tamanha, é pelo tanto que nos tornamos juntos.

De que maneira hei de viver, se amanhã não haverá uma página nova tua para que eu leia?

A melhor história que poderia escrever foi a vida que mo proporcionaste, ainda que fossem muitos os anos que estivesse a viver, não haveria de escrever nada mais belo e com mais verdade.

Ninguém sabe tanto quanto eu o quão ainda és jovem, não é justo que te vás agora.

Se partisse aos 63 sem te ter conhecido, morreria mais velho do que morro agora.

Te arrependes de algo?

Das crenças que estive a cultivar, talvez.

Desculpe se não possuo o entendimento que tanto tens, mas não alcanço o que me dizes.

Digo por saber que és o amor único da vida única que tive. Se o que sei que me espera ali à porta não fosse o acto final do capítulo que sou, saberia que ainda que te demores, e desejo que assim seja, haveria de encontrar-te em outro sítio.

domingo, 20 de junho de 2010

Dica do Don: Aerocirco - Invisivelmente


Na última quarta-feira recebi de um dos meus melhores amigos, Lange, o privilégio de ouvir “Invisivelmente”, novo disco da Aerocirco, antes mesmo do seu lançamento, a ser realizado hoje, domingo, dia 20, no site da banda. Ele está disponível para que você, leitor amigo, leitora amiga, o baixe gratuitamente. Ele o disco, não o Lange.

Como não poderia deixar de ser, antecipo minhas impressões a respeito do quarto disco de estúdio desta ótima banda desterrense.

São várias as maneiras de se observar esta nova obra do quarteto. Poderia deixar minhas impressões partindo da linha evolutiva da discografia, fazendo comparações entre uma obra e outra, apontando os sinais de amadurecimento musical – ou não - na sucessão delas, culminando em “Invisivelmente”.

Poderia construir minha análise partindo do fato de que este é o primeiro disco em que Lange e Maurício participaram efetivamente de todo o processo de construção, após terem assumido respectivamente o baixo e a guitarra da banda.

Mas vou fazer minha resenha em cima do que o próprio disco propõe.

Há um tempinho atrás, Taís Michele (detentora do passe do craque Rafael Lange), havia me contado que o disco seria batizado com o título da terceira canção, “Invisivelmente”. Naquela oportunidade, com a sinceridade que me faz ser odiado por boa parte dos músicos do Clube da Luta, disse: “puta merda, que nomezinho meia-boca...”. Torcia para que o disco se chamasse “Faz de conta”, título da excelente sétima faixa.

Contudo, no início do encarte há um texto explicando a escolha do título, e ali já joga por terra toda a minha preferência por “Faz de conta”, e faz com que tudo o mais passe a ter sentido e, de fato, não poderia ter sido outra a escolha, que não “Invisivelmente”.

Embora para mim, e boa parte das pessoas de Florianópolis ligadas em música Aerocirco seja uma banda pronta, consolidada e com uma legião de fãs fiéis e apaixonados neste pedacinho de terra perdido no mar, no restante do país eles estão começando a engatinhar. Mais do que isso, ao se mudarem de mala e cuia para São Paulo no início deste ano, dividindo os quatro um mesmo teto, dedicando todo o tempo deles à música, seja ensaiando, divulgando ou tocando, eles agora já começam a dar, nacionalmente falando, os primeiros importantes e grandes passos.

Dentro deste contexto, que “Invisivelmente” entra como título-conceito, uma banda que já existe há um bom tempo, que na sua terra-mater é uma realidade, mas que para o resto do país estava invisível, até pelo pouco interesse que os grandes centros mostram pela cultura barriga-verde, como se depois de Victor Meirelles, Luis Henrique Rosa e Vera Fischer, nada mais tivéssemos de bom, artisticamente falando. Mas sim, meus caros amigos, temos muita coisa boa em todas as áreas das artes, e a Aerocirco é uma das tantas provas disso. E tanto o é, que escolheu ela mesma se tornar visível através deste quarto disco e da corajosa decisão de estabelecer morada em Sampa.

Sendo assim, eles conseguem a façanha de, depois de quatro discos (três de estúdio e um ao vivo), lançar de novo um novo disco de estreia!

Falemos dele, então, sob este prisma.

Companheiros e companheiras, escutei em primeira mão o disco de uma nova banda. Ela se chama Aerocirco, e apresenta-se a nós com o disco “Invisivelmente”.

A banda, um quarteto de músicos florianópolitanos competentes e versáteis, chega ao mercado nacional com uma rara qualidade encontrada em um material de estreia.

Os arranjos são muitíssimo bem trabalhados e embora tragam ao longo das doze faixas uma série de influências das mais importantes bandas da história do rock, conseguem condensar todas essas informações e apresentar uma sonoridade com ar de novidade, mas com o charme do antigo. Algo como um strip-tease, a fórmula já existe há um tempão, mas é sempre diferente, sempre uma novidade muitíssimo bem-vinda.

Num momento onde o excesso de informações que poderia contribuir para a diversificação, acaba pasteurizando o que se produz artisticamente, tornando tudo muito parecido, muito embalado para consumo, Aerocirco traz diversificação.

São muito corajosos ao ousar tocar rock de uma maneira madura, mas acessível. Sem firulas, mas com capricho.

As músicas são todas muito bem arranjadas, com variações de timbres e sons. Uma bateria bastante consistente, que não se limita ao 4x4 do rock’n’roll, alterna suas levadas, mostrando criatividade na medida certa, sem exageros, deixando que a música em si seja o destaque.

O mesmo vale para guitarras, que se alternam entre seis e doze cordas e, vez ou outra, um violãozinho aqui e outro acolá. São vigorosas e bem colocadas (huummm, que dúbio, isso). Duas guitarras que mostram se conhecer bem, conversando entre si com bastante intimidade.

O baixo é preciso e criativo, prepara o terreno com segurança, para que o resto se sobressaia. Uma boa banda precisa de um baixista seguro e que saiba oferecer o que a música precisa. Aerocirco tem esse cara.
Os vocais têm a força que uma banda de rock exige, mas com a exata dosagem de melancolia que as letras, de um modo geral, pedem. Arriscam-se em falsetes muito bem colocado, e o resultado do risco que se propõem a correr, é sempre positivo.

Algumas faixas trazem outros elementos que como se fossem cores novas em uma tela aparentemente pronta, tornam a pintura mais bonita. Teclados e cordas que se destacam quando presentes, mas com a discrição suficiente para que, nas faixas onde não estão presentes, não se sinta a falta deles.

As músicas todas são boas. Têm uma variação legal entre uma faixa e outra, o que torna o disco gostoso de ser ouvido, não cansa. As letras são fáceis e em alguns momentos trazem frases que mostram que a banda não se resume a bons instrumentistas (coisa que todos são, e muito!), mas também a pessoas que buscam colocar qualidade e verdade no que escrevem.

Uma ótima banda, coesa, não trata-se de um amontoado de tocadores de instrumentos, mas de quatro caras que se completam com precisão. Um dá a deixa para o outro, um sabe quando recuar para que o outro apareça. Aerocirco mostra-se íntima da música que faz e, embora isso possa ser uma coisa meio óbvia, algo que todas as bandas deveriam ser, poucas realmente o são. Isso se dá pela química do encontro deles, e de como somam seus talentos para produzir material próprio.

Desta sinergia, brindam-nos com “Invisivelmente”, um disco que vale muito a pena conhecer. Para tanto, basta acessar www.aerocirco.com.br, e baixar gratuitamente o álbum.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Saramago: foi-se embora a ausência das vírgulas, veio o indesejado ponto final


Eu devia ter uns quinze anos, dezesseis no máximo, quando peguei o ônibus Loteamento Dona Wanda, sentido bairro-centro lendo entre sacolejos pela primeira vez o romance “Os Maias”, de Eça de Queiroz. Estava indo à Florianópolis com o dinheiro contadinho, economia de três meses do meu salário de auxiliar de serviços gerais do China in Box, para comprar a, então, nova camisa do Corinthians.

Nessa viagem encontrei Fábio Corrêa, um cara que sempre foi envolvido e entendido de literatura, e anos mais tarde formou-se em letras na Universidade Federal, cursou suas especializações, mestrados e afins.

Fábio Corrêa, vendo o livro que eu trazia nas mãos, perguntou o que mais eu gostava da literatura portuguesa, mas na época meu entendimento era pequeno, resumia-se a dois ou três títulos do Eça de Queiroz, Fernando Pessoa e à obrigatoriedade escolar dos Lusíadas, de Camões.

Foi então que Corrêa me sugeriu um escritor auto-didata, e me contou histórias sobre aquele senhor que trabalhara como mecânico e, ainda que na sua juventude/idade adulta, tenha publicado poucos livros, foi após aos sessenta anos que publicou suas grandes obras e tornou-se uma referência moderna na literatura de língua portuguesa.

Fábio falava de José Saramago.

Desci do ônibus e, ao invés de comprar a camisa do Corinthians, fui à Livraria Catarinense e comprei “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” e “Memorial do Convento”.

Foi também naquela época, uns meses antes do encontro com Fábio Corrêa, que eu li num pára-choque de caminhão a frase: “Coma merda, milhões de moscas não podem estar erradas.”, e passei a pensar em que coisas eu fazia pelo simples fato de que todo mundo fazia igual. E nessa reflexão, questionei pela primeira vez a existência ou não de deus. Ainda com medo de pensar naquilo, como poderia contestar a autoridade divina, quem eu pensava que era? Um merdinha de quinze anos que sonhava em virar astro do rock, colocando em dúvida o impiedoso deus cristão.

Quando li pela primeira vez “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, foi como se eu tivesse uma revelação. Ainda hoje, quinze anos depois, e vários livros lidos desde então, ainda não consegui encontrar um diálogo melhor do que a conversa que, no romance de Saramago, Jesus tem com deus e o diabo a bordo de um barco, onde uma série de questionamentos, reflexões se misturam, a ponto de fazer o leitor pensar: Jesus é realmente um cara diferente, uma ótima pessoa, o diabo somos nós todos, não necessariamente ruins, se o mal me for conveniente, eu faço, tanto quanto faço o bem, desde que me traga vantagens; mas deus não, deus é cruel, mesquinho, pequeno, a ponto de crucificar o próprio filho apenas para tornar-se inesquecível e temido. Leia o livro, você não se arrependerá.

A partir dali, me tornei íntimo de Saramago, mesmo que ele nunca tenha sabido disso, mas me tornei muito próximo dele.

Importante frisar que meu ateísmo não se deve à descrença de José Saramago, o que pareceria apenas mais um fãzinho tolo copiando o ídolo, não é nada disso. Já tinha me percebido como tal, antes de saber que Saramago existia, mas admito que me achei inteligente pra caramba quando soube que um ganhador do Nobel comungava da minha descrença, ou eu da dele, enfim.

Cada novo livro do Saramago que eu lia, pensava: “agora chega, melhor do que isso não vem”, mas vinha.

Quando li “Ensaio Sobre a Cegueira”, fiquei um bom tempo sem pensar em outra coisa. Havia tanta reflexão ali, uma parábola profunda sobre ética, sobre relacionamento, sobre generosidade e egoísmo, sobre as coisas que todos nós somos capazes de fazer e nem sabemos, dependendo do contexto que nos envolver. É um livro lindo, doído, cortante, verdadeiro. Em seguida li “Ensaio sobre a Lucidez”, que ocorre na mesma cidade inidentificável de “Ensaio Sobre a Cegueira”, e em determinado ponto da narrativa absorve também os mesmos personagens. Se no primeiro ele tratava da ética humana nos relacionamentos, nesse ele vai fundo nas manobras políticas, na manipulação dos fatos para que algo pareça ser o que não é, escolhe-se culpados para que se possa fabricar heróis, enfim, outro livro inteligente e raro.

Saramago conseguiu a façanha de tirar o leitor do conforto, criando uma maneira nova de contar histórias, uma nova métrica, uma nova forma, uma nova pontuação e, mesmo assim, ao dificultar a narrativa, tornou-se extremamente popular.

Não vou ficar aqui descrevendo minhas impressões sobre cada um dos livros dele, o texto ficaria muito longo, falarei apenas de outros dois.

No início de 2009, depois de longos meses internado no hospital para tratar de problemas respiratórios crônicos, Saramago lançou “A Viagem do Elefante”. Eu estava ansioso por esse livro, queria saber que coisas maravilhosas ele deveria ter escrito depois de ficar tanto tempo entre a vida e a morte. Comprei o livro tão logo foi lançado e, surpresa, achei o livro uma bosta. Algumas ótimas frases, mas uma história cansativa, morosa e, aparentemente, sem muita razão de ser. Algo como descrever o meu trajeto do Kobrasol à Palhoça, e transformar essa descrição em livro. Não gostei, qualquer dia irei relê-lo para ver se mudo de opinião, mas por enquanto ainda não gosto.

Mas, mesmo não tendo gostado, pensei: “Pô, o cara já tá velhinho, já escreveu várias pérolas, já cumpriu a sua missão na terra. Deixa ele agora continuar escrevendo, mesmo que sejam historinhas meio chatinhas, assim pelo menos continua ativo e trabalhando.

Eis que para minha estupefata surpresa, ainda no mesmo ano de 2009, Saramago lançou o livro “Caim”. Mais uma vez comprei tão logo o livro foi lançado, e puta merda, que livro fantástico. Fiquei encantado com o quão brilhante ele ainda conseguiu ser, mesmo depois de tantos anos de vida, depois de tantos livros maravilhosos.

O meu segundo post neste blogue, foi exatamente sobre “Caim”.

Importante destacar, Saramago não era só um grande escritor, era uma pessoa extremamente envolvida com as mazelas do mundo, mesmo doente e idoso, em nenhum momento absteve-se de lutar pela melhoria nas condições de vida das pessoas menos assistidas.

Através da Fundação Saramago, relançou no início deste ano o seu primeiro romance de destaque “A Jangada de Pedra”, ao preço de 15 euros, cuja arrecadação total com a venda destas obras foram destinadas aos flagelados do Haiti. Não foi parte da renda, foi a renda total. Cada um dos quinze euros, fori para as vítimas dos terríveis terremotos.

Diferente de muitos beatos santificados por terem passado suas vidas rezando terço, Saramago criticava o que havia de errado através das suas histórias, e através dos seus atos fazia a sua parte para tornar o mundo um lugar mais confortável para aqueles cujos governantes fingiam desconhecer a existência.

Queria fazer mais uns dez posts, cada um sobre um novo livro do Saramago. Mas agora as circunstâncias intragáveis da vida, me levaram a fazer um post sobre ele, não sobre um lançamento, mas sobre uma finalização.

Hoje, 18/06/2010, 12:30, horário de Lanzarote, Espanha; 07:30 horário de Brasília, Brasil, morreu José Saramago.

Para você que não o conhece ou não acha ele isso tudo, (perceba que meus elogios e referências sobre Saramago partem das minhas impressões pessoais, não espero que todos compartilhem delas. Nossas diferenças são o que nos tornam atraentes e interessantes), talvez a morte de Saramago não seja nada demais, mas eu estou muito triste, muito mesmo.

Parece que foi alguém aqui do lado.

Foi lendo ele que enfiei na cabeça que, quando crescesse, seria escritor. Não estou me comparando a ele, estou dizendo que ele me fez ter vontade de verbalizar em palavras escritas, minhas impressões sobre o mundo através de histórias e personagens.

Hoje perdi minha referência literária.
Sei que ele não é o melhor escritor de todos os tempos, e que ainda lerei muitas coisas que me impressionarão tanto quanto. Sei que ele possui críticos severos na academia, e não acho que tudo o que ele fez é ótimo. Mas ele me emocionava, e por isso estou profundamente emocionado agora.

Me dói pensar em quantas coisas ele ainda poderia criar, inspirar, realizar, mas hoje, no exato momento em que eu entrava no meu trabalho, ele completava a sua obra, de uma maneira romântica, no leito da sua casa, ao lado da mulher que amava e que, de tão especial que é e foi para ele, mereceu todas as dedicatórias dos seus livros. O sentimento romântico desta cena me lembra de longe o final romântico de “As Intermitências da Morte”.

Talvez doa admitir, nossa educação desde sempre nos ensinou o contrário, mas a vida dura o exato tempo dos nossos anos. Nossa eternidade tem o exato tempo de duração que nossas obras perdurarem. O nosso legado é o que faz de nós eternos, pelo menos durante os anos que nosso legado durar.

Hoje Saramago se diluiu no seu legado.

Hoje estou me sentindo sozinho.





(PS: Peço desculpas ao meu querido amigo Rafael Lange, que na última quarta-feira me concedeu a honra de ouvir o novo disco da Aerocirco em primeira mão, e pediu para que eu fizesse uma resenha da nova obra do quarteto desterrense aqui neste espaço. Este texto era para ser publicado hoje, está até pronto, mas tendo em vista a fatalidade ocorrida, ficará para segunda-feira. Desculpe, amigo.)

quinta-feira, 17 de junho de 2010

A verdadeira história sobre Moisés e os Dez Mandamentos


Deus perguntou aos Gregos:

- Vocês querem um mandamento?
- Qual seria o mandamento, Senhor?
- Não matarás!
- Não, obrigado, isso interromperia nossa sequência de conquistas.

Então Deus perguntou aos Egípcios:

- Vocês querem um mandamento?
- Qual seria o mandamento, Senhor?
- Não cometerás adultério!
- Não obrigado, isso arruinaria nossos finais de semana!

Deus perguntou então aos Sírios:

- Vocês querem um mandamento?
- Qual seria o mandamento, Senhor?
- Não roubarás!
- Não obrigado, isso arruinaria nossa economia!

E assim Deus foi perguntando a todos os povos até chegar aos Judeus:

- Vocês querem um mandamento?
- Quanto custaria, Senhor?
- É de graça.
- Então manda dez...

quarta-feira, 16 de junho de 2010

A dúvida que não quer calar


Cerveja engorda.
Cigarro emagrece.

Produtos lights suavizam os efeitos que os mesmos produtos em versão tradicional ocasionam.

Se eu trocar a cerveja pelo cigarro, mas fumar cigarros light, vou emagrecer menos do que se fumar cigarro tradicional?



Cerveja engorda.
Cigarro emagrece.

Se eu dosar a exata quantidade de cerveja a ser ingerida, com a de cigarros a serem fumados, considerando o inevitável esforço que terei que fazer me deslocando do sofá à geladeira cada vez que minha cerveja findar, somado às inescapáveis caminhadas que terei que fazer à padaria cada vez que meu maço de cigarros acabar, existe a possibilidade de eu dispensar idas à academia, mantendo-me saudável e sarado apenas pelo uso equilibrado destas duas substâncias?


Nicotina mata o coração.
Cereais contribuem positivamente para o bom funcionamento do sistema coronário.

Equilibrando-se o consumo de cerveja, que na sua fórmula contém um enorme número de cereais, ao uso do cigarro, poderei me entregar sem medo aos braços do vício, sabendo que o benefício de um anulará o malefício do outro, mantendo assim, meu coração no seu mais perfeito funcionamento?

Oh, céus, que dúvida!

terça-feira, 15 de junho de 2010

O Armário


Da primeira vez foi tão apressado, que nem reparei direito no que havia ao nosso redor. Não vi se sua parede era texturizada, ou se era algum papel decorativo que a estampava.

Não reparei se tinha criado mudo ao lado da cama, se a sua colcha era branca, rosa, preta, vermelha. Não reparei no bandô da cortina. Não reparei no tapete, se era porcelanato ou piso normal no chão do seu quarto.

Só reparei na nossa urgência. Dei graças a Deus por você estar de vestido, e agradeci ainda mais a Ele quando minha mão me contou que você estava sem calcinha.

Nada planejado, tudo instintivo, e por isso tão bom.

Mas de tudo aquilo que foi tão bom e inesperado, o mais surpreendente foi ouvir você dizer: “Caralho, o meu marido! Corre, entra no armário, rápido!”

Fiquei sem ação, você percebeu. Mas convenhamos, não é sempre que uma mulher de corpo perfeito, daquelas que se imagina não existir, e caso existam, jamais perceberão em pobres mortais como a maioria dos homens, como eu, um cara até bonitinho, mas desempregado e sem muito charme, se ajoelha a sua frente e no meio daquilo que de melhor a vida pode oferecer à um homem, pára e diz: “Caralho, o meu marido! Corre, entra no armário, rápido!”

Eu fui.

Fui por ter sido ordenado, sequer pensei no que estava fazendo, fui no piloto automático.

Não havia percebido na sua casa, no seu quarto, na sua decoração, mas até pelo tempo em que tive que ficar lá inerte, reparei em algo que talvez você não saiba: seu armário é lindo por dentro! Quer dizer, o seu eu não sei, mas o do seu marido é de muito bom gosto. Espaçoso, amplo, espaços bem planejados, quase me leva a crer que, de tão bem planejado, até naquela situação trajicômica o desenhista havia pensado quando o projetou.

Na segunda vez não tínhamos tanta pressa, você pediu para que eu escolhesse um vinho para que brindássemos àquela quinta-feira a tarde, pois você precisava ir ao quarto rapidinho pegar um presente para mim. Peguei um merlot. Os entendidos dizem que esta uva não é grande coisa, mas eu gosto, fazer o quê...

Você voltou de sobretudo, meias pretas, calçando um par de scarpin que deixava suas pernas ainda mais perfeitas, e eu que acreditava que não haveria maneira delas ficarem mais lindas... Você abriu o sobretudo e deixou a mostra seu corpo vestindo um corpete preto, com rendas que modelavam ainda mais o seu corpo inacreditável, uma calcinha menor que meu caráter e meias 7/8. Pensei comigo mesmo: “não sei por que ficam valorizando tanto a descoberta do fogo depois que foram inventadas as meias 7/8!”.

Fomos para o seu quarto, e desta vez reparei que havia alguns porta-retratos abaixados, presumi que fossem fotos de vocês e que você não se sentiria confortável com alguma cena romântica sua e do seu marido presenciando aquela nossa falta de pudor.

Sequer abrimos a garrafa do merlot, ela e as taças ficaram cândidas na mesa da sala, observando-nos à distância, mas nem tive tempo de soltar as suas ligas, e novamente veio a ordem: “puta merda, meu marido! Corre, para o armário!”

Já conhecia o caminho, e sabia que lá não estaria desconfortável.

Nas duas horas que fiquei lá dentro, pude reparar que seu marido se veste muito bem. Tem um blazer de veludo muito parecido com um que eu tenho, marrom escuro, mas o dele é de grife, muito mais bem cortado. Deve ter um caimento perfeito. Pela numeração percebi também que ele deveria ser um pouco mais alto que eu. Ternos de risca, cores sóbrias, tudo muito elegante.

Fiquei admirado com a sua frieza, fingindo que esperava por ele. Convenhamos, as taças intactas e o vinho fechado contribuíram para a sua cena.

Pela sinfonia que vocês entoavam, percebi que não era por frustração sexual que você me procurava. Ele parecia muito carinhoso, mas firme quando necessário. E pelo pouco que já conheço de você, sei bem que não era fingimento.

Ele não reparou nos porta-retratos caídos.

Na terceira vez você me ligou pedindo que eu fosse urgente ao seu apartamento, nada nos atrapalharia naquela tarde de terça-feira.

Óbvio, eu fui.

Você estava na banheira. Não encontro palavras para descrever aquela cena.

Mal comecei a desabotoar a minha camisa e você me olhou assustada quando ouviu passos no corredor. Eu nem esperei que você dissesse algo, e falei: “Já sei, para o armário.”, você sorriu, me mandou um beijinho, e lá fui eu.

Dentro do armário, ao lado dos ternos, vi que em cima das gavetas ficavam os perfumes dele. Todos amadeirados, importados, coisa fina mesmo.

De fora do armário, ouvi ele contando animado sobre um provável novo gerente para o setor de tecnologia. Há tempos ele procurava alguém, e agora o tal candidato parecia muito competente e se mostrava bastante interessado na vaga. Era o que a firma estava precisando, alguém competente e dedicado. Pegou os documentos que havia esquecido, e foi embora.

Na quarta vez, quando chegamos ao seu apartamento, ele havia coberto o chão com pétalas de rosas, velas por todos os cantos esperando para serem acesas, porcelanas finas e talheres de prata sobre a mesa, um outro merlot, de rótulo e safra melhores do que aquele primeiro, reservado junto à duas taças somelier.

Você ficou sem graça, disse que era aniversário de casamento, mas não esperava que ele fosse preparar aquilo tudo. Entendi você ter perdido a vontade, perguntei se você preferia que eu fosse embora, mas antes que você pudesse me responder, o barulho da chave girando ditou meu destino, e lá fui eu, mais uma vez, para dentro do armário.

Enquanto ouvia ele se declarar frustrado por não ter conseguido chegar antes de você para completar a surpresa com a orquídea tão rara quanto linda, que trazia para lhe presentear, olhando para baixo do chão do armário fiquei admirado com os tênis e sapatos do seu marido. Não é sempre que um homem calça 46.

Fui obrigado a passar quase a noite toda no armário, até você quase me matar de susto abrindo a porta na hora em que ele foi para o banho, após inacreditáveis três horas e meia e incontáveis orgasmos seus. Ele pediu e você cedeu lugares que eu sequer tive tempo e coragem de cogitar. Saí de fininho, ele não percebeu. Eu acho.

Hoje é a quinta vez que você me chama para ir ao seu apartamento, mas digo, desta vez eu não vou.

Estou mandando este email do meu blackberry.

Estou no motel, ao lado de uma garrafa vazia de um merlot delicioso.

Acabo de ter a tarde mais perfeita da minha vida.

Consegui o emprego de gerente de TI.

Seu marido está no banho.

Saí do armário.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Sobre Príncipes e Sapos


Eu te daria o céu, meu bem.
E o meu amor também.

Mas você preferiu tentar ficar com ele.

Ele é mais alto, mais magro, mais bonito, mais educado, mais rico.

Ele é casado.

Mas você preferiu tentar ficar com ele.

E estou ficando careca. Foi você quem disse, olhando minha toquinha do papa e as entradas que alongam minha testa.

Ele fala inglês, espanhol e arranha no italiano.

Ele parece italiano. Ele é lindo, você me disse enquanto tirava a roupa.

O idioma ele não domina, mas os vinhos só de Bordaux. Por causa do clima, por causa do solo, por causa da maneira de plantar as uvas, por causa do carvalho envelhecido dos barris e mais aquelas palhaçadas todas que, pelada no meu colchão de solteiro, você me obrigava a ficar ouvindo.

Ele é um gentleman. Corpo perfeito, pernas grossas, ombros largos, mãos grandes, apesar do pau pequeno.

Ele tem o peito definido e lisinho.

Eu não.

Ele fala baixo, bebe pouco e ama Coltrane.

Eu não.

Ele é muito carinhoso, jamais levantaria a mão pra você.

Que sacrilégio...

Não se nega um bom tapa a uma mulher. Todas já nascem com esse direito adquirido.

Com ele, você só faz amor.

Mas você sabe, aqui nesse colchão de solteiro eu também já fiz amor com você.
Mas trepar, aquela trepada bem boa, você só trepava comigo.

Ele te chama de minha linda.

Eu te chamava de minha... Bom, deixa pra lá.

Ele sussurra pra você.

Mas você gritava pra mim.

É ótimo o rastro de 212 que ele deixa quando passa, te impressiona.

Mas era meu cheiro de Malboro que te deixava arrepiada.
E, por favor, não me venha pra cá com essas viadagens de cigarro light, charutos hondurenhos, cigarrilhas da Bahia... Ou fuma de verdade, ou não fuma.

Eu te daria o céu, meu bem.
E o meu amor também.

Mas você preferiu tentar ficar com ele.

Quer saber?

Cansei!

Foda-se você e seu príncipe de Lacoste.

Não me procure nunca mais.

Não preciso mais de você no meu colchão de solteiro.

Estou comendo a mulher dele.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Carmenere


Havia ficado furiosa com o guardanapo que recebera e com os garranchos que haviam nele escrito. Eram até parecidos com os garranchos dele, mas sabia que dele não havia como ser.

Há pouco mais de três meses, o vinho tomado além da conta o levara a cruzar o sinal que proibía-o taxativo, Fique aí, te proíbo de passar pela autoridade que o vermelho me conferiu. Mas aquela taça a mais do delicioso carmenere o fez desconsiderar a autoridade do sinal e o decreto do vermelho. Como castigo, uma Kombi em sentido transversal fez dele patê.

Morreu minutos após ter tido nos braços dela a noite mais doce e linda que jamais imaginara ter. Não preciso casar contigo, embora adoraria te ouvir pedindo minha mão, mas se souber que me desejas como tua mulher agora, já me será felicidade suficiente, ainda que nunca cheguemos a trocar alianças, disse ela.

Ele sorriu sem dizer nada e alagou mais uma vez a sua taça com o delicioso carmenere. Alagou pela última vez.

No enterro ficou admirado com a quantidade de pessoas que choravam a sua perda, não se sabia tão bem quisto. Quase teve raiva do vinho, mas se pudesse tomava mais um gole, só mais unzinho de despedida. E foi na vontade deste gole inacessível às almas, que a viu no cantinho da sala, chorando contida uma dor que ninguém ali sentia. Era uma dor só dela, cortante, ardida e gelada.

Iniciou, então, sua empreitada angustiante ad infinitum.

Como os amigos haveriam de contar em piadas de boteco, entre cachaças que tentam apagar a dor da perda das melhores piadas e do abraço mais sincero, se voltasse para se comunicar, voltaria encarnado num Exú.

Baixou em vários terreiros. Em vão. Ela não acreditava em Deus, que dirá em espíritos de esquerda.

Na missa de sétimo dia, inspirou o discurso do padre, mas ela não percebeu. Não acreditava em Deus, e se fora à Igreja, foi para imaginar que aquela seria ainda uma maneira de estar perto dele.

Fez com que seu cachorro latisse no exato momento em que, entre uma taça e outra de outra garrafa daquele mesmo carmenere, Jobim cantava “deixe Dindi, que eu te adore Dindi”. Ela cantou para si, “Se um dia você for embora, me leva contigo Dindi”. Levantou e levou o labrador à rua, mas ao contrário do que imaginara, ele não queria visitar os postes que todas as noites sua bexiga canina solicitava a presença.

Fez o rádio relógio acordá-la duas horas antes do programado, com Chico sussurrando: “por que era ela, por que era eu”. Desligou o aparelho da tomada e voltou a rolar na cama, fingindo para si mesma que estava dormindo o sono que aquela ausência lhe havia furtado.

Aceitou com profundo contragosto, e deixando bastante claro que voltaria em meia hora, ir com os amigos àquele bar ali da esquina. Mas arrependeu-se quando o garçom veio trazer-lhe o guardanapo com tais garranchos. Minutos antes, o rapaz que rabiscara o guardanapo chamara a atenção de todos no bar por ter sido acometido por uma tremura nervosa e estranha.

Amassou o guardanapo e jogou-o no chão. Saiu em passos firmes, ainda que nervosos.

Já em casa, foram duas as garrafas daquele mesmo carmenere.

O rapaz era médium, mas ela não sabia.

Contudo, doeu-lhe fundo não acreditar em Deus quando, antes de revoltar-se, ler, “Te desejo como minha mulher pra sempre. Queres casar comigo?”

quarta-feira, 9 de junho de 2010

PRA FRENTE BRASIL!


Dia desses escrevi um post tirando um sarrinho da seleção, mas coisa leve, não significava que estava descontente com ela, ou revoltado com os atletas que foram convocados enquanto outros que tinham minha preferência foram preteridos.

Sim, tanto quanto você e os nossos demais 190 milhões de compatriotas, queria ver outros nomes na seleção. Adoraria ver a 10 da seleção canarinho vestida pelo Paulo Henrique Ganso, mas acho justas as escolhas de Dunga.

Falar mal da seleção virou lugar comum. Aliás, falar mal do futebol de uma maneira geral, é lugar comum. O brasileiro é um corneteiro por excelência. Traz a vuvuzela nos seus genes.

Concordo que jogadores mais talentosos ficaram de fora do time que representará nosso país, mas os que foram estão fazendo muitíssimo bem o seu trabalho, sem o salto alto que outros ditos melhores, costumam calçar.

Não perco um jogo do Santos, só para ter o prazer de ver Paulo Henrique Ganso jogar, o toque de bola desse moleque é absurdo, se ele evoluir nessa toada, certamente chegará perto da classe de Zinedine Zidane (este o melhor jogador que tive o privilégio de assistir em atividade). Mas é absolutamente coerente o fato de Ganso não ter sido convocado. No ano passado ele não jogava deste jeito, faz dois meses que o menino desencantou, entendo a opção de Dunga em não convocá-lo. Eu o convocaria, mas não acho o fim do mundo o fato de ter ficado de fora. Seria um absurdo uma eventual presença do Adriano, isso sim seria um desrespeito ao Brasil, de resto, tudo dentro do aceitável.

E quando digo isso, não estou aqui defendendo o futebol pragmático e sem graça que objetiva única e exclusivamente o resultado. Não gosto de futebol de 1 x 0, gosto de 4 x 0, por isso vejo o Santos jogar, mesmo sem ser santista.

Só que é uma injustiça absurda conferir este rótulo ao Dunga. Isso ocorre por acomodação do raciocínio, pega-se a imagem pré-estabelecida, e se reproduz tal imagem para um outro momento, acreditando que esta falácia por falsa indução é verdadeira. Dunga era um grande volante, o tipo de cara que todo mundo queria ver vestindo a camisa 8 do seu time. Como está na moda falar mal do Dunga – algo como as calças saruel – talvez você negue que tenha quisto vê-lo à frente da zaga do seu time de coração, mas acredite, você queria! Era raçudo, ótimo desarme, boa saída de bola e sabia como intimidar os adversários, um cara que mesmo se não portasse a braçadeira todos identificavam como capitão. Só que ficou marcado como o capitão de Carlos Alberto Parreira, esse sim um treinador voltado para o futebol chato de resultado, para o 1 x 0.

Fiquei bastante desacreditado quando o anunciaram como técnico da seleção canarinho, especialmente pela sua então inexperiência como treinador de futebol. Assim, como fiquei totalmente desacreditado quando Lula foi eleito presidente do Brasil sem a menor experiência anterior em gestão pública. Mas tanto em um como em outro caso, a sensatez me leva a dar o braço a torcer, ambos estão fazendo um trabalho bastante bom. Claro que nos dois casos existem defeitos, coisas que poderiam ser melhores conduzidas, mas dentro das dificuldades que a gestão de qualquer instituição envolve, acho que estão se saindo muito bem. O Dunga melhor que o Lula, mas em ambos o saldo é positivo.

A seleção de Dunga é boa, muito boa. Joga pra frente SIM! E não estou falando isso em achismo, digo isso em cima de dados. Por ser administrador de formação, me recuso a dar prosseguimento a qualquer discussão que seja baseada no “eu acho”, primeiro quero dados, fatos, em cima deles discute-se as circunstâncias e consequências.

A seleção de Dunga jogou 57 partidas neste período entre uma copa e outra. Ganhou 41 vezes, perdeu apenas 5 e empatou apenas 11. São números fantásticos!

E não me venham dizer que foram em cima de seleções de menor expressão.

Claro, tivemos nossas partidas contra Honduras, Tanzânias e afins, mas dentro destas 41 vitórias, ganhamos três vezes da seleção Argentina por três gols, ganhamos duas vezes da seleção italiana, também por três gols, ganhamos por seis gols da seleção Portuguesa, viramos uma final de campeonato em que perdíamos por 2 x 0 no início do segundo tempo, e nos sagramos campeões da competição. Garantimos a primeira colocação das eliminatórias da copa do mundo com uma boa antecedência. A média de gols desta seleção é muito próxima dos 3 gols por partida.

Essa seleção joga pra frente SIM! Temos um toque de bola muito rápido, um contra-ataque quase impossível de ser freado, em todas as jogadas aparecemos no ataque com pelo menos 3 homens na frente. Não há bola rifada, a bola evolui rápido pelo gramado, de pé em pé até a fortíssima jogada de linha de fundo que temos, seja pela esquerda ou, principalmente, pela direita, nosso diferencial. A defesa do Brasil é o sonho de qualquer treinador do mundo!

É claro que muitas vezes o futebol parece sonolento e meio burocrático, mas analisar as coisas sob a frieza de uma partida realizado por um time reunido há três dias, com jogadores em diferentes condições físicas, jogando em campeonatos onde a maneira de jogar de um país para o outro é totalmente diversa, e esperar que esse esquete dê espetáculo já não é nem ingenuidade, é burrice da aguda. Pegue o melhor baterista de rumba, o melhor guitarrista de heavy metal, a melhor cantora lírica, o melhor pianista de jazz, o melhor percussionista de reggae, o melhor cavaquinhista de samba, o melhor baixista de Bossa Nova, o melhor bandoneonista de tango, junte todos, dê a cada um uma partitura de Polca, três ensaios e vá ao show. Todos fazem música, todos tocam bem, mas vivem em realidades diferentes. Vai sair um sonzinho legal, feio eles não vão fazer- provavelmente – mas não vai ser um espetáculo de encher os olhos, não tem como.

Tá doendo no saco esse discursinho de revolta estudantil adaptado contra a seleção e a Copa do Mundo.

Sim, a Nike decide contra quem a seleção vai jogar, onde ela vai jogar. Acho ridículo Brasil enfrentar a Argentina na Inglaterra, fico puto com isso, mas o que importa é que no fim das contas o tal do futebol chato e de resultado foi lá e aplicou 3 x 0 nos Hermanos de Don Diego.

A grana que rola é absurda? É! As pessoas deixam coisas supostamente mais importantes para se envolver com a copa? Deixam! Isso movimenta e sustenta as principais corporações comerciais do mundo? Sim! Mas meu amigo, vá com o teu socialismo para dentro da sua caverna, se ele fosse bom não teria fracassado em todos os lugares por onde se fez presente.

Não acho que o modelo econômico vigente seja correto, positivo e benéfico para a evolução da humanidade, mas é o único capaz de nos suster, e por mais vampírico que seja, premia quem tem competência, se não a tens, vote no Lula e seus sucessores, não são poucas as bolsas-benefícios.

O modelo econômico vigente não é uma imposição, é um movimento social, é algo contra o qual não se luta contra, é maior do que imaginar que determinadas organizações de alcance mundial (Nike, Coca-cola, Microsoft, Figueirense) são as responsáveis em ditar as regras de funcionamento da humanidade. Não são. São sim muito importantes, mas se elas tem o tamanho que tem é por que o mundo aceita, e precisa delas e das evoluções que promovem.

Esse discurso em prol de uma suposta cultura superior, contra a massificação dos enlatados e as classes dominantes era até legalzinho, mas começou a ficar cansado um pouquinho depois da revolução industrial, e lá se vão dois séculos desde então.

Larguem a hipocrisia de lado, é lindo falar mal do modelo de trás do monitor do seu computador Dell, que roda o sistema operacional Windows, e propagas todo o teu engajamento social através do blogue, do facebook, do twitter e do orkut.

Faz protesto contra a degradação o mangue, e compra suas roupas no Iguatemi.
Faz protesto contra a Moeda Verde, mas sonha em passar um final de semana no Costão do Santinho.

Cara, não ta afim de ver a seleção? Beleza.
Mas não me venha encher o saco com esse discurso pré-fabricado, que serve para todas as lamentações e adaptado de acordo com as circunstâncias.

A Copa do Mundo não é um movimento ideológico, ela é entretenimento. Foi antes, é hoje e será sempre. Para nós, é entretenimento, para quem trabalha, é negócio, palmas para eles.

Não gostas? Beleza, eu não gosto de turfe, acho brega aquela ostentação nos grandes prêmios de corridas de cavalo, mas simplesmente não assisto e não freqüento, não vou perder meu tempo falando mal deles. São felizes assim? Ótimo, eu sou com futebol, amendoim e cerveja.

Agora, com licença, vou vestir minha camisa da seleção brasileira da nike, modelo 2010, com o número 4 e a alcunha “Don Mattos” nas costas, fazer um bom estoque de pipoca, coca-cola, amendoim e cerveja e me preparar para me divertir com tantos jogos quantos me for possível assistir.

No fim das contas, a parte da copa que me interessa é essa: DIVERSÃO.

domingo, 6 de junho de 2010

Anos nublados


Parece que dizes: “Te amo, Maria”.

Não, não parece.

Não me pareces ser do tipo que amaria uma simples Maria, assim como eu.

Uma Maria Eduarda, Maria Fernanda, Maria Clara, talvez. Uma simples Maria simples, acho que não. Te dás o direito de optar pelos nomes compostos, pobre de mim.

Na fotografia é com ela que estás feliz. Não comigo.

Te ligo afobada, mas desligo antes mesmo que o primeiro toque interrompa o vinho que deves estar abrindo para tomar com ela. Não me dou tempo nem direito sequer para me confessar ao gravador.

Não sei se tomas vinho, mas és sempre tão nobre que não te imagino bebendo outra coisa. Tu só deves aceitar boas safras. Não só nos vinhos que imagino que tomas, mas deduzo isso também pela beleza dela. Dela e do seu pomposo nome composto.

Não é nada engraçado saber que tens mais um novo amor.

Parece agosto de um ano nublado.

Meus olhos molhados lamentam não ser uma dessas mulheres que usas e descartas. Uma dessas tantas que não ligas no dia seguinte. Que inveja sinto delas. Delas e dos seus belos nomes compostos. A maior glória da minha vida seria ser descartada por ti, depois de dormir aconchegada na tua pele morena.

Mas tu te importas comigo. Ficas preocupado achando que estou sofrendo por ter sido abandonada pelo meu ex-amor. Que bom que ele se foi, pena que não vens.

Parece bolero, eu sei.
Brega, eu sei.
Fazer o quê se te quero, te quero.
Não sei de que jeito posso te esquecer de fato.

Me prendo no espelho, me finjo de retrato para parecer linda. Pareço tão linda.

Te ligo ofegante, mas desligo antes mesmo de terminar de discar. E me mandas mensagens. Me desejas feliz natal, feliz ano novo, feliz páscoa. Mas eu queria que me dissesses “meus beijos nunca mais”, pois significaria que alguma vez, umazinha que fosse, os teria provado.

É desconcertante não ser teu novo amor.


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(PS 01: Sei que deus castiga quando se brinca com o que é sagrado, peço desculpas ao Santo Antônio Brasileiro.)

(PS 02: Poucas coisas no mundo conseguem ser tão bonitas quanto uma música do Tom Jobim na voz da Gal Costa. Deleite-se abaixo.)

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Me chama de Mon Bijou!

Essa é para esquentar o seu final de semana frio e chuvoso, querida leitora!

Lembra daquela propaganda que passava há um tempinho atrás, do amaciante Mon Bijou, onde o eterno garoto Bombril dividia a sua bancada com o Reynaldo Gianechini, aquele modelo bonitão que tenta nos convencer de que é ator de verdade, e você se derretia vendo-o fingir que dançava enquanto cantava uma estrofe que terminava com a frase "Me chama de Mon Bijou!".

Pois então, se você antes já ficava toda derretidinha, se prepare, agora você vai se contorcer diante da tela do seu computador, vai se morder inteira, vai tentar disfarçar aí no seu trabalho, na sua casa, na sua faculdade, para que ninguém perceba o quão excitada este vídeo certamente lhe deixará.

Chega de enrolação, deliciem-se com o homem mais desejado do Brasil, e todo o seu charme inimitável!



Bom final de semana!

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Fim de uma lenda urbana: Sim, o ASA de Arapiraca existe!


Desde 1985 que eu acompanho futebol e aprendi a amar e dedicar meu tempo às coisas que realmente importam e fazem a vida valer a pena. O Figueirense, por exemplo.

E é mais ou menos desta época remota a primeira vez que ouvi falar no tal do ASA de Arapiraca. Durante muito tempo eu acreditei que fosse um time simbólico, inventado, algo como “esse cara aí deve ter jogado no Piranboleta de Guaxupé”, um nome inventado para tirar um sarro e só.

Eis que para minha surpresa, há dois anos eu soube que o tal do ASA subiu para a terceira divisão do futebol nacional, aquele campeonato importantíssimo que só time pequeno orgulha-se de um dia ter freqüentado, e pior, se for dos pequenos, pequenos mesmo, colocam até estrelinha na camisa em comemoração.

Mas para aumentar ainda mais a minha estupefação, o tal do ASA subiu da terceira para a segunda divisão do futebol nacional, um local hostil, inóspito e obscuro, freqüentado por times de atletas neardenthais e juízes que quando apitam não roubam, cometem crimes hediondos.

Neste momento você está pensando: “ué, mas o teu Figueirense não está na série B?” e eu te respondo: “Sim, ele ESTÁ! Mas já está de saída, só foi ali de passagem. Uma espécie de intercâmbio cultural, fomos ali dar um rolê, conhecer como funciona o habitat do nosso co-irmão de pijama, enquanto eles deleitam-se pelas plagas da qual fazemos parte. Mas no fim do ano tudo voltará ao normal, o Figueirense de volta à nobreza do esporte bretão, seu lugar natural, e a pijamada volta ao lodo nauseabundo, muito parecido com um mangue, da segunda divisão.

Voltemos ao ASA.
Começou a série B 2010, e o tal ASA estava participando da competição, acompanhei muito interessado o desempenho da equipe, e mais surpreendente do que a sua real existência, era o desempenho até mediano que vinha demonstrando no certame.

Contudo, entretanto, porém e todavia, mesmo acompanhando os resultados, ainda duvidava seriamente da existência, algo do tipo: “só acredito vendo!”.

Na última terça-feira, dia 01/06/2010, tive a revelação: SIM, IRMÃOS, O ASA DE ARAPIRACA EXISTE! Existe e também veste as elegantes cores alvinegras.

Como era uma noite especial, ainda levei comigo dois amigos muito queridos, apesar de avaianos. Não tem graça jogar contra o ASA de Arapiraca, sem alguém do lado para tirar um sarro. E lá estiveram comigo o grande Ronnie, e Rodrigo Daca, nobres avaianos convictos não-praticantes (como a maioria dos torcedores daquela agremiação, a terceira maior torcida do sul da ilha, atrás apenas do Ribeironense e do Canto do Rio).

Como já divulguei em outros posts, ando extremamente antissocial, é difícil algum convite retirar meu corpo barrigudo do meu sofá rasgado. Costumo escolher um bom filme e uma taça de vinho à maior parte dos outros convites sociais que vez ou outra me fazem. Faz tempo que não vou à shows, bares e afins. Se tivesse grana iria à peças de teatro, mas além de caros, são raros em Nossa Senhora do Desterro, minha pátria.

Mas apesar de antissocial, é pouco provável que eu recuse convites do Daca e do Ronnie, pois sei que será sempre divertidíssimo, a exceção, é claro, de convites para ir ao Ilhéu ou, pior, Scuna Bar. Meus caros, sei que já habito a casa dos trinta e poucos, mas ainda não me dei por vencido.

Aquela noite foi uma vitória pessoal, algo muito além dos inapeláveis 6x0 que o Furacão do Estreito aplicou sobre os Galáticos da Caatinga. (entendeu a piada, ãhn, ãhn, ãhn? ASA – Catinga, sacou? Autoria do Daca, esse ancião “gozador”).
Digo que foi uma vitória pois, imagine só, plena terça-feira, um frio dos diabos em Desterro, ventinho sul cortando os ossos, eu tiro dois avaianos de casa para assistirem no estádio Figueirense X ASA de Arapiraca às 22:00.

Como retribuição, tive que oferecer à eles algumas cenas para guardarem com carinho nas suas memórias, ou na parte delas que o Alzheimer ainda mantém em atividade. Dei um corridão num velho que cornetava o esquadrão alvinegro comandado pelo eterno capitão Márcio Goiano, grudei no alambrado e quase implorei para o jogador do ASA trocar de camisa comigo, lhe ofereci minha camisa oficial do Figueira em troca da camisa dele. Imagine que maravilha, além de comprovar a existência do ASA, ainda voltar para a casa com a farda alagoana (sim, talvez você não saiba, mas Arapiraca fica em Alagoas. Pelo menos foi o que o Ronnie me disse.), mas o zagueiro reserva do adversário do mais querido de Santa Catarina, achou que eu estava tirando sarro dele e respondeu carinhosamente: “vá se foder, filho de uma puta!”. Ganhei uma rosa de um velho que foi para o estádio com um buquê de rosas vermelhas. Ele tinha a intenção de presentear a esposa ao término da partida para tentar amansá-la, uma vez que tinha saído para o jogo sem a autorização da patroa. Mas a cada gol, ele comemorava girando o tal do buquê, logo, como foram seis os tentos, não sobrou muita coisa para a patroa, mas eu ganhei uma rosa. E mais, ainda fui presenteado pelo Daca, ganhei um livro de contos do músico Jorge Coelho (cujas músicas eu gosto bastante e recomendo), o qual a capa traz uma bela gravura do grande Mausé.

Para finalizar a gloriosa noite, aquela Original bem gelada e um X-salada no HAuse, que diga-se de passagem, no seu novo endereço não tem nem sombra do charme que tinha à cabeceira da Ponte Hercílio Luz. Ali, onde fica agora, a gente nem corre risco de seqüestro relâmpago, mau pra caramba!

Resumo da ópera?

O mundo já não é grande coisa, mas quando se tem amigos de verdade por perto, até uma noite fria de terça-feira se torna um programa maravilhoso, destes que um dia ainda nossos filhos vão ouvir falar, pensando: “porra, que merda, esse velho vai falar de novo dessa história do ASA de Arapiraca...” . Tem uma bela música do Nando Reis que eu gosto muito, que diz: “o que me faz feliz são coisas pequenas”, mas vocês não imaginam como uma noite dessas, mesmo simples, é grandiosa na memória.

(PS: por favor, não deixem o Mausé saber que eu levei o Daca no jogo do Figueira, ou o rebento do grande artista plástico ilhéu corre o risco de não herdar nenhuma das suas maravilhosas telas.)

(PS2: Parabéns ao Ceará, que também veste preto e branco, ontem completou 96 anos, tem um rival que veste azul e cujo mascote é um leão, e para comemorar seu aniversário ganhou por 2 x 0 de outro time azul cujo mascote é um leão, e habitualmente treme quando vê um time alvinegro diante de si!)