quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O "Novo Pai", esse cara eu quero ser!


Olá, cavalheiros.
Falemos de nós, deixemos elas um pouco de lado por enquanto. Meninas, será por pouco tempo, prometo.

Publiquei esses dias um texto que saiu na revista TPM, tratando do “Novo Pai”, um texto muito legal, mas como sempre, escrito por uma mulher.
E nós, o que pensamos disso tudo?

Será que temos pensado nisso o suficiente?
Quando mudei o foco deste blogue, passando dos contos para o Diário do Papai, o fiz com o intuito de criar conteúdo para que homens-pais, pudessem encontrar-se nele, pois existe pouca coisa sobre nosso papel na vivência da chegada de um filho. Aprendemos meio que no facão, como pessoas de olhos vendados com nossas companheiras por perto indicando a direção, “mais para a esquerda, mais para direita, tá quente, tá frio”. E isso, na verdade, não se resume a paternidade em si, se resume à maneira com que nos relacionamos desde sempre com as mulheres ao nosso redor. Desde o sexo, precisamos das orientações delas para aprendermos a fazer direito. Conosco é fácil, é só a mulher chegar perto do camarada com qualquer parte do seu corpo que tá tudo certo. Com elas, não. Para nós, é bom até quando não estamos afim. Para elas, não. É preciso clima, é preciso querer, é preciso paciência, é preciso calma, é preciso aprender os traquejos, os meios, os atalhos, para que no fim das contas a experiência valha a pena para os dois, e não se resuma a um cara satisfeito roncando virado para o outro lado da cama, enquanto ela está ali, na metade do caminho.

E assim como precisamos das mulheres para aprender a ser na cama aquilo que dizemos aos amigos do bar que somos, precisamos aceitar que serão elas quem nos ensinarão a sermos os pais que nossas crianças precisam.
Isso por culpa da nossa cultura machista que, desde sempre, nos ensinou que no passado bastava um tacape na cabeça da mulher para conquistar a fêmea desejada, e passamos os anos e eras tentando disfarçar a forma do tacape, alguns físicos, outros psicológicos, mas, por apegados que somos à ele, temos dificuldade em deixá-lo de lado e admitirmos que precisamos de atitudes mais femininas para chegarmos ao título de “Novo Pai”.

A força não está com Darth Vader, com Lucky Skywalker ou com o mestre Yoda, eles são homens. A força está com a Princesa Léa, ela é a mulher da parada.
Elas têm coragem de chorar. Nós, nem isso.

E, talvez por isso, por nos acovardarmos na nossa condição de coadjuvantes, deixamos nas mãos delas o que é ser um bom pai, como se já não lhes bastasse o desafio de tornarem-se boas mães.
Meus caros, já estamos bem crescidinhos, tá na hora de nós mesmos encontrarmos nossos caminhos, termos coragem de defendê-los diante dos machismos retrógrados da maior parte da nossa sociedade, que ainda enxerga o homem como provedor e a mulher como mantenedora, e assumirmos com orgulho nossa paternidade ativa.

Sempre com a ajuda e tutoria delas, mas podemos mais do que temos feito.
Como dizem os textos escritos por mulheres, paternidade ativa é mais, bem mais do que revezar a troca de fraldas. A paternidade ativa começa antes do filho nascer.

No meu caso, a gravidez foi planejada, o que facilita tudo, inclusive a minha participação.
Sim, pois uma gravidez planejada já pressupõe que houve o consentimento de ambos, ou seja, começamos a nos fazer ativos antes mesmo da concepção.

Planejar uma gravidez, não significa parar de tomar anticoncepcional, parar de usar camisinha ou qualquer outra espécie de tratamentos contraceptivos. Planejamento parte de uma conversa séria, madura, adulta. Estamos preparados? A sua companheira vê em você alguém preparado para ser o pai do seu filho? Você vê na sua companheira alguém preparada para ser a mãe do seu filho? Vocês são ótimas pessoas, mas o casal que formam está maduro o suficiente para trazer ao mundo uma criança? E maturidade não é tempo de relação, quilometragem rodada e afins. Isso pode contribuir, mas não é preponderante. Maturidade é saber que os dois estão numa sinergia tal, que ambos saibam que ao seu lado existe alguém capaz de segurar o tranco quando as coisas não correrem bem. Maturidade significa ter a confiança de que, mesmo que a relação homem-mulher que existe no momento da gravidez um dia acabe, isso não afetará a relação familiar que se criou.
Se um dia vocês se separarem e a sua mulher vir a se casar com outro cara, ele pode até ocupar o lado da cama que antes era o seu, na casa que antes era a sua, assar uma picanha na churrasqueira que antes você relaxava aos sábados, mas na cabeça da criança, o lugar de pai é seu. O outro pode ser um cara legal, mas você tem que ter a maturidade e atitude suficientes para, mesmo sem estar mais ao lado daquela mulher a quem um dia você jurou amar pra sempre, saber que não deverá delegar a ele o referencial masculino que sua criança precisa.

No planejamento, devemos tomar a consciência de que a partir do momento que aquela criança vir ao mundo, nós seremos o seu exemplo, o seu modelo. E aí, meu amigo, você é um bom exemplo a ser seguido? Será que vale a pena trazer ao mundo outra pessoa com atitudes parecidas com as suas, ou suas atitudes já são cagadas o suficiente para este mundo, não precisa de mais alguém as replicando? Você está disposto a deixar de lado determinadas crenças, manias, hábitos, vícios, para que se torne um bom exemplo para aquela folhinha em branco que vem ao mundo e precisará da sua ajuda para escrever a sua história?
Planejar a gravidez numa paternidade ativa, é pensar nisso tudo, é admitir que precisaremos nos tornarmos homens melhores para influenciarmos positivamente aquele novo serzinho.

Quando se faz com honestidade e franqueza estas reflexões, saberemos admitir que talvez ainda não estejamos preparados para sermos pais, e adiar os planos de levar um menino ao estádio com a camisa do seu time talvez seja o melhor a ser feito, pois além do jogo de domingo, haverá outros seis dias na semana repletos de fraldas, birras, febre, tarefas da escola, dentinhos a serem escovados, banhos a serem dados, limites a serem impostos, estímulos a serem dados, enfim, há muito mais coisas entre o céu da maternidade e o mar da paternidade, do que supõe a vã filosofia do nosso time do coração.
Agora, uma vez concluindo que sim, estamos preparados para nos tornarmos pais ativos, participativos, exemplos para nossos filhos, exemplos que certamente falharão um milhão de vezes, mas para cada uma destas falhas teremos a coragem de pedir desculpas e nos comprometeremos a tentar melhorar a partir daquele aprendizado, aí sim, poderemos engravidar.

Sim, nós homens, nós grávidos.
Não é a mulher que engravida, é o casal.

Não é o filho que vai nascer, é a família.
Na paternidade ativa, cada vez que você falar do filho que estão esperando, você não dirá que sua esposa está grávida, você dirá que vocês estão grávidos.

Na paternidade ativa, o pré-natal é uma consulta para os dois, não apenas para ela. Evidente que, eventualmente, motivos de força maior podem acabar impedindo você de estar ao lado da sua companheira na consulta pré-natal, mas esforce-se ao máximo para que a sua força de vontade de estar presente, seja maior do que o motivo de força maior. Fará bem para a sua mulher, saber que pode contar com você. Fará bem para o seu bebê, saber que você está sempre presente. Fará bem para você, que se sentirá cada vez mais parte integrante e fundamental de todo o processo. Você não apenas dirá, mas se sentirá efetivamente grávido.
O ginecologista é o médico da mulher.

O obstetra é o médico do casal.
Você não dirá mais “o obstetra da minha mulher”, você dirá “o NOSSO obstetra”.

E, não raro, homens que se envolvem efetivamente na gestação, sentem também sintomas similares aos das grávidas. Sintomas de fundo psicológico, evidentemente, mas sim, eles o sentem. Enjoos, tonturas, chororô por causa de uma propaganda de margarina, tudo isso podemos sentir, e não devemos nos envergonhar por sentir, faz parte do nosso aprendizado. Em cinco meses de gravidez eu já chorei vendo documentários, Jornal Nacional, propaganda do Boticário, A Grande Família e, o meu recorde: Os Simpsons. Faz parte.
Na experiência da minha gravidez, da espera pela minha Clara (estou dizendo “minha”, mas não estou excluindo a Priscilla, falo assim pelo foco do texto), tornei-me um militante do parto humanizado. Entre as pessoas envolvidas com o parto humanizado, fala-se bastante sobre o processo de empoderamento da mulher, um sentimento que é construído ao longo dos nove meses para que no momento do parto, a mulher sinta-se pronta, apta e capaz de trazer seu filho ao mundo da maneira mais natural possível.

Nós, pais ativos, também precisamos passar por este processo de empoderamento. E a primeira etapa deste processo, é nos permitirmos sermos frágeis, emotivos e admitirmos que sim, por mais planejada que tenha sido a gravidez, estamos cheios de dúvidas, inseguranças e medo de quando aquela criaturinha chegar aos nossos braços, não sabermos exatamente como agir. Essa parte é muito difícil. Tão difícil, que só agora, transcorridos cinco meses da minha gestação, vários livros, artigos, blogues lidos sobre o assunto, estou aqui escancarando minha fragilidade masculina para quem tiver saco de ler meus extensos textos.
E isso é difícil, pois ao mesmo tempo em que precisamos nos permitir sermos frágeis, temos que saber dosar quando, onde e com quem vamos extravasar nossa fragilidade, pois nossas companheiras estarão num processo de revolução hormonal gigantesco, e enquanto nós estaremos psicologicamente fragilizados, elas estarão não só psicologicamente, mas fisicamente em ebulição. A dosagem das nossas emoções é importante para que elas saibam que podem contar conosco, que ainda que estejamos emocionados, somos a pessoa com quem ela mais vai poder contar nessa caminhada tão linda de 42 semanas. Mas que tenhamos consciência, dosar não é represar.

Isso foi difícil para mim, pois sempre procurei me colocar para a Priscilla como um porto seguro, sempre gostei de dizer frases como “fica tranquila, eu estou aqui, pode deixar que eu dou um jeito em tudo”, e de repente, tudo era novo e eu não sabia que jeito se dava quando ela acordava no meio da madrugada vomitando mais do que eu na pior das minhas bebedeiras em 33 anos de vida. Eu sabia que deveria mais uma vez dizer que estava ali, que tudo ficaria bem, mas naquela hora eu queria também alguém do meu lado dizendo a mesma coisa para mim. E eu não podia admitir, eu era o homem, o macho alfa, o forte. Que palhaçadinha era aquela de ficar com vontade de chorar por ver um pacote de fraldas na prateleira do supermercado? Coisa de mulherzinha...
Como dosar o apoio que nossa companheira precisa, com a emoção que queremos sentir, o exemplo que queremos nos tornar para nossa criança?

No meu caso, que escolhi fazer do meu blogue um diário da minha experiência, isso se tornou um grande desafio, pois queria trazer aqui minhas angústias, minhas inseguranças, mas como fazer isso sabendo de antemão que a Priscilla seria a primeira pessoa a ler, e de repente fazer com que ela se deparasse com um turbilhão de sentimentos meus, os quais eu tentava disfarçar o máximo possível para que ela não ficasse ainda mais sensível do que já estava. No fim das contas, acabei me afastando da ideia original, que era discutir nosso papel como pais ativos, e transformei a maior parte dos meus textos em lugar comum, fáceis de serem encontrados em qualquer outro blogue. Poucas vezes eu tive coragem de mexer no vespeiro dos meus sentimentos, e quando o fiz, tentei disfarçar ao máximo.
A saída quem me apontou foi a Priscilla, mãe da estonteante Clara que está por vir. Conversei com ela sobre essa minha angústia, de querer desabafar, mas não deixá-la abalada com as minhas inseguranças, e ela me falou: Encontre alguém que não seja eu, e fale sobre isso. Parece óbvio, e talvez até seja, mas não é fácil. A primeira pessoa com quem falei a respeito, foi com a Ligia do site www.cientistaqueviroumae.com.br, que de orientadora virou amiga, e como me ajudou. Aos poucos, fui encontrando outras pessoas. Para minha sorte, nosso grupo de amigos é fantástico, e vários deles estão passando pela mesma experiência que nós, e consequentemente as dúvidas são parecidas, as angústias são parecidas e juntos, encontramos nossos atalhos sentimentais para que possamos exercer nossas paternidades ativas.

E foi por conversar com outros pais com anseios similares aos meus, pela ajuda constante que a Priscilla me dá, pelo conhecimento que tenho procurado, que consegui chegar a este texto, escrevê-lo sem medo de admitir minhas incertezas, mesmo sabendo que a Priscilla será a primeira pessoa a lê-lo.
Bom, escrevi muito e talvez você já esteja cansado de ficar na frente do computador, mas o assunto está só no começo.

Mas está aqui dada a largada, amigos. Comecemos nós, homens, a discutirmos nossa paternidade ativa, consciente, presente.
Assim como as mulheres estão buscando o seu protagonismo no nascimento das nossas crianças, retirando dos médicos o papel que eles lhes surrupiaram com a proliferação das cesáreas eletivas, busquemos nós também o nosso protagonismo paterno, elas não precisam de mais essa incumbência, já estamos bem grandinhos e podemos começar a caminhar com nossas próprias pernas. Sempre ao lado delas, no mesmo caminho, mas chega de sermos carregados no colo!

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

De: Papai - Para: Clara-Clarinha-Clarotinha


Oi filhota, só vim aqui rapidinho dizer que tô morrendo de saudades de ti.

É que me deu uma saudade tão grande agora, no meio da tarde, meio que do nada.
Saudade do tempo que tu ainda estavas na barriga redonda da mamãe, e eu te chamava de minha gordinha por que a barriga dela não parava de crescer. Aí eu ficava falando perto do umbigo da mamãe, para que quando tu ouvisse a minha voz após sair da barriga dela, olhasse para mim e me identificasse na hora, pensando: “ah, então aquele ali é o papai? Gostei dele! Não falei lá de dentro, mas eu também te amo, papai! Cada vez que tu disse isso, eu falei lá de dentro da barriga ‘eu também’. E, sim, eu ouvia bem melhor quando tu falavas perto do umbigo!”

E por mais que a coisa que mais me doa no coração seja te ouvir chorando, fiquei com muita saudade do dia em que lá na maternidade, ouvi pela primeira vez a tua voz através de um chorinho tão lindo, tão pequenininho, como que perguntando “o que tá acontecendo comigo???”
Depois me deu saudade quando tu sorrias meio sem saber ainda que aquilo era um sorriso, mas via que eu e a mamãe ficávamos super babões no final do teu banho, colocando o talquinho antes da fralda e tu rindo pra nós dois. E tu rias mais ainda quando eu e a mamãe ficávamos brincando com os teus pezinhos, dizendo que o teu dedinho mindinho do pé é um ultra-super-mini pinhãozinho.

Depois deu saudade do tempo em que tu começou a engatinhar, toda durinha, toda independente, descobrindo os espaços ao teu redor.
E morri de saudade da primeira vez que tu falou: “Papai”, e eu chorei feito um bobão, e tu ficou meio assustadinha sem entender direito por que eu estava chorando, até que eu te peguei no colo, te enchi de beijos, te apertei, e tu caiu na gargalhada!

E me lembrei direitinho do dia em que tu me olhou com os olhinhos arregalados de surpresa quando viu uma borboleta pela primeira vez, e falou toda feliz: “olha papai, uma boboueta, é mais bonita que no livinho!”.
E me apertou o coração de saudade só de lembrar de ti, toda mocinha, vestindo um avental igual ao da mamãe para ajudar ela a fazer bolinhos.

E fiquei com saudades de te ver brincando com o Zé e com os gatinhos, rolando no chão da sala com os quatro, enchendo toda a casa de alegria através das tuas gargalhadas.
Como é bom ouvir tuas gargalhadas!

E fico assim, Clarinha, morrendo de saudades de ti, de ficar te olhando e achando no teu rosto os traços do rosto da mamãe, nos teus cacoetes as minhas manias, imaginando estas e todas as outras etapas que vamos viver juntos, nós três e nossos bichinhos, depois teus irmãos ou irmãs, e te amando cada milésimo de segundo mais e mais, por encher nossa vida de tanta coisa boa!
Sabe o melhor de tudo?

É que apesar dessa saudade tão grande que estou sentindo, quando chegar em casa, daqui a pouco, vou me ajoelhar na frente da mamãe, encher a barriga dela de beijinhos, vou dizer pertinho do umbigo dela: “Como eu te amo, Clara-Clarinha-Clarotinha!”, e sei que lá de dentro tu vais ouvir e, de algum modo, vai entender o que estou dizendo, de algum modo vai sorrir e de algum modo vai dizer: “Eu também, papai!”

Encontramos a nossa Doula, agora a Seleção está completa!


Escrevi há algumas semanas um texto sobre Doulas, dizendo que pretendia fazer o curso de Doula, me tornar uma espécie de papai-Doula para que pudesse ajudar de uma maneira mais prática, e não apenas emocional, no transcorrer dos nove meses da nossa gestação.
Contudo, não consegui fazer o curso, pois as entidades com as quais entrei em contato não me aceitaram por eu ser homem. Triste pensar que numa época tão avançada, onde se busca a igualdade de direitos e deveres, quebra de preconceitos, alguns pensamentos desta natureza ainda persistam. Ainda mais se pensarmos que o papel da Doula é fomentado num meio de pessoas que estão totalmente ligadas a humanização da chegada de novos seres-humanos à face da terra. A sensação que deu, foi que elas pensaram que minha intenção ao fazer o curso era dispensar a Doula, como se ao aprender suas atribuições, não a contrataria. Em outro caso, ficou explícito o medo de concorrência.

Nos dois casos a interpretação das pessoas sobre minhas intenções estava totalmente errada. Primeiro, por melhor que fosse o curso que eu fizesse e caso eu tivesse um desempenho extraordinário, ainda assim faríamos questão da presença de uma Doula no nosso parto. Segundo, não pretendo trabalhar como “Doulo”.
No fim de maio, início de junho, não é apenas a Clara que vai nascer, é a nossa família que estará nascendo. É a Clara filha, a Priscilla mãe e o David pai. É o início da família Rebello Mattos vindo ao mundo. E, por ser também o meu nascimento, ainda que tivesse tido o máximo de excelência no meu hipotético curso de Doulas, eu também estarei precisando de apoio, incentivo, carinho, suporte e todas as atribuições que as boas Doulas executam no exercício das suas profissões. Tanto quanto eu estou grávido com a Pri, eu vou parir com ela. Sim, vou estar forte para ajudá-la na respiração, para caminhar com ela, se ela assim quiser, para entrar na banheira com ela, se ela assim quiser, para entrar no chuveiro com ela, se ela assim quiser, mas, assim como ela, também estarei num estado emocional diferente do habitual. Posso não passar pela experiência física do parto, mas emocionalmente estarei de mãos dadas com ela quando entrarmos na “partolândia” e, por isso, nós dois temos total certeza que a presença de uma Doula em quem confiemos fará do nascimento da nossa Clarinha, uma experiência ainda mais bonita e intensa. Ficaremos muito mais tranquilos e seguros, mais “empoderados”, como se diz no meio, ao sabermos que a equipe que está conosco foi cuidadosamente escolhida, nos conhece e sabe bem das nossas expectativas para este momento. Já estávamos muito felizes pelos obstetras que escolhemos, confiamos neles, e agora – finalmente – encontramos a Doula que nos fez sair do seu consultório com a mesma felicidade com que saímos do consultório dos nossos obstetras todos os meses, certos de termos encontrado a pessoa ideal para vivenciar conosco esse momento tão singular.

A cada dia que nossa gestação avança, temos mais consciência do quão privilegiados somos por termos ao nosso lado pessoas tão importantes quanto nossos amigos, antigos ou recentes. Por termos a sorte de estarmos cercados de pessoas envolvidas com a humanização do parto, nossos amigos nos trouxeram uma série de ótimas indicações. Nossos obstetras também contribuíram bastante com outras sugestões e, no fim das contas, tínhamos uma série de bons profissionais a nossa disposição, bastando escolhermos aquele com quem a empatia ocorresse de maneira mais espontânea e acentuada.
Ou seja, com cinco meses de gestação, tínhamos opções de Doulas com formação em fisioterapia, em enfermagem e em psicologia. Tinha até uma Doula com especialização em sub-celebridade, mas é melhor deixar isso quieto, não vem ao caso.

Buscamos informações sobre todas as opções, tentamos contato com todas elas, algumas nos retornaram, outras não, e eis que no fim da tarde de ontem – 29/01 – tivemos uma hora de conversa com a Carol, uma profissional com formação em psicologia, Doula e parteira.
Foi uma conversa deliciosa, onde conhecemos uma pessoa que enxerga o nascimento da Clara como algo muito especial, do mesmo modo que nós enxergamos também. Uma pessoa capacitada, com ótimas referências e com um diferencial que foi exatamente o que nos pegou: a psicologia. A Pri é estudante de psicologia, logo, mesmo antes de termos conhecido a Carol, a mamãe da Clara já tinha uma quedinha por esta Doula.

A maior parte das Doulas inicia o acompanhamento mais efetivo das futuras famílias a partir da trigésima sexta semana de gestação, mas nós estamos no transcorrer da vigésima segunda semana, logo, um pouco precoce para a maior parte das Doulas.
O que gostamos muito no trabalho da Carol, é que nosso acompanhamento com ela começará agora, aliás, já começou. Nós faremos consulta com a psicóloga para entrarmos cada vez com mais intensidade na nossa experiência de nascimento, a partir das nossas próprias experiências individuais e como casal. Um trabalho que, para nós, será mais profundo e intenso do que o acompanhamento apenas do último mês da nossa gestação. Além disso, ela promoverá também um grupo com outros dois casais grávidos, com uma idade gestacional parecida com a nossa, para que possamos neste período trocar experiências, conversarmos sobre nossas inseguranças, descobertas, expectativas que, provavelmente se assemelharão as deles. É sempre bom dar uma espiadinha no espelho, seja para corrigir algo que está meio desalinhado no nosso visual, ou para constatarmos como estamos bonitos.

Vocês sabem, Copa do Mundo acontece sempre no mês de junho. Diferente da Copa do Brasil de 2014, a nossa Copa do Mundo será em junho de 2013, e ontem completamos a convocação da nossa Seleção!
A Carol é a volantona que faltava no nosso time, nossa camisa 5, aquela que dá proteção à defesa, não deixa o adversário sequer se aproximar da zaga. Para nos proteger, se for preciso ela vai dar bicuda. Mas ela também tem uma saída de bola apurada, vai saber pegar a bola e iniciar o contra-ataque. O passe para o gol do título pode ser meu, que vou estar lá no ataque ao lado da Pri, nossa camisa 9, mas poderá também vir dela, da nossa volantona, que se for preciso terá a técnica necessária para dar o passe milimétrico para deixar a craque do time na cara do gol.

Bem-vinda ao time, Carol!
(Para conhecer melhor o trabalho da Carol, acessem: http://empoderando-se.blogspot.com.br)

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

E começa o segundo tempo da nossa gravidez, hora de pensar no quartinho da Clara!


Toca o telefone, do outro lado da linha a vovó Teresinha, minha mãe, pergunta depois das inicias saudações:

_E aí, meu filho, como vai ser o quarto da Clarinha? Quero fazer algumas coisas para enfeitar o quarto, mas preciso saber como vocês estão pensando a decoração.
Foi aí, só aí depois de cinco meses e uma semana desde o início da nossa gravidez, que nos demos conta que não paramos para pensar em como será o quarto da nossa filhota.

Curioso, isso. Pelo que eu me lembro das outras gestações que ocorreram próximas a mim, o quarto era sempre uma das primeiras coisas que se pensava. A cor das paredes, o modelo do berço, os enfeites para a cômoda, e nós nem aí para a hora do Brasil. Ou da Clara, melhor dizendo.
Fui até a porta do quarto que será o dela, e nele uma pilha de caixas de papelão, coisas entulhadas, uma espécie de depósito das nossas mudanças, coisas que ainda não acharam seus devidos lugares nos nossos armários, e estavam lá amontoadas. Algumas coisas da Clara também, pacotes de fraldas (desde que engravidamos compramos pelo menos um pacotinho cada vez que vamos ao supermercado), brinquedos, roupinhas, mas tudo meio amontoado em sacolas e caixas sobre uma bi-cama sem colchão.

Mas nosso desleixo com a decoração não se deu exatamente por desleixo, mas por mergulharmos de cabeça na nossa gravidez na outra borda da piscina, aquela das descobertas emocionais, físicas e ideológicas. Curtimos desde o início cada transformação no corpo da Pri, cada descoberta, lemos um monte de livros, artigos, blogues sobre gravidez, nos envolvemos com pessoas ligadas ao parto humanizado, viramos militantes disto, e foi tão grande nossa paixão pela gravidez ideológica, essa do respeito à mulher associada a uma paternidade extremamente ativa e participativa, que os adereços nos pareceram supérfluos, tanto que sequer pensamos neles. Foi muito importante essa primeira etapa de ativismo através da nossa própria gestação, mas estamos começando a entrar numa outra etapa, talvez a etapa por onde outras pessoas começam, mas só agora começamos a conversar sobre ela.
Nos últimos dias a Pri caiu de cabeça na organização do quarto da nossa Clarota, agora já está praticamente todo organizado, faltando apenas umas caixas do papai aqui, que pretendo dar um jeito nelas amanhã a noite. Agora os espaços começam a aparecer, e passamos a imaginar as cores.

Primeiro pensamos em fazer uma decoração de floresta, cheio de bichinhos – a exceção do leão, é claro, por questões de ética, bom gosto e boa educação. Depois, a Pri veio com a ideia de fazermos todo o quarto em tons de verde e rosa. Mas acontece que verde e rosa são as cores da Mangueira, e eu torço para a Mocidade Independente de Padre Miguel. Mas, tudo bem, a Mangueira também é legal, escola do Cartola, do Chico Buarque, dá para levar numa boa.
Esta nova etapa está sendo uma delícia. É incrível pensar que esse cantinho da casa que estamos imaginando, será uma das principais lembranças dela quando crescida. Esse cuidado é muito importante, pois em cada detalhe queremos que ela perceba o quanto é amada, e que cada vez que pensar na sua infância, pense com carinho no espaço que a mamãe e o papai prepararam pensando nela, que ela perceba em cada cantinho a nossa presença, do mesmo jeito que hoje sentimos a presença dela em qualquer coisa que façamos.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Finge que me engana, mas não vou fingir que acredito (A palhaçada da proibição das Doulas e outros absurdos cotidianos)



Não sou contrário à cirurgia cesariana, pelo contrário, acho que ela é uma das coisas mais maravilhosas que o ser-humano criou, pois graças a ela várias vidas podem ser salvas.

A cirurgia cesariana salva vidas, mas vidas só devem ser salvas quando estão em risco.
Já escrevi sobre isso, mas volto ao tema por dois motivos: a palhaçada da proibição de Doulas nos hospitais-maternidade do grupo paulista Santa Joana, e a frustração por ver a postura de alguns novos médicos que hoje se manifestaram no meu Facebook.

O grupo Pro Matre Santa Joana, economicamente um dos mais fortes do nosso país na área médica, não quer Doulas presentes nos partos que realiza. Alegam, em sua defesa, que não proíbem a presença da Doula, mas restringiram o número de acompanhantes na hora do parto para apenas um, logo, como a tendência natural é que a mãe escolha a presença do pai, sai de cena a Doula. Argumentam, também, que menos uma pessoa na hora do nascimento diminui o risco de infecção hospitalar. Só não dizem pra ninguém que o risco de infecção numa cirurgia cesariana é muito mais alto do que num parto natural.
Mas por que essa restrição se está mais do que comprovado que a presença de uma Doula diminui drasticamente a incidência de cirurgias cesarianas, a necessidade de analgesia e de ocitocina artificial? A proibição se dá exatamente por estes motivos.

Hoje, a taxa de cirurgia cesariana do grupo Pro Matre Santa Joana é uma das mais altas do país. Mais de 90% dos partos realizados naquela instituição comercial de saúde, são cirurgias cesarianas eletivas (cirurgias com data e hora marcada).
Com esta proibição o Hospital deixa claro que a sua preocupação não é, em nenhum momento, o bem estar da mulher e da criança, e sim com a última linha da DRE (Demonstração do Resultado do Exercício) que aponta para os investidores o seu Lucro Operacional Líquido ao final de um ano. O que vale é grana no bolso e ponto final.

Hospitais com esta conduta são iguais à clássica cena do filme “Tempos Modernos” de Charles Chaplin, em que o personagem fica robotizado pela repetição de uma linha de produção. A tristeza em se constatar isso, é que aquele filme era uma sátira das consequências da Revolução Industrial, mas que hoje ainda se aplica não só em linhas de produção e atendimentos de operadores de telemarketing, mas também no trato da saúde.
Ter uma Doula representa um sério risco para a fortuna que é movimentada por essa indústria das cesarianas eletivas, pois ela sabe técnicas para relaxamento e alívio da dor da parturiente, que podem acabar por dispensar a analgesia que constaria no valor final da fatura paga ao hospital. Ela, por ser PROFISSIONAL da saúde, irá intervir a favor da mãe quando algum médico com pressa em desocupar o leito, resolver romper precocemente a placenta da mãe. Ela está do lado da mãe, ela tem consciência que naquele cenário o centro das atenções É A MÃE, não o médico. Ela não se importará em esperar pela dilatação, impedindo que o médico faça uso da quase sempre desnecessária episiotomia.

Mas essa calma que a mãe precisa para vivenciar toda a beleza de um nascimento, em hospitais desta natureza só a Doula tem. Na maioria esmagadora dos hospitais, uma parturiente é estatística, não ser-humano. É como se eles fossem donos de boteco que ficam putos quando amigos se reúnem para jogar conversa fora, tomam suas cervejinhas sem pressa, e ficam ocupando mesas de outras pessoas que poderiam estar consumindo mais e mais rápido se estivessem sozinhas. Quanto mais rápido realizarem seus partos eletivos, mais rápido terão outras grávidas nas suas salas cirúrgicas e, assim, aumenta-se o ganho em escala.
Um rapaz que eu conheço há tempos, mais novo do que eu, recém-formado em medicina, adora fazer piada da minha cara, pois se acha autoridade no assunto por ter a titulação de bacharel em medicina, enquanto a minha é em administração empresarial, o que automaticamente invalida, para ele, meus argumentos. “Você não é da área, não sabe do que tá falando”, diz ele.

Mais do que isso, escreveu textualmente num e-mail: “David, você é administrador, deveria melhor do que eu saber como o mundo funciona. A máquina não pode parar, eu não posso manter toda uma estrutura hospitalar se não tiver um ganho com isso, eu preciso de produção mesmo, preciso de velocidade. Nada que coloque em risco as pacientes, mas pra que vou esperar 20 horas vendo uma mulher sofrer de dor, se posso fazer um procedimento em 20 minutos onde ela não sentirá nada. É até desumano isso que você defende, parece que você gosta de ver mulher sofrer.”
Sim, eu sou administrador e me orgulho muito da minha profissão e formação.

Não, eu não sou desumano.
Administradores não são escravos do sistema capitalista que visam o lucro acima de qualquer coisa. Administradores são profissionais que tornam negócios viáveis através de métodos, controles e planejamento. Administradores PRECISAM ENTENDER E GOSTAR de pessoas, é para elas que os negócios existem.

Se a minha formação me levasse a crer que o lucro final é a única coisa que importa, eu jamais teria uma filha, pois sei que ela ocupará boa parte do meu orçamento, das minhas horas de sono, das horas de lazer que antes eram só minhas e da Priscilla. Sei que em alguns momentos não poderemos mais decidir na hora irmos à um restaurante legal, pois talvez a grana esteja curta, talvez a Clara esteja com febre pois um dentinho vai estar nascendo, talvez eu esteja esgotado fisicamente por ter corrido atrás dela uma tarde inteira quando ela aprender seus primeiros passinhos.
Repito o que já disse em outros textos, a obstetrícia assim como a maternidade/paternidade, é uma missão. Não se deve ter um filho para segurar o namorado, por convenção social – “todos os meus amigos já tiveram, preciso ter um para mostrar que também evoluí como pessoa” – ou seja lá por qual motivo fútil. Deve-se ter um filho por acreditar que é capaz de receber, criar, educar um ser-humano que ajudará este mundo em que vivemos a se tornar um lugar melhor para todos vivermos. Quem fizer contas ou pensar em comodidade e ganho financeiro, jamais terá filho, não é um negócio lucrativo. Quem escolhe a obstetrícia, deve ter o mesmo sentimento. Não é uma profissão, é algo maior do que isso. Se teu objetivo é grana, caia de cabeça nas próteses de silicone, não numa sala de parto.

Um médico que indica a cirurgia cesariana quando não há necessidade da mesma, NÃO MERECE RESPEITO. Um médico que, além disso, sugere o agendamento da cirurgia cesariana, além de não merecer respeito, está deixando claro que não se importa nem um pouco com você, sua esposa ou seu filho, ele está interessado única e exclusivamente no próprio bolso e comodismo. É o típico cara que se acha melhor do que os outros pela profissão que exerce, que exige ser chamado de doutor mesmo sem a devida titulação. E, mesmo que tivesse, "doutor" é titulação acadêmica, não pronome de tratamento.
Salas cirúrgicas são feitas para tratamento de doenças, e uma criança não é uma bactéria que contaminou a mãe com a mazela da gravidez a espera da cura cesariana. A criança sabe desde muito antes da medicina virar ciência, quando e de que jeito deve nascer.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Vinte semanas: Já posso ser vovô!



Vinte semanas!

Cinco meses completinhos!
Sabe o seu semestre da faculdade que não acaba nunca? É menor do que nossa gravidez.

O campeonato estadual que vai definir se você vai tirar sarro dos seus amigos, ou ser zoado por eles, é menor do que nossa gravidez.
Aquele inverno que não acaba nunca, o verão que passa rápido demais, cada um deles é menor do que a nossa gravidez.

Já passamos da metade do caminho, e ainda temos a sensação de que estamos no comecinho dela. De vez em quando ainda é o período de nove meses que baliza nossos pensamentos, mas aí olhamos para a barriga e percebemos que só faltam 4.
Com vinte semanas de vida intra-uterina, nossa menina começa a formar suas mini-impressões digitais, que serão do jeito que estão se formando para sempre, e só dela.

Nossa menina, agora, já tem até um uterozinho totalmente formado.
Que loucura pensar nisso!

Nem peguei minha filhota no colo ainda, e o corpinho dela já tem tudo o que ela vai precisar para um dia me dar um netinho. Ou netinha.
A nossa Clarotinha está a cada dia que passa mais bagunceira, agitada. Segundo a mamãe, a sensação é de que ela está brincando de pular corda com o cordão umbilical, de tanto que se mexe.

Essa movimentação toda já é, também, um indicativo de como funcionará o sono da nossa pequena. Normalmente, bebês que ainda na barriga se agitam mais durante a noite, tendem a ser assim também depois de nascidos. Caso isso se confirme, sorte nossa, a Clarinha costuma fazer mais rebuliço durante o dia. Acorda cedo, a danadinha, mas durante a noite ela tem ficado mais tranquila.
Agora a boa notícia para a mamãe!

Segundo vários artigos lidos pelo papai aqui, a maioria das mulheres que costumam ficar com estrias quando grávidas, as desenvolve até o quinto mês de gestação. Após esse período, as estrias podem sim aparecer, mas apenas em casos onde houver um excessivo ganho de peso da mamãe. Ou seja, além de estar esperando uma menina linda, minha amada também continuará com a pele do jeitinho que ela gosta, linda e sem estrias. Não me importaria caso surgissem, de verdade, mas sei que ela se importaria. Então, melhor assim!
Agora a boa notícia para o papai!

Sabe o cara que todo dia dorme e acorda com duas mulheres lindas, irresistíveis?
Esse cara sou eu!

“...and i’m giving all my love to this world...”


quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

"O novo pai"



Por indicação de Ligia Moreiras Sena e Frank Maia, cheguei à este bom texto sobre o novo papel dos homens na concepção da família atual. O texto foi publicado na revista TPM e é de Antonia Pellegrino, escritora e roteirista de 32 anos, e vai diretamente de encontro com o que tenho discutido desde o início do Diário do Papai.


"O novo pai
Homens e mulheres tem direitos iguais. Para eles, resta correr atrás do prejuízo.


Eu acho que os homens deveriam ter licença-paternidade.” “Pra ficarem enchendo a cara? Ficarem de férias?” Esse breve diálogo revela duas experiências distintas da maternidade, transformadas por causa do papel do pai. Se mãe é mãe, o pai não é mais o mesmo.
Dizem as babás antigas, donas de ampla sabedoria prática, que na última década passaram a ver muitos pais dividindo as responsabilidades do cuidado da criança com as mães. Esses seriam os “novos pais”, em oposição ao pai tradicional.
O pai tradicional é aquele que divide os custos do bebê com a mãe, mas não divide a responsabilidade – estas são as pobres filhas do feminismo. Durante a gestação, ele segue sua vida normalmente: sai, bebe, volta tarde, acorda de ressaca, reclama que a mulher não é mais a mesma. É comum mulheres com essa experiência cultivarem a fantasia de entrar em trabalho de parto numa noite em que o marido esteja de porre.
Quando a criança nasce, o pai tradicional acha que se der “uma ajuda” para a mãe numa troca de fralda ou numa crise de cólica estará fazendo seu papel. Afinal, é dela 90% da responsabilidade sobre o bebê. Sendo assim, ele chega à noite do trabalho, faz um carinho no filho e vai para o quarto. No máximo dá o banho. Para as mulheres que procriam com pais tradicionais, pelo menos até a criança dizer “papai”, ser mãe é ser sozinha.
Como a mãe precisa ter quatro mãos, as outras a entrar na dança serão as da babá e/ou da avó. E, assim, licença-paternidade pra quê?
Pai para toda obraJá o novo pai é filho da revolução feminina. Para ele, homens e mulheres têm direitos iguais, mas, na maternidade, a mulher é mais poderosa: é ela quem gesta, pare e amamenta. Resta a ele correr atrás do prejuízo: ser parceiro na gravidez e engravidar também; ir às consultas médicas; fazer cursos de pais; estar ao lado da mulher no parto para cortar o cordão e, logo depois, dar o primeiro banho na criança. Enfim, encarar a paternidade como 50% de responsabilidade dele e 50% de responsabilidade da mãe.
Para o novo pai, trocar a fralda das seis da manhã ilumina o dia. Passar o dia fora de casa é morrer de saudade. Chegar do trabalho e dar banho de chuveiro no filho é sua dose de transcendência diária.
Dizem que as crianças hoje em dia já nascem mais espertas. Coincidência ou não, muitas delas são filhas dos novos pais. Não seria um efeito do olhar do novo pai? Talvez. Ainda não sabemos as consequências desse acréscimo amoroso, mas eu acho sortuda a criança que nasce com um pai disposto a limpar-lhe a bunda com franco sorriso no rosto. Certamente isso há de ter efeito na autoconfiança, na coragem para encarar o mundo e, sobretudo, na capacidade de amar desse futuro adulto que, no seu tempo, tornar-se-á um pai ou mãe ainda mais preparado para cuidar."

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Dica de leitura: Parto com Amor


Para os que estão à espera de um novo membro na família, fica aqui a dica de um livro que não pode deixar de ser lido.

“Parto com amor” (Editora Panda Books) de Luciana Benatti e Marcelo Min, traz como diz o próprio subtítulo: “Em casa, com parteira, na água, no hospital. Histórias de nove mulheres que vivenciaram o parto humanizado.”.

O livro é fantástico, além dos relatos muito sinceros e emocionados das nove mulheres contando suas experiências, medos, inseguranças, convicções, certezas, traz fotos lindas registrando a chegada dos bebês em ambientes e situações onde foi preservado às mulheres o papel de protagonistas.
Vale muito a pena não só para casais grávidos, mas para todos aqueles que um dia pretendem ter um filho ou mesmo para aqueles que querem apenas entender um pouco mais sobre como acontece um parto humanizado, e que uma escolha bem planejada pode oferecer total segurança para uma criança nascer, seja numa maternidade, numa casa de parto ou mesmo em casa.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Dá licença, sou pai!


Apesar de algumas diferenças ideológicas, que jamais diminuiram o tanto que sempre gostei da minha querida amiga Xixa, ela fez algumas considerações interessantes acerca do meu último texto.

Linkou em seu comentário alguns textos sobre o tema, se valeu de alguns argumentos que tenho verdadeira repulsa, outros que concordo plenamente, mas no fim o que interessa é que somos duas pessoas que por caminhos diferentes, buscam um mesmo destino.

De fato, é preciso mais do que um texto num blogue de audiência mediana, para participar ativamente da busca por uma licença paternidade maior. Logo, além do texto, deixarei permanentemente ali no cantinho direito do blogue, ao lado das postagens, um link onde todos vocês, queridos leitores, podem clicar e participar de um abaixo assinado que visa ampliar de 5 para 30 dias a licença paternidade.

Participem, os papais agradecem!

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Licença Paternidade: O benefício minguado.


Quando a Clara nascer, lá entre o fim de maio e começo de junho (a data quem vai escolher é ela!), eu ainda não terei completado um ano na empresa onde hoje trabalho. Faltará um mês, aproximadamente, para que eu tenha direito ao meu primeiro período de férias. Vou estar louco para passar todo o tempo do mundo com ela e com a Pri, mas pelo que rege nossa constituição, todo o tempo do mundo deverá ser concentrado em cinco dias úteis.
Quando um homem torna-se pai, a lei lhe assegura 5 dias úteis de afastamento remunerado do trabalho para que possa dar suporte à sua esposa e filho(a). Um benefício sem sombra de dúvidas importantíssimo, mas insuficiente.

Mas é um assunto delicado, pois ele entra num vácuo social de direitos e responsabilidades, onde a lei que nos rege não sabe direito como abrigar os recém-pais.
A grosso modo, o direito entende que os homens só devem tirar 5 dias de licença pois, em tese, enquanto uma mulher pode engravidar apenas uma vez por ano, nós, homens, poderíamos engravidar doze mulheres diferentes num ano, uma em cada mês para que, no período subsequente, gozássemos de doze licenças remuneradas para cada um dos doze filhos que trouxemos ao mundo com o auxílio das diversas parceiras do nosso harém.

Um raciocínio estúpido, convenhamos.
Esta é uma explicação grosseira para disfarçar os reais motivos que impedem que nós, homens, tenhamos pelo menos 30, 15 dias que seja, ao lado da nossa esposa convalescente e do bebezinho que aguardamos ansiosos por nove meses.

Desde agosto de 2011, tramita no congresso um projeto de lei que aumenta de 5 para 15 dias o período da licença paternidade. Mas ele não é votado, está lá, engavetado, enquanto leis muito mais urgentes foram votadas em tempo recorde, como o aumento do auxílio moradia dos deputados federais, por exemplo.
Este projeto de lei é uma criança que, depois de nascida, há dois possíveis pais: o governo ou o empresário. Acontece que nenhum deles quer assumir a paternidade do bebê.

Ambos os argumentos são compreensíveis.
Hoje, quando um homem se ausenta para gozar da sua licença paternidade, quem arca com os custos daquela ausência é única e exclusivamente o empregador. E, muito diferente do que acreditam os xiitas do PSTU, os empresários não são vampiros sangue-sugas que exploram seus funcionários com chibatas. A iniciativa privada é o que faz esse país andar, na sua maioria esmagadora composta por micro, pequenas e médias empresas. Estes empresários, na sua maioria absoluta são os primeiros a chegar, os últimos a sair e mal tiram 5 dias de férias durante o ano. Meu sogro é empresário, e quando vamos jantar na casa deles, nunca houve um dia em que ele tivesse chego antes de mim na sua própria casa. Eu, assalariado, termino meu expediente as 18:00, vou para minha casa, tomo meu banho e tá tudo certo. Ele, não, fica lá até 19:00, 20:00, 21:00 ou até a hora que for necessário. Eu sei o quanto ele rala, vejo toda semana, e sei que cada funcionário que ele abriga sob o teto da sua empresa custa o dobro do que recebe por mês, pois o governo cobra um salário igual em taxas e impostos que corroem o lucro do empresariado. Meu sogro não é rico, mas merecia ser, e muito, pelo tanto que trabalha. Quando um funcionário dele se ausenta pela licença paternidade, ele é obrigado a remunerá-lo integralmente pelos 5 dias que estará afastado, mas a produção daquele funcionário não existirá. Para um micro, pequeno, médio empreendedor, um funcionário faz uma falta danada. Aqueles cinco dias custam muito caro.

Por outro lado, o governo não quer assumir os custos de uma licença maior, pois a previdência pública está falida há décadas. O governo já arca com a licença maternidade, perícias, seguros desemprego, não quer sob o seu guarda-chuva mais a licença paternidade. E quando algum governante federal aparece na televisão dizendo que a previdência está quebrada, não é papinho de político que não quer fazer nada pelo povo, ela de fato está falida! Está falida pois faz pouco tempo que começamos a nos organizar enquanto nação. Entendo que, neste momento, apenas acrescer os custos de uma licença paternidade maior, geraria um grande problema nos cofres públicos, tanto quanto entendo que transferir este custo para os empregadores, pode gerar um sério problema de fluxo de caixa e produtividade em muitas empresas do país. Pois quando se fala em empresa, talvez você visualize a Vale, alguma empresa do Eike Batista, o Carrefour, mas estas são a minoria, a maior parte é composta por micro e pequenos empresários que todos os meses precisam fazer mágica para que o que entra de recursos seja maior do que aquilo que sai.
Contudo, entretanto, porém e todavia, é preciso uma solução. Pois não é justo que eu, pai, passe apenas cinco dias na companhia da minha filha quando ela nascer. Não é justo com a Priscilla, que estará fisicamente fragilizada e estará com toda sua atenção voltada às necessidades iniciais da nossa Clara. Não é justo comigo, que quero curti-la, quero trocar a fralda, quero acordar de madrugada sem me preocupar que no dia seguinte terei que trabalhar. Eu também estarei num estado emocional totalmente diferente, e quero curti-lo, mas a lei não me permite.

Como equacionar estas diferenças?
Na minha opinião, ainda que a máquina do governo esteja quebrada, esta é uma responsabilidade que deveria caber a ele, o governo, não ao empresariado, que já paga caríssimo para me manter trabalhando de carteira assinada com todos os privilégios que a lei me assegura.

Como fazer isso?
Se políticos não tivessem aposentadoria assegurada com vencimentos integrais, após cumprir dois mandatos, mesmo que jovens, já seria uma boa economia.

Sou contratado para trabalhar 44 horas semanais, e por esta carga horária recebo uma quantia acertada no momento da minha contratação. Não há, na minha relação de trabalho, auxílio vestuário, auxílio moradia, motorista a minha disposição, verbas para assessores pessoais, verba para equipar meu escritório. Eu não recebo décimo quarto e décimo quinto salário. Deputados, mesmo que faltem a todas as suas sessões (três semanais), recebem. E têm dois recessos anuais maiores do que o período de férias que eu, assalariado, tenho direito. Se deputados não tivessem estas regalias, muito, mas muito dinheiro seria economizado nos cofres públicos.
O deputado José Antônio Reguffe (PDT-DF), abriu mão de todas as suas regalias por entender que o salário que recebe, é suficientemente bom para as despesas suas e da sua família. Diminuiu a quantidade de assessores a que tem direito e, com isso, ele sozinho economizará aos cofres públicos a quantia de R$2,3 milhões em quatro anos. Se todos fizessem o mesmo, o país economizaria ao fim dos quatro anos de mandato dos deputados, R$1,2 BILHÕES.

Se não houvesse um manancial de dinheiro jorrando para construção de estádios estapafúrdios em locais ermos, sem qualquer tradição no futebol, sob a desculpa da Copa do Mundo, mais dinheiro ainda se teria em caixa.
Se alguns de vocês que estão lendo, quando desligados de determinada empresa já com outro emprego em vista, não solicitassem ao novo empregador que ainda não registrassem suas carteiras, para que pudessem receber concomitantemente o seu novo salário mais o seguro desemprego, também daria uma boa folga nos cofres públicos.

Fico com meu coração apertado quando penso que no nascimento da Clara, terei apenas cinco dias para me dedicar a ela e a Priscilla. Torço para que a tal lei engavetada desde agosto de 2011 seja votada e receba o canetaço da Dona Dilma antes de Abril, para que eu possa me beneficiar da alteração da lei. Mas, por enquanto, é pegar ou largar, cinco dias ou nada.
Uma pena, elas mereciam mais.

Eu merecia mais.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Dezenove semanas e a quarta consulta pré-natal.



Dezenove semanas!

Chegamos à metade do caminho, como passa rápido! Atualmente a nossa filhota está com aproximadamente 15 centímetros e 200 gramas. Há pouquíssimo tempo chamava minha pequena de bebê-larvinha, agora já está uma moça grande, quase metade do tamanho da régua que ela tanto usará na escolinha daqui uns anos.
Nas duas últimas semanas, o que antes era cartilagem no corpinho da nossa menina, começou a se calcificar e virar lindos ossinhos. Além disso, é agora, na décima nona semana, que seus mini-rins começam a funcionar. A cada dia que passa os seus sentidos ficam mais apurados, o paladar (ela começa a engolir um pouquinho do líquido aminiótico em que está submergida, já sentindo o sabor dele), a visão, já sensível à luminosidade, a audição se acostumando com a voz do papai que tanto proseia com a barriga da mamãe, o olfato, o tato começa agora com as brincadeiras com o cordão umbilical, e certamente já deve estar intuindo – aquele sentido tão feminino – certa de que é a menina mais amada do mundo.

Na manhã do dia 31, véspera de ano novo, nossa Clarinha mexeu pela primeira vez. Era bem cedinho quando a Pri me sacudiu falando: “coloca a mão aqui, olha só, ela tá mexendo!”. O nosso obstetra já havia nos alertado de que isso ocorreria entre a décima oitava e vigésima semana, mas sempre surpreende quando acontece!
Que sensação maravilhosa! Deu para sentir direitinho ela se revirando, indo de um lado para o outro da barriga da mamãe. Mexeu cedinho, pela manhã, depois a tarde mexeu de novo e, desde então, tem sido assim, pelo menos uma vez por dia sentimos ela fazendo bagunça no bucho da mamãe. Cada vez que a sentimos mexendo, dá uma vontade enorme de pegá-la no colo, encher de beijo, de carinho, enfim, ficar babando na nossa cria.

Por falar em bucho da mamãe, a Pri está cada vez mais linda!!! Incrível como a barriga tem crescido rápido. Achei que não daria para notar muito, ou que demoraria para ser perceptível a nossa gravidez, pois ela é baixinha e magrinha, mas que nada, quem a vê com intervalo de uma semana, sabe que não estou exagerando. A barriga está crescendo bastante mesmo!
Ontem fizemos nossa quarta consulta pré-natal, de tanto que estamos lendo e nos instruindo sobre parto humanizado, nascimento, saúde da mãe, do bebê e da família, preparamos uma sabatina para nosso obstetra, Dr. Marcos Leite. Como foi maravilhosa esta consulta!

Consultas médicas, hoje em dia, são feitas às pressas. Normalmente nas primeiras consultas a atenção é maior, nas seguintes os médicos presumem que por te conhecer, já não precisam dedicar a mesma atenção. Mas eles, tanto Dr. Marcos Leite quanto seu filho, Dr. Pablo Queiroz, que estão acompanhando nossa gestação, são bem diferentes da maioria dos seus colegas de trabalho.
Quando disse para ele que iríamos sabatina-lo, ele sorriu, se acomodou na cadeira e disse para não termos pressa e perguntarmos o que quiséssemos. Respondeu não só o que havíamos questionado, como outros pontos que não havíamos pensado a respeito. Consulta com mais de uma hora de duração, quase toda ela dedicada a responder nossas dúvidas.

Mas claro, também ouvimos pela terceira vez o coração da nossa menina. Ela, aliás, elas estão ótimas! Mamãe e bebê saudáveis e com desenvolvimento 100%.
Após a consulta fomos fazer nossa primeira incursão na maternidade onde talvez tenhamos a Clara. Conhecemos as instalações – ou a parte delas que estava disponível, já que era uma manhã bastante movimentada e cheia de crianças nascendo.

O “talvez” do parágrafo acima, não significa que outra maternidade esteja em questão. Caso nossa Clarinha nasça em maternidade, será na maternidade Ilha, torcendo para que esteja disponível a única sala de parto de Santa Catarina, para que na hora H a Pri tenha total liberdade de escolher onde se sentirá mais confortável para parir, numa banheira, de cócoras, na cama, na cadeirinha, enfim, na sala ela terá todas as opções e bastante espaço para caminhar.
A outra opção é a de fazermos um parto domiciliar. Agora, neste exato momento, consigo ouvir mesmo de longe as exclamações de muita gente da minha família achando que surtei de vez e cogitando, inclusive, uma intervenção judicial da minha humilde persona.

Não é uma afirmação, mas sim, é uma possibilidade.
O que nos deixa mais tranquilos para tomarmos a decisão é que, tanto a equipe Hanami, que tanto gostamos e nos identificamos, quanto nossos obstetras Marcos Leite e Pablo Queiroz, fazem o parto domiciliar. Seja qual for nossa escolha, sentimo-nos totalmente seguros, pois quanto mais se aproxima a chegada da Clara, mais percebemos que estamos cercados por pessoas e profissionais excelentes e nos darão total apoio após tomarmos nossa decisão!

That’s all, folks!

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Hanami: uma missão linda exercida por mulheres muito especiais!


A nossa gravidez tem sido maravilhosa não apenas pela chegada da nossa Clara, mas pelo fato de através dela, estarmos entrando em contato com um universo enorme de pessoas maravilhosas!
Foi pela nossa gravidez, que o Jean e a Ana Carina – amigos de longa data – nos apresentaram a Ligia e o Frank. A Lígia tem sido na nossa gravidez uma espécie de ácido fólico, nos ajudando a fazer com que tudo transcorra e se forme do melhor modo possível.

Ontem tivemos outra experiência maravilhosa!
Nosso obstetra nos havia indicado um grupo de gestantes coordenado por enfermeiras obstetrizes, indicação reforçada com veemência pela Ligia e, assim, chegamos ao: HANAMI.

O Hanami defende, divulga e pratica o parto humanizado. Defendem, mas não o impõem, e apenas por isso já nos era motivo mais do que suficiente para estarmos presentes no encontro de ontem. Pois também defendemos o parto humanizado, tanto quanto defendemos o respeito às opiniões contrárias a nossa.
Foi uma noite deliciosa, tanto que depois de um dia inteiro de trabalho, passamos quatro horas de bate papo com elas e outros casais e nem vimos o tempo passar.

As profissionais do Hanami são mulheres muito especiais, destas que não se encontra todo dia. Não é sempre que as pessoas escolhem para reger suas vidas o caminho mais difícil, lutando contra preconceitos, resistências de forças econômicas e financeiras, mas não abdicam daquilo que assumiram como missão, fazer do parto uma experiência bonita, e não dolorosa.
O trabalho delas é focado na família prestes a crescer, e não num procedimento médico. Nesse meu período de aprendizado, muitas das coisas que li sobre o parto humanizado trata de devolver a mulher o papel de protagonista no nascimento dos seus filhos, tirando os holofotes dos médicos e seus bisturis, e voltando-os às mulheres e seus filhos.

Contudo, vi na explanação delas uma evolução nesses conceitos que estamos estudando. Mais do que tornar a mulher protagonista, o trabalho delas leva o protagonismo à família. E isso, para mim que estou numa batalha para gerar conteúdos que auxiliem pais a se tornarem mais participativos e ativos nas gestações de suas companheiras, foi muito bonito.
É um trabalho muito delicado que não intenta tirar o papel dos médicos obstetras, tampouco se restringir ao momento do nascimento. É ver a família com um organismo delicado. A família que recebe um novo membro é tão sensível e delicada, quanto o bebê em si. O cuidado com o todo, quando observado, cria a atmosfera necessária para que tudo transcorra de uma maneira bonita, tanto antes, quanto durante e depois do nascimento.

O trabalho da equipe Hanami não é realizar partos de bebês, o parto quem realiza é a mãe, mas elas auxiliam a trazer ao mundo famílias. Famílias saudáveis, com cada um dos membros conscientes dos seus papéis, nas suas relações, nos laços que estão se formando a partir dos que já haviam, e isso é emocionante, admirável!
Não entrarei em detalhes do trabalho que elas realizam, pois isso elas podem fazer muito melhor do que eu. Elas possuem uma página no Facebook onde é possível estabelecer contato, conhecer mais do trabalho e ter acesso à depoimentos de quem já as conhece.

Ficamos muito felizes por tê-las conhecido, foi realmente um privilégio poder entrar em contato com pessoas tão especiais neste momento tão importante que estamos vivendo, e do encontro ficou apenas a certeza de que ontem, foi apenas o primeiro de muitos que ainda hão de vir.


sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Vídeos que merecem ser assistidos

Para todos que interagiram comigo após meu último texto, emitindo suas opiniões, sejam elas contrárias ou favoráveis à nossa opção pelo parto humanizado - o importante é sempre o debate respeitoso, assim evoluímos - Coloco aqui três vídeos muito bons que falam sobre parto humanizado e violência obstétrica.

Este primeiro é o documentário que cito no texto sobre violência obstétrica que já havia postado, mas algumas pessoas que acessaram pediram para recolocá-lo no ar. É triste, mas vejam até o final, vale muito a pena!



O segundo é o trailer de um documentário que será lançado após o carnaval, mas apenas pelo trailer já é possível criar uma expectativa muito positiva sobre o produto final deste filme:



O terceiro é um programa muito bonito realizado pelo SBT sobre parto humanizado. Um programa tocante com depoimentos de pessoas que optaram receber seus filhos de maneira natural.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Por que escolhemos parto normal, e a proteção que gostaria de dar às mulheres que eu amo.



Por que parto normal dói?

20% da dor que é sentida, é física. Está ligada diretamente as contrações, ao estica e puxa dos músculos uterinos, daquele movimento que significa que o seu bebê está dizendo: mamãe, tô pronto, me tira daqui?

Esses 20% são equivalentes a dor da partida do seu filho já crescido, da sua casa para uma aventura de intercâmbio num país distante. Você está cheio(a) de orgulho por ver aquele moleque que até pouco tempo corria de fraldas no seu quintal, e que agora começa a virar adulto todo cheio de coragem para desbravar um mundo distante, mas ao mesmo tempo está com aquela dorzinha no coração, vontade de pegá-lo mais uma vez no colo e dizer, vem cá, fica aqui que eu te protejo. Você sente a dorzinha, mas mesmo assim incentiva seu menino a se mandar, aprender com os próprios erros, se precisar, ligar que terá sempre algum conselho ou uma graninha extra a ser depositada em momentos de aperto.

A dorzinha equivale a 20%, o orgulho é 80%.

No parto normal, a proporção é parecida.

20% do que a mulher sente, é de fato dor física. O corpo se esticando todo para poder trazer ao mundo o bebê, mas 80% da dor divulgada, propagada, é falta de informação ou informação errada tomada como certa. É não saber o que vai acontecer

Hoje, no nosso país, de cada 100 partos, 80 são cesáreas.

Sabem por quê esta discrepância? Por que não temos acesso à informação, ou por que nos acomodamos em aceitar como certa a primeira informação que nos é passada, mesmo que superficialmente.

Em países mais instruídos do que o nosso, esta proporção é inversa, ou melhor é inversamente maior. No Japão, de cada 100 partos, apenas 7 são cesáreas. Sabem por quê? Por que lá, culturalmente, o parto não é apresentado às mulheres como um momento de sofrimento, e sim como um momento de esperança, de alegria.

Sim, o nascimento aqui também é tratado como alegria, mas o parto, em si, não.
Por isso, numa intenção de supostamente fazer diminuir o sofrimento das mulheres, o parto normal é tão desprezado, tratado como coisa das cavernas ou de hippies desinteressadas no conforto da anestesia.
A grosso modo, o parto é tratado como uma espécie de obstáculo entre a preparação e a chegada do bebê, uma coisa ruim entre mãe e filho, mas que tem que ser vivenciada por que sem este sofrimento, nada acontece.

Muito disso, é cultural, ocidental.

No oriente, onde a cultura cristã não é predominante, o sexo não é pecado. Pelo contrário, ele é cultuado. O Kamasutra, tão propagado, é vendido de maneira errônea para nós ocidentais. A menor parte dele trata das posições sexuais, a sua maioria trata do amor. Mas nós crescemos com a ideia de que o sexo é sujo, que as mulheres sofrem por que aquela criança que nasce já nos vem aos braços marcadas pelo pecado original. Uma pena que sejamos tão travados quando o assunto é sexo, fôssemos mais libertos a tratar deste assunto, seríamos mais felizes em todo o resto.

Não, não estou fazendo da minha argumentação em defesa do parto humanizado um pano de fundo para falar mais uma vez do meu ateísmo, não tem nada a ver. Estou falando dos aspectos culturais mesmo. Todos somos, em algum grau, travados. Cabe a nós buscarmos as chaves para destravar estas trancas da nossa castração emocional coletiva.

Por falta de informação e por termos crescido ouvindo dizer que a dor do parto é a pior dor que existe, repudiamos o parto normal encontrando na cirurgia cesariana, o elixir para as agruras da hora do parto.

Contudo, é importante termos consciência de que a cesárea é uma cirurgia de média complexidade, acompanhada por todos os riscos que envolvem um procedimento deste porte, desde consequências desastrosas por uma anestesia mal aplicada, até uma eventual infecção hospitalar.

Cirurgias são procedimentos indicados para correção de algo que não está em conformidade com o que se espera do nosso corpo. Pode ser a retirada de um tumor prestes a se tornar um câncer, uma unha encravada, uma ponte de safena ou mesmo lipoaspiração para uma pessoa que não se julga esteticamente atraente. Todas são correções de imperfeições.

Um nascimento não é uma imperfeição, ele não precisa ser corrigido.

O parto é a etapa final do processo, e como todo o processo envolve dificuldades e belezas. Como o enjoo, como os pés inchados, como a dificuldade para encontrar uma posição melhor para dormir. Mas ele não é um problema a ser corrigido. Logo, a não ser que a vida da mãe ou do bebê esteja correndo risco, não há argumento que justifique a escolha de uma cirurgia cesariana em detrimento do parto normal. O risco, numa cirurgia cesariana, é sempre muito maior do que num parto normal. A não ser que a mãe previamente já apresente algum quadro de hipertensão arterial, diabetes ou algo que possa comprometer sua integridade física no ato do nascimento, nada justifica.

Contudo, ainda que não se justifique, a decisão final deve ser da mulher, e deve ser respeitada, seja ela qual for. É o corpo dela, são as emoções dela que estão em jogo. Aquilo que a deixar mais confortável e segura, deve ser apoiado e respeitado. Contudo, antes da decisão ser tomada, é importante que se tenha muita informação acerca de cada uma das duas possibilidades para que se saiba exatamente as vantagens e os riscos de cada uma das opções.

O pavor, a ojeriza que se tem do parto normal é por falta de informação, ou ainda, pela propagação de experiências ruins, como se fossem elas o normal.

Sou o quarto de cinco filhos. Eu e minhas três irmãs anteriores a mim, nascemos de parto normal. Meu irmão caçula, nasceu de cesárea. Todos crescemos ouvindo minha mãe relatar o quanto sofreu para ter a mim e minhas irmãs, e como foi tranquilo o nascimento cirúrgico do meu irmão. Até então, antes de estar esperando a Clara, para mim sempre foi óbvia a opção pela cirurgia cesariana. Não queria que minha esposa sofresse como minha mãe sofreu. Mas, depois que engravidamos, depois que a Priscilla me mostrou um monte de coisas sobre o parto normal que eu desconhecia, depois de uma série de conversas com nossos obstetras, eu vi como estava mal informado.

Infelizmente nosso sistema de saúde é precário, não está preparado a lidar com seres humanos. Nossas maternidades e suas respectivas equipes não estão preparadas para lidar com um nascimento, estão preparados para lidar com doenças. Logo, mais fácil do que lidar com um parto normal, é lidar com uma cirurgia.

Numa maternidade pública, por via de regra, as mulheres são preparadas para o parto do mesmo modo que um outro paciente é preparado para retirada da apêndice infeccionada.

Bebês não deveriam nascer em centro cirúrgico.

A mulher está prestes a passar por um momento extremamente íntimo e delicado, e se depara com um ambiente totalmente hostil, frio, com luzes claras e paredes excessivamente brancas, um tanque de aço inoxidável a espera do primeiro banho do seu bebê.

Numa sala de parto de verdade, a luz pode ser regulada, a mulher pode caminhar pela sala, ela pode optar ter o seu bebê numa banheira, de cócoras, deitada, pode contar com a ajuda de uma bola de pilates, enfim, todo o ambiente é preparado para ela e para o seu bebê. Há conforto e aconchego.

Há pouco tempo mencionei o vídeo produzido pela Ligia Moreiras Sena sobre violência obstétrica. Aquilo ali é triste e ao mesmo tempo escancara para todos nós uma realidade que evitamos contato, fingimos não ver ou simplesmente realmente não temos acesso, mas ela existe.

Depois que assisti ao vídeo, fiquei com vontade de chorar pensando na minha mãe. Agora, quando escrevo, de novo fico com um nó na garganta.

Minha mãe é uma mulher muito forte. Nem sei descrever o quanto eu admiro aquela mulher. Não vou aqui listar as diversas vezes em que teve que se superar, mas acreditem, quem vê hoje o amor, o carinho, o sorriso lindo que ela dá cada vez que faz alguma coisa para um dos netos, uma boneca, um bolinho de chuva, uma brincadeira, não imagina quanta coisa ele teve que superar para chegar até aqui. Minha mãe superou adversidades que eu não seria capaz sequer de encarar. Mas ela superou e, junto do meu pai, criou cinco filhos numa época de inflação a 80% ao mês, e mesmo assim nunca nos faltou nada. Se hoje escrevo, é graças a ela. Poderia não me dar todos os brinquedos que eu gostaria de ter, mas nunca me disse não quando pedia um livro de presente.

Mas minha mãe tem pavor de parto normal. Sabe por que? Por que ela com certeza sofreu muita violência obstétrica para nos ter. Talvez ela não saiba, talvez não tenha se dado conta, mas para que um parto normal se torne trauma, é preciso muito desamparo.

E o desamparo se dá de diversas maneiras.

Aquele vídeo traz o depoimento de mulheres que tiveram experiências de violência obstétrica recente, mas minha mãe teve quatro partos normais na década de 70, lá a coisa provavelmente era ainda mais bruta do que é hoje.

Numa maternidade convencional, qualquer menor demora no aguardo da dilatação necessária, já é resolvido com a episiotomia, um corte que é feito no períneo da mulher para – em tese – facilitar a descida do bebê. Acontece que este corte não é necessário, ou se for, será num número ínfimo em relação ao total de mulheres que o recebem.

Ele é uma mutilação.

Ele pode afetar para sempre a sensibilidade da mulher naquela região.

Ele pode tornar desconfortável o sexo após o nascimento do bebê, e erroneamente atribuem ao parto normal, e não ao corte, uma eventual perda de sensibilidade da mulher.

Numa maternidade pública, se houver demora no trabalho de parto, haverá também troca de turnos, diferentes pessoas passarão pelo centro cirúrgico onde a sua mulher vai estar, boa parte destas pessoas tocarão a sua mulher que estará vulnerável física e emocionalmente. Ela se sentirá invadida, tratada como um pedaço de carne prestes a fazer brotar outro pedaço de carne, pois as pessoas não olharão para ela com carinho, mas como mais um número na estatística.

Além destes estranhos que entrarão e sairão do local onde a sua mulher vai estar, muitos deles não permitirão que você, homem, esteja ao lado da sua mulher, enxugando-lhe a testa, apertando sua mão, fazendo um carinho nos seus cabelos, simplesmente estando ao lado dela para que se sinta segura. Até pouco tempo, a presença do homem na hora do parto era proibida por lei. Uma lei que deveria ser um crime a constar na lei Maria da Penha. Ainda hoje, muitas maternidades proíbem a entrada do marido na hora do parto, o que não deixa também de ser uma violência obstétrica contra o casal, não só à mulher, mas ao homem também, pois naquele momento também estamos emocionalmente vulneráveis.

Num parto normal habitual, igual aos que a minha mãe teve, a mulher é colocada deitada numa maca para que a posição seja ergonomicamente mais confortável para o médico. Só não há a preocupação de observar o que é mais confortável para a mãe e para o bebê. Naquela posição o médico estará de frente para o gol, mas será muito mais dolorido para mãe e trabalhoso para o bebê. Questão de física, de anatomia. Estando a mãe deitada, o esforço do bebê será muito maior, ele terá que fazer uma curva para chegar à vagina da mãe e finalmente vir ao mundo. E, normalmente é em decorrência desta dificuldade, que muitos médicos sacam seus bisturis e recorrem a episiotomia, mutilando mulheres que, estivessem de cócoras ou sentadas, teriam muito mais facilidade em trazer ao mundo seus bebês, pois nestas posições o esforço do bebê é anatomicamente menor e ainda contariam com o auxílio luxuoso da lei da gravidade. Mas não divulgam isso, apenas dizem que as mulheres parecem índias, como se isso fosse defeito. Por que não aprendermos com índias que, sem qualquer estrutura, sabem qual o jeito mais fácil, rápido e menos dolorido de parirem seus indiozinhos?

Depois de nós cinco, mais quatro crianças chegaram à nossa família, todas através de cirurgia cesarianas. Se a experiência da minha mãe tivesse sido diferente, talvez o parto dos meus sobrinhos também fosse. Mas não estou culpando minha mãe por isso, pelo contrário. Ela não é culpada, ela é vítima. Vítima de todo um sistema que não se preocupou em nenhum momento em suavizar aqueles 20% de dor física. Fez com que eles parecessem 100% ao não oferecer à ela uma experiência bonita através do parto normal. Todo o somatório de fatores que eu falei, maximizam o peso que a dor realmente tem.

Quando digo que fiquei emocionado, é por que amo desmesuradamente a minha mãe. Quando vi o documentário e pensei nas experiências que ela teve, me deu uma vontade enorme de ter estado ao lado dela em cada um dos nascimentos, de ter segurado a sua mão, ter feito uma massagem, um carinho, ter feito a respiração cachorrinho junto dela, de dizer sorrindo para que ela ficasse calma, que aquilo passaria rápido. 

Queria ter protegido a minha mãe. Queria ter dado para ela todo o amparo que ela sempre me deu e dá. Minha mãe é tão importante para mim, que não gostaria que uma experiência natural lhe parecesse mais penosa do que uma intervenção cirúrgica. E gostaria de ter feito o mesmo pelas minhas irmãs.

Gostaria que elas tivessem conhecido os nossos obstetras.

Gostaria de ter tido a oportunidade de lhes apresentar os livros que nossos amigos nos apresentaram.
Essas mulheres, minha mãe e irmãs, são fundamentais na minha vida, elas me ensinaram como é que uma mulher merece ser tratada.

A dor da hora do parto não se resolve na hora do parto, mas durante toda a gestação, gostaria de ter estado mais presente para contribuir de uma maneira diferente, e não apenas como um tio que dá camisas de futebol para os bebês.

Mas como não dá para voltar atrás, apenas tento fazer pela Priscilla tudo o que eu gostaria que tivessem feito pela minha mãe e irmãs. E também não estou culpando meu pai e cunhados por isso, eles também não tiveram acesso as mesmas coisas que eu estou tendo oportunidade de ter. São todos ótimas pessoas, eu que talvez seja protetor demais.

Julgo importante trazer este assunto, pois como disse no começo dos trabalhos do Diário do Papai, espero que estes textos contribuam para que outros pais vivenciem a experiência da paternidade de uma maneira mais participativa, mais ativa, como parte do processo, não apenas como espectador dos acontecimentos.

Nós, pais, somos peças fundamentais para que a experiência do parto normal seja algo positivo, para que nossas mulheres saiam da maternidade não com a sensação de terem sentido a pior dor que se pode sentir, e sim a melhor dor que se possa sentir.

Pais presentes durante a gestação, ajudam a mulher a se preparar, se preparam juntos.
Se o galo fosse mais companheiro e participativo, o ovo e a galinha não viveriam no eterno dilema para saber quem veio primeiro, pois teriam a consciência de que são uma família, e não partes dissociadas de um mesmo fim.

Mas, repito, embora tenhamos escolhido para receber a nossa Clara através do parto natural, e defendamos esta escolha por acreditarmos ser a melhor para todos, caso a escolha da mãe seja pela cirurgia cesariana, esta escolha deve ser respeitada e apoiada.

Respeito ao parto é respeito à mulher!