domingo, 28 de agosto de 2011

Força Ricardo Gomes!


Sou um apaixonado por futebol, mesmo, é quase uma doença.

Sou sócio do meu time do coração, o Figueirense, há dez anos. Vez ou outra juro que vou cancelar minha carteirinha, fico puto com a diretoria, com o técnico, com o time, mas não dá, amo o time, e sei que estes caras vão vir e vão passar, mas a magia de ver aquele esquadrão, mesmo quando a qualidade técnica é questionável, vestindo preto e branco entrar em campo, me faz permanecer firme e forte com a posse da minha cadeira cativa no belo estádio Orlando Scarpelli.

No último final de semana aconteceu a esperada rodada dos clássicos regionais, e é tão gritante a diferença técnica entre o meu time e o mini rival que temos, o time que de tão pequeno se tornou conhecido por ter virado mascote de um jogador de tênis – este sim grandioso – qualquer pessoa sensata, incluindo as próprias testemunhas da tal agremiação, sim, eles não têm torcida, têm testemunhas, que a vitória alvinegra era dada como certa.

Acontece que boa parte da magia que faz com que milhões se apaixonem pelo nosso esporte bretão, está no improvável, como o de um time já rebaixado, ganhar de um time com totais possibilidades de brigar por algo maior no campeonato, como o que aconteceu no Scarpellão na última tarde do domingo passado. De nada adianta ter colocado o adversário na roda, ter dominado o jogo do primeiro ao último minuto, se em momentos fortuitos foram mais felizes e conseguiram os tentos necessários para selar a vitória. Ganharam, parabéns, continuam rebaixados, e nós brigando por algo maior, nada de muito diferente do que sempre foi. Para um time pequeno, ganhar de um time grande equivale um título. É provável que coloquem uma estrelinha na camisa em função do feito conquistado. Parabéns. Ano que vem poderão exibir o feito para o Asa de Arapiraca, nada além disso.

Acontece que, sinceramente, o que realmente me deixou um tanto abalado na rodada deste último domingo, foi o infeliz incidente no jogo entre Vasco e Flamengo.

Não torço para nenhum dos dois times, mas o sucedido aos vinte minutos do segundo tempo, me deixou muito triste. Eu, a torcida do Vasco e acredito que a torcida do Flamengo também.

Acredito que até meu querido amigo Jean Mafra, rubro-negro de corpo e alma, destes que, embora não pareça, conhecem, entendem e gostam de verdade do bom futebol, deve ter ficado triste com o acontecido.

Ricardo Gomes sofreu um seriíssimo acidente vascular cerebral.

Uma pena.

Uma pena para todos aqueles que sonham com o futebol brasileiro mais íntegro, mais honesto, mais preocupado em jogar bola do que nas picuinhas extra-campo. Não questiona-se aqui esquemas táticos, preferência por posturas ofensivas ou defensivas, e sim índole no trato do esporte em si.

Florianopolitanos, sejam eles alvinegros ou azurras, estão saturados de um senhor chamado Delfim Peixoto, uma espécie de Ricardo Teixeira regional. E nós todos, brasileiros de um modo geral, independente da cor da camisa e do escudo que traz no peito, não suporta mais o tal do senhor Teixeira e seus desmandos politiqueiros.

Talvez pelos anos vividos na Europa, onde ainda hoje é reverenciado como grande ídolo pela apaixonada torcida do Benfica, e tido como um semi-deus pelos apaixonados pelo Paris Saint Germain, tanto como jogador como técnico, Ricardo Gomes jamais permitiu que seu nome fosse envolvido num destes tantos bate-bocas futebolísticos tão corriqueiros nas mesas redondas nos fins das rodadas dos nossos campeonatos locais.

Não é o melhor técnico do Brasil, e talvez nunca venha a se tornar. Mas jamais se viu uma linha a seu respeito tratando de discussões menores, que não fosse o desempenho do time por ele dirigido.

Independente da competência, cujo estilo e postura sempre me agradou bastante, sempre absolutamente educado e cortês com repórteres, torcedores, jogadores e adversários, coisa rara de se ver hoje em dia. Nunca vi uma entrevista sua em que responsabilizasse a arbitragem por um resultado adverso, que denegrisse o adversário por um revés qualquer, ou algo que o valha.

Espero realmente que ele se recupere de mais este desafio que se impôs diante dele como um atacante quase insuperável, dos tempos em que ele era um zagueirão lento, mas muito técnico. Pessoas como ele são raríssimas de se ver no nosso esporte favorito, e quando se encontra um destes, que ele fique entre nós o máximo de tempo possível.

Parabéns ao Léo Moura, ídolo rubro-negro, que logo após o jogo iniciou a campanha no twitter #ForcaRicardoGomes, mostrando que em determinadas situações, rivalidades são reduzidas a nada, que adversários não são inimigos, e que o ser humano deve estar acima de qualquer disputa.

Para o bem do esporte que tanto me encanta, torço para que Ricardo Gomes se recupere rápido, e rápido eu possa assistí-lo à beira do gramado comandando o Vasco da Gama. Espero que no onze de setembro que se aproxima, data historicamente fatídica, eu esteja sentado na minha cadeira do Orlando Scarpelli, e ele esteja a frente do luso-brasileiro time carioca, mostrando uma recuperação surpreendente a todos nós, que sonhamos com um futebol feito por pessoas sérias, íntegras e honestas como este carioca ainda tão jovem, que faz com que todo aquele que goste de futebol, ainda que desanimado com tanta corrupção que enlameia aquilo que nos diverte duas vezes por semana, acredite que haja sim, uma luz no fim do túnel.

Força Ricardo Gomes!


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Clichê


No dia em que sairia do hospital, aceitou finalmente receber a visita da sogra.

Mais quatro dias e completaria três meses desde que dera entrada na UTI, passando para a unidade semi-intensiva, e, pouco tempo depois, pôde, enfim, ir para o quarto. Quarto coletivo de hospital público, importante que se diga, pois dados os conflitos iniciais, a família da sogra recusara-se em arcar com as despesas de uma clínica particular, que poderia muito provavelmente antecipar em algumas boas semanas o tempo que tivera que ficar internada.

Aquela velha história, mais clichê do que time que começa com a letra A viver às voltas com a zona de rebaixamento do campeonato brasileiro de futebol, a menina pobre, muito pobre, que se apaixona e é reciprocamente correspondida pelo menino rico, muito rico. A família rica, como é determinado pelo clichê desde o tempo em que deus vestia calças curtas para brincar no playground do seu jardim eterno, posicionava-se contra a união por alimentar a certeza de tratar-se de um golpe do baú. A família pobre, por sua vez e também pela determinação do mesmo roteiro escrito pelo clichê entre um cigarro e outro, posicionava-se contra a união por sentir-se ofendida. Eram pessoas pobres, sim, eram, mas íntegras, honestas, e não havia nada nas tantas histórias do mundo, mesmo aquelas escritas pelo velho clichê, que provasse o contrário.

Mas o clichê não abre mão da sua obviedade, companheira inseparável, e sendo assim, a menina pobre o e menino rico resolveram enfrentar as tantas desventuras e oposições que se mostravam diante deles, e ficariam juntos e para sempre, houvesse o que houvesse, dissessem o que dissessem.

Ele disse à sua família que abria mão das tantas posses hereditárias, que um dia certamente viriam a ser dele, ainda mais se aceitasse se casar com alguma garota da sua classe social. Preferia o enfado de enfrentar uma das tantas filas que os pobres já estão acostumados desde quando suas mães precisaram esperar para poder dar a luz em maternidades públicas de higiene questionável, e tirar um daqueles documentos que se parecem com o passaporte dele, já gasto, tanto fora o seu uso, como é mesmo nome? Carteira de trabalho, isso, carteira de trabalho! Então, preferia tirar uma carteira de trabalho, entrar em outras tantas filas até que uma delas lhe acenasse com uma oferta de emprego, seja ele qual fosse, desde que fosse o suficiente para viver com sua amada menina pobre.

A família posicionou-se contrária, evidente. Clichê é clichê, oras. Não viam com bons olhos aquela união, mas humilhação ainda maior seria ver alguém que carregava na certidão de nascimento os tantos sobrenomes nobres da família secular, num destes empregos quaisquer que os pobres tanto gostam de ostentar como se fossem seus selos probatórios de pessoas direitas. Tudo bem, se fazia questão de ficar com a menina pobre, que ficasse. Não era do agrado deles, mas nem por isso lhe cortariam a generosa mesada, desde que prometesse deixar de lado aquele devaneio absurdo de tirar o tal documento, como é mesmo nome? Carteira de trabalho, isso, carteira de trabalho. Poderiam viver num dos tantos apartamentos da família. Mas num dos pequenos, um daqueles de só três ou quatro quartos, com pouco mais de duas vagas na garagem.

E, assim, casaram-se, papel passado e tudo!

Durante alguns meses, foram felizes. Muito felizes, ainda que a desgosto de ambas as famílias. Mas nem havia dado o tempo necessário para que uma criança viesse ao mundo e as primeiras desavenças começaram. É que, assim como é difícil acostumar-se a viver sem aquilo que sempre se teve, é muito fácil tomar gosto por aquilo que é bom e nunca se possuiu. Ele passou a se sentir desconfortável com as pequenas coisas do dia-a-dia, como a falta de uma empregada que viesse diariamente ao apartamento para lhe preparar o desjejum, pois ainda que nas primeiras semanas ela, a menina pobre, tivesse feito questão de lhe servir café na cama, não demorou para que passassem a ter que realizar a desgostosa tarefa de comer à mesa, e nada de brioches, sucos e frutas várias. Apenas café, leite, pão da padaria ali de baixo, margarina, queijo, presunto e, de vez em quando, uma geleia qualquer, destas de potes de plástico. Era difícil para ele viver num apartamento onde, na sua suíte, a banheira comportava apenas um corpo por vez e com tão poucos jatos de hidromassagem. Não conseguia conceber como as pessoas poderiam viver em condições tão desumanas quanto àquelas. Do mesmo modo, ela, a cada dia, deslumbrava-se mais e mais com todo aquele conforto. Antes acostumada a dividir o pequeno quarto em que dormia com outras duas irmãs e o irmão ainda de colo, que interrompia o sono das três todas as noites com suas cotidianas cólicas noturnas, agora tinha uma casa inteira só para ela e seu marido. A suíte onde ambos dividiam o leito matrimonial era quase do tamanho inteiro da casa onde a família ainda se apinhava. Ela, que na infância divertia-se tomando banho no tanque de cimento nos dias de verão, agora tinha até banheira no quarto, daquelas que fazem bolhinhas e tudo! Todos os dias tinham o que comer no café da manhã, o pão era sempre fresco e sempre havia o que nele passar, queijo e presunto não faltara um dia sequer, às vezes, até geleia, veja só você! Claro que o jeito afetadinho do seu amado marido menino rico, às vezes a incomodava. E nos últimos tempos ele só fazia reclamar. Como ele podia reclamar da vida? Além daquele conforto todo, ainda tinha a sua esposinha menina pobre a sua inteira disposição, ela cuidava da casa com muito esmero, estava tudo sempre limpinho, não entendia por que aquela mania besta de querer ter empregada.

Certo dia, ele acordou decidido, não poderia continuar a viver daquele jeito. Gostava sim muito dela, mas aquilo não era vida digna, aquilo não poderia continuar assim.

Brigaram, brigaram feio. Ela o chamou de uma quantidade incontável de adjetivos pouco carinhosos, começando por merdinha esnobe, e terminando com outras palavras cujo significado ele desconhecia, devia ser algo do vocabulário das gentes iguais a ela, um dialeto próprio e só entendido pelos miseráveis iguais à família dela. E, assim, voltou para a casa da mãe.

Ela, a mãe rica, regozijou-se ao receber o telefonema do filho, pedindo que o motorista fosse buscá-lo.

Ela, a esposa menina pobre, ficou muito triste, deprimida, até, por que não dizer. Mas ele estava decidido, divorciar-se-iam, não havia como permanecer enclausurado numa vida tão limitada quanto àquela.

A família rica tratou de dar entrada nos trâmites legais, mas ela fez questão que fossem sozinhos ao cartório assinar a papelada. Ela mesma foi buscá-lo na casa da mãe rica, pois uma das tantas coisas que lhe ocorrera no tempo em que estivera com ele, fora a carteira de motorista. Ele, de início, queria que tivessem um dos chofer da família à sua disposição, mas ela disse que não, ela mesma levaria o marido aonde ele bem entendesse, teriam a vida deles, a liberdade deles. Ele aceitou. Pegou o marido no horário combinado. No início do trajeto, silêncio, depois, ela começou a chorar, ele afagou-lhe os cabelos dizendo que também sentia muito, mas seria melhor assim. No futuro, ambos perceberiam que o divórcio era a decisão mais acertada. O apartamento que dividiram durante os poucos meses do matrimônio, estava no nome dele, ele não importava em deixá-la morando lá por quanto tempo quisesse, a vida toda, se lhe parecesse conveniente. Está no meu nome, mas ele é seu, dizia o iminente ex-marido menino rico. Está no seu nome? Está, ele disse. Assim como este carro e o outro que usávamos, mas você sabe, eu não dirijo, fique com os dois. Não lhe asseguro uma pensão gorda, mas alguma ajuda financeira eu lhe darei, pelo menos até que você consiga um emprego novamente, como você tinha antes de me conhecer. Você não precisa se preoc...

E antes que ele terminasse a frase, um caminhão em sentido transversal acertou em cheio a porta do carona do carro, acidente horrível.

Ele morreu na hora, ela ficara os tais quase três meses internada no hospital público.

No início, a família rica a acusou de ter causado a morte do único herdeiro, pois sabiam que na idiotia da paixonite que o levou ao descabimento do casamento, casara em comunhão total de bens, apenas para afrontar ainda mais a família que, na época, mostrara-se contrária à união.
Logo, sendo viúva, e não ex-mulher, logicamente tudo o que antes ele herdaria, passaria a ser, então, dela.

Quando, ainda internada, soube das acusações, todos perceberam com preocupação a tristeza que lhe assolava, e parecia postergar ainda mais a sua convalescença. Não bastasse a violência da batida, a violência da perda daquele menino rico que ainda amava, sofria ainda a violência daquelas acusações tão vis.

Mas, no dia em que sairia do hospital, a sogra veio pedir-lhe desculpas. Passada a revolta e tristeza inicial pela perda do filho tão querido, ela e seu marido concluíram que era absurda aquela acusação. Afinal de contas, como os inquéritos policiais apuraram, o tal caminhão cruzara o sinal vermelho antes de fazer do carro quase novo que ela dirigia, um amontoado de ferro retorcido, a culpa não fora dela. Ela, a agora viúva menina pobre, estava ofendidíssima, magoadíssima com as acusações que sofrera. Disse à quase ex-sogra, que ela podia ficar tranqüila, não ia querer nada da família, nem o apartamento, nem o carro que sobrara na garagem, nem uma mesada para lhe ajudar a restabelecer-se, nada. A sogra disse que não esperava mesmo que ela ficasse no apartamento, conseguiriam para ela algo melhor, maior, e, mais do que isso, já haviam comprado para a família da viúva menina pobre, uma ótima casa em condomínio fechado. Fazia questão de assegurar-se de que nada viesse a faltar àquela que o filho tanto amara, ainda que na ocasião do acidente, estivessem rumando ao divórcio. Ela fazia questão, e não aceitaria um “não” como resposta. Apesar de inicialmente mostrar-se contrária a todas aquelas ofertas, pensou na família, nas dificuldades que enfrentaram desde sempre, e acabou cedendo e aceitando as desculpas da sogra.

A família adorou a casa, e o apartamento novo onde morava era de fato muito maior do que o anterior. A banheira, então, nem se compara. Agora entendia porque o seu finado marido menino rico reclamava da anterior.

Uma semana após sair do hospital, a sogra levou-a ao advogado da família para assegurar-lhe que legalmente nada do que prometera quando ela, a nora menina pobre, ainda estava internada, deixasse de ser cumprido.

Assinaram os papéis, despediram-se com cordialidade, e a menina pobre seguiu para sua nova vida.

Estava na jacuzzi do seu novo apartamento, quando tocou o interfone. Vestiu o hobby muito fino, atendeu dizendo, Oi, claro, pode subir, está aqui comigo.

Era Waldemar, o motorista do caminhão.

Ela, a menina pobre, entregou a ele o envelope recheado de garoupas, conforme havia prometido, para que ele acertasse em cheio o lado do carona no momento em que passassem por aquele cruzamento daquela avenida que levava ao cartório da cidade. Quando ela fez a proposta, ele alertou que ela também poderia se machucar, ela disse que não se importava, que machucados cicatrizam, difícil é cicatrizar a pobreza. Se fosse esse o remédio, que fosse tomado de uma dose só.

E assim, agora sem poder ser chamada de menina pobre e com aquele merdinha esnobe devidamente enterrado a sete palmos do chão, ela viveu feliz para sempre.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Aquela mulher


Acabou!

Não, peralá, não é assim, acabou e pronto. Nós temos uma história, uma vida, uma família, não dá para chegar assim e dizer “acabou”, e fim, ponto final.

Você devia ter pensado nisso antes, agora é fácil chegar e dizer que temos uma história, uma vida, uma família, mas na hora você não pensou em nada disso.

Você me ama.

Na hora você não pensou nisso.

Eu te amo.

Se amasse de verdade, se amasse do jeito que eu sempre te amei, não teria feito o que fez.

É sério, não vá embora, por favor.

Você me traiu.

Foi uma bobeira, estresse do trabalho, coisa sem importância. Eu não tive um caso, porra, foi uma vez só, sei lá por quê, uma fraqueza, mas não vai mais acontecer, eu juro.

Esse juramento você já me fez, num altar, na frente dos meus pais, dos seus pais, na frente de um monte de gente, e nem por isso você fez questão de cumpri-lo.

Por favor, não vá embora, não tenho como viver longe de você, estou falando sério.


Pára com isso, você conquistou tudo o que sempre sonhou, você ficou rico, chegou onde queria chegar, nada que sua vaidade tenha sonhado, você deixou de conquistar. Incluindo aquela mulher.

Não, não é nada disso. Eu nunca sonhei com ela, Foi uma bobeira, eu juro, tanto que não nego. Sei lá por que fiz, mas não gostei, me sinto mal por ter feito, nunca mais vai se repetir.

E se aquela mulher voltar?

Nem ela nem nenhuma outra. Ela não é nada, não significou nada, foi uma bobeira, você me conhece, sabe que eu estou falando a verdade.

Não precisa chorar.

Não estou chorando para comover você, é desespero por imaginar que você possa realmente ir embora.

Não precisa dessa cena, já disse, você tem tudo, não sou eu que irei fazer falta na sua vida tão confortável, tão respeitável, tão admirável, tão invejável.

Meu amor, se eu tenho a vida que tenho hoje, é por que você esteve sempre ao meu lado. Jamais teria conquistado um milésimo de tudo o que tenho hoje se você não tivesse ao meu lado. Mais do que isso, nada do que tenho hoje me interessa, se você não estiver ao meu lado, nada disso tudo que hoje eu tenho, que hoje temos, nenhuma fração disso tudo tem o menor valor se você não estiver comigo.

Aquela mulher teve valor pra você.

Aquela mulher foi uma bobeira, aquela mulher não vale nada, aquela mulher não me interessa. Só você me interessa, só estar do seu lado me interessa. Eu faço o que for preciso, largo tudo, se isso for fazer você ficar ao meu lado. Começo tudo do zero, do nada. Abro mão de tudo, mudamos de cidade, de país, aprendo uma nova língua, uma além daquelas que já falo, faço qualquer coisa que você quiser, mas só sou capaz de fazer se você estiver ao meu lado, se quando eu for dormir, saber que ao acordar vou ver você de olhos fechado no travesseiro ao lado do meu.

Não sei, depois daquela mulher, já não sei de mais nada...

Esqueça aquela mulher, por favor. Eu faço qualquer coisa.

Qualquer coisa?

Qualquer coisa, eu juro! Largo tudo, já falei. Faço qualquer coisa pelo seu perdão.

Então tá, não precisa largar tudo. Ou melhor, precisa sim, mas não exatamente abrir mão de tudo.

Como assim?

Você vai abri mão do lugar onde chegou.

Já disse, se for esse o preço, eu deixo tudo sem pensar duas vezes, vamos para outro lugar, vamos para onde você quiser.

Não vamos a lugar algum. Você vai passar tudo pra mim.

Como assim?

Você vai abrir mão do posto que conquistou, e vai me indicar para o seu lugar.

Você está falando sério?

É isso, ou nos vemos no tribunal, cada um com o seu advogado.

Não que eu ache que você não tenha capacidade, mas você sabe que não é fácil, a pressão é grande, o estresse é absurdo.

Você escolhe, me passa o bastão, ou liga hoje mesmo para algum dos tantos advogados que vivem te bajulando.

Tem certeza?

Eu que te pergunto, você está mesmo disposto a fazer qualquer sacrifício para que eu te perdoe?

Se eu aceitar essa condição, você esquece tudo?

Tudo!

Até aquela mulher?

Até ela, esqueço tudo!

Então eu aceito. Nenhum preço é alto demais para te ter para sempre do meu lado.

Eu te amo!

Tanto, mas tanto, que até esse sacrifício que talvez você pense que é grande, para mim não é nada, perto do tanto que você significa pra mim.


E assim, ele fez de tudo o que esteve ao seu alcance para realizar a única condição que ela lhe impôs, mas não conseguiu.

É que entre a condição, a promessa e o empenho dele em cumprir o que havia prometido, apareceu um negão.

Bill fez de tudo o que estava ao seu alcance para colocar sua amada no lugar que antes ocupava, mas todo o seu esforço foi em vão. Negão desgraçado. Bill pensou.

Mas, mesmo não tendo concretizado a promessa feita, ela o perdoou mesmo assim, pois percebeu o empenho desmesurado do seu marido arrependido.

Na verdade, ela o perdoaria por muito menos. Só queria ter certeza de que ele seria mesmo capaz de abdicar do posto que tanto amava.

Mas, ainda que não tivesse deixado de lado o tal posto, ainda assim Hillary o perdoaria.

E assim, apesar de um tablóidezinho sensacionalista ou outro ter publicado uma notinha aqui outra ali, nunca mais tiveram notícia daquela mulher.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Dos males o menor


Nervosa, fazia perguntas em seqüência para a autoridade do outro lado da linha do telefone. Teve trabalho para acomodar o fone no gancho. Suava como se fosse janeiro, mas era agosto e o ar que entrava pela fresta da janela fechada era gelado. Janela fechada, mas desalinhada desde sempre pela construção mal feita, as aberturas todas fora de esquadro e cheias de pequenas frestas que permitiam aos ares da rua o livre acesso no recinto, mesmo quando não eram bem vindos por ela ou pelo marido, com quem financiara em muitas décadas a aquisição daquela casa mal acabada. No princípio ficou nervosa, muito nervosa. Além do suor, as mãos tremiam muito. Mas, depois, ainda antes de desligar o telefone, respirou fundo e ficou aliviada, dos males o menor, pelo menos isso.

Algumas horas antes dela desligar o telefone, ele desligou o computador, finalizou com pressa as últimas coisas para poder ir atrás do resto de sábado que seu horário de meio expediente lhe concedia aos finais de semana. Fechou a grade, um cadeado, outro, mais outro, depois a porta, tranca o pino da parte de baixo, o pino da parte de cima, chave tetra aqui, chave tetra ali, girou três vezes a chave central. Esqueceu de ligar o alarme. Volta tudo, chave central, tetra, pinos, cadeados, liga o alarme, cadeados, pinos, tetras, chave central. A irmã ligou desmarcando o almoço que fariam naquela praia lá longe, ostras e iscas de peixe, uma caipirinha para cada um compradas em um site de compra coletiva. A caipirinha não seria problema, mas não daria conta de tanta comida, melhor deixar para outro dia. Ligou para um amigo, quem sabe ele quisesse sair para ater um papo, não estava afim de ir direto pra casa. O amigo dormia e não atendeu. Convidou um dos colegas de trabalho que ainda estava por lá para tomarem alguma coisa no boteco ali da frente. O colega não podia, a esposa estava esperando com uns parentes em casa para que ele acendesse o carvão e começasse de uma vez a assar os dois quilos de alcatra e os coraçõezinhos comprados no dia anterior. Acenou para o outro colega que já manobrava o carro, repetiu o convite, teve repetida a recusa. Não tinha almoço algum marcado, o segundo colega, só estava com sono, bebera mais do que devia na noite passada e a ressaca estava pesada, ia pra casa tomar um copo de coca gelada e dormir pra ver se a cabeça parava de latejar. Foi sozinho ao boteco. Tomou uma Brahma, litrão. Tomou outra. Pediu a terceira. Um Free vermelho maço, Só azul, Box, Serve. Fumou um, dois, três, pediu a quarta garrafa, fumou quatro, cinco, seis, pediu a quinta, pediu um pacote de salgadinho, fumou sete, oito, nove, dez, pediu a sexta, fumou onze, doze, foi ao banheiro, pediu a sétima, outro pacote de salgadinho, fumou treze, quatorze, pediu a saideira, levantou, o mundo girava, se apoiou na mesa amarela de plástico, não conseguiu acender o décimo quinto, o mundo girava. Respirou fundo, foi ao banheiro de novo, jogou a água gelada da torneira na cara, olhou-se no espelho, tentou afastar a tontura com uns tapas no rosto, o mundo girava. Saiu do banheiro com passos lentos. Estava frio, mas o sol brilhava exagerado, levou uma das mãos acima dos olhos, fazendo para as vistas um toldo de pele e osso, e sorriu vendo ela do outro lado da rua. Como ela é linda, pensou, perfeita, pensou, tudo o que eu sempre quis, pensou, que coisa mais maravilhosa, pensou. Sabia que não seria prudente sair com ela naquele estado, mas sentia-se seguro com ela, não tinha como dar errado. Não com ela, tão linda, tão perfeita. Caminhou em direção à ela, tão linda, tão perfeita, com seus passos cheios de labirintite provocada pela cerveja. Apoiou-se na muretinha, tão linda ela, tão perfeita ela, sorriu de novo. Não devia sair com ela naquele estado, mas não resistiu, como se no duelo dos desenhos animados entre o diabinho acima do ombro esquerdo com o anjinho acima do ombro direito, o primeiro saísse ganhando. Prudente não era, mas o dia estava lindo, o céu azul e sem nuvens, o sol exibido vestindo sua melhor roupa amarela, arzinho gelado, tudo perfeito para estar com ela. Prudente não era, mas iria mesmo assim, tão linda ela, tão perfeita.

Depois, quando a esposa atendeu o telefonema que alguém do outro lado da linha lhe dizia que o marido havia sofrido um acidente nas proximidades de um bar, a primeira coisa que ela perguntou foi se tinha caído da Sportaster Iron 883 que compraram com tanto esforço, abdicando de um carro popular zero quilômetro, para que o marido pudesse, enfim, realizar seu maior sonho de consumo e poder desfilar nos dias de céu azul em cima de uma Harley Davidson. Ficou preocupada, acidentes de moto são quase que invariavelmente graves, os estragos costumam ser grandes. Mas a pessoa do outro lado da linha, um policial ou bombeiro, alguma autoridade militar acostumada a dividir seu expediente de trabalho entre assaltos, incêndios e acidentes de trânsito, disse que não, na verdade ele fora atropelado no exato momento em que atravessava a rua para subir na Harley Davidson. Talvez pela bebida, ou só descuido mesmo, fato é que não olhou para os lados e uma Kombi acertou-lhe em cheio. Como ele está?, perguntou nervosa, Infelizmente as notícias não são boas, respondeu a autoridade do outro lado da linha, Como ele está?, repetiu a pergunta ainda com mais nervosismo na voz, Ele não suportou o choque, infelizmente, quando chegamos já não havia mais o que ser feito. Ela começou a suar, a despeito do frio que o ar gelado que entrava pela fresta da janela fora de esquadro empurrava casa adentro. Ela ficou em silêncio, A senhora está bem?, perguntou a autoridade do outro lado da linha. Ela respirou fundo, apoiou-se com a mão esquerda na parede da casa mal construída, e devolveu outra pergunta ao invés da resposta para a indagação da autoridade do outro lado da linha, E a moto? Oi? A moto, como está a moto? A moto está inteira, como disse, o acidente não foi de moto, foi um atropelamento, Ela não sofreu nada? Não, minha senhora, a moto está inteira, intacta, paradinha onde ele estacionou antes de ir ao bar. Ela respirou fundo, e respondeu com a voz notadamente aliviada, Pelo menos isso, dos males o menor.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Adeus, amigo


Cara, eu quis tanto não escrever este texto.

Quis mesmo, acho que nunca quis tanto não escrever alguma coisa como quis não prestar essa minha tentativa de homenagem.

Pela terceira vez a vida me leva a textos de despedida, destas definitivas, destas que gostaríamos que não houvessem.

Acontece que na última madrugada o meu ídolo, amigo, pai de um dos dois melhores amigos que têm estado ao meu lado para qualquer coisa que eu viesse a precisar nos últimos dezoito meses, depois de lutar com todas as forças contra a incompetência, falta de carinho, cuidado e respeito do nosso serviço público de saúde, Mausé pendurou os pincéis.

Como é doído ver uma pessoa tão boa partir.

Passei boa parte dos finais de semana dos últimos dezoito meses na casa dele, na linda praia de Sambaqui, que hoje acordou chorando a chuva que lava o chão, traz a tristeza que lateja, mas não é capaz de levar a saudade.

É difícil descrever para você que está lendo e não teve o privilégio de tê-lo conhecido pessoalmente, o que significa esta perda. Quem o conheceu, sabe do que estou falando.

Mausé era um homem reservado, discreto, mas de uma delicadeza no trato das pessoas, no jeito de sorrir para nos mostrar que éramos bem vindos, exalava bondade e generosidade no seu jeito de receber seus convidados, que só as pessoas muito especiais possuem. Tão generoso, que ao longo da sua bem vivida vida tratou de disfarçar as feiúras do mundo com a beleza do seu talento, das suas combinações de cores, dos seus traços, da sua maneira ímpar de retratar o que é ser florianópolitano, orgulho de ser manezinho da ilha, com um talento só comparável à beleza da cidade que ele tanto amou, e à família que formou e cultivou ainda com mais amor e talento.

Antes de conhecê-lo, tinha uma ideia meio estúpida de que os grandes artistas eram, de alguma maneira, infelizes, pois precisavam dedicar-se com tanto afinco as suas artes, aos seus talentos, que aquilo lhes consumia de tal maneira a ponto de deixar de lado a própria vida pessoal. Depois de conhecê-lo, foi que me dei conta do quão estúpida essa ideia era.

Mausé soube materializar seu talento, suas ideias com a maior intensidade, sem precisar com isso abandonar ou deixar de lado o que de mais importante uma pessoa pode ter na vida, que são os laços que se cria com aqueles que nos amam, mais particularmente a família.

O amor que sempre existiu entre ele e dona Regina foi de um companheirismo de cinema, coisa de artista de verdade. Ele, um artista completo, genial, ela uma mulher indescritível, inteligente, sensível, parceira, companheira. Era como estar diante de Pablo Neruda e Matilde, com a diferença que o Neruda ilhéu, que escrevia suas poesias com tintas, fazendo das telas papel para suas tantas e tão lindas histórias, não precisou de três casamentos para encontrar o grande amor da sua vida, teve a sorte de deparar-se com ele de primeira.

E, de um amor dessa magnitude, só pessoas boas poderiam surgir. Não conheço muito bem os outros dois filhos do casal, mas conheço Rodrigo Pereira – vulgo Daca – bem o suficiente para saber que ele herdou do pai o talento, a bondade e a generosidade. Com a diferença sutil de que, ao invés de escrever suas poesias com tintas, como fez o Neruda ilhéu pai, o Neruda ilhéu filho vale-se de acordes e uma voz linda para expressar sua arte.

Vai ser dolorido voltar aquela casa, passar pela salinha de televisão e não vê-lo na velha poltrona laranja assistindo a qualquer jogo de futebol que estivesse passando, para, depois, no fim da noite, vê-lo juntar-se a nós na varanda para tomar a sua Brahma Extra e, juntos, falarmos mal dos comentaristas da RBS e suas opiniões sobre o meu Figueirense e o Avaí da família Dacampora-Pereira, enquanto ouvíamos um velho disco que Mausé trouxe de uma de suas viagens ao exterior com o melhor que Frank Sinatra registrou na sua carreira. Outro registro que vale ser mencionado, por mais desaforado que eu naturalmente seja, e sempre tenha ido aquela casa azurra vestindo minha inseparável camisa alvinegra, nossas diferenças nas arquibancadas, nossas piadas recíprocas sobre o desempenho de um time ou de outro, nunca foi motivo de discórdia, desavença ou algo que o valha. Pois é assim que deve ser, faz-se a piada, ela acaba depois da risada, e depois abrimos mais uma e brindamos juntos à amizade que não dá a mínima importância para a cor da camisa do time que estiver em campo.

Contudo, apesar de dolorido, é uma casa que pretendo freqüentar por tanto tempo quanto ainda me quiserem por perto, pois além das pessoas lindas e boas que moram lá, também haverá para sempre as marcas da alegria e do talento do Mausé, seja nos quadros que enfeitam as várias paredes, nas tintas do atelier que também já sofrem de saudade dele, ou na lembrança saudosa daquela companhia tão prazerosa que ele sempre foi.

Tive a honra de poder estampar na capa do meu livro uma obra dele, criada especialmente para mim. Perguntei cheio de vergonha e receio se ele topava fazer, e ele aceitou cheio de generosidade e entusiasmo. Achei que demoraria, que talvez fosse fogo de palha, que tinha me respondido com toda aquela ênfase mais por consideração a amizade que tenho com o filho dele, mas, em poucos dias ele me mandou de volta três ideias de capa, três possibilidades, ou seja, não só criou algo exclusivo para mim, como criou três possibilidades, não sei nem como descrever a minha alegria quando vi que ele realmente levou a sério o meu pedido e o fez com tanto empenho e solicitude.

Depois do livro pronto, devidamente ornado com as cores do Mausé, bolamos juntos um projeto que, caso sua saúde – ou a falta dela – não tivesse nos proibido, certamente já estaria num estágio avançado de desenvolvimento. Faríamos um livro juntos, um destes grandes, destes de fotos, de obras de arte, de deixar na mesinha de centro da sala. O livro conteria dez textos meus e dez obras dele, e seria desenvolvido da seguinte maneira, ele me enviaria cinco pinturas inéditas, e eu enviaria a ele cinco contos inéditos. Eu faria cinco contos a partir das pinturas dele, e ele faria cinco pinturas a partir dos meus textos, depois juntaríamos tudo e publicaríamos nosso livro a quatro mãos.

A ideia não pode ser concretizada pela malvadeza da vida de não permitir que os planos sejam todos concluídos antes do nosso derradeiro capítulo, mas não abdiquei dela. Apenas sofrerá algumas alterações.

Não sei quando, mas podem anotar aí nos seus caderninhos, dentre as coisas que pretendo realizar antes de morrer, uma de minhas prioridades será fazer o livro que planejamos, com a diferença lógica de que, agora, serão dez textos escritos a partir de alguma das tantas obras que ele criou enquanto nos agraciou com sua companhia.

Na última vez em que estive com ele e dona Regina, quando já estava hospitalizado, recebi uma multa por ter estacionado onde não devia. Naquele dia fui presenteá-lo com um exemplar do meu livro, dar naquele casal lindo o meu mais sincero abraço e estimas de melhora, pude vê-lo sorridente, feliz, com aspecto de franca recuperação e cheio de planos e projetos para trabalhos futuros, um deles, inclusive, seria a capa do meu romance que pretendo lançar em breve, “Mais vinho pra mim”. Que pena que já não posso ser multado pelo mesmo motivo.

Contudo, entretanto, porém e todavia, apesar da tristeza que agora todos estamos sentindo, fico feliz por ter tido a oportunidade de conhecê-lo e, de ter tido o privilégio de tomar para mim, para o meu livro, um tantinho daquele talento todo que ele exalava quase que instintivamente e, mais do que isso, por de certa forma fazer parte daquela família que nunca deixará de ser parte de mim.

A ele, muito, muitíssimo obrigado.

Daca e dona Regina, eu não estou com vocês, eu SOU com vocês!


(Abaixo, as outras duas versões de capa que ele criou para o meu livro, e algumas das várias lindas obras dele)














sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Longe de você


Vou te contar uma coisa que talvez você não saiba: A vida é linda!

Sério, sério mesmo! Linda, muito linda!

Longe de você, então...

Na verdade, você sempre teve razão, eu sou uma mulher linda, inteligente, charmosa, companheira, gostosa, muito, mas muito boa de cama. Muito mesmo!

Você estava certo, certíssimo, eu não enxergava sei lá por quê...

É como você me disse uma vez, e eu achei que você estava apenas fazendo tipo, mas você, talvez sem saber, estava certo, eu sou mulher demais pra você.

Ai, ai, como a vida é linda, muito linda!

Longe de você, então...

E pensar em todo o tempo em que eu fiquei te esperando, rezando para que você se decidisse por mim, rezando para que você fizesse por mim uma mínima fração de tudo o que eu sempre fiz por você, é sério, uma mínima fração já me teria feito a mulher mais feliz do mundo.

Que bom que você não fez.

Com essa sua negativa, você permitiu que hoje, eu seja a mulher mais feliz do universo.

Nada contra você, por favor, não me leve a mal, eu realmente fui feliz do teu lado. Fui infeliz também, mas por acreditar na intensidade dos momentos em que fui feliz, achava que os momentos infelizes passariam e poderíamos de novo sentir aquilo que sentíamos há muito tempo atrás. Será que sentimos mesmo?

Nem sempre quem espera sempre alcança, na maior parte das vezes, quem espera sempre cansa. E, não leve a mal, por favor, mas como eu estava cansada.

Mas, de certo modo, foi bom o tempo que eu esperei. Não culpo você, esperei por que quis. A espera me serviu para mostrar para mim mesma que eu sou muito para você. Meu Deus, como eu sou tanto para você!

Você me dizia isso sempre, mas sem querer desmerecer a sua desimportância, quem conseguiu me mostrar isso, foi ele.

Que diferença, um homem de verdade!

Sem essas duvidazinhas adolescentes, sem essa insegurança, sem essa incerteza constante, esse medinho infantil de ser gente grande. Francamente, meu querido, isso não combina com a sua idade.

Não que você seja velho, temos praticamente a mesma idade, e com ela ainda posso ser mãe. Ainda bem que não de um filho seu. Que bom que de um filho dele.

Você não sabe como é bom ter um homem de verdade, adulto, maduro, que sabe o que quer, que não vacila, que decide, que escolhe, como isso é bom!

Você não sabe como é bom estar com alguém que oferece, no mínimo, o mesmo que eu. Normalmente mais. Mais dedicação, mais interesse, mais carinho, mais atenção, como é bom...

Enfim, estou feliz. Não me importa, sinceramente não me importa saber se você também está. Só não pense que isso é rancor, mágoa ou algo do gênero. Na verdade, esse recado é só para deixar claro que você sempre teve razão, eu sou uma mulher linda, inteligente, charmosa, companheira, gostosa, muito, mas muito boa de cama. Muito mesmo!

E só depois que me dei conta de todas essas minhas virtudes, descobri como a vida é linda.

Linda mesmo!

Bom, se você aceitar um conselho meu, tente voltar para ela, quem sabe você não se encontra.

Quem sabe você não seja feliz.

Mesmo que não venha ser, é o que eu te desejo. Seja feliz.

Eu já sou.


Dias depois, ela recebeu a resposta:


Que bom que você está feliz.

Que bom que você descobriu que minhas afirmativas sempre foram verdadeiras.

Enfim, segui o seu conselho, voltei pra ela.

E, sou obrigado a concordar com você, a vida é linda!

Linda mesmo!

Puta merda, como a vida é linda!



E, longe um do outro, mas nos braços de quem interessava estar, eles viveram felizes para sempre!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Eu te amo!


Eu te amo!

Eu sei, meu amor, eu também te amo.

É sério, eu te amo muito, muito mesmo!

Eu sei, meu lindo, sempre tive certeza disso, fomos feitos um para o outro.

Exatamente, fomos feitos um par a o outro! Nunca tive tanta certeza de algo na minha vida como tenho disso, fomos feitos um para o outro! Não consigo me imaginar do lado de alguém que não seja você.

Eu também, meu amor, não me imagino com alguém que não seja você.

E isso é assustadoramente engraçado, logo eu que sempre fui tão cético aos fatalismos da vida, agora me vejo totalmente rendido, entregue ao amor, a você, não consigo me imaginar no futuro se não for do teu lado.

Eu também, meu lindo.

Sem querer desrespeitar a importância de cada detalhe da nossa história, mas eu me dei conta do quanto você significa pra mim no dia em que, na falta de algo melhor pra fazer, eu fiquei assistindo um desses programas desinteressantes da TV a cabo, e num deles, quatro mulheres deliciosas, dessas que qualquer homem saudável comeria sem pensar duas vezes, conversavam sobre sexo, sobre o que gostavam ou não de fazer, e uma delas sentenciou que não há prazer igual aos prazeres iniciais, aqueles que se tem quando o casal está se conhecendo, se descobrindo, quando tudo é tentativa de agradar um ao outro, quando tudo é descoberta e surpresa, quando tudo é novidade, e diziam elas, que depois de um tempo, tudo passa a ser meio que corriqueiro, rotineiro, tudo passa a ser quase banal, de tão diário que as coisa se tornam. Foi neste ponto que me dei conta do quanto te amo, do quanto é especial o que temos juntos, pois já passamos por tantas coisas difíceis e estamos juntos há tanto tempo, mas, mesmo assim, cada vez que nos encontramos, cada vez que ficamos juntos parece melhor que a anterior, tudo se torna ainda mais lindo e verdadeiro, mais intenso, mais nosso. É sério, o que eu sinto por você, não acho possível que venha a sentir por outra pessoa. É com você que eu quero ficar pra sempre! Só com você! Eu te amo, minha linda. Eu te amo, meu amor! Eu te amo, Izabel!

Que lindo isso tudo que você me falou, lindo mesmo. Mas eu me chamo Maria.