quarta-feira, 20 de julho de 2011

16 toneladas, 18 quilates


Você já se sentiu feliz?

Não?

Foda-se!

É como me sinto agora.

Feliz pra caralho!

Não é engraçado? Era eu quem deveria sofrer, não?

Foi você quem planejou tudo, não é mesmo? Eu deveria estar agora sofrendo, não é mesmo?

Feliz pra caralho é como me sinto!

Feliz como nunca me senti do teu lado, e olha que cheguei a te dizer eu te amo. Tão difícil eu dizer isso pra alguém...

Mas hoje disse pra outra pessoa, com a boca mais cheia do que quando dizia pra você. De verdade, verdade mesmo. Não por pirraça, de verdade da verdade mais verdadeira que a verdade pode ser.

Amor dezesseis toneladas.

Amor dezoito quilates.

Mais quilates do que aqueles que trocamos no altar diante do homem de vestido.

Feliz pra caralho é como me sinto!

Não, não, não. Não é despeito, não é desabafo, nada disso.

É euforia!

Estou amando, caralho!

Você já amou?

É tão bom, você deveria experimentar!

Talvez aí você encontre alguém.

Amor dezesseis toneladas.

Amor dezoito quilates.

Você foi, eu fiquei, você sorriu, eu sofri, você achou que ganhou, eu achei que perdi, nada disso. Nadinha disso mesmo!

Você dançava tão bem, eu não. Mas, vou te dizer, por melhor que seja teu balanço, o balanço do meu amor é mais legal! Balanço de barco. Barco grande.

Mas, vou te dizer, aproveitando a deixa que você dançava tão bem, você dançou!

Mais legal, bem mais legal que tuas promessas não cumpridas. Tão compridas elas, tadinhas delas, tadinho de você...

Bebo sem medo, fumo sem culpa e cheiro, cheiro muito, muito mesmo o pescoço do meu amor. Não quero nem vou cheirar aquilo que você achava que seria meu destino. Nunca me apeteceu. Se apetecesse, cheiraria. Foda-se você, mas a única coisa que me interessa cheirar é o pescoço do meu amor. Pescocinho gordo, mas cheiroso. Que pescoço, que cheiro...

Uma vez, não sei se você lembra, eu te disse que se um dia você me traísse, acabaria com a sua vida. Sou escorpiana, você sabe. Vingativa, você sabe.

E você, idiota que só você, não levou a sério o meu aviso e me traiu. Idiota!

Mas, é como dizem, a vingança é um prato que se come frio. Como devem estar comendo teu rabo nesse inverno. Geladinho que só ele. Peludinho que só ele, mas, ainda assim, com o frio que faz lá fora, bem geladinho.

Mas, a despeito da minha bunda bem feita, você quis experimentar as coxas dela, só por que as minhas são finas.

Avisei que sou escorpiana, você não levou a sério por que não quis.

Um dia você me perguntou o quanto eu te amava, eu disse muito, você perguntou, Muito quanto?, eu disse, muito muito, porra, você insistiu, Muito quanto?, eu disse, Sei lá, muito pra caralho, um monte, mil amores, você disse, Só?, eu retruquei, Sei lá, uma tonelada de amor, você retrucou, Só?, eu disse, Dez toneladas?, você retrucou, Só?, eu disse, Porra, sei lá, dezesseis toneladas, serve?, você disse, É, dezesseis toneladas serve.

Pois bem, sirva-se, meu amor.

Amor dezesseis toneladas.

Amor dezoito quilates.

Aí você me traiu, idiota. Achou que eu compreenderia. Achou que eu entenderia que você é homem, e homem é homem. Idiota.

Idiota!

Marginalzinho de merda como você sempre foi, deveria ter ficado satisfeito em bater carteiras, roubar som de carro e vender baseado, mas não, quis fingir que entendia do riscado.

Assaltar um banco, que ideiazinha de merda...

Mas, tudo bem, não tenho do que reclamar.

Você foi lá, fez o tal do assalto, caixas e cofres, o caralho.

Azar o seu!

Você foi lá, fez o assalto e tal. Na volta, matou seus cupinchas, olhudo do caralho!

Ligou da rua e mandou eu arrumar minhas coisas.

Arrumei.

Mandou te esperar de banho tomado.

Esperei.

Não só eu, claro.

Eu e os meganha que chamei, claro.

Nossa, que menina boa que eu fui.

Quando você chegou em casa, eles já te esperavam por lá.

Agora, veja só você, foi mexer com uma escorpiana e se deu mal. Não diga que não avisei. Nessas horas você deve estar parecendo a Tetê Espíndola, cantando bem fininho aí na cadeia.

Eu aqui, longe de você.

Aí deve estar bem frio, né?

Julho faz frio por aí, né?

Aqui tá calor, sabia?

Calor como algumas vezes foi a churrasqueira da casa da sua mãe, onde eu sabia que você esconderia o fruto do seu trabalho.

Aqui tem praia, aí o teu humor deve estar nublado pra cacete.

Teu balanço até que era bom, mas o do barco é melhor.

Minha bunda bem feita tá adorando tostar no calor que faz aqui, nesse balanço do barco.

Sabia que rico atrai rico?

Pois é, tem um velho gordinho que ficou afim de mim. Tô dando pra ele.

Dando muito!

Do mesmo jeito sem vergonha que dava pra você.

Deve pesar umas dezesseis toneladas, o velho, mas ele prefere quando eu fico por cima, melhor pra mim.

Você preferia de outro jeito.

Eu até que gostava do seu jeito, mas ele não dá conta.

Sem problema, o resto compensa.

Tô dando muito, por cima.

Você também deve estar dando muito, e do jeito que você gostava. Mas não na ordem que você gostava.

E, além da herança que você me deixou sem querer, vou herdar ainda mais do velho.

Amor verdadeiro.

Amor sincero.

Amor dezesseis toneladas.

Amor dezoito quilates.

Como as jóias que você tirou do cofre para esconder na churrasqueira da vaca velha da sua mãe.

Você sempre soube do risco que corria quando escolheu assaltar um banco.

Talvez você só não soubesse do risco que corria se mexesse com uma escorpiana.

Agora você sabe.



Um comentário:

Bruna Rafaella disse...

Puta merda, que cachorra!
no começo eu tive uma desconfiança
mesmo com os 18 quilates.
É engraçado que acabo me surpreendo no final, imagina!!?