sexta-feira, 1 de julho de 2011

Festa linda!


Festa linda.

Antes dela, convites criativos pagos por ela, alianças pagas por ele, a mãe dá o bolo e as bebidas; o salão e a decoração, a sogra.

Festa linda.

Antes dela, martírio, o dinheiro da mãe e da sogra só dá para 150 convidados, e só depois de marcarem a data na igreja, deram-se conta de que havia mais de 150 pessoas ao redor deles.

Festa linda.

Antes dela, sofrimento, quem ficará de fora? Como explicar aos que não foram convidados?

Festa linda.

Antes dela, alguém próximo e já tendo experimentado aquela experiência por duas vezes, em breve três, deu a dica, A grana é pra 150? Convidem 250, acreditem, quem mais vocês acharem que não faltará, vai esquecer. Convidem 250, sem medo.

Por precaução, convidaram 160.

Festa linda.

Antes dela, peregrinação de casa em casa para entregar os convites, todos deram certeza absoluta que compareceriam.

Festa linda.

Antes dela, prova vestido, escolhe o terno, lingerie especial, branca, meias 7/8, suíte máster, fim de semana no Costão do Santinho pago adiantado, cerimonial quase pelo preço das bebidas, daminha, pajem, guardanapos de linho, gravata para os amigos bêbados cortarem na bandeja, padre amigo da família.

Festa linda.

Antes dela, entra o cortejo de padrinhos, a sogra dele com o pai dele, a mãe dela com o sogro dela, ele e a mãe, pajem apressado, daminha exibida jogando pétalas de rosa enquanto as santas e anjos de gesso da igreja secular escutam, Se essa rua, se essa rua fosse minha...

Festa linda.

Antes dela, Mendelssohn, entra ela, de branco, mais linda que a festa.

Festa linda.

Antes dela, igreja lotada. Cortejo infindo de padrinhos. Pai dele orgulhoso, pai dela puto. Mãe dela orgulhosa, mãe dele puta. Juramento emocionado, troca de alianças, o pajem belisca a daminha, ela chora e sai correndo para o colo da mãe, sentada na terceira fileira da esquerda onde estão os convidados da noiva, conforme manda o figurino segundo o cerimonial. Todos riem da cena. Discurso da irmã dele, discurso do irmão dela, beijo sacramental, arroz na saída da igreja, carro antigo à espera, pausa na cabeceira da ponte para que o fotógrafo registre momentos apaixonados que hão de ocupar os espaços já reservados no apartamento comprado a prestações mais longevas do que a maior parte dos amores eternos.

Festa linda.

Antes dela, a constatação de que dos 160 convidados, 117 vieram, segundo o cerimonial. Entre os faltantes, aquele que lhes dera a dica, Convidem 250, amigo muito próximo, ele. Padrinho, inclusive.

Festa linda.

Antes dela, entrada triunfal no salão, Frank entoa suas melhores notas para recepcioná-los com I’ve got you under my skin.

Festa linda.

Já nela, primeiro o brinde, braços entrelaçados, selinho para selar o já firmado em cartório e diante de Deus e dos 117 convidados presentes, incluindo familiares e o cortejo infindo de padrinhos; depois o bolo, mãos juntas cortando a fatia inaugural de baixo para cima como manda a tradição. É para dar sorte, dizem. O garçom servirá aquela fatia primeira sabe-se lá pra quem. Talvez fique pra ele mesmo, tem cara de quem está precisando de sorte, o garçom.

Festa linda.

Já nela, vídeo no telão com depoimento dos amigos dizendo o quanto ambos são queridos por todos, especiais. Uma amiga diz que ela é uma irmã, mais do que isso, muito mais do que uma irmã. Um amigo diz que ele é o cara, parceiro pra todas as horas, e será o primeiro a estar torcendo sempre pela felicidade do seu bródi.

Todos estão felizes.

Todos estão emocionados.

Festa linda.

Já nela, inaugura-se o Buffet, primeiro os noivos, o garçom os serve, depois os pais, depois o bando de mortos de fome que ficou esperando o padre que se acreditava inspirado estender a cerimônia por quase duas horas. Sem contar o vídeo de depoimentos emocionados e felicitatórios.

Festa linda.

Durante ela, quem manda o repertório é o DJ nas horas vagas, enteado do avô dele, já no terceiro ou quarto casamento. O avô, não o DJ nas horas vagas. Era para ser a banda dos amigos, aquela cujo vocalista, de todos da banda o único verdadeiramente amigo do noivo, que canta tão bem quanto rebola, e que ele, o noivo, esperava que oferecessem o show como presente de casamento, mas cobraram cachê, os paus nos cus. Altíssimo o cachê, os paus nos cus. O DJ das horas vagas foi presente do avô comedor.

Festa linda.

Ainda no início dela, a noiva já havia bebido mais, bem mais do que estava acostumada. O noivo havia bebido tanto quanto estava habituado. E isso era muito.

Festa linda.

Durante ela, os amigos vieram com a bandeja cheia de notas de vinte e cinqüenta, rendera bastante a gravata escolhida pelo noivo para virar picote.

Festa linda.

Durante ela, pelo muito que bebera, o noivo foi ao banheiro, mas entrou na porta errada. Lá, retocando a maquiagem estava a amiga do depoimento emocionado. Ele sorriu seu sorriso bêbado, ela estava bêbada também, e sorriu com igual magia. Puxou-a pela cintura e beijou-lhe do modo que estava habituado a beijar apenas a noiva, agora esposa. E ela viu que, conforme havia relatado sua melhor amiga, de fato ele beija bem. Muito bem. Nisso, entrou no banheiro a irmã da noiva. Que porra é essa? Perguntou a cunhada. Ele sorriu o mesmo sorriso que sorrira para a melhor amiga segundos antes, puxou a cunhada também pela cintura e beijou-a da mesma forma. E assim como Deus, depois de ter criado a escuridão, viu que a luz era boa, a cunhada deu-se conta que a língua do cunhado era boa também. Boa pra caralho! Antes que uma terceira entrasse no banheiro, arrastou ambas para o reservado do vaso sanitário, e fez com elas tudo o quanto a maior parte dos homens sonha em fazer com duas mulheres simultaneamente. Incluindo a indescritível e linda cena de ambas se beijando com fome.

Festa linda.

Durante ela, enquanto estava ausente o noivo, aquele amigo do depoimento, o melhor de todos que tinha o noivo, tirou a noiva para dançar o forró que o DJ nas horas vagas fazia ecoar no salão. Encoxou-a com o apetite que só os muito bêbados possuem e perguntou, Você assistiu a novela ‘O Dono do Mundo’?. Ela disse sim, ele retrucou, Hoje eu sou o Antonio Fagundes, você a Malu Mader e eu vou te comer antes do teu marido. Ela sorriu tão bêbada quanto ele, cedeu àquele amigo no banheiro oposto ao que estava o seu recém-marido e, tal qual a sua irmã, deu-se conta de que aquilo era bom, do mesmo modo que Deus percebera ao criar a luz depois de ter feito a escuridão.

Festa linda.

Depois dela, estavam tão felizes, eufóricos e cheios da fome que só os nubentes frescos possuem, que sequer perceberam aromas alheios nos corpos um do outro. E fartaram-se repetidamente nas carnes um do outro como só os bêbados recém-casados são capazes, já que os bêbados habituais, diários, não dão conta de mais do que umazinha interminável muito da meia bomba.

Festa linda.

Depois dela, dormiram cansados, exaustos, extasiados, exauridos, um nos braços do outro.

Festa linda.

No dia após a ela, acordaram quase que simultaneamente, olharam-se ainda mais apaixonados do que no momento do sim, dito horas antes, e disseram quase que em uníssono:

Que festa linda!

3 comentários:

Shuzy disse...

Bolo, de baixo para cima?
Parece difícil...

Letícia Palmeira disse...

Festa linda! Você e seu ar carrasco de rir das coisas.

Bruna Rafaella disse...

Hahahahaha...
que festa de louco isso sim, que putaria foi essa?
Só você mesmo!

Beijão!!!!