terça-feira, 27 de setembro de 2011

O Branco Velho


Juliana tinha dessas coisas, não tomava uma atitude importante sequer sem antes consultar alguma entidade do terreiro que fazia ecoar o som dos atabaques três vezes por semana pelo bairro onde morava.

Não buscava alguma entidade em específico, gostava de variar de preto-velhos, caboclos, exus e pombas gira. Conhecia todas as entidades que baixavam naquele terreiro, sabia o que gostavam de beber e o que gostavam de fumar. Dependendo do seu humor ou mesmo do que estivesse disposta a conseguir, levava a oferenda preferida da entidade que buscaria, pois com a experiência que adquiriu no tempo em que já freqüentava o terreiro, cada entidade tinha mais eficácia em cada um dos campos das angústias de Juliana. Pretos velhos eram ótimos conselheiros quando o assunto era algum conflito familiar ou dificuldades no trabalho, exus eram certeiros quando queria afastar algum desafeto, não tinha mal-estar que as receitas dos caboclos não dessem jeito, pombas-gira eram infalíveis nos assuntos do coração, tanto quanto para afastar maus agouros de terceiros. Juliana conhecia todos, poder-se-ia dizer, até, que era íntima das entidades.

Foi numa segunda-feira, dia dos preto-velhos. Juliana notou que João Carlos, um dos médiuns mais antigos do terreiro, acostumado a receber Índio Tupinambá e, nas sextas-feiras, Seu Tranca-rua, estava sentado de maneira diferente do que estava acostumada a ver sentado o Vô Severino, preto velho que fazia João Carlos de mula. João Carlos não estava curvado, balançando pra trás e para frente num ritmo lento e continuado, pitando a cada três segundos um palheiro catinguento que insistia em não permanecer aceso, obrigando o assistente a, repetidamente, reacender o fumo da entidade. Os outros aflitos que foram ao terreiro naquela noite atrás de um algum alento para suas angústias, também estranhavam a postura estranha de João Carlos, em comparação com os demais que, curvados, pitavam seus palheiros e cachimbos enquanto bebericavam Cinzanos, cachaças e vinhos de garrafão.

João Carlos estava sentado com a coluna ereta, pernas cruzadas elegantemente, vez ou outra olhava para suas unhas como quem verifica se estão bem cortadas e limpas, e observava os demais com um olhar arrogantemente superior.

Apesar da estranheza, Juliana se aproximou de João Carlos, ou seja lá quem fosse. Quando chegou de frente a ele e abaixou a cabeça, curvando-se um pouco para que ele a pegasse pelos ombros e a trouxesse para perto de si, primeiro do lado direito, depois do lado esquerdo, para em seguida fazer sobre sua testa algum gesto parecido com o sinal da cruz, como faziam costumeiramente os preto-velhos, mas, depois de alguns segundos parada, Juliana percebeu que ele não fizera nenhum movimento. Ergueu os olhos e viu a mão direita de João Carlos estendida, como quem espera um beijo de reverência. Juliana arregalou os olhos, ele ergueu a mão na direção dela, sinalizando com a cabeça que sim, ela estava assim estendida para que fosse beijada. Ela, sem entender direito o que se passava, beijou a mão de João Carlos para, em seguida, vê-lo sinalizando com a mão direita para que se sentasse no banco na frente dele.

Vô Severino? Perguntou receosa Juliana. Ele sorriu com o canto dos lábios e balançou a cabeça negativamente. Chamou o assistente e cochichou-lhe algo nos ouvidos. O assistente olhou-o com estranheza, mas ele sinalizou com a mão para que fosse aonde tinha dito que deveria ir, para pegar o que tinha dito que era para pegar. Juliana permaneceu sentada de frente a entidade desconhecida, enquanto ele, a entidade, sem dizer nada, continuava a examinar as unhas esperando o regresso do assistente.

O assistente entregou a entidade uma cartucheira de couro, aparentemente muito fina, que a entidade abriu com elegância, tirou de dentro um charuto diferente daqueles que estava acostumada a ver no terreiro, e um acessório esquisito que Juliana só tinha visto em filmes, que a entidade utilizou para cortar uma das pontas do charuto e, em seguida, acendê-lo, dar uma demorada tragada, soltar vagarosamente a fumaça naquela atmosfera empesteada dos odores de fumos de péssima qualidade e fazer o semblante que só fazem as pessoas que provam algo tão saboroso que a conseqüência inevitável é o prazer.

Ah, os cubanos, disse a entidade, como eles me fazem falta...

Juliana permanecia estática e silente pela estupefação, quando, após a segunda baforada no cubano, a entidade dirigiu-se a ela, e disse, Permita-me que eu me apresente, Dr. Hipólito Albuquerque de Almeida Fragoso, não vou dizer que sou seu criado, mas vim aqui para lhe dar os aconselhamentos que já estava ciente que virias procurar.

Juliana não disse nada, apenas abriu a boca e a manteve aberta pela surpresa.

Feche a boca, menina, disse a entidade, seus dentes não são bem cuidados, essa imagem não é bonita. Não vim do além até aqui para presenciar estas obturações mal feitas. Se aceitas um primeiro conselho, procure um bom dentista e substitua estas amálgamas por resina, o preço de uma para a outra já não é tão diferente assim.

Cadê o Vô Severino? Perguntou Juliana.

Ele não mais virá, disse a nova entidade. O espaço no corpo deste médium que agora ocupo, passa, a partir de hoje, a ser meu por direito. Ele já cumpriu o que precisava cumprir, agora é minha vez de estagiar neste lugar de pessoas de sensibilidade pouco apurada.

O quê???? Perguntou Juliana, zonza de tanta surpresa.

Isso mesmo, minha cara, a partir de hoje, espero que não por muito tempo, este espaço, este corpo, passa a ser meu todas as noites que, no calendário de vocês humanos, é chamada de segunda-feira, respondeu a entidade.

E você, o senhor, também vai dar conselhos como o Vô Severino dava?

Acredite, menina, caso os sigas, hás de perceber que meus conselhos hão de ser bastante melhores do que os que lhe dava aquele velho senhor semi-letrado.

Mas o senhor não fala como um preto-velho.

Sorte sua, menina, além de conselhos, sairás daqui também com alguma cultura.

Desculpe, estou um pouco assustada, é que não estou acostumada com um preto-velho que fala desse jeito.

Assustado fico eu, minha cara. Você sempre deu tanta credibilidade para entidades que sequer sabem alguma coisa de concordância numeral, e resolve questionar a autenticidade justamente de quem fala corretamente? Já tinha seu histórico nas mãos antes mesmo de incorporar neste rapaz, mas, me desculpe a franqueza, sua estupidez realmente me assusta.

Como é que é?

Bom, sejamos práticos, pois meu tempo é curto e sua compreensão limitada. Tentarei ser o mais objetivo possível, para que ambos economizemos o tempo escasso que temos. Me perguntarás sobre mais esta crise com tua mãe, e te digo, ela está certa! Aquele rapaz não vale nada, é um cafajestezinho de quinta categoria, te jura amor eterno, diz que quer casar contigo, mas, além de ti, tem outras duas namoradas, uma noiva, uma esposa e quatro filhos. Um com a tal da esposa, dois com a ex-esposa, e o primeiro com uma antiga namorada, que já entrou com uma ação contra ele por falta de pagamento da pensão alimentícia. Ouça sua mãe e largue o rapaz, antes de presenciar o infeliz ser algemado pela denúncia da ex-namorada, mãe do primogênito do cafajestezinho. Não é sempre que sua mãe acerta, mas, ao menos desta vez, ela está certa.

Juliana, mais uma vez abriu a boca, espantada.

Feche a boca, por favor. E, também, por favor, não esqueça do meu primeiro conselho. Resina, minha querida, resina.

Sem que Juliana dissesse nada, a entidade continuou. Não, minha cara, não largue o seu emprego. Enquanto não aprenderes pelo menos a falar corretamente, não conseguirás nada muito melhor do que o caixa do mercadinho que hoje ocupas. Enquanto não aprenderes que “pra mim fazer”, “seje”, “menas”, são afrontas inafiançáveis a um mínimo de civilidade que todo mundo deveria nascer possuindo, ficar trocando um sub-emprego por outro não irá resolver o seu problema. Se não quiseres estudar, fica mais um conselho, dê de uma vez para o seu gerente. Você não será promovida, mas conseguirá um pequeno aumento que ele dará não pela sua competência, mas por medo de entregares o casinho para a sua esposa.

Juliana esfregou os olhos, respirou fundo e perguntou, Vem cá, o senhor é mesmo um preto-velho?

A entidade deu mais uma baforada no cubano, sorriu com desdém e devolveu outra pergunta, Vem cá, menina, já conheceste algum preto com tantos sobrenomes quanto os meus?

Juliana não respondeu, mas olhou para ele com o olhar daqueles que esperam o complemento da informação dada pela metade.

Não, minha cara, eu não sou um preto-velho. Eu sou, digamos, um branco-velho.

Como assim? Perguntou Juliana.

É que o além anda com umas ideias de responsabilidade social, e resolveu imitar alguns novos hábitos da terra. Entrei neste terreiro pelo sistema de cotas. Sou o único branco daqui. Cotas,sei que tu já ouviste falar.

Juliana se levantou, beijou novamente a mão da entidade com título de doutor, e foi embora.

Embora quisesse agir como uma mulher moderna e sem preconceitos, Juliana tinha lá seus preconceitozinhos. E, mesmo não admitindo para ninguém por medo de ser recriminada, dizia para si mesma que jamais se consultaria com um médico que tivesse se formado depois de ter ingressado na faculdade pelo sistema de cotas, em detrimento a outros tantos que mereceriam ter entrado pelo tanto que estudaram.

Do mesmo modo, não poderia levar a sério os conselhos dados por uma entidade ingressa no terreiro pelo mesmo sistema de cotas.

Depois que o cafajestezinho deixou a cadeia, Juliana casou-se com ele, para desgosto da mãe. Foi largada meses depois. Grávida.

Largou o caixa do mercado, tornou-se balconista da loja de conveniência de um posto de gasolina, depois operadora de telemarketing, depois vendeu lingeries e Natura por catálogo, depois conseguiu outro emprego de caixa em outro mercado.

Mas, por algum motivo que nem ela mesma entendia, não seguiu os conselhos do branco-velho.

Nunca aprendera a falar direito.

Podia ser um preconceitozinho besta, mas Juliana acreditava no mérito, não em sistemas de cotas.

Juliana nunca mais pisou num terreiro.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O filho do Diabo


Ele achou que daria certo.

Já havia tentado tanta coisa infrutífera, tantos planos mirabolantes, que a mais simples das ideias jamais lhe ocorrera.

Mas, um dia, lendo uma revista que chegou às suas mãos por acaso, uma revista de administração, leu um artigo sobre benchmarking, e resolveu aplicar o termo que tornava politicamente correto o plágio empresarial, nas suas estratégias para desbancar o Todo Poderoso.

Pensou nas práticas utilizadas por Ele para que Seu plano tivesse sido tão bem sucedido, ainda que absurdo e, a partir destas reflexões, resolveu copiar a estratégia primeira para, enfim, conseguir dominar o mundo e ter na malha da sua tarrafa uma quantidade ainda maior de almas repetindo os dogmas que criaria, sem sequer pensarem no que estavam dizendo.

Terminado o artigo, o Diabo falou em voz alta para si mesmo, Rá, preciso de uma virgem!

Começou aí o seu calvário na tentativa de criar um herdeiro para viver um calvário.

É que há dois mil anos atrás, era fácil encontrar virgens, já nos dias de hoje...

Nesta primeira dificuldade, entendeu por que na mesma revista de administração, mas em outro artigo, um empresário qualquer, líder de mercado no segmento em que atuava, dizia que o importante era ser pioneiro, inovador, pois por mais que o copiassem, estaria sempre um passo a frente da concorrência.

Ponto pra Ele, pensou o Diabo, mas não desistiu do Benchmarking.

Deu trabalho, muito trabalho. Algumas até convenceram o espírito que, apesar de não ser santo, ele utilizara para a tarefa da fertilização, mas mal começava o ato, o espírito percebia que de virgem a menina não tinha sequer o signo. Isso que ele seguia a risca o manual do Outro, buscava meninas novas, mas não adiantava, nem mesmo no signo elas serviam. E isso era fácil de detectar, pois pela lábia elas poderiam convencer o espírito da suposta virgindade, mas por ser programado para fecundar uma menina intacta, ainda que mentissem muito bem, no momento do ato caso não fossem realmente imaculadas como diziam ser, o espírito broxava. Triste, mas é verdade.

Pior, mesmo broxando, elas cobravam o combinado do mesmo jeito.

É que nos dias atuais, as meninas, mesmo as novas, não crêem nos espíritos que surgem diante de si pela simples fé, mas por escambo, negócio. Ofereço-te o que procuras, se me pagares o que te cobro.

Ele até pagava, mas errava no cumprimento da missão que lhe fora destinada.

A coisa começava a complicar, pois o orçamento do capeta não era igual ao do Outro, que vivia vestido de branco com franjas de ouro e querubins loirinhos tocando harpa o tempo todo. A maior parte do seu orçamento precisava ser destinado à compra de carvão, para manter o inferno quentinho como deveria ser, mantendo as almas que lhe cabiam em constante estado de picanha mal passada, tostadas por fora e sangrando por dentro.

Eis que um dia, quando já recorria aos juros abusivos do cheque especial, que embora muitos acreditem que seja obra dele, ele nada tem a ver com aquelas taxas cobradas compulsoriamente, para manter firme e forte sua empreitada, o espírito encontrou uma menina de dezesseis anos esperando o semáforo fechar para entregar aos carros que esperariam impacientes o verde do sinal, panfletos de uma casa de massagem que ficava num prédio ali perto. Fora tão intensa e instintiva a ereção do espírito, que ele não teve dúvidas, tratava-se de uma virgem!

Pegou o panfleto, puxou conversa e, conversa vai conversa vem, ela não entendeu por que ele caiu na gargalhada quando ela disse que seu nome era Maria. Nada não, disse ele, é que lembrei de uma história antiga, mas nada contigo, posso te pagar uma cerveja? Eu não bebo, ela disse, Ah, as Marias, ele retrucou, ela não entendeu, Uma coca, então?, ela aceitou.

Demorou mais do que o planejado, ele teve que conhecer os pais, comprar aliança de prata, mandar flores, e convencê-la de que não seria pecado se fizessem o que ambos queriam fazer mas não faziam pelo medo que ela tinha do fogo eterno. Não é tão eterno assim, ele disse, às vezes falta carvão, O quê?, ela perguntou, Nada não, deixa pra lá, Ele respondeu com uma risadinha no canto dos lábios.

Mas, um dia, os pais da jovem Maria foram viajar com o grupo de casais da igreja, foram visitar a catedral de Aparecida do Norte. Ele riu, ela não entendeu, mas no fim da noite, cedeu. É que pouca gente sabe, mas o dia em que a mulher ovula, o tesão é irresistível. Crescei-vos e multiplicai-vos, disse o Outro. Valeu Senhor, pensou o espírito. Sendo assim, ela cedeu. Cedeu e viu que, apesar daquela dorzinha incômoda do início, aquilo era bom. Bom, mas tão bom, que não parecia que algo tão bom seria capaz de causar enjoos tão ruins quanto aqueles que ela passou a sentir semanas depois.

Feliz da vida, ou da morte dependendo do ponto de vista, o Diabo via enfim seu benchmarking tomar forma.

Ela espantou-se quando o filho que deveria parecer prematuro, já que nascera de cinco meses, nascera perfeitamente completo, com peso e altura dignos de uma criança nascida nos corriqueiros nove meses da gestação humana.

Por não ter atentado às aulas de biologia, ela não aprendera que o tempo de gestação da cabra, mulher do bode, é de cinco meses e, embora não tenha nascido com os mesmo pés e chifres de bode que o pai tinha, o tempo de gestação necessário para que o feto estivesse totalmente formado, fora o mesmo de um caprino.

E, assim, cinco meses após à excursão à Aparecida do Norte, nasceu o filho do Diabo. O messias do Diabo. Filho esse que a menina Maria teve que criar sozinha, já que o espírito escafedera-se tão logo fecundara a pequena. E não houve José que a amparasse. Teve um Wanderlley e um Roberson que até namoraram com ela por alguns meses, mas não queriam assumir nenhum bilhete premiado, como maldosamente apelidavam as meninas que, ainda novas, já traziam nas costas o peso que tiraram do ventre.

O menino crescia e, tal qual aquele outro, tinha uma oratória apuradíssima, capaz de amontoar ao seu redor uma pequena multidão interessada no que dizia. Mas, por ser pobre, filho de mãe solteira, o talento que desde sempre demonstrara na carpintaria, não seria capaz de garantir sua subsistência. Até mesmo o outro, o primeiro, não seria capaz de manter-se, se naquela época já existissem a Bosch, Makita, Dewalt, e suas tantas inovações tecnológicas que tornam quase desnecessária a presença de um marceneiro. A simples presença de um semi débil-mental capaz de apertar botões já seria o suficiente para beneficiar a madeira com mais velocidade e qualidade do que se fazia antigamente. Sendo assim, para garantir o pagamento em dia do aluguel do barraco onde morava com a mãe, vez ou outra servia de entregador de baseados que os homens mais influentes do que ele do bairro, usavam para chegar até os riquinhos que precisavam das substâncias ilícitas para impressionar as meninas tão ricas quanto.

Quando, já crescido, o talento para os milagres se tornou bastante presente, o que de início impressionava, depois tornou-se um incomodo, pois, como não tinha muito clara a sua missão na terra, diferente daquele primeiro, ao invés de multiplicar pães, peixes e vinho, multiplicava as bolas de sinuca na mesa, quando percebia que estava para perder numa partida qualquer. Ou então, multiplicava os azes que trazia na mão quase sempre ruim, nos jogos que fazia a dinheiro no boteco da esquina. Pode parecer injusto, mas enquanto o primeiro levou fama de abençoado pelo dom que ostentava, ele carregou o rótulo de trapaceiro.

Ainda não tinha se dado conta da semelhança dos seus dotes, com os talentos daquele primeiro, até que um dia, quando sua mãe lhe pediu para levar-lhe ao templo de Madre Paulina, perdeu o controle da CG Titan que guiava e arrebentou com os ambulantes que amontoavam-se em frente ao templo milionário erguido em homenagem à mulher que morrera pobre doando tudo de si aos mais necessitados.

Quando os ambulantes perceberam-se no prejuízo pelo acidente ocorrido, ao invés de socorrê-lo, tentaram linchá-lo, percebeu a semelhança e saiu quebrando o pouco que restara intacto, chamando-os de ímpios, palavra que ele sequer sabia o significado, mas alguma espécie de inspiração lhe trouxera aos lábios.

Foi hospitalizado, depois de ter voltado para casa na ambulância do SAMU, e começou a analisar as semelhanças contando as visitas que recebeu, e deu-se conta de que foram doze os amigos que lhe visitaram. Tudo bem que entre eles havia traficantes, ladrões de som de carro, batedores de carteira, ex-presidiários, um travesti e um, apenas um evangélico, mas eram doze. Teve também uma menina que veio lhe ver, uma por quem nutria um sentimento diferente das outras tantas que tivera, tão verdadeiro que sequer se importava com o fato de ela trabalhar na mesma velha casa de massagem onde, anos atrás, fez com que sua mãe conhecesse o seu pai desaparecido ao entregar um panfleto num sinal fechado.

Algum pouco tempo após ter saído do corredor do hospital público onde ficara por dias recuperando-se das escoriações oriundas do acidente em Nova Trento, os amigos, aqueles mesmo doze, marcaram um happy hour num puteiro do bairro vizinho. Tinham que comemorar, oras, ele estava enfim convalescido.

Pediram uma cerveja, tomaram, outra, mais uma, mais outra, já eram mais de dezessete as garrafas vazias na mesa, sem que ele precisasse erguer sua mão direita fazendo com que elas se tornassem mais dezessete cheias e geladas, quando um arrepio gelado lhe percorreu a espinha.

Levantou dizendo que precisava ir ao banheiro, mas sabendo que algum dos doze, naquela noite, lhe passaria a perna. Antes de dirigir-se ao mictório, parou diante do evangélico, que fora até àquele recinto muito a contragosto, mas concordava que a recuperação do amigo querido merecia uma comemoração, tocou-lhe o ombro esquerdo e sorriu. O evangélico levantou-se, sorriu, abraçou-lhe e beijou-lhe o rosto. Isso vai dar merda, ele pensou. Depois que o evangélico se afastou, ele puxou novamente o amigo para junto de si, novamente lhe abraçou, e sem deixar que o jovem crente percebesse, colocou no bolso da jaqueta do rapaz o papelote de cocaína que trazia consigo.

Quando os federais invadiram o puteiro e realizaram a rigorosa vistoria em todos os doze, foi o evangélico quem se deu mal.

Ele não sabia se tinha sido o jovem crente quem avisara aos meganhas, mas se alguém tinha que se ferrar naquela noite, que pelo menos não fosse ele.

Foi após este evento, que o Diabo se deu conta de que seu plano não dera certo. Embora muito bem arquitetado, e com os ingredientes iguais aos utilizados por Ele, nada do que havia planejado deu certo.

O evangélico ficou preso por alguns anos. Pela inocência e pureza que sempre tivera, fora feito menininha na cadeia, pegou AIDS, e morreu antes mesmo do seu julgamento ocorrer.

Ele, o filho do Diabo, não foi crucificado, não teve calvário, nem nada do gênero. Casou-se com a tal da menina que um tempo atrás havia trabalhado na casa de massagem, passou num concurso público do tribunal federal de justiça e exercia o ofício de motorista dos juízes que ganhavam num mês mais do que ele ganharia no ano. Tomava cuidado para não deixar que percebessem os seus pequenos milagres. Na verdade, só os usava quando algum dos pneus dos carros federais furava, para não precisar sujar suas mãos e erguer peso. Vedava o furo e fazia com que os pneus enchessem de maneira mágica e, como os magistrados sequer saíam dos carros, nunca perceberam os pequenos milagres que ele fazia para benefício próprio.

E, assim, o Diabo percebeu que, tal qual a bíblia, as revistas de administração ensinam um monte de coisas lindas e perfeitas, mas impossíveis de darem certo.

Não, não pode ser, disse o Diabo numa noite de sábado enquanto assistia o comercial de um refrigerante na televisão.

O que importa é o pioneirismo.

Por mais que tente, a Pepsi nunca vai ser a Coca-Cola.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Quartos de hotel


No 601 ele abriu uma cerveja e sorriu olhando-se no espelho enquanto esperava a pessoa para quem ligara, atender no outro lado da linha. Tinham desconfiado da sua intuição, e, de certo modo, sabia que aquela era sua última chance. Mas agora poderia provar pra todo mundo que nascera sim para aquilo. Finalmente um flagrante a altura da expectativa que depositaram desde sempre nas suas costas. Tiraria fotos, o safado algemado, seu distintivo ao lado de tudo aquilo que sabia que o safado trazia na mala, não havia dúvidas, esfregaria na cara de todo mundo que escritório é o caralho, o seu lugar era na rua, caçando vagabundos. Coitados dos vagabundos com ele nas ruas. Acenderia um com um pouco do tanto que apreenderia, o stress justificava aquela necessidade de relaxamento. Daria um teco com um pouco do tanto que não entregaria e manteria junto dos seus pertences. A ocasião justificava a comemoração, o brinde entre ele e sua narina. Aquela era sua noite.

No 504 ela se amaldiçoava pensando no por que não escutara sua avó e fora estudar. Agora estava ali, vestida de freira sexy, hábito na altura onde as coxas cedem espaço para as virilhas, meias 7/8 pretas e ouvindo aquele careca asqueroso dizendo, Rebola!, ela rebolava. Mostra os peitinhos, ela mostrava puta da cara, a despeito da profissão que exercia com tanto esmero, pensando no tanto que gastar naquelas gigantescas próteses de silicone para agora ter seus peitos que vestem 48 serem chamados de peitinhos, mas mostrava. Mostra a bundinha, ele dizia, ela virava mostrava, revoltada por saber que sem precisar da intervenção de qualquer cirurgião, nascera com a bunda que toda mulher sonhava ter, mas virava e mostrava. Rebola mais, eu tô pagando, ele dizia, ela pensava que tinha cobrado pouco, se soubesse que era um merdinha daquele que encontraria, um desses padres que se escondem em quartos de hotéis vagabundos para manter imaculada a sua falsa imagem de santidade perante a estúpida paróquia, teria cobrado mais, muito mais. Aquela não era sua noite.

No 409 ele pensava até em começar a beber. Aquilo merecia uma comemoração, porra. Não sabia de que jeito falar a esposa que não queria mais olhar na cara dela, e de repente, voltando do trabalho, encontra a vagabunda com outro na cama. Porra, era sorte demais. Se não se separara antes, foi por fazer e refazer os cálculos do tanto que teria que pagar de pensão para a piranha que trazia no anelar esquerdo um anel dourado com o seu nome gravado. Mas agora, agora não. Agora a desgraçada não ia ter coragem de lhe enfiar a faca. Pois maior do que o amor da safada pelo dinheiro, era o amor da safada pelas aparências. E agora tinha na manga o trunfo do adultério do qual fora vítima. Se ela quisesse lhe extorquir, bastaria lhe extorquir dizendo, Tudo bem, pago o que estás pedindo, mas todo mundo saberá por que nos separamos. Não, isso ela não admitiria. Tornar-se a vagabunda dos grupos que freqüentavam, isso não, nem pensar. Definitivamente, apesar do quarto de hotel que deixava a desejar no quesito conforto, só por não precisar gastar ainda mais com aquela desqualificada, não havia dúvidas, aquela era a sua noite!

No 303 ela já estava tão bêbada, que até se esquecera de que não teria dinheiro para pagar o estrago que causava no frigobar. Mas, também, haviam a convencido de que aquele seria um bom emprego. Porra, viajar de segunda a sábado, voltando para a estrada no domingo a noite, para dar treinamentos para pedreiros semi-analfabetos de como utilizar uma trena laser, e ter que ouvir aquele bando de estúpidos ignorantes dizer que aquilo não funcionava, que bom mesmo é a trena manual, que eles sabem, que eles veem a distância medida certinha na fita, e pensar que depois de ouvir estas asneiras ainda teria que explicar por que o nível a laser é melhor do que o que estavam habituados a usar, que as paredes que ergueriam teriam menos chance de cair, e depois disso ouvir aquele bando de débeis-mentais dando risadas como se ela não entendesse nada de construção, só por ser mulher, ô trabalhinho de merda foi arranjar. E ainda tinha que ficar num hotelzinho safado daquele sabendo que aquele merda daquele gurizinho dez anos mais novo do que ela ocupava um cargo muito melhor do que o dela, sem ter a metade da capacidade que ela tinha certeza ter, e ganhava um salário duas vezes maior do que o dela, sem fazer por merecer receber metade do que ela recebia, ah, aquilo não era justo... Aquela não era sua noite.

No 207 ele vibrava! E, mesmo já tendo descido para jantar, pediu um lanche no quarto. Nunca tivera as maiores notas da faculdade, nunca fora dos alunos mais assíduos, e na hora do vamos ver, lá no processo de trainee, mesmo com todos os cdf’s ali, concorrendo com ele, fora ele o escolhido. É que não adianta, malandragem não se ensina nos livros. Mais importante do que saber o que se ensina, é parecer saber. Se os idiotas dos cdf’s tivessem prestado atenção na maneira como ele parecia entendido cada vez que discorria sobre os livros que os professores mandavam ler, e que todos quase decoravam, mas ele ficava ali quietinho, esperando uma meia dúzia dar suas opiniões para depois discorrer sua oratória contrária aos pontos de vista previamente apresentados, mostrando argumentações mais convincentes pela entonação do que pelo sentido, certamente eles teriam entendido por que agora, ali, naquele momento era ele quem estava naquele quarto de hotel com tudo pago pela empresa que fizera a seleção, enquanto os outros teriam que se inscrever em mais um, dois, sabe-se lá quantos processos seletivos até conseguir um emprego que pagasse o tanto que ele passaria a receber já no próximo mês. Que viesse mais um, dois, três lanches, ele merecia. Aquela era a sua noite!

No 102 alguém ligou, mas ele não lembrava quem. Seja lá quem fosse, tinha dito que um dos contatos, alguém do hotel, inclusive, tinha avisado que a barra tinha sujado. Não sabiam como, tudo tinha sido muito bem planejado, mas o fato é que alguém tinha dado com a língua nos dentes de algum meganha de merda sabia que ele estava lá, cheio do que a lei diz que não se deve ter. No dia seguinte, talvez antes, arrebentariam a porta do quarto e dariam o flagrante. Ele não levou a sério. Pô, se fosse numa cidade de verdade tudo bem, mas ali, naquele fim do mundo, ali não, nem fodendo. Acendeu unzinho, relaxou, não tinha como dar errado. Não ia sair dali, àquela hora para tentar esconder o bagulho todo. Se tivesse que esconder, esconderia amanhã, não naquela hora. É que ele não sabia, mas aquela não era a sua noite.

No subsolo, seu Adílson, homem direito, simples, humilde, mas inquestionavelmente um homem de bem, ouviu um som estranho vindo ali do fundo, mas não ia parar agora para ver do que se tratava. Já, já olhava, não agora. Não justamente agora, quando aos 46 do segundo o bandido do juiz resolveu finalmente ser justo e marcar um pênalti a favor do seu time. O barulho era mesmo estranho e só aumentava, mas que esperasse mais uns segundinhos. Era só o desgraçado do camisa nove colocar a bola pra dentro, garantir a permanência do seu time do coração na segundona, e ele já veria de onde vinha aquele barulhinho irritante que só aumentava.

Antes mesmo do narrador do rádio entoar emocionantemente que o atacante corria para a bola para cobrar o penal, o barulho irritante que seu Adílson não quis verificar, mas vinha de uma das caldeiras do hotel que apresentava-se super-aquecida, fez explodir aquele amontoado de concreto e ferro, mandando todos os habitantes provisórios dos quartos supracitados para o quinto dos infernos. Literalmente.

Tudo estava até relativamente justo, um pela soberba, um pela luxúria, um pela inveja, outro pela avareza, um pela gula, outro pela preguiça, só seu Adílson não entendia o que fazia ali, na companhia do capeta, naquele calor pior do que o calor da sua terra natal.

Mas o capeta, gente boa que só ele, apesar de cruel, fez questão de lhe explicar que, mesmo tendo sido um homem muito bom durante toda a vida Severina que vivera nos dias que teve para transitar pela face da terra, ele não teve tempo suficiente para ouvir o desfecho da cobrança de pênalti do seu time do coração. Se tivesse, saberia que da ira não escaparia.

É que os homens não sabem, mas este é o único pecado que até mesmo Ele aceita a condenação presumida.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Sobre a recente escassez de textos


Caríssimo leitor ainda assíduo deste espaço de textos longos e mal criados, faço este post para me desculpar pela ausência e recente escassez de textos. Antes postava três vezes por semana, e agora tem sido uma e olhe lá.

A ausência tem lá suas explicações. Duas, na verdade.

A primeira delas é que sofri um acidente de moto recentemente, e fiquei ocupado demais sentindo dor na perna direita, não tive muito tempo para me dedicar em pensar em novas histórias. Dor no joelho é uma mulher muito ciumenta, fica puta quando paro de dar atenção a ela.

O outro motivo é que, confesso, andava meio desanimado com meus textos. Mesmo antes de ter me estabacado no chão, depois de visitar um belo buraco com o pneu da frente da minha – agora – moribunda moto, já andava meio de saco cheio das minhas histórias. Não estava gostando muito delas, e um combustível imprescindível para que eu consiga manter acesa a vontade de continuar a escrever, é quando consigo escrever algo que gostaria de ler. E, em alguns dos últimos textos, se fosse algo que alguém tivesse me enviado como sugestão, provavelmente eu abandonaria o texto no meio do segundo parágrafo.

Mas, ó, tu não precisas abandonar, tá bom?

Podes continuar lendo todos eles até o final!

Pois bem, em função desta minha insatisfação com meu atual momento criativo, pensei em mudar um pouco o foco deste blogue.

Pensei, num primeiro momento, em usá-lo para descascar minhas opiniões sobre livros, filmes, músicas e afins. Mas isso o Mafra já faz, e com muito mais propriedade e conhecimento de causa do que eu.

Pensei, num segundo momento, em fazer do blogue um espaço voltado para minhas opiniões a respeito das notícias de maior relevância que acontecessem no dia, o que tornaria as postagens até mais freqüentes, mas isso daria muito trabalho, e eu sou muito preguiçoso.

Pensei, num terceiro momento, em postar aqui vídeos e coisas engraçadinhas que eu encontrasse aí pelo mundo do cyber espaço. Mas isso é uma coisa babaca demais.

Pensei, num quarto momento, em falar de futebol. Mas se fizesse isso, provavelmente perderia 98,64% dos meus atuais leitores. E eu gosto tanto deles...

Pensei, num quinto momento, em deletar o blogue e deixar essa história de escrever para depois de me aposentar. Mas também não sou tão preguiçoso assim.

Pensei, num sexto momento, em transformar o blogue num vlogue, sabe aqueles em que as pessoas postam vídeos seus falando sobre o que lhes dá na telha. Pois é, pensei em fazer um desses. Gravar-me-ia, aqui no meu quarto, falando o que quisesse falar, tentando arranjar assunto para falar, ou coisa parecida. Mas, caso fizesse isso, poderiam pensar que eu estava apenas imitando o PC Siqueira, e seria verdade. E eu detesto quando desmascaram minha falta de caráter assim, tão facilmente. É que, porra, o cara tá lavando a égua de ganhar dinheiro só postando vídeo que grava no próprio computador, sentado numa cadeira no meio do quarto, por que eu também não posso ganhar um pouco desse dinheirinho também??? Cheguei até a gravar alguns vídeos, quase postei alguns deles, mas o bom senso me fez recuar e mantê-los dormindo no fundo do meu HD. Até por que, me assistindo, vi que não levo jeito pra coisa, minha webcam grava uma imagem horrível, o som é pior ainda, a voz sai depois da boca ter mexido, enfim, ia ser algo do que eu certamente me envergonharia de ter feito em muito pouco tempo.

Concluindo, depois de muito pensar, resolvi que não vou mudar nada, mas talvez demore mais do que o habitual para postar meus textos, pois não quero postar por postar, quero colocar no ar somente textos que eu ache que ficaram legais.

Aí tu me olhas no fundo dos meus olhos e me perguntas: “Tá, e daí?”

E daí nada, é que tentei fazer um texto agora a pouco e não saiu nada, aí resolvi vir aqui te explicar por que não tenho postado, só isso.

Saravá.

sábado, 3 de setembro de 2011

Fico te devendo essa!


Porra, agora eu botei fé!

Fico te devendo essa!

Porra, tu sabe que nunca tinha te dado muita moral. Tu não, senhor, né?

Bom, enfim, se precisava de algum motivo realmente foda pra acreditar em ti, agora tu me deu. Ou o senhor, sei lá.

É que tu sabe, o senhor sabe, já tava a uma cara pegando uma e pegando outra, já não tinha mais desculpa pra inventar pra qualquer uma delas, e no dia que tava pegando aquela, aquelazinha, tu sabe, o senhor sabe, aquela que faz o negocinho do jeito que eu gosto, a outra inventou de dar uma incerta, ia me pegar no flagra. No flagra não, mas naquilo que tu, que o senhor sabe que é muito bom, até por que foi tu, foi o senhor que inventou essa coisa toda aqui onde eu vivo, então foi o senhor que inventou a bagaça toda, então sabe que lá onde eu tava com a boca é bom pra caralho. Opa, desculpe, bom pra caramba, bom pra burro. Tu sabe que é bom, o senhor sabe que é bom! Sei que sabe!

Aí meu bróder me ligou dizendo que a outra tava indo pra lá e ia me pegar na hora certa. Ou errada, sei lá, ia me pegar na hora.

Quando ele me ligou, pensei, porra, ela, a outra, podia sei lá, ter um infarto, não morrer, mas dar uma trégua, um tempo, um ar, uma coisa assim. Tu sabe, o senhor sabe.

Mas, porra, atropelamento por uma CG 125 foi golpe de mestre! Coisa de gênio, de verdade, coisa de quem sabe das coisas.

Fiz aquela cara de preocupado, quis saber o que ela tava fazendo lá naquela hora, num lugar daqueles, ela se sentiu culpada por ter desconfiado de mim, coisa de gênio mesmo. Coisa tua. Coisa do senhor, desculpe a informalidade.

Ganhei uma folga da outra, aquela que tinha a minha boca onde a boca sempre sonha estar, ela entende que tenho que dar um tempo, tenho que dar uma atenção, até por que a primeira sofreu um acidente e coisa e tal.

Vou lá vez ou outra, dou minhas beliscadas, mantenho a forma do pescoçudo velho de guerra, e ainda tô fazendo a moral de companheiro, de cara que tá sempre do lado nas horas mais difíceis, porra, tô com uma moral do cacete. Até a velha dela que não ia com as minhas fuças tá me dando a maior moral!

Ou seja, tudo deu certo, certo pra cacete!

Tu és o cara, prometo, nunca mais duvido de ti!

É que quando meu camarada me ligou dando a letra que ela tava chegando, naquela hora eu rezei. Acho que foi a primeira vez, naquela hora eu cheguei e não tive alternativa, foi rezar ou ver a merda que ia dar.

Rezei, e não é que deu certo?!

Bom, nunca mais blasfemo, prometo.

Cara, senhor, sei lá, fico te devendo essa!