sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Test-Drive: Aprendendo a lidar com meninas

 
Joga um menino na minha mão, e eu me viro. Sei direitinho o que fazer para entreter o moleque até ele estar totalmente esgotado, mesmo que eu já esteja há algum tempo. Tudo questão de uma apurada técnica desenvolvida pela convivência com meus sobrinhos Gustavo e Thiago. Hoje tenho mais dois, a Sofia e o Pedro, com o Pedro eu me viro que é uma beleza, com a Sofia vou com mais cuidado, é um território ainda estranho o mundo das brincadeiras de menina.
Menino é fácil, primeiro, brinca de lutinha. Pega o moleque, vira de cabeça pra baixo, joga no chão, senta em cima dele, bagunça o cabelo, deixa escapar, corre atrás, pega no colo, vira de novo de cabeça pra baixo, bagunça de novo o cabelo.

Pausa.
Video game.

Fim da pausa.
Pega a bola e bora pra qualquer espaço minimamente retangular que se pareça com um campo, e manda ver na correria. Primeiro um dribla o outro, depois ele é o goleiro e tu chuta, depois, quando o cansaço começa a aparecer, ele chuta e tu és o goleiro, depois, quando a exaustão toma conta, dá uma bicuda o mais longe que puder e diz que é treinamento de jogador de verdade, ele tem que correr atrás, pegar a bola, voltar com ela dominada nos pés e passar para que você dê mais uma bicuda o mais longe que puder, até que ele se dê por vencido e peça para voltar pra casa, exaurido, mas feliz por ter o melhor tio do mundo!

Mas acontece que eu estou esperando uma menina, e esse, como disse acima ao citar minha sobrinha Sofia, ainda me é um território meio hostil.
Como se brinca com menina?

Eu não conheço meninas que brincam de lutinha.
Tudo bem, elas brincam de bola também, mas não há nada no mundo que se diga que as convença de que não podem pegar a bola com as mãos no meio de campo.

Pois bem, para resolver este impasse e me tornar um pai minimamente preparado para entreter a nossa Clarinha, dia desses resolvemos fazer um intensivão. Raptamos para nossa casa quatro meninas lindas: Luana (a tia da Clara e melhor cunhada do mundo), Rafa (melhor amiga da Lu), Ana Julia e Ana Carolina, primas da Luana, ou algum laço de parentesco que se pareça com primas. Meninas com idades variando entre quatro e nove anos.
Primeiro é preciso conquistar a simpatia das visitantes, para tanto, tratei de permitir que elas escolhessem o cardápio, fosse ele qual fosse. Elas escolheram bolinha de queijo, coração de galinha e chocolate, combinação meio estranha, mas tudo bem. Para beber, suco de uva e guaraná. Lá vou eu ao supermercado, primeira dúvida: quanto come uma menina? Quanto comem quatro meninas? Na dúvida, disse para a moça da padaria: “vira toda essa bandeja aí de bolinha de queijo no saco de pão, e embrulha pra viagem.” Ela se assustou, as meninas, quando cheguei em casa, também se assustaram com a quantidade. Enquanto comiam as bolinhas de queijo, acendi o fogo na churrasqueira para preparar os coraçõezinhos. Enquanto o fogo acendia, brincar de pegar com a Ana Carolina, a caçula. Neste ponto, além de administrar as descobertas do mundo feminino-mirim, lidar também com as diferenças regionais. Disse sorrindo enquanto fazia cócegas na barriga dela, “sua bagunceira”, em tom carinhoso. Acontece que “bagunceira” na cidade onde ela mora, é bronca. Beicinho e corre para a barra da saia da Pri, ela sabe que a Pri já é mãe, e mãe é o melhor consolo para qualquer tipo de sofrimento.

Coração no fogo, baralho de Uno para jogar com as mais velhas.
Coração servido concomitantemente a uma barra de Shot, terceira temporada dos Simpsons na TV para nos fazer companhia enquanto comemos.

Depois, esconde-esconde num apartamento de dois quartos, uma se cansa, quer continuar a assistir os Simpsons, outra quer brincar com o Zé, a pequena esqueceu que estava chateada e queria de novo brincar de pegar, a mais mocinha começando a ficar cansada, mas, no fim, acho que todas se divertiram.
O primeiro teste até que foi mais fácil do que eu pensei. Se dei conta de quatro, acho que consigo me virar com a nossa Clarinha. Tudo bem, eu fiquei com elas pouco tempo, só a partir do momento em que cheguei do trabalho, já lá pelas 18:30, quem se dedicou com afinco no aprendizado foi a Pri, que passou toda a tarde com a meninada, foi à quadra com elas, montou uma comitiva para levar o Zé para passear, enfim, ela é que segurou a onda. Mas vamos com calma, um aprendizado homeopático será menos assustador.

Agora acho que já estou me entendendo um pouco melhor com esse mundo feminino-mirim. Ao longo destes cinco meses restantes, farei novas incursões neste universo, aumentando gradativamente a dosagem para, lá para junho do ano que vem, esteja totalmente pronto para divertir a minha menina até deixa-la extasiada de tanta brincadeira, desenvolvendo técnicas tão apuradas quanto as que já domino na arte de brincar com meninos.
Além do aprendizado, o principal saldo é ter observado a personalidade de cada uma daquelas quatro meninas, e começar a torcer para que a nossa Clara tenha um pouquinho de cada uma delas: espoleta como a Ana Carolina correndo pra cima e pra baixo sempre com aquela deliciosa gargalhada que só criança muito feliz tem, que curta Simpsons como a Ana Julia para me acompanhar nas minhas intermináveis sessões, que curta um Rock’n’Roll como a Luana para que passemos horas ouvindo música juntos, e que seja boa de papo como a Rafa, para esquecermos do tempo jogando conversa fora.

Muito obrigado, meninas, voltem sempre!

Um comentário:

Bruna Rafaella disse...

Que farra....
Mas você tem que aprender muito sobre meninas e quando chegar aquela fase adolescência, me lembro da minha, um pouco rebelde, amava ir em alguns shows de Rock, sair com as amigas, dançar...
Será que você vai ser um pai ciumento?
Um pai das antigas? Vejo isso pela minha sobrinha Bárbara de 7 anos, odeia minhas músicas (MPB) e me chama de velha!
Mas é brincadeira, tudo isso depende da criação, vem dos pais!!