quarta-feira, 22 de junho de 2011

Sobre escrever, ler, criticar e ser criticado


Quem me acompanha, sabe, costumo publicar as segundas, quartas e sextas. Contudo, entretanto, porém e todavia, antecipei a publicação dos posts, pois, estava ansioso para publicar este que agora lês.

Estava publicando uma saga de amor e traição em quatro capítulos, cujo final tive que reescrever em função do inconveniente Jonatan Strange ter descoberto o fim que havia premeditado. Mas, confesso, gostei mais do final que acabou indo para o ar, pois acho que o Jonatan vai gostar menos, já que, de certo modo, tem um final feliz. E, ele, que embora não conheça, sei que é sacana como eu, deve ter sido feito do mesmo barro de procedência duvidosa que eu. Gosta quando as personagens se ferram, principalmente se for na mão de um homem que não vale nada. Eis a minha vingança, Jonatan, um final feliz!

Mas vamos ao assunto que estava ansioso por tratar.

Primeiro foi como um soco no estômago, fiquei sem ar, um tanto assustado, talvez com alguma coisa de tristeza e pitadinhas de frustração.

Depois veio uma euforia meio besta, algo como aquilo que devem sentir os viciados quando, depois de roubarem o castiçal de prata da avó, trocam a relíquia antepassada por uma pedra de crack e confortam-se entorpecidamente das desventuras das suas vidas de merda na anestesia daquilo que, logo, logo, há de lhes matar.

Espero que meus textos um dia me matem.

Ao longo destes uma ano e meio de vida do meu blogue, conheci muita gente legal. Mas, por mais óbvio que seja, estes que me acompanham o fazem por gostarem das tortas frases que escrevo nas linhas retas do Word.

Não seria atitude muito inteligente seguir e acompanhar algo que não se gosta.

Exceção feita e respeitada aos meus pais, que detestam o que eu escrevo, mas acompanham assiduamente meus textos para tentar saber se estou perdido na vida, bebendo demais, se estou fumando ou coisa parecida.

Um beijo mamãe, um beijo papai.

Contudo, entretanto, porém e todavia (de novo), após ter publicado meu primeiro livro e ter conseguido uma vendagem relativamente significante para uma editora virtual, fui convidado a participar de um projeto bem bacana chamado BookTour, onde dez escritores tão famosos quanto eu são convidados a enviar suas obras a um de dez blogueiros metidos a críticos literários, para que estes o leiam, façam suas críticas a respeito da obra recebida e, após terem lido a tal obra, a enviem ao blogueiro metido a crítico literário seguinte e, assim, ao fim da Tour, dez pessoas tenham estabelecido seus juízos de valor a respeito dos dez livros de incipientes escritores.

Gostei da ideia, topei e enviei meu livro para a senhora Mônica Carneiro.

Eis que, na última segunda-feira, dia 20 de junho do ano da graça de 2011, recebi o email que segue da supracitada Mônica Carneiro:

“Olá David,
Venho lhe comunicar que comecei a ler o seu livro este fim de semana, já estou na metade, mas não vou mais ler. Parei. Desisti.
O livro é pura pornografia, a maioria dos contos são maliciosos. Achei muito apelativo. Constrangedor!!!!
Não sei se é do seu conhecimento, mas a maioria dos blogs literários têm suas visitas voltadas para os adolescentes, muitas vezes garotas de 13 a 16 anos. E eu não vou mudar isso. Como que eu vou indicar um livro que em todos os contos se encontra muita, muita pornografia, traição, indução ao sexo . Outra, que não faz parte do meu perfil de leitura um livro com estes moldes. Estou lhe devolvendo ainda hoje o livro para o endereço de remetente que tenho.
Atenciosamente,
Mônica Carneiro”

De fato, meu livro tem sexo, tem amor, tem infidelidade, tem incesto, tem traição, tem violência, tem morte, tem vingança, e mais um monte de coisas desta natureza.

Mas isso tudo a Bíblia também tem e, admitamos, até que ela fez algum sucesso.

Não, não, não é nada disso que você está pensando.

Não fui eu quem escreveu a Bíblia.

Eu juro!

Como disse anteriormente, primeiro fiquei com a sensação de soco na boca do estômago, sem ar, assustado.

Depois, fiquei eufórico.

Algo que causa tanta repulsa em determinados leitores, certamente há de agradar na mesma proporção outro tanto, interessados em um tipo diferente e menos cheio de pudores, de literatura.

Não exatamente os mesmos que lêem a Bíblia.

Que fique claro, este post não é uma dor de cotovelo pela crítica recebida, é um regozijo!

Gosto muito de críticas, elas me ensinam demais!

Um dos meus maiores críticos é também um grande amigo meu. Um dos maiores, se não o maior.Ele se chama Abelardo José da Silva Mattos e, para minha felicidade, além de amigo inestimável, ainda por cima é meu pai.E não é uma destas amizades chavões onde meninas adolescentes que querem parecer modernas e, para tanto, querem fazer uma tatuagem e, na falta do que tatuar, tatuam “Pai e Mãe, amor eterno”, é uma amizade de verdade. Não de cerveja, ele não bebe, mas sem dúvida alguma, uma amizade de verdade. Meu pai é foda! Ele não vai gostar deste elogio, mas é minha maneira indelicada de dizer, “Pai, eu te amo, quando crescer quero ser digno e bom igual a ti!”.

Voltando, meu pai não gosta do que eu escrevo e é um crítico ferrenho das minhas temáticas. Gosta muito da minha forma, mas detesta meu conteúdo. Faz questão de ressaltar, Tu escreves muito bem!, mas não gosta dos enredos que minha mente ímpia desenvolve.

Eu sou ateu, meu pai um cristão exemplar.

Nossas conversas, embora boa parte delas sejam calorosas, cada um defendendo seu ponto de vista, são totalmente pacíficas e desprovidas de picuinhas. Ambos respeitamos o ponto de vista do outro, nenhum tenta convencer o outro que aquela filosofia é errada, que o certo é o que eu – ou ele – acreditamos, apenas nos permitimos ouvir o outro lado, e permanecermos firmes naquilo que acreditamos. Ou não.

As melhores conversas que tive na vida foram com meu pai. Meu livro preferido, “Os Maias”, virou seriado e assistimos juntos nas madrugadas da Rede Globo, escondidos da minha mãe. Acho até que gosto tanto deste livro, pela ligação que ele estabeleceu entre mim e meu pai. No dia dos pais do ano passado, presenteei-o com uma edição pocket book, mas original, portuguesa, deste livro. Sei que ele gostou, embora não saiba se ele chegou a lê-lo.

Enfim, reminiscêcias familiares a parte, meu pai é um grande crítico do que eu escrevo, mas crítico com propriedade, com inteligência. Ele argumenta e embasa cada crítica que faz. Não é nada do tipo, “Não gostei por que não!”. Ele sabe o que está dizendo. Meu pai é muito inteligente, e tem opinião formada sobre o mundo, sobre o transcendental, e sabe como defender seus pontos de vista. Exatamente por isso tenho tanto respeito e admiração por ele.

Acontece que a crítica que recebi da senhora Mônica Carneiro, me fez pensar muito a respeito das coisas que escrevo. E, depois de muito pensar, me dei conta de que estou no caminho certo.

A última coisa que eu pretendo ao escrever é agradar todo mundo.
Isso, nem Jesus conseguiu. Ele não me agrada.

Tudo bem, não tenho nada contra ele, acho mesmo que era ótima pessoa, deus é que me incomoda.

Acredito piamente que todos aqueles que escrevem de verdade, o fazem por uma necessidade visceral, orgânica, algo como o que eu creio que deva sentir a Letícia Palmeira, minha mais nova escritora preferida, cada vez que ela escreve aqueles textos que me matam de inveja, não o faz a espera de aceitação ou de bem querer. Fazemos pela consciência de que é para aquilo que fomos feitos.

Sim, embora possa parecer arrogante, acredito que foi para escrever que fui feito.

Posso ser um bom filho, bom funcionário – isso, acreditem, sou mesmo, caxias até a medula! – mas tenho o sentimento de que é para escrever que fui feito.

Acredito nisso exatamente por não me preocupar em agradar a quem quer que seja quando escrevo. Cada vez que paro em frente ao meu computador, escolho uma música para que sirva de trilha sonora para meus escritos, passo três, quatro horas trabalhando num texto sem pensar se meus leitores hão de gostar, acho que por isso gostam. É uma espécie difícil de explicar de respeito a eles. Sim, como me disse Letícia Palmeira, escrever é trabalho, mas um trabalho que me extasia de tanto prazer que tenho cada vez que termino um texto que acho que ficou bom. Tenho vontade de encontrar o Lobo Antunes uma vez que seja na vida, para poder mandá-lo se foder, embora seja muito, muito fã dele, pois ele trata o escrever como um suplício. Deve ser alguma dorzinha de cotovelo por ter sido o outro português quem ganhou o Nobel, e não ele.

Mas era da senhora Mônica Carneiro que tratávamos, dela e de sua semi-crítica ao livro que compilei embasado nos textos aqui publicados. Não espero que todos gostem das coisas que escrevo, quem quer ser famoso deve mandar uma fita para o BBB vestindo um escandaloso fio-dental. Quem quer ser escritor deve ter a consciência de que, muito provavelmente, terá que passar o resto da vida trabalhando em alguma outra coisa para poder se sustentar. Coisa que faço, e com muito prazer, pois adoro meu trabalho.

O que realmente me instigou, foi a falta de comprometimento com a proposta por ela aceita, de fazer uma crítica dos livros que receberia, gostando ou não, mas uma crítica após a análise feita segundo seus critérios, da obra recebida. Ela não precisa gostar das coisas que escrevo, mas assumiu o compromisso de participar de um projeto com um objetivo específico.

Que descesse a lenha no meu livro, que dissesse que foi a pior merda já escrita na história da literatura mundial, que dissesse que escrevo mal, que dissesse que sou pornográfico, malicioso, apelativo, constrangedor, como de fato disse, mas que lesse até o final e fizesse a tal crítica em seu blogue.

Mas, ao invés disso, ela interrompeu a leitura do meu desbocado livro na metade, e me remeteu de volta o tal livro. Ou seja, não faltou comigo, faltou com o projeto que aceitou participar. Isso, para um funcionário caxias como assumidamente sou, é inaceitável!

Não espero que todos gostem das coisas que escrevo, mas espero que cada linha que eu digite, tire a pessoa do outro lado da tela – ou da página – da sua zona de conforto, que ao menos a faça pensar um pouquinho sobre coisas que, normalmente, seus valores morais a impediriam de pensar. Não se trata de provocação, e sim de reflexão.

Resumindo, para finalizar, citarei um trecho bíblico que gosto muito. Sim, eu já li a Bíblia, duas vezes, inteira! E gosto muito inclusive, os Salmos estão entre as coisas mais lindas já escritas. Isso não é sarcasmo, é verdade! E foi por tê-la lido que descobri que sou ateu. Pretendo começar a lê-la novamente este fim de semana. Está lá, em Apocalipse, capítulo 3, versículos 15 e 16:

“Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; oxalá foras frio ou quente! Assim, por que és morno, e não és quente nem frio, vomitar-te-ei da minha boca”

Mônica, minha querida, beijo me liga!

7 comentários:

Daca disse...

ô tchutchuco, não fica assim.. é só uma pessoa que não gosta, as outras 68 adoram!

luiza disse...

Gosto da tua forma de escrever. E gosto do conteúdo também e justamente por ser sacana, pervertido, visceral, cru.

Fico triste pela irresponsabilidade. De onde diabos ela tirou aquele dado? Ai ai. Quem lê conto é adolescente... Alôooo meu bem! Já ouviu remotamente falar em classificação etária?


Críticas embasadas são uma delícia. Fazem crescer. As parecidas com esta são... mornas. Rs

Os pudicos, acho eu, assim são porque pensam garantir a passagem pro céu. A estes eu dedico a minha piedade. Nunca vão aproveitar a vida de verdade.

Né não?



Xerooo


l.

Bruna Rafaella disse...

Oi David hahahaha...
(tchutchuco é foda!!)

Acho que você já estava preparado para esse tipo de crítica, essa Mônica deve gostar de ler romance, amor, nhenhenhen, blá blá blá...

Eu também como público e não sou adolescente adorei seu livro, muita gente que conheço querem emprestado, fica assim não.

É lógico que as críticas te ajudam bastante, mas te magoa também né? Achei errado dela não ter pelo menos a dignidade de terminar de ler sua obra, injusto.

Sejas um homen forte, encolha a barriga e bola pra frente!

E acho que mais de 68 te adora viu!!???



Beijão!!!!!

Bruna Rafaella disse...

Estamos contigo, meu querido!!!!

rodrigo. nascimento disse...

o maior obstaculo da vida de um ser humano ´e seu semelhante...

talves voce tenha deixado ela contrariada, por nao ter tido a ideia de montar um livro de conteudo como o teu, e digo mais deve estar se roendo por dentro quando ve tanta inspiraçao de sua parte exposta no teu blog...

Como qualquer livro, vai da interpretaçao de cada um saber extrair o conhecimento que ele tras, pois como a vida é uma escola de constante aprendizado,seja ele biblia ou livro comum temos que absorver o maximo de conhecimeto possivel, ou seja conhecer o bem e o mal...

que mais esta critica sirva para fortalecer seu conhecimento e dar asas a sua inspiraçao...

Bagual disse...

"Estou lhe devolvendo ainda hoje o livro para o endereço de remetente que tenho." Caralho, David. A TFP sente asco do seu livro. Acho que gosto mais dele agora.

jean mafra em minúsculas disse...

queridão, mas que mané "crítica" deve ser essa?! imagino... ainda mais por definir como "pornografia" o que não tem nada de pornográfico... acho que essa mulher assinou não uma mensagem para ti, mas um atestado de incompetencia, portanto, não merece crédito.

aliás, ô, dadivoso, seja mais economico!!! ou, no caso de não ser, seja mais pornográfico!!!

beijo me liga.