sábado, 7 de abril de 2012

Amor de mãe


Ela sabia, como sabem apenas as mulheres, que dificilmente coisa pior do que nascer neste gênero há de haver.
São tantas as dores, físicas, psicológicas, obrigações estúpidas que numa mínima fração de coerência seriam facilmente divididas com os homens, mas não, formatou-se de tal maneira que restringiram as pobres das mulheres que assim deveria ser, e foi, e é, restritivas a elas.
Reservou-se a elas, tão somente a elas, as cólicas, o sangramento mensal, as obrigações domésticas, a resignação à cafajestagem, as dores do parto, tudo o quanto é infortúnio por um sadismo sabe-se lá de quem, mas que se definiu que a elas caberiam.
E, assim como tantas outras caem dia após dia, caiu ela também na conversa de um qualquer.
E amou-o tão e tanto, não como ele merecia, mas como ela gostaria que ele merecesse. Entregou-se inteira, mesmo sendo recente a aproximação e nada demais ele tenha feito para merecer tamanha confiança.
Pureza vale ouro, e o tanto que ela tinha, entregou a primeira oferta de um punhado de pouca coisa qualquer, que o primeiro galante lhe acenou. Mulheres têm dessas coisas, medo de ficarem sozinhas, de não surgir outros que, inevitavelmente, hão de surgir e que sejam um bocadinho melhor do que os anteriores.
Sonham as mulheres com príncipes loiros de olhos azuis montados em cavalos brancos, mas entregam-se ao primeiro moreno de olhar cafajeste, ombros largos e barba por fazer que lhes sorri. Assim ele era, assim ela se entregou.
Fosse ele de fato um príncipe loiro de olhos azuis montado num cavalo branco, provavelmente não lhe abandonaria. Abandono não condiz com a conduta dos príncipes. Mas este, definitivamente, não era o caso dele.
Sendo ele o tal moreno de olhar cafajeste, ombros largos e barba por fazer, como é de se esperar na previsibilidade dos roteiristas do cotidiano, a possuiu tomando-lhe a pureza de ouro em troca de um punhado de afeto de lata, partiu e nunca mais voltou, deixando além da saudade do seu cheiro de macho, um filho no ventre da pobrezinha.
Eis que cresceu o filho, e para aumentar o martírio da sua saudade que em nada o tempo passado conseguira amenizar, ainda que tenha tido outros homens, alguns até razoavelmente dignos, o filho trazia nos traços a lembrança do cafajeste que lhe marcara de maneira tão vil. Moreno, alto, ombros largos e barba irritantemente por fazer.
Por ser reservada as mulheres a frustração do amor não correspondido, por mais que tanto fizesse pelo filho lindo que mais lindo se tornava na exata medida em que crescia, menos valor ele dava ao amor que recebia daquela única pessoa que estivera ao seu lado desde sempre. Ele, o filho, disse precisar conhecer o seu pai, pois precisava saber de onde vinha aquela energia que trazia dentro de si, e não vislumbrava força igual na mulher que lhe trouxera ao mundo.
Não chorou, mas quis, por lembrar da força que tivera que desenvolver dentro de si para que conseguisse fazer do feto abandonado no seu ventre, um homem feito, homem que agora se prostrava diante dela relegando o tanto que fizera.
Mas ele fez questão de encontrar o seu progenitor, e decidido saiu de casa em busca do pai desertor.
Não ficou surpreso quando no dia da sua morte, do seu lado estava a mãe, chorando acompanhada por uma ou duas outras mulheres com o mesmo fraco por homens altos, morenos de olhar cafajeste, ombros largos e barba por fazer.
Não teve forças para pedir desculpas, estava muito machucado.
Mas lá, pendurado no pedaço de pau onde haviam lhe pregado a mando do pai que teimara em buscar, ouviu  sua mãe dizer, sem conseguir responder:
_ Jesus, meu filho, eu disse que ele não valia nada.

5 comentários:

Bruna Rafaella disse...

Q merda

Anônimo disse...

Os cinco sentidos nos aprisionam no tempo e no espaço.
Quem consegue se libertar não escreve tanta bobagem.
Porem agredir, faz parte do processo de libertação e desenvolvimento.
Deixar se agredir para libertar o semelhante é ver além dos cinco sentidos.

Don Mattos disse...

Caro(a) Anônimo, por favor, revele-se!

Bruna Rafaella disse...

Sou eu!
Kkkkkkk brincadeira!
Mas a resposta dele (a) faz sentido, eu achei.

Bagual disse...

Meu Deus, aquilo é um travessão?