quarta-feira, 4 de abril de 2012

Amor dissonante em tom menor


Falemos, pois, sobre a culpa, ela que tão bem cai sobre nossos ombros, que nos veste melhor que fino pano de corte apurado. Falo disso, pois esperar nem sempre traz o que se espera, para desgosto do dito popular. Quase lá não é destino. Isso que a certa altura o amor me pareceu ter chego aqui, pra mim. Pareceu ter chego aí também, pra você. Pareceu ter chego pra nós. Talvez imaturidade sua, embora já não haja nos anos que você acumula espaço para ela. Talvez ingenuidade minha, embora mesmo não tendo visto tantas primaveras quanto você, pra inocente já não sirvo. E você escreverá palavras lindas para que eu leia, sem dizer que são para mim, para que eu as imagine sendo ditas pela sua voz melodiosa, irritantemente afinada. Grave quando quer, aguda quando poucos conseguem. É que você se acostumou a sentir dor, deve ser mal da idade. Dizem por aí que a dor evolui na medida em que os anos avançam, e ela, a idade, não leva em conta se sua cara não exibe o tanto de anos que sua carteira de identidade acusa. Não é dor o que você sente, é culpa. Culpa por não aceitar que meus olhos claros seriam capazes de te fazer sorrir todos os dias. Culpa até que te cai bem, eu te condenaria se você já não tivesse se antecipado a mim. Culpado, polegar do imperador virado pra baixo num Coliseu lotado de mulheres que tiveram a estúpida vontade de te fazer feliz. Não sou eu, não é nenhuma delas o leão que te devorará na arena, é tua insegurança. E você escreverá outras lindas linhas para que eu leia, para que elas leiam, e todas pensemos que é a nós que sua caligrafia se dirige. E nós, todas nós, imaginaremos as palavras em tom menor, para combinar com sua voz triste por cacoete, não por essência. E você seguirá colecionando acordes tristes e amores dissonantes, desprezando meu sorriso em tom maior, fingindo que ele não te afeta, que eu não era a pessoa certa, quando no fundo você sabe que sou. Sinto culpa por não ter tentado um pouquinho mais, tanto quanto sinto culpa por ter lutado tanto. Você sente culpar por falta de coisa melhor pra sentir.
Coitado de você.
Coitada de mim.
Coitados de nós.