segunda-feira, 12 de abril de 2010

O segredo da felicidade conjugal: QUEM MANDA SÃO ELAS, OBEDEÇA!


Quarta-feira, 19:30.

Ele trabalhou o dia inteiro, está louco para chegar em casa, tomar um banho e ir se deitar, ver televisão, qualquer coisa... Menos: sair de casa.

Subiu as escadas do seu apartamento quase sem agüentar o peso de seus ossos e daquela saliência abdominal que a cevada tem cultivado com tanta dedicação. A morosidade com a qual avança cada lance de escada é um reflexo claro da sua disposição para qualquer evento social que lhe seja proposto.

Coloca a chave na fechadura, gira lentamente, abre a porta devagar e, pela fresta da porta já percebe uma movimentação estranha no recinto. O som de salto alto impactando no piso do quarto é um sinal evidente de alerta.

De mansinho, na ponta dos pés, sem fazer qualquer tipo de barulho ele entra no banheiro e, realizando o único movimento rápido desde que desligara o carro, tranca a porta e enfia-se embaixo do chuveiro, sem a menor intenção de sair de lá antes de duas horas se passarem. Existe uma esperança, ainda que remota, de que a demora no banho desanime a intenção da outra parte em sair de casa. Pois é certo que qualquer apelo sobre o quão importante é permanecerem um pouco mais em casa, no cantinho que é só deles, evitando a violência na rua, os riscos que permeiam a cidade àquele horário, o maravilhoso programa de televisão que irá passar, tudo isso será em vão. Só lhe resta tentar vencer pelo cansaço.

Ao final do banho, procura no cesto de roupa suja a indumentária que vestiu no último domingo, no qual encheu a parede do apartamento de furos para pendurar quadros que sequer foram comprados. Achou. Coloca aquele calção de time de futebol velho, com um furo na bunda. A camisa do “Ligue 21” toda esgarçada. A Ana Paula Arósio toda torta, coitada...

Saiu do banheiro. Olhou para direita, nada. Para esquerda, livre. Saiu correndo, se atirou no sofá, pegou o controle remoto, ligou a televisão e pronto. Seu exílio dentro da própria casa. Ligou a TV. No futebol, é claro. Na eventualidade de um embate com a outra parte, o futebol diminui a possibilidade de diálogo.

Ataque número 01

Ela passa pisando forte por trás do sofá onde ele está submergido. Dá uma pequena paradinha atrás dele, e respira tão profundamente que é capaz de alterar a rota de uma corrente de ventos vinda da Argentina. Ele sente o calafrio da presença dela atrás de si. Mas não se mexe. A inércia, em alguns casos, é uma excelente forma de defesa. Faz de conta que não é com ele e aumenta o volume da televisão. Ela sai pisando ainda mais forte em direção a cozinha.

Ataque número 02

É de conhecimento geral que as mulheres são infinitamente mais detalhistas e cuidadosas do que os homens, principalmente na cozinha, local onde a maior parte deles sente-se tão a vontade quanto um pingüim na Praia da Joaquina. Contudo, neste dia tudo vai cair do armário. No afã inútil de chamar a atenção daquele corpo estatelado que agride o sofá indefeso, ela deixa cair alguns utensílios do casal. Somente aqueles cujo som, ao impactar no chão, resulte uma quantidade suficiente de decibéis capaz de acordar o bebê do vizinho que mora no apartamento localizado três andares abaixo. Ele fica com a sensação temerosa de ter sua cozinha, equipada com tanto sacrifício, destruída por um ataque talibã. Mas ele não se lembra de ter ouvido falar sobre alguma facção talibã por aquelas redondezas. Fica no impasse: “olho ou não olho, olho ou não olho, olho ou não olho...” NÃO OLHE! Estabelecer contato visual com a fera pode ser fatal! Ele aumenta mais um pouco a televisão para fugir do choro do bebê do vizinho.

Ataque número 03

Novamente ela passará por trás do sofá que serve de trincheira para aquele corpo covarde, escondido entre as almofadas. Agora pisando tão forte que é capaz de provocar verdadeiros abalos sísmicos dentro de casa. Nova paradinha, nova respirada, desta vez tão profunda que uma corrente de ar quente oriunda do oceano Atlântico com destino ao litoral Brasileiro esfria, têm seu itinerário alterado, e volta correndo para as bandas de Cabo Verde, se cagando de medo. Ela dá uma paradinha e fala com os dentes semi-cerrados: “uh, merda!”. Ele começa a tremer, seus olhos enchem d’água, sente um nó apertado sufocar-lhe a garganta e pensa: “cacete, ela vai me pegar, eu sei que vai...”

Ataque número 04

O ataque final! Ela tira os sapatos, abre os botões superiores da sua blusa, deixando seu bem formado colo levemente a mostra, vem caminhando devagar, senta-se ao lado dele no sofá, envolve os seus dedos entre os parcos fios de cabelo que ainda restam na cabeça dele. Ele, totalmente fragilizado e imbecilizado com aquele simples gesto, vira para ela com um sorriso estúpido e diz sorrindo: “oi... ‘Mô’”. Ela, sabendo do impacto que aquele simples gesto provoca naquele ser sub-racional e totalmente dominado pelas vontades do seu pinto, diz com a voz doce e provocativa: “oooooiiii... Bebê”. Nisto, ela percebe que o idiota está entregue, basta concluir o serviço:

_Sabe o que é... Chêro? Eu tô com uma fominha, mas uma fome que você não tem idéia. Vamos sair pra comer alguma coisa? Mas se você não quiser, não tem problema.

Perceba o veneno que contém esta frase. Ele, agora ciente de que fora vítima de uma armadilha, tenta esquivar-se de alguma maneira:

_Mas benzinho, eu ainda vou ter que ir lá no armário, escolher uma roupa, me trocar, vai dar o maior trabalho...

Em vão!

_Já está tudo passadinho em cima da cama, meu bem. É só você ir lá e se trocar.

Ele pensa em alguma saída, tenta encontrar argumentos, justificativas, motivos suficientemente convincentes para fazê-la ficar em casa, mas a única coisa que vem a sua mente é: FODEU!


Recapitulando: ele não estava com fome, ele queria ficar em casa descansando.

Ela estava com fome, e queria sair para comer, pois bem...

O cavalheiro troca de roupa, se arruma para sair com a sua amada, dirige-se até o carro, abre a porta para que sua dama adentre no automóvel, dá a volta, posiciona-se no acento do motorista e faz a fatídica pergunta:

_Então meu amor, o que você quer comer?

E aí vem a trágica resposta (que todas responderão da mesma maneira!):

_Não sei... Tanto faz... Você escolhe...

Ele respira fundo, conta até dez, e vai às sugestões:

_Que tal uma pizza?

_Ah não, pizza não!

_O que então, meu amor?

_Ah, sei lá, qualquer coisa, pode escolher...

_Um cachorro quente?

_Ah querido, cachorro quente não, né?! Por favor!

_O que então, querida?

_Ai amor, não sei, qualquer coisa, pode escolher.

O pior é que, se ele cai na idiotice de escolher, e vai para um lugar que ele está com vontade de comer, ela passará o resto da noite com os braços cruzados, com um bico enorme, de cara fechada e, quando ele perguntar inocentemente:

_O que houve meu amor?

_NADA, NÃO FOI NADA!

Nisto, ele (o imbecil), agrava mais a situação perguntando:

_Foi alguma coisa que eu fiz?

Pronto, agora ela inclina o corpo na direção dele, como o dedo indicador em riste, apontando para o nariz daquele pobre coitado, e diz com a face vermelha de raiva:

_VOCÊ SABE! NÃO SE FAÇA DE ENGRAÇADINHO QUE VOCÊ SABE!

E o infeliz não faz a mínima idéia do que está acontecendo...

Mas existe outra saída. Ao invés de ir para um lugar decidido por ele, existe a alternativa de apresentar à ela algumas propostas de programas gastronômicos:

_Bem, meu amor, nós podemos ir à uma pizzaria, um café colonial, uma churrascaria, um restaurante de comida japonesa, você escolhe...

Mas o idiota não para por aí, ele vai dar a última opção, que certamente acabará em definitivo com a noite que poderia ser romântica:

_...ou ainda, benzinho, podemos ir lá na casa da mamãe!

Pronto. Falou da sogra.

Ela começa a ser dominada por uma força satânica enfurecedora, e ataca verbalmente o estúpido:

_MAS TU ÉS UM GROSSO MESMO! SÓ QUER SABER DAQUELA BRUXA DA TUA MÃE! PEGA AQUELA VELHA GORDA E ENFIA ELA NO MEIO DO TEU ...

Sai do carro, bate a porta, sobe para o apartamento chorando, se tranca no quarto, liga para a mãe e desabafa aos prantos, entre soluços:

_Eu... eu... eu... Eu não devia ter casado com esse grosso... MALDITO!

Moral da história para ela:

Quando ele chegar em casa, cumprir o ritual descrito um pouco mais acima, e se atirar no sofá, pule as etapas de bater pé, respirar fundo, derrubar utensílios. É muito fácil resolver esta questão. Chegue atrás dele, no sofá, e diga com a voz bem doce:

_Oooooiiiii amor?! Você quer uma cervejinha?

Você pode estar pensando assim: “Ah, pois sim! Só o que me falta, eu levar cervejinha para o vagabundo estatelado no sofá!” Calma minha querida, não termina por aí.
Ele vai ficar totalmente incrédulo, sem saber se está sonhando ou acordado, após ouvir a pergunta:

_Cerveja??? Sim, sim, é claro que eu quero meu amor!

Agora é a hora do seu tiro de misericórdia:

_Então vamos sair para tomar uma!

Pronto. Problema resolvido. O seu, e o dele.

Moral da história para ele:

Meu amigo, aceite sua condição. Quem manda é ela!
Fica até uma dica: quando você chegar em casa, e perceber que ela está de ovo virado, com a cara amarrada, louca por um bate boca, antes de começar a discussão, assuma sua culpa:

_Desculpa meu amor, eu sei que eu errei, mas prometo que não vai acontecer de novo.

_Ah meu amor... Que bom que você reconheceu. Mas não faz de novo, tá bom?

Ela vai ficar surpresa por você ter reconhecido o seu erro, ainda que ela não faça a mínima idéia de qual erro foi esse, e muito menos você. A questão é só mostrar que quem manda é ela, então aceite.

Quanto mais cedo o homem aceita esta condição, mais sofrimento será evitado. Conheço pessoas que passaram a vida inteira tentando convencer a si mesmos de que quem mandava em casa eram eles, pobrezinhos. E ainda afirmavam categóricos:

_Na minha casa quem manda sou eu, tá pensando o quê? Essa história de que a mulher manda é para homem pau mandado, não para mim.

_É isso aí parceiro, vamos tomar mais uma em homenagem a tua autoridade!

_Não, não. Ficou maluco? Já tenho que ir pra casa que daqui a pouco ela chega. E se ela perceber que eu bebi, já viu né? Vou ter que dormir no sofá de novo...

Um comentário:

Clarice disse...

Experiência própria Mattos?!


Ótimo post!