domingo, 18 de julho de 2010

Olhos Castanhos


No começo, há uns poucos meses atrás, tua presença era como fumaça de cigarro. Estranha, difusa, mas bonito de ver e ficar imaginando a forma que vai tomar. Nunca dominei a fumaça do meu cigarro, sempre quis aprender a fazer aqueles círculos iguais aos que a Juliette Lewis faz em “Assassinos por Natureza”, mas nunca consegui. E olha que já fumei muito na minha vida. Você ficaria horrorizado, se soubesse o tanto que fumei, o tanto que bebi. Mas agora passou. E também agora, tu já não me és fumaça disforme, viraste tinta de caneta gravada na minha pele com agulha e ponta de compasso.

Talvez isso soe estranho, mas é uma declaração de amor. Nunca fui muito boa com declarações de amor e todas essas sentimentalidades que as pessoas mais sutis que eu dominam e fazem parecer fácil. Para mim nunca foi fácil, mas quando te vejo sinto necessidade da declaração, quero te deixar claro o que significas pra mim, mesmo que seja através de palavras inadequadas.

Agora és a minha tatuagem de cadeia, mesmo que a tinta desbote, fique fraca e um dia até se vá, a experiência de te ter e ser tua, não existe cirurgia a laser que tire de mim, até por que a ciência, mesmo as espíritas, não têm a capacidade de interferir naquilo que se registra na alma. E tuas marcas me são tão profundas, que me fazem ter certeza de que, se te marcar com um décimo da intensidade com que já estou marcada por ti, mesmo distantes, estaremos sempre juntos. Eu estarei sempre contigo, mesmo que um dia, por uma dessas tantas ingerências da vida, acabemos por nos afastar, ainda assim estarei contigo.

Já experimentei o prazer de diversas maneiras, com diversas pessoas, prazeres lícitos, outros nem tanto, mas nenhum se assemelha ao prazer que me proporcionas.

É uma espécie de diferente de deleite, rara, única, sentir o teu corpo em cima do meu, teus lábios no meu corpo, nos meus seios. Homem nenhum é capaz de se aproximar dessa paz que as tuas mãos no meu corpo me proporcionam. Ninguém foi capaz, nem por uma ínfima fração de segundo, de me olhar da maneira que me olhas. Tu não precisas dizer nada, o teu olhar já vale por milênios de informação. Nada me diz mais que saber que posso, vez ou outra, te fazer se sentir acolhido, tanto quanto o teu olhar me faz sentir que estar contigo é a coisa certa a ser feita. A única coisa realmente certa a ser feita.

Olhou fundo para os olhos castanhos dele, castanhos iguais aos seus, importante que se diga, e encheu seus pulmões daquele ar novo que a vida agora lhe proporcionava. João Gabriel parecia compreender cada palavra sussurrada, certamente que compreendia e, mais do que isso, no seu silêncio cheirando a talco, disse após cada frase, Eu também.

Beijou-lhe com todo o carinho que só um beijo materno abriga, e delicadamente deitou-o ao seu lado.

Deitou-se também, com os olhos embargados de amor, sentindo-se a mais plena das mulheres, e sorriu lembrando das pessoas que dizem por aí que não existe amor eterno, perfeito, inteiro e essas coisas todas que os poetas nos ensinaram desde sempre que são a razão pela qual devemos viver. Talvez as pessoas não saibam, mas esse amor existe.

Ela sabe que sim e, pelo menos naquele instante, ninguém no mundo era tão sabedor desta irrefutável verdade quanto ela.

Olhou uma vez mais para João Gabriel, agora dormindo ao seu lado, acariciou-lhe as pequenas mãozinhas unidas como quem reza uma dessas doces orações infantis, e dormiu ao lado do verdadeiro homem da sua vida, um sono tão bom, quanto a linda vida que desde então viveram juntos.


Para Xixa, Peri e João Gabriel!

Um comentário:

Anônimo disse...

Ah, David, que coisa mais gostosa, é bem assim que imagino meu bebezinho.
Linda sua historia, confortante!

Beijão grande e muitíssimo obrigada, vai ser impresso e colocado no diário do João Gabriel!

Beijão, Xixa!