segunda-feira, 25 de abril de 2011

Afrodisíaco


Depois de muito flerte, de muito cortejar a mulher que há tempos amava, conseguiu finalmente convencê-la a dar-lhe uma chance.

Aceitou sair para jantar e, quem sabe, depois disso uma esticadinha no motel.

Ficou eufórico, ela era perfeita, não conseguia acreditar que uma criatura fosse capaz de reunir tantas virtudes, ser tão inteligente e, como se isso tudo já não fosse o suficiente, ainda ser linda e obscenamente gostosa.

Sentia-se o mais sortudo dos mortais, ele que sempre se contentara com as desajeitadas, as mais feinhas, uma vez que também não era lá grande coisa, não só tivera coragem para investir na mais linda das mulheres já nascidas, como tivera êxito na sua investida.

Agora que a convencera, precisaria se preparar para oferecer à ela a mais fantástica, a mais prazerosa de todas as noites que já tivera.

Orgulhava-se do fato de nunca ter falhado na hora H, mas preferiu precaver-se.

No dia marcado para o encontro, tão logo acordou já iniciou sua dieta matadora. No café da manhã, substituiu os saudáveis cereais de todo dia por uma bela tigela de amendoins, e o resto do dia passou a base de catuaba e ovos de codorna, muito ovo de codorna. A caixa do supermercado ficou assustada com a quantidade de conservas que ele comprou logo cedo, mas era mantimento para o dia inteiro, aquela noite tinha que ser perfeita!

O jantar foi perfeito, e ela conseguiu ficar ainda mais linda do que normalmente já era, ainda mais atraente do que normalmente já era, ainda mais gostosa do que normalmente já era.

Depois de um belo salmão acompanhado por duas garrafas de vinho, ela tomou a iniciativa e disse, Vamos, sei que vai valer a pena!

Só em ouvir aquela voz rouca dizendo que sim, já sentiu os efeitos afrodisíacos dos ovos de codorna indicando que naquela noite, ele seria o melhor dos amantes que uma mulher poderia ter.

Meia luz, música romântica, peças de roupa que começavam a cair como fossem frutas maduras que já não têm mais por que permanecer nos galhos das suas árvores, e ele em ponto de bala. Por mais que se reconhecesse como um bom amante, alguém que sabia o que fazer para que as mulheres tivessem prazer na sua companhia, não lembrava de quando foi a última vez que tivera uma ereção daquelas. Sentia-se no ápice do vigor hormonal dos seus já logínquos dezoito anos.

Contudo, entretanto, porém e todavia, foi no momento em que se aproximou para enfim juntar-se carnalmente à ela, a mais linda das mulheres já nascidas, que aconteceu o inesperado.

Ele ficou corado, vermelho, roxo de vergonha.

Ela o olhou com estranheza, com contrariedade.

Isso nunca me aconteceu antes, tentou justificar-se.

Você me trouxe até aqui para isso?

É sério, isso nunca me aconteceu antes.

Vou embora.

Não, espere, por favor, já, já isso passa, prometo.

Francamente, não esperava isso de você.

É sério, juro por tudo o que é mais sagrado, isso nunca me aconteceu antes.

Adeus.

E foi embora deixando-o lá na beira da cama redonda do motel, inconsolável, na agonia da ereção adolescente que não abaixava de jeito nenhum, e com uma crise de gases que tornara o ar insuportável.