sexta-feira, 15 de abril de 2011

Ah, meu menino...


Ah, meu menino, você não sabe como eu lamento.

Sinto muito, muito mesmo por vocês homens demorarem tanto para ficarem um pouquinho mais espertos. Ah, se vocês amadurecessem na mesma idade que nós, mulheres. Você seria mais feliz, garanto.

E nem seria necessário muito esforço para que você fosse mais feliz, bastaria buscar um drink para mim de vez em quando, acender o meu cigarro, uma gentilezazinha aqui, outra ali, nada demais, e você seria muito mais feliz do que vai ser. Nada disso me impressiona, na verdade, mas me satisfaz. Gosto de fazer vocês, meninos, pensarem que são gentlemans. Gosto de fazer crianças como você pensarem que são cavalheiros, que já são homens feitos. Bobinhos.

Com um pouquinho mais de tempo, teria lhe ensinado que essa fábulazinha do amor eterno não passa disso, uma fábulazinha besta e ponto final. Só os fracos amam. Amar nos afasta do que importa, do que é realmente bom. Mesmo que não seja eu quem lhe ensine isso, espero que você não demore muito para aprender. Quanto mais cedo você assimilar esta que deve ser a única verdade absoluta, mais chance você terá de ter algum tipo de felicidade. Amar traz muita ansiedade, e nada que é feito com pressa é realmente bom. Tenha calma, não jure nada enquanto estiver amando, isso só vai lhe trazer dor de cabeça algum tempinho mais tarde.

Você devia ler a bíblia, lá está escrito que você deve amar o próximo, e existe muita gente próxima a você para que você escolha amar uma só. Isso chega a ser pecado. Pecado mortal, se duvidar. Você devia ter seguido o exemplo de Deus, que embora tenha comido uma só, passa toda a eternidade dizendo que ama todo mundo. E você, meu menino, bonitinho do jeito que é, não precisaria passar a vida inteira comendo uma só. Eu não me importaria com seus casinhos. Muito provavelmente, até os financiaria e deixaria você acreditar que jamais desconfiei de nada. Você teria certeza que eu acreditaria que o dinheiro que me pediria era realmente para um trabalho da faculdade, para Xerox, para um lanche, para uma conta atrasada, para ajudar sua mãe doente, enfim, eu fingiria tão bem acreditar na sua palavra, que você morreria de culpa por estar enganando uma pessoa tão boa quanto eu seria. Mas esqueceria rapidinho da sua culpa cada vez que estivesse usando o dinheiro da sua mãe doente para pagar a suíte máster de um motel qualquer, para impressionar as suas menininhas.

Eu não ligaria, de verdade. Não liguei até agora, não seria a partir de agora que passaria a ligar.

Não pense que fiquei triste por você ter me trocado pela sua namoradinha. Não pense que eu fui pega de surpresa, você não é tão esperto quanto pensa que é, desculpe lhe dizer isso assim, tão sem cuidado. Eu já sabia dela faz tempo, até me divertia com a sua culpa, com o quanto você me tratava bem cada vez que passava a tarde na companhia dela. Achava bem charmosinha, a sua culpa.

Achei bonitinha a cena, você chorando, dizendo que gostava muito de mim, mas que estava apaixonado por ela, e que preferiria passar fome ao lado da mulher que ama, do que ter dinheiro e continuar a enganar uma pessoa tão boa quanto eu por consideração, por não querer me fazer sofrer.

Você acredita realmente que ela vai ficar feliz com a sua surpresa?

Você acredita realmente que ela vai ficar satisfeita em saber que você me deixou para ficar com ela?

Você se esqueceu de dois detalhes importantíssimo, eu era a galinha dos ovos de ouro. Muito ouro. E ela é mulher, mulher amadurece mais rápido do que vocês, homens. Mulheres se tornam espertas muito mais cedo do que vocês, homens.

Não queria ser eu a pessoa a jogar na sua cara a sua bela e jovial estupidez, mas se foi este o papel que me coube, faço questão de cumpri-lo. Não fujo das minhas responsabilidades.

Acontece que ela é casada, você sempre soube disso. Talvez, para continuar na mordomia que você proporcionava a ela através de mim, ela tenha até lhe dito algumas vezes que tudo o que mais desejava era jogar tudo para o alto para ficar com você, para viver esse amor lindo que ela deve ter jurado um punhado de vezes sentir.

Acontece que ela realmente ama o marido, e não vai deixá-lo por vontade própria, ainda mais pela sua. Você trazia pequenos luxos que o marido não proporcionava, além de ser bem bonitinho. Mas, amar, amar de verdade, ela ama o marido.

Acontece que ela trabalha para mim, e o marido dela também.

Acontece que o marido dela é um pouquinho mais velho do que você e, embora não seja tão bonitinho, é um pouquinho mais esperto. E por já ter feito a jura idiota que se faz quando se ama, já está bastante consciente de que amar não leva a nenhum lugar muito interessante.

Acontece que eu já tinha percebido há um bom tempo que você tomaria esta atitude estúpida de parar de servir o meu drink, de parar de acender o meu cigarro, de parar de me fazer uma gentilezazinha aqui, outra ali, tudo para ficar com ela, a espertinha gostosinha.

Acontece que, um pouco antes de você vir declamar para mim esse dramalhão mexicano mais brega do que a cor amarela da tintura de cabelo da sua gostosinha espertinha, eu já estava comendo o marido dela.

Acontece que, quando você chegar para ela e contar que rompeu comigo para viver o amor bobinho que você agora acredita eterno, o maridinho dela já vai ter terminado o casamento, ela estará inconsolável, com raiva do mundo, e mais raiva ainda de você. Pois na sub-esperteza que ela julga ter, vai ficar se culpando por não ter valorizado o homem maravilhoso que tinha ao seu lado, para se dedicar a uma aventurazinha frívola e inconseqüente com um playboyzinho qualquer. Você, no caso.

Acontece que, sem o maridinho e sem o meu dinheiro, ela lhe mandará à santa puta que lhe pariu. Desculpe lhe dizer isso assim, tão sem cuidado. Mas se foi este o papel que me coube, faço questão de cumpri-lo. Não fujo das minhas responsabilidades.

Acontece que ele é um pouquinho mais esperto que você e, provavelmente, não se importará em passar vários anos me servindo drinks, acendendo meu cigarro, me fazendo uma gentilezazinha aqui, outra ali para poder se divertir com o meu dinheiro. Até que eu me canse dele, tenho certeza que ele não se importará.

Acontece que, quando você voltar até mim arrependido, já não me interessará. Você já não terá o charme que me apetecia, eu lamento.

Ah, meu menino, você não sabe como eu lamento.

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