quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O Travesseiro



Eu me molhava inteira olhando aqueles homenzinhos lindos, fortinhos, fardadinhos, seus uniformes cáqui, verdes, camuflados, querendo ser o país inimigo a ser invadido por toda a tropa, querendo ser a prisioneira de guerra a ser judiada, usada, abusada, que enfiassem em meus buracos todos tudo aquilo que gostariam de enfiar no cu do presidente do país inimigo se tivessem a oportunidade de capturá-lo. Mas os homenzinhos eram de plástico, abandonados no chão por meu irmão descuidado. Como eu queria que fossem reais os homenzinhos, todos eles, uma infantaria inteira, que chamassem as tropas aliadas para lhes ajudar a me vilipendiar, ah, como eu queria...

E me desfazia em suores noturnos, quase fazendo sangrar os lábios de tanto mordê-los, comprimindo o pobre travesseiro entre as pernas com tanta força que quase doía, sentindo ainda mais prazer nas vezes em que de fato doía. Descobri a duras penas que os travesseiros são broxas e que embora seja até divertido brincar com meninas, assim como os travesseiros, elas não me satisfazem. O pastel que sou, precisa de recheio. Recheio de carne.

No quarto ao lado ouvia meus pais gemendo abafado, com medo tanto de se fazerem ouvir, quanto de crescerem e se multiplicarem uma terceira vez. Eu gemia ainda mais abafado que eles, lembrando das minhas amigas que diziam ter nojo de imaginar seus pais transando, enquanto eu grudava o ouvido na parede para tentar descobrir se meu pai xingava minha mãe na hora do sexo, se despida da vestimenta carola e dos temores da fúria do seu deus, minha mãe se transformava numa dominadora insaciável, de algum deles eu haveria de ter herdado essa chama que desde pequena me assa sem jamais consumir. No dia seguinte discutiriam no café novamente, minha mãe querendo que meu irmão fosse à catequese e meu pai dizendo que não sujeitaria seu filho homem à ameaça de algum padre pedófilo comedor de meninos inocentes. Por que será que os padres só comem menininhos? Eu pensava cheia de ciúmes e inveja.

Olhava meu pequeno irmão dormindo como um anjinho na cama ao meu lado, torcendo para que ele se tornasse adolescente antes da noite terminar e que eu o flagrasse se masturbando escondido sob o lençol. Quando ele me olhasse assustado pelo flagra indisfarçável, eu sorriria com cara de safada, colocaria meu indicador sobre os seus lábios emoldurados pela penugem fina que os meninos relutam em tirar para parecerem barbados precocemente, e com minha outra mão o ajudaria a terminar o que havia começado. Ajudaria com a boca, se ele assim quisesse. Admirava-o com o velho travesseiro sufocado entre minhas pernas nuas e lisas, determinada a ensiná-lo eu mesma a arte da punheta, caso ele fosse um desses adolescentes abobados que demoram a perceber que é melhor ser amiguinho das meninas do que ficar ao lado de outros adolescentes abobados falando mal daquelas que lhe dariam as melhores lembranças que teriam pelo resto da vida.

E me revirava nos lençóis encharcados pelo meu suor e minha umidade, pensando num modo de chegar ao colégio no dia seguinte e carregar algum menino da minha turma, qualquer um deles, para trás do ginásio só para que eu pudesse lhes massagear os pequenos pauzinhos mesmo que por cima das calças do uniforme. Eu adorava aquelas calças de tecido molinho, soltinho, que delatava mesmo quando os meninos eram ainda muito novos, quais tinham um bom potencial. Com um pouco de sorte, ele deixaria até eu colocar a mão por dentro das suas calças, e só tiraria de lá quando ela estivesse totalmente melada, lambuzada. Eu sorriria e sairia em seguida, sem dizer nada, como se estivesse desesperada por uma pia para lavar as mãos o quanto antes, mas assim que ele já não pudesse me ver, lamberia o melado que trazia nas mãos, degustaria o sabor, sentiria devagar o cheiro forte, e depois de chupar meus dedos, lamber a palma da minha mão, não a lavaria para que, durante as aulas, eu pudesse cheirá-las e sentir novamente o gosto amargo nas papilas da minha língua adolescente. Não me importaria se ele contasse para todos os seus amigos da escola. Que todos os meninos soubessem, tão melhor assim. Chamar-me-iam de vagabunda, ficaria taxada na escola, mas não me importaria. Outros mais tentariam o mesmo, não negaria a nenhum. Que viessem todos, já sabia desde muito cedo para o que fui feita. Fui feita pra eles, todos eles e tantos outros mais.

E o travesseiro entre minhas pernas, o gemido abafado dos meus pais no quarto vizinho, o ciúme dos padres que preferem os menininhos, o ronco inocente do meu irmão na cama ao lado da minha, a lembrança dos meninos da escola vestindo suas calças de tecido molinho, seus shorts de educação física, aquela febre que me consumia em orgasmos curtos e incessantes...

Acabou.

O quê?

Sua sessão, já deu o horário. Na quinta-feira continuamos.

Nossa, passou rápido.

Hoje você conseguiu se abrir, conseguiu externar muita coisa da sua adolescência que provavelmente jamais tenha conseguido pensar sequer consigo mesma.

É verdade.

Até quinta-feira, então?

Até quinta-feira.

Naquele dia, quando a psicóloga chegou a sua casa mais tarde do que de costume, seus filhos já dormiam. 

Seu marido tomava banho na suíte do casal.

Foi ao quarto do pequeno, beijou-lhe a testa sem acordá-lo.

Quando entrou no quarto da filha, seis anos mais velha que o menino, a viu dormindo com o travesseiro entre as pernas.

Voltou à suíte do casal, pegou a arma que o marido guardava na gaveta do criado mudo, retornou ao quarto da filha, sacudiu-a para que acordasse. Quando ela abriu os olhos sonolentos, ainda tentando identificar quem e por que a acordara, reconheceu a voz materna sussurrando com os dentes semicerrados: “Vagabunda!”, em seguida, e isso a menina já sequer ouviu, disparou seis vezes contra a filha. 

Na quinta-feira não houve sessão.

3 comentários:

Gabriel Felipe Jacomel disse...

lindo. atordoante.

Bagual disse...

Entrei de bobeira. Nunca imaginaria que você postaria dois textos na mesma semana. Eis que fui positivamente surpreso e vi mais um texto. E ele é ótimo.

Bruna Rafaella disse...

Adorei!
tá bom, eu posso usar outras palavras além disso!!

Sensacional!

Beijoss