terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Melhor assim



Quando Tatiana descobriu que Leonardo era casado, quis morrer.

Não, não, quis matar!

Não, não, quis acabar com a felicidade do casamento de Leonardo, Desgraçado! Pensou Tatiana.

Soube que não era a trabalho a viagem que faria naquela semana, mas uma segunda lua de mel. 

Desgraçado! Pensou Tatiana.

No intuito de acabar com aquela felicidade nojenta que deveria pertencer à ela, e não à outra, que não chegava a ser a outra, Tatiana descobriu o roteiro da viagem e resolveu embarcar também. Precisava mesmo de umas férias, oras.

Preciso ir ao banheiro, disse a esposa após o último gole que dera no vinho que dividia com Leonardo no restaurante de cozinha internacional, levantou-se e rumou ao toillet.

Tatiana tocou no ombro de Leonardo que, assustado, ficou sem ação. Abaixou-se, beijou-lhe levemente os lábios e disse, Preciso retocar a maquiagem, quem sabe tua esposa não tem um batom para me emprestar, e seguiu também para o banheiro.

Leonardo ficou atônito, estático.

Até que um tremor que parecia vindo de dentro dele, fez com que tudo ao redor viesse ao chão, incluindo ele próprio. Deve ser desmaio, isso, pensou Leonardo, mas estranhava manter-se consciente. O mundo, além daquele seu, já desmoronado desde o toque dos lábios de Tatiana nos seus, parecia-lhe com espantosa realidade desmoronar também.

Horas mais tarde, depois de socorrido e envolto num cobertor, ouviu alguém comentar que o comandante do navio havia bebido mais do que devia na companhia de uma loira maravilhosa e que, para impressionar a pequena, tentou uma manobra arriscada aproximando o gigantesco transatlântico da costa, mais do que a prudência e as tantas cartas náuticas sugeriam-lhe aproximar.

Um militar de nome italiano, imbuído da infeliz tarefa de portar e transmitir más notícias, reuniu aqueles que já estavam em terra firme para, solenemente, divulgar o nome das seis infelizes almas cujo óbito já havia sido confirmado.

Ao ouvir o nome da esposa, os olhos de Leonardo inundaram-se tal qual o casco rompido do transatlântico. Ao ouvir o nome da amante, desabou sobre ele o pranto, com força superior à de todos os oceanos represados por décadas e libertos de uma só vez.

Quando uma senhora afagou-lhe os cabelos dizendo que entendia a dor que lhe aplacava, pois perdera o marido há alguns anos e ainda não havia encontrado modo de esquecê-lo, Leonardo olhou para a mulher de cabelos brancos, sorriu, e disse:

_Que nada, melhor assim!

Um comentário:

Bruna Rafaella disse...

Olha só, que filho da mãe!
sempre parece que a mulher é o Problema né?