quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O Amor segundo a Música Sertaneja




Saí do restaurante apressado pra voltar ao escritório antes que o chefe voltasse do seu almoço certamente mais caro e melhor do que o meu, e me pedisse o relatório atrasado desde segunda. No trajeto, além da sensação de ter comido mais do que devia e da consciência de que aquele pirão de feijão me acompanharia pelo resto da tarde, tanto na sonolência que já me cutucava, quanto no aperto que me obrigaria passar uns bons minutos terminando de ler a reportagem da Superinteressante que explicava por que a cor vermelha não se mistura com a branca nas pastas de dente bicolores, me acompanhava também uma incomoda couve, acompanhamento do pirão de feijão, que se alojara entre meus dentes do fundo da boca, e parecia determinada em não sair de lá nunca mais. Foi neste ponto que lembrei de você.

Lembrei de tudo entre nós, do amor vivido, daquele fio de cabelo não muito comprido, mas depois de estar grudado no nosso suor, se alojou entre meus dentes e só me dei conta quando saí da tua casa e, no ônibus, tentava em vão tirá-lo do espaço que reservava com esmero às cáries que me acompanham desde muito novo.

É que, você sabe, quando a gente ama, qualquer coisa serve para relembrar.

Para minha desgraça de folhetim mexicano, não sobrou um restinho do seu perfume num frasco qualquer sobre a minha penteadeira. Pior, eu nem tenho penteadeira. Mas você tem, e talvez lá haja um frasco com um restinho do seu perfume que só de chegar perto me fazia pulsar da cintura pra baixo.

Sabe, quanto tempo não te vejo, cada vez você distante, por quê? Eu pensei que fosse fácil, esquecer seu jeito frágil de se dar sem receber... Como você dava... Por que a puta da saudade não vai aí e te convence em aparecer? Talvez, se você aparecesse, fizesse valer a merda do meu viver.

Fala pra mim, diz a verdade, o que mudou assim tão de repente? Porra, partir até que tudo bem, mas precisava tanta indiferença? É a sua indiferença que me mata!

Você podia ao menos ter tido a dignidade de me mandar uma carta pedindo para que eu desaparecesse, que eu nunca mais te procurasse e pra sempre te esquecesse.

Eu tentaria fazer tua vontade, atender tua vontade, mesmo sabendo que tentar te esquecer seria bobagem, tempo predido...

Só queria que você me explicasse o que fazer com essa dor que me invade! Queria ir aí e matar você, mas o que tem me matado é o ciúme que sinto por imaginar que já há outro aí na tua cama, olhando para tua penteadeira com aquele frasco de perfume que abriga uma sobra do teu perfume que me faz pulsar da cintura pra baixo.

Porra, a gente morou e cresceu na mesma rua, caralho! Como se fôssemos o céu e a lua dividindo o mesmo céu, cacete!

Agora fico aqui sentindo na boca o sabor amargo do ciúme daquele cara que eu nem sei se existe, o tempo passando e eu aqui calado, sem conseguir tirar você do pensamento, porra...

Fico sozinho pensando que deveria ter confessado que estava apaixonado, mas imaginando que ainda receberei um convite do seu casamento, com letras douradas num papel bonito, e que no verso, lá no cantinho, vai estar escrito que você está casando, mas o grande amor da sua vida sou eu.

Mas você partiu e eu fiquei. Nem adeus eu disse. Acho que nunca aprendi a dizer adeus. Não sei se sei guardar a minha dor. E eu tinha tanto pra dizer... Mas só o meu silêncio falou por mim. Mas o silêncio é mudo, porra! Disse porra nenhuma, esse silêncio de merda. E não me venha com esse papinho de que amores vem e vão, são aves de verão, já que você me deixou, a última coisa que eu quero é que você seja então feliz, pois por mais que a porra do inverno passe e o verão venha cheio de mulheres bronzeadas, nada apaga essa merda de cicatriz, ferida aberta do caralho!

Se você voltasse, eu cantaria Jhon Michael Montgomery em versão sertaneja, eu juro!

Você era meu motivo pra sorrir, o caminho certo pra seguir, meu verdadeiro amor.

Eu juraria, por mim mesmo, por deus, por meus pais. Cantaria de verdade, eu juro!

Agora estou aqui sozinho, no escuro, e lá fora as luzes da cidade acesas, iluminando tua foto sobre a mesa, e ando bebendo tanto que volta e meia te encontro nos goles que dou nas minhas várias cervejas. Pior é que eu sei que você não liga por eu não te ligar. E agora eu choro como sei que, se um dia você voltar, eu vou chorar. Mas você não volta, e fico aqui conversando com minha tristeza...

Chuva no telhado, vento no portão, e eu aqui nessa solidão. Doido pra sentir seu cheiro, doido pra sentir seu gosto, louco pra beijar seu beijo, matar a saudade desse meu desejo...

Coração tá reclamando, tô aqui sozinho, tô te esperando...

Queria que você chegasse com a roupa encharcada da chuva lá de fora para eu poder mandar a saudade sair, ser tua toalha e teu cobertor e visse cair sobre nós um temporal de amor!

Vê se não demora muito, coração tá reclamando...

Tô aqui sozinho, tô te esperando...

Mas você não vem e eu ando sozinho pela rua, falo com as estrelas e com a lua, deito na porra do banco da praça e adormeço pensando em você.

Aí eu sonho. No meu sonho, você veio provocante, me deu um beijo doce e me abraçou, mas na hora H, no ponto alto do nosso amor, o filho da puta do guarda me acordou.

Disse pra ele que não sou vagabundo, que não sou delinqüente, disse que sou só um cara carente que dormiu na praça pensando em você. Pedi para que ele fosse meu amigo, aceitei que me prendesse, até que me batesse, mas que só não me deixasse ficar sem você. Ele riu da minha cara e eu fiquei lá, na porra do banco da praça. Pensando em você...

Não sei dizer o que mudou, mas nada está igual, se borboletas sempre voltam por que você não se dá conta que o seu jardim sou eu????

Não me diga que não tem graça amar assim, foi tudo tão bonito...

Mas, de verdade, estou com raiva de você!

Tenho tanto para oferecer, e você nem aí!

Sabe o que me dá vontade?

Dá vontade de fazer um leilão, saber quem dá mais pelo meu coração.

Queria que alguém desabasse sobre mim como um meteoro da paixão!

Mas, no meu leilão, eu preferiria que a vencedora fosse você...

Por favor, me ajude a voltar a viver...

Porra, te daria o céu, te daria o mar, já é teu meu coração, que merda, era tão bom poder te amar...

Depois que te conheci fui mais feliz, você sempre se encaixou tão perfeitamente em mim!

Agora você é só um raio de saudade...

Se era um sonho, não precisava ter me acordado...

Me dê mais uma chance, só mais um chance...

Porra, assim você me mata...

Você não vai se arrepender, só mais uma vez e eu tenho certeza que você não vai se arrepender.

Só me dê mais uma chance, pode ser no sábado, na balada, e você vai ver...

Ai se eu te pego, você não vai se arrepender.

Ai, ai se eu te pego...

Não iríamos pra tua casa, iríamos direto pra minha humilde residênica!

Delícia!





2 comentários:

Bagual disse...

Pronto, terminei de ler. Posso vomitar agora?

Bruna Rafaella disse...

Haahaaaa que meleca!
mas gostei do texto, apesar dos contras, assim você me mata!

:)