quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Politicando: A beleza que a miopia nos esconde

Ia escrever sobre um pequeno desafio que estou fazendo aos candidatos a prefeito de Florianópolis, mas resolvi deixar isto um pouquinho mais para frente, certamente na semana que vem.

Mas, para não dizer que não politiquei, quero falar sobre outro assunto.
Miopia é aquela praga que se prega nos olhos e nos impede de ver com clareza o que está diante dos nossos olhos.  Envolvemo-nos tanto com o cotidiano, que às vezes esquecemo-nos de observar o que nos acontece com algum distanciamento e percebermos que, apesar de tudo o que indiscutivelmente há de errado, há sim coisas a serem admiradas.

Época de eleição e, o mais comum, é ouvirmos dos pouco interessados em se aprofundar sobre os fatos e candidatos que é tudo a mesma coisa, a praga da generalização.
Não é bem assim.

Nosso país tem muita coisa errada, muita mesmo, dá até vergonha, daquelas que se estivéssemos na sala de aula do mundo, e alguém perguntasse quem é brasileiro, ergueríamos o dedo encabulados, meio sem jeito de admitir que somos oriundos lá daquele lugar do sul do mundo onde tanta coisa é feita de qualquer jeito. Mas, repito, não é bem assim.
Talvez você ache chato, sem graça ou que tudo vá acabar em pizza, mas estamos vivenciando um acontecimento histórico: o julgamento do mensalão.

Em 1992, o mundo presenciou um dos maiores julgamentos políticos da história moderna. Não, não estou falando do Impeachmant do Collor, mas da Operação Mãos Limpas realizada na Itália, onde num julgamento amplamente televisionado, foram investigadas, julgadas e condenadas as ligações entre o então governo italiano, a máfia, bancos, Vaticano e Maçonaria. Foi uma varredura, então, sem precedentes.
Pode não parecer, mas o julgamento do Mensalão é algo de igual importância e impacto na vida política do país. Toda uma estrutura corrupta sendo julgada, exposta à opinião pública e colocando no banco dos réus aqueles que sempre se julgaram imunes a ele.

Sim, pode ser que, no fim das contas, alguns menores sirvam de boi de piranha, e os que realmente encabeçaram a roubalheira escapem ilesos, mas existe algo maior do que o julgamento em si, a fotografia de um país transformado.
Já pararam para perceber que num país onde até pouco tempo negros vivam em senzalas, agora tem um dos seus representantes como ministro máximo da justiça e sendo ele o responsável pelo julgamento de uma quadrilha de homens brancos?

Embora possa não parecer nada demais, pois você cresceu num país onde a igualdade está mais difundida, esse simples elemento no julgamento em questão já é, por si só, lindo e louvável!
Um negro, no nosso tribunal maior, enquadrando criminalmente um bando de canalhas brancos. Ok, tem uns mulatinhos ali no meio, mas você entendeu o que eu quis dizer.

Mais do que isso, temos uma presidente mulher – outrora guerrilheira perseguida política - , depois de termos sido geridos por um nordestino semi-letrado que promoveu grandes reformas sociais do nosso país, depois de termos sido geridos por um sociólogo caboclo que estabilizou uma economia desestruturada há mais de 500 anos. Todos tiveram grandes realizações, assim como grandes falhas em seus mandatos, mas, apesar disso, em todos eles percebo um saldo positivo. Mas todos são exemplares de brasileiros que aconteceram num país onde normalmente não teriam como. Temos deputados eleitos com a bandeira de defesa dos gays. Sim, temos deputados palhaços também, mas são fruto da nossa pluralidade social e, de certo modo, os verdadeiros representantes das classes que compõem o país que somos.
Em suma, apesar dos pesares, mesmo com tudo o que precisa ser erradicado da vida pública, dos desmandos, absurdos que ocorrem todos os dias entre aqueles que são responsáveis pelo governo de uma nação tão grande (certamente tratarei em algum momento de assuntos como Copa, Olimpíadas, obras desnecessárias e afins), consigo enxergar no meio disso tudo pequenas revoluções sociais que, mesmo com tudo o que há de errado, me dão algum orgulho de dizer: “sou brasileiro”.

Nenhum comentário: