segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Politicando: Uma breve pausa no diário do papai, para falar das tias da creche



Houve um tempo, não muito distante, em que as campanhas políticas se davam entre postulantes à prefeituras, governadores, presidentes e afins. Hoje, não mais.

Não que os candidatos de outrora fossem melhores ou diferentes dos de agora, não existe muita diferença, mas se o conteúdo continua muito parecido, a forma sofreu uma considerável transformação.
Assistindo aos programas políticos dos concorrentes a prefeitura de Florianópolis, fico com a sensação de estar assistindo uma disputa para quem vai ser a nova tia da creche, e não um prefeito. O mote chavão é o carinho, e isso vem desde a última eleição presidencial, no embate entre Dilma e Serra. Ali se deflagrou uma nova maneira de vender aos eleitores a bunda que há de ocupar a cadeira máxima da administração pública, sela ela municipal ou federal.

Sinto vergonha do que vejo, dois candidatos fracos acusando-se mutuamente das mesmas mazelas, ao mesmo tempo em que tentam vender aos incautos eleitores a imagem de alguém carinhoso, amoroso e com verdadeira preocupação pelo município que seus egos pleiteia. Não quero um prefeito que me faça um cafuné, quero alguém com capacidade administrativa e coerência naquilo que propõem, qualidades que não vejo em nenhum dos dois candidatos, infelizmente.
Acompanhei alguns mandatos do Gean, quando vereador, e tinha sim bastante simpatia por ele.  Por transitar entre ONG’s de proteção animal, sei que ele já fez muito pelos animais abandonados e, para mim, isso é motivo suficiente para votar em um candidato a vereador. Não para prefeito, mas sim para vereador, cujo mandato deve ser pautado na fiscalização do que se faz na prefeitura, além de apoio a determinadas causas. Contudo, ainda que ele me parecesse uma boa opção lá no início da campanha eleitoral, essa imagem se dissolveu em meio a uma série de propostas incoerentes e, principalmente, pelo padrinho que traz consigo referendando sua campanha. É muito difícil crer na integridade de alguém apoiado pela família Berger. E você, eleitor dos Berger, pode dizer que Dário realizou um monte de obras, o que eu não nego, não há como negar, de fato muito foi feito, mas o que me assusta é o quanto elas custaram aos municípios de São José e Florianópolis. A família Berger, mesmo antes do ingresso na política, era proprietária da empresa Casvig, sede em São José com atuação nas áreas de limpeza, conservação e segurança. Quando Dário Berger ingressou na vida pública, a Casvig era uma única empresa. Contudo, desde que Dário assumiu a prefeitura de Florianópolis e Djalma – seu irmão -  a prefeitura de São José, Jesus voltou pra terra, mas ao invés de multiplicar pães e peixes, multiplicou empresas de segurança. Num fabuloso case de sucesso administrativo e modelo de gestão voltada para os resultados, o grupo Casvig adquiriu a Orsegups, assumiu como identidade principal esta segunda marca e, além dela, adquiriu também as empresas:  Back, SLC, Proserv, Profiser, Visal, e três diferentes ramificações da Orsegups, ou seja, o que era uma empresa, transformou-se em nove empresas do mesmo setor. Deste modo, está preservada a livre concorrência para todo e qualquer processo licitatório, uma beleza! Atenção, não estou afirmando que houve um caso de enriquecimento ilícito, por favor, estou apenas demonstrando toda a minha admiração diante deste belo case de sucesso, ainda mais pela formação que tenho, fico realmente admirado com a capacidade de administradores conseguirem gerir municípios e, em paralelo, demonstrar tanto êxito na iniciativa privada. Louvável, sem dúvidas, louvável!

Não bastasse o apadrinhamento, Gean se afunda em propostas mirabolantes e inconsistentes, tais como:

·         1 tablet por aluno do ensino fundamental. Fica a minha dúvida: PRA QUÊ????? Diz o candidato que 16.000 tablets serão adquiridos com R$5.000.000,00, ou seja R$312,50 cada equipamento. Contudo, por este valor é impossível adquirir este tipo de dispositivo móvel que tenha aplicativos educacionais. Para que se pudesse aproveitar a infinidade de aplicativos excelentes que existem nesta área, os tablets teriam que ser da HP ou Apple, o que significa que não sairiam por menos de R$1.000,00 (com muito choro na hora do desconto) cada peça, fora os aplicativos. Contudo, antes disso seria necessário que cada sala tivesse uma lousa digital, detalhezinho importante que não está previsto na proposta de Gean. Antes das lousas, seria imprescindível que os professores da rede municipal de educação tivessem um belo treinamento de como utilizar o tablet, como extrair dele tudo o que ele pode oferecer ao processo de ensino-aprendizagem dos alunos, mas esse detalhezinho também não está previsto na proposta. Uma maneira de torna-la interessante, seria na possiblidade de todo o material didático utilizado pelos professores das diferentes disciplinas estar disponível em meio virtual, para que os alunos pudessem baixa-los e deixar de lado as pesadas apostilas que são obrigados a carregar cada vez que vão até suas escolas. Mas este material não existe, não é interessante para as editoras – também subsidiadas pelos governos – desenvolver estes materiais em meio virtual, pois perderão tudo o que ganham com a impressão dos livros, cartilhas e apostilas;

·         Passe livre para os alunos. Há oito anos o governo cuja continuidade é defendida por Gean Loureiro, declara-se contrário a esta iniciativa, tendo inclusive reagido com violência, uso de força policial contra estudantes que se manifestaram em busca deste benefício em diversas oportunidades. Uma proposta que soa como deboche, principalmente quando aparece na televisão com um papel descrevendo tal proposta, assinado por ele e seu vice com as respectivas assinaturas reconhecidas em cartório. Algo de tanto valor quanto o Serra assinar em cartório um documento prometendo que permanecerá no seu mandato até o fim, todos sabem que não será cumprido. Gean alega que a verba para a gratuidade do transporte coletivo estudantil será bancada com o dinheiro de um Fundo Municipal para tal fim, com verbas advindas de multas e afins. Aí é que o deboche fica mais explícito, pois talvez o cidadão menos informado não saiba, mas para se alterar o destino de uma determinada verba que já faz parte do orçamento do município, é necessário que um projeto de lei seja votado e aprovado pela câmara dos vereadores, sendo que o orçamento para o próximo ano já está definido, supondo que os vereadores aprovassem esta alteração, ela só valeria para o exercício de 2014;

·         Num dos programas da televisão, Gean diz que vai construir um Pronto Atendimento Infantil (PAI), com o orçamento já aprovado de R$3.000.000,00. Meus amigos, uma clínica particular para atendimento emergencial não é possível de ser erguida por este valor, imagine uma pública. Ok, suponhamos que sejam bons em negociação, e consigam uma edificação com instalações ideais por este valor, mas e os equipamentos? E os profissionais? E os itens de consumo, de onde virá o recurso?
Poderia ficar aqui horas discorrendo sobre as incoerências da proposta pemedebista, mas já me alonguei e ainda quero tratar do outro candidato.

Espero que não tenha parecido que estou fazendo campanha para o Cesar Souza Jr., pois lhes digo, apesar de tudo o que disse acima, se votasse em Florianópolis (eu voto em São José), não hesitaria um minuto, meu voto seria do Gean.

Poucas vezes me deparei com um candidato tão fraco, tão superficial, tão fantoche de um grupo político como é o César Souza Jr.

Cesar Souza iniciou sua campanha a prefeitura se vendendo como o paladino da cultura, devido sua vibrante atuação frente a Secretaria da Cultura do estado. Sua primeira bandeira foi a reativação do Centro Integrado de Cultura (CIC), que estava há três anos abandonado a uma reforma interminável, e que ele, só ele, arregaçou as mangas e foi lá fazer a coisa andar e, graças a ele, finalmente tudo se resolveu. Curioso notar que a interdição para reforma se deu anteriormente a posse de Cesar como secretário da cultura, e sua parcial conclusão posterior ao dia em que deixou a pasta. Algo como dizer-se pai de uma criança que ele não viu nascer nem crescer, e cuja mãe ele nunca comeu. Mas não sejamos intransigentes, consideremos que Cesar tenha sim seus méritos na liberação do CIC, assim sendo, deve também explicar a população por que uma obra orçada inicialmente em pouco mais de R$2.000.000,00 e com conclusão prevista para um ano após o início, custou mais de R$6.900.000,00, e levou mais de três anos para ser parcialmente concluída e, ainda assim, com uma série de falhas na sua execução. Curiosa a coincidência de todo o alarde que foi feito pela RBS no momento da reativação do CIC – justo no momento em que Cesar Souza levantava tal obra como sua principal bandeira – e pensarmos que foi a secretaria comandada por ele que destinou uns bons milhões de reais para realização dos eventos DC Donna Fashion e Planeta Atlântida, sem dúvidas um ótimo destino para o dinheiro público reservado a cultura.

Cesar Souza não é um gestor público, ele é um apresentador de auditório. No lugar dele, me candidataria para o lugar do Celso Portiolli, não para prefeito de uma capital.

A principal proposta de Cesar são pracinhas públicas. Não estou dizendo que elas não são importantes, elas são essenciais para que as comunidades tenham uma área pública de lazer onde possam levar seus filhos, passear, enfim, essas coisas que se faz para evitar o Faustão aos domingos, mas não podem ser a principal proposta de quem quer ser prefeito. Mais do que isso, nas praças que ele fez enquanto secretário, vale lembrar que o seu uso é cobrado, ou seja, privatizou o parquinho das praças.

Cesar Souza não tem propostas de verdade, diz que vai acabar com as filas nas creches, sem dizer como. Não vi, seja dele ou de qualquer outro candidato, um plano coerente apresentando o cronograma de ações para que a fila seja, se não terminada, ao menos reduzida. Um plano de metas e prazos, tantas vagas, em tantos meses, mais tantas nos meses subsequentes, em tais bairros, com tal recurso, nada, nenhum planejamento sério apresentado.

Cesar chegou ao absurdo de dizer que duplicaria a rodovia Diomício de Freitas, que dá acesso ao aeroporto. Faltou explicar de que modo faria uma duplicação sobre o mangue, pois aquela é uma das maiores reservas ambientais da nossa cidade, como seria a desapropriação, se a maior parte das margens da rodovia é tomada por comércio. Ele não esqueceu do fato que aquela é uma rodovia federal, mas disse todo cheio de si, “Sei que é Federal, mas se o governo não fizer, vamos fazer e tá acabado!”. Lindo, corajoso, herói dos manezinhos! Tão ridículo como dizer: “Não interessa se a constituição não permite, em Florianópolis a maconha está liberada!”. Cada macaco no seu galho, César. Se a Dilma não quiser, você não faz, é assim que funciona.

E por falar em absurdo, o herdeiro do carnê da Casa Feliz promete em sua campanha que colocará para circular em Floripa um caminhão equipado com equipamentos de exames de alta complexidade, tais como ressonância magnética e tomografia computadorizada. Isso, pois muito provavelmente Cesar Jr. confia muito no tal do "tapete preto" de Dario Berger. Uma espécie de tinta guache preta que ele passa sobre os buracos em época de eleição. Estes equipamentos possuem uma calibragem muito delicada, um ajuste muito fino, o menor impacto sobre uma máquina destas e o exame perde totalmente a sua credibilidade, sendo que a assistência para este tipo de equipamento é feita somente no exterior, custa caro e demora, não a toa tantos hospitais ficam meses com equipamentos desta natureza parados por falta de manutenção. Agora, se com tais equipamentos parados a manutenção já é complicada, imagine com eles em movimento sobre nossas belas e esburacadas ruas.

Após o desespero de sentir as gélidas águas da derrota iminente ferir-lhe a delicadeza dos glúteos, César tem dedicado todo o seu espaço no horário político a fazer ataques ao outro candidato, um desespero de causa de dar dó. A velha estratégia de convencer o cliente a adquirir o seu produto não por que ele é bom, mas por que o do concorrente é ruim. César não apresenta soluções, não traz novidade, não sabe do que fala, é superficial e muito fraco, dá pena. O debate do primeiro turno, não sabia se ficava comovido pela surra que levou, ou simplesmente me divertia com seu olhar perdido. Optei pela segunda alternativa. Cesar levou uma surra tão grande da então candidata Angela Albino, que não me lembro de algo tão acachapante numa disputa entre candidatos em pé de igualdade na preferência do eleitorado. Uma pena que ela tenha ficado de fora do pleito final, ainda mais observando as alternativas que nos restaram.

Enfim, não queria usar este espaço para esta finalidade, mas não me contive.

Amanhã voltamos a programação normal, a nós resta rezar para que os próximos quatro anos passem rápido e melhores opções nos surjam no período eleitoral. Chega de tias da creche, que venham gestores públicos de verdade, carinho eu tenho da minha esposa, do prefeito eu espero soluções.

4 comentários:

jean mafra em minúsculas disse...

david, eu te amo.

amanhã vou tentar fazer bombar no facebook, twitter e mais o que vier!!!

Ligia Moreiras Sena disse...

E eu vou ajudar o Jean (com J) a bombar.
Adorei isso aqui.
Valeu.

Anônimo disse...

" Uma pena que ela tenha ficado de fora do pleito final, ainda mais observando as alternativas que nos restaram."

Todo seu texto perde a razão com a frase acima, não teria nada mais podre do que esta pessoa, a Angela, ter ganho, se é ruim o Cesar Junior ou o Gean, pior seria a amiga da Dilma...

Não esepero

Anônimo disse...

Anônimo, não é possível dizer que TODO o texto se perde por conta da frase (que também não curti) sobre a Angela Albino.

Seria concordar que os dois candidatos são coerentes, fazem propostas sensatas e apresentam soluções ou algo palpável para a administração de Florianópolis.

Eu curti muitas coisas da candidata Angela Albino, mas se perdeu muito em sua candidatura. Se baseou em "ser mulher" em ser apoiada pela presidenta, como se ter o rostinho colado do PT no seu santinho garantisse voto. Ela teve propostas bem interessante, MAS a nossa oposição (ressalvas) regional está realmente muito sujinha, com a imagem bem embaçada por conta de alianças descabidas e apoios desnecessários para a imagem do partido. Não é a toa que Psol conseguiu tantos votos. Considerei o candidato Elson muito bom em seu discurso. Não fez uma propaganda política a "la comercial de margarina", ganhou votos no gogó tendo 13 mil reais como verba para utilizar. Enfim... considerei muito pertinente todo o texto de meu colega. E não é por uma posição final que as coisas ficam diferentes ou que esses dois candidatos sejam bons para a nossa querida capital catarinense.

E sinceramente, não sei o que será nesses próximos quatro anos, estou com medo!

Beijocas, Gisele CorrÊa