quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Eu homem, eu grávido!



No post de ontem, publiquei um documentário produzido por algumas corajosas mães que aceitaram expor suas histórias no intuito de alertar e evitar que outras mulheres passem pela crueldade que elas passaram.
O documentário, como disse no curto parágrafo de ontem, é muito triste, mas seria ótimo se todos assistissem para que as pessoas tivessem consciência de como nosso estado trata nossas mulheres, esposas, filhas, mães, irmãs, tias, elas que sempre estão dispostas a cuidar de nós, quando de nós precisam, ficam expostas a violências daquela ordem.

Dado o momento que estou vivendo, o vídeo me sensibilizou muito mais do que naturalmente já sensibilizaria e, assim sendo, mais do que indicar a todas as pessoas que acessam este humilde blogue, creio que principalmente os pais, homens devam assisti-lo, e tomem uma postura mais ativa a frente da gravidez que compartilham com suas esposas.
Sim, gravidez compartilhada.

A Priscilla está grávida com nossa menina no ventre, mas eu estou tão grávido quanto ela, ainda que por mais que minha barriga teime em crescer, não haja nada além de gordura dentro dela.
Amigos já riram de mim quando me ouviram dizer que estou grávido, quando digo que tenho consulta no “nosso” obstetra.

Não sou psicólogo, entendo pouco, quase nada sobre o ser-humano, mas tenho minhas convicções e creio que boa parte delas podem, se não mudar determinadas atitudes de outros homens, pelo menos contribuir para que reflitam sobre o modo como têm agido nos seus papéis de homens, pais, maridos.
Escrevi esses dias sobre a coadjuvância masculina durante a gravidez, mas não quis com isso dizer que não somos importantes, muitíssimo pelo contrário! Nosso papel de coadjuvante tem a importância que dermos a ele, e protagonistas sempre brilham mais quando têm ao seu lado um coadjuvante a altura do seu talento. Amigos, posso não entender muito sobre o ser-humano, mas tenho certeza, sua mulher, esposa será uma mãe tão melhor quanto melhor for o apoio que você der a ela.

Você não terá o poder de transferir para você os enjoos de início de gravidez, mas fará toda a diferença para ela, se você estiver ao seu lado para alcançar-lhe o papel higiênico para que ela limpe a boca após vomitar no vaso.
Você não terá o poder de transferir para você o desconforto que ela vai sentir no final da gravidez, mas fará toda a diferença se comprar um travesseiro melhor para que ela se acomode da melhor maneira que for possível.

Você não terá o poder de transferir para você a insônia que talvez ela sinta no meio da noite, mas fará toda a diferença se abdicar do seu sono e passar alguns minutos conversando com ela, para que volte o sono.
Você não terá o poder de transferir para você os pés inchados, mas fará toda a diferença se procurar aprender uma massagem relaxante para os pés da sua amada.

Você não terá o poder de poder amamentar seu bebê, mas fará toda a diferença se procurar tornar o ambiente onde estiverem o mais confortável possível para que sua esposa possa amamentar pelo tempo que for necessário, com toda a tranquilidade e harmonia que esse momento tão bonito e íntimo pede, sem permitir que outras pessoas interfiram e/ou atrapalhem.
Ao ver os depoimentos no vídeo postado ontem, não pude me conter de pensar: “onde estavam os maridos dessas mulheres???”.

E não me perguntei isso pensando exclusivamente no momento do parto, pois ali eles provavelmente se sentiram tão vulneráveis quanto elas, diante da desumana saúde do nosso país. Mas antes, durante os nove meses que se antecederam àquele momento, onde estavam os maridos?
Será que se eles estivessem mais presentes nos nove meses que antecederam ao parto, todo aquele sofrimento não teria sido evitado?

Quantos deles trataram o obstetra como um médico não da mulher, mas do casal?
Quantos deles pesquisaram sobre o médico, quantos deles procuraram se instruir tanto quanto as mulheres acerca da melhor maneira de trazer seus filhos ao mundo?

Quantos deles leram pelo menos um texto que trouxesse nas suas linhas os benefícios e riscos que existem tanto na cesariana quanto no parto normal?
Quantos deles acompanharam as esposas nos exames pré-natal?

Talvez eles tenham buscado o conhecimento, talvez tenham sido presentes, mas será que o suficiente?
Será que eu estou sendo grávido o suficiente para acompanhar a minha grávida?

E eu sei que você, homem-pai-grávido que está lendo, talvez pense “sim, eu fui/sou um pai-marido bastante presente!”, mas será que o suficiente?
Hoje eu me peguei fugindo das minhas responsabilidades de homem grávido. Sem querer, não por maldade, mas percebi que o comodismo da minha condição de coadjuvante, quis me tirar da frente da câmera numa cena que eu deveria estar presente.

Teremos nosso terceiro pré-natal na sexta-feira pela manhã. Após termos feito nosso primeiro ultrassom na última quinta-feira, e termos visto que está tudo ótimo com a nossa Clarinha, pensei automaticamente: “ah, já acompanhei ela nas consultas anteriores à gravidez, quando estávamos nos preparando para engravidarmos, já acompanhei ela nas duas primeiras consultas pré-natal, estava segurando a mão dela quando ouvimos pela primeira vez o coraçãozinho da nossa filha, estava ao lado dela quando o médico disse ‘deem boas-vindas a Sra. Clara’, acho que ela pode ir sozinha na próxima consulta, vai ser meio chato eu faltar de novo o trabalho.”
NÃO, ELA NÃO PODE IR SOZINHA!

E mesmo que ela vá com a mãe dela, não é a minha sogra que está grávida, SOU EU!
EU ESTOU GRÁVIDO!

A Priscilla não poderia dizer não à consulta, não é justo que eu possa, eu estou tão grávido quanto ela!
Sim, não é nada bom me ausentar do trabalho, mas basta eu ser honesto com meus superiores, eles saberão – como sabem –que se trata de um momento muito especial na minha vida, entenderão a minha ausência. Caberá a mim, nas horas em que estiver presente, trabalhar mais e melhor, ser mais produtivo, não só para compensar a compreensão dos meus superiores, mas pela minha filha, para que meu desempenho profissional seja também um bom exemplo para ela.

Ser pai não é pagar o plano de saúde da esposa, não é sustentar a casa, vez ou outra lavar uma louça. É algo certamente muito maior.
Repito, sei muito pouco sobre as pessoas, mas tenho certeza que o mínimo que eu faço para ajudar minha esposa, para participar com ela da nossa gravidez, faz com que ela se sinta feliz, e esse sentimento tem origem não só psicológica, mas química também. E tanto uma sensação quanto outra, a minha filha sente também. Cada vez que minha esposa se sente bem, acolhida, a minha filha também se sente do mesmo modo. E, hoje, a única coisa que me faz realmente feliz, é saber que as duas mulheres que eu amo estão bem, felizes, seguras e tranquilas.

Eu sou o primeiro referencial masculino da Clara, e essa referência interferirá diretamente na maneira como ela se relacionará com os homens no futuro. Se ela crescer me observando distante da sua mãe, um marido burocrático, frio, apenas um provedor de dinheiro para pagar as contas, ela aprenderá que é assim que são os relacionamentos entre homens e mulheres, e o primeiro cara que aparecer na vida dela oferecendo o mínimo, parecerá o suficiente. Não sei para você, para sua filha, mas para a minha filha o mínimo nunca será o suficiente! Ela merece mais, ela merece o máximo que uma mulher pode ter! Sendo assim, do mesmo modo, o contrário também vale! Se ela crescer me observando respeitar a Priscilla, cuidar da Priscilla, incentivar a Priscilla, admirar a Priscilla, amar a Priscilla, ela aprenderá que é assim que as mulheres devem ser tratadas, e ainda que eu não possa afirmar/prever os relacionamentos futuros da minha menina, será menos provável que ela admita que um homem a trate de uma maneira diferente da que o seu pai tratava a sua mãe. Respeito, carinho, cuidado, será para ela algo natural, cotidiano.
Não vai ser sempre que eu vou conseguir, mas vou tomar o máximo de cuidado para que a Clara tenha na sua casa um pai que a encha de orgulho, que pelo exemplo que ela vai ter em casa, jamais diga como dizem muitas mulheres: “os homens são todos iguais!”. Os homens não são todos iguais, as mulheres não são todas iguais, os casamentos não são todos iguais, os filhos não são todos iguais. E é exatamente aí que está toda a graça, nas diferenças. Nas minhas, nas suas, nas nossas.

E você pode até não concordar, se colocando na condição apenas de: “Pai, marido da minha esposa grávida”.
Mas pode ter certeza, ela, a sua esposa, ele o seu bebê, serão muito mais felizes já a partir de agora, ainda na barriga, se você se colocar na orgulhosa condição de: “Pai, marido-grávido da minha esposa-grávida!”

Um comentário:

Bruna Rafaella disse...

Sensacional!!!!!!!!!!!!
Pai-marido-grávido!!!
Sinto que você vai desmaiar no momento do parto!!! Me veio esse pensamento agora, sei lá, fique imaginando a cena!
E penso na música da Cassia Eller - Luz dos olhos! (deu vontade de te dizer)!
Parabéns!!!