quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O privilégio de não ter tido babá!

Desculpem a ausência, queridos leitores, os últimos dias foram corridos, assumi alguns compromissos que acabaram me afastando um pouco deste espaço que gosto tanto.

Bom, voltemos então à ativa.
Hoje, depois do almoço, a Pri estava dando uma passeada pelo Facebook e viu um post de uma amiga relatando que, num local qualquer, haviam 9 babás com as respectivas crianças para as quais fora contratada as suas supervisões, e apenas ela – a amiga - como mãe. No mesmo post, uma outra amiga querida disse que, certa vez, indo passear no Horto do Córrego Grande, ela barriguda do segundo filho e brincando com a primeira filha naquele lugar lindo, observou três mães sentadas na sombra, e suas crianças brincando cada uma com sua respectiva babá.

Nada contra, quem sou eu para julgar alguém.
Ficamos apenas pensando no que aquilo significava, o que aquilo representava tanto para a criança quanto para a mãe. Qual o impacto de se terceirizar o cuidado e a proximidade com a criança?

Sei que muitas vezes uma babá é quase imprescindível, mas não me parece ser o caso das três mães sentadas à sombra.
Um momento como esse é tão singelo e bonito, se estabelece tanta cumplicidade, tanto carinho, que fiquei com pena das mães por não estarem vivendo aquilo. Das crianças também, crianças adoram quando seus pais estão perto, estão para eles e mais nada nem ninguém.

Inevitavelmente, fiz uma viagem instantânea à minha infância.
Tive uma infância maravilhosa, cresci num quintal cheio de árvores frutíferas, plantava alface e rabanete com minha mãe, via meu pai fazer brinquedos de madeira, andava descalço, tomava banho de chuva, descia o morro de rolimã, roubava goiabas do seminário que tinha perto de casa, enfim, parece história do Chico Bento, mas nossa casa ficava num local bem urbanizado, pertinho da universidade federal. Como disse no começo do parágrafo, uma infância maravilhosa!

Mas, por estar associando minhas memórias com a cena das mães com as babás, busquei nos arquivos do meu HD cerebral as minhas melhores memórias com meus pais.
Mesmo que quisessem, por terem cinco filhos com pouca diferença de idade entre um e outro, não teriam condições financeiras de contratar uma babá.

Que bom!
Minhas melhores lembranças não teriam espaço para uma babá, ou, caso houvesse uma, não seriam tão boas quanto são as que tenho com meus pais.

A presença de uma babá jamais substituiria uma manhã de fim de semana, quando meu pai acordou cedo e fez um robô de madeira para mim, maior do que eu. Eu o vi fazendo, escolhendo as madeiras, serrando, martelando, e eu ganhei o meu robô de madeira maior do que eu. Eu o ajudei a pintar o robô, eu fiz um bigodinho de Salvador Dali (não, eu não sabia quem era Salvador Dali, apenas achei que ia ficar engraçado, e ficou), e batizei meu robô de madeira de Jean Pierre. Meus amigos tinham carrinhos de controle remoto, mas se divertiam mesmo era com meu robô de madeira. Fiz milhares de viagens intergalácticas com meu robô de madeira. Ele foi meu co-piloto numa expedição submarina que fizemos certa vez, para tentarmos descobrir onde ficava a casa do Aquaman. Quando eu tinha medo na hora de dormir, deixava o meu robô de madeira perto da janela para que ele evitasse que alienígenas entrassem no meu quarto enquanto eu dormia e me abduzissem. A porta não precisava cuidar, pois do outro lado dela estavam meus pais, minhas irmãs, se o medo apertasse eu correria para a cama da minha irmã mais velha. Sempre que eu tinha medo de morrer (sim, eu era uma criança meio hipocondríaca), a única coisa que me acalmava era dormir com minha irmã Bebel. E ela deixava, sempre deixou. Acho que se eu ficar com medo hoje, e pedir, ela ainda deixa. Não sei se uma babá me daria estas lembranças tão marcantes.
Teve outra vez, também com o meu pai, que eu já estava virando um mocinho e minha mãe falou para o meu pai que estava na hora de ter uma conversa de homem para homem comigo. Nós fomos. Fizemos de tudo, menos a tal conversa para dizer o que é sexo. Ele sabia que eu já sabia. Não lembro como soube, mas um dia eu soube. Saímos só eu e meu pai, fomos ao cinema, assistimos “A Malandrinha” no Cine Carlitos. Depois, fomos ao Mac Donald’s, recém inaugurado na cidade. Eu tinha curiosidade, ele me levou para conhecer. Foi extremamente frustrante, para mim. Vi a foto de um sanduíche lindo, e me serviram um negócio pequeno e amassado. Poucas vezes depois desse dia voltei ao Mac Donalds. Não fazia sentido comer aquele sanduíche sem graça, se minha mãe fazia sanduíches lindos para nós, enormes, com bifes inteiros dentro de pães de trigo e com alface do quintal. Foi um dia especial, só eu e o meu pai. Uma babá poderia me levar nos mesmos lugares que ele me levou, mas não seria a mesma coisa. Por mais querida, carinhosa e cuidadosa que ela fosse, não seria o meu pai. Mas, para minha sorte, foi o meu pai!

Mas se me perguntassem qual a melhor coisa da minha infância, diria sem pestanejar um segundo: O SEQUESTRO!
Sim, eu fui sequestrado quando era criança.

Mais de uma vez, inclusive.
Para ser fiel aos fatos, várias vezes!

Quando minha mãe tirou carteira de motorista, vez ou outra ela chegava para mim e para meu irmão e dizia: Hoje eu vou sequestrar vocês!
Aqueles eram os melhores dias!

Saíamos eu e meu irmão com minha mãe, sem saber para onde ela iria nos levar, mas com a certeza de que sempre seria num lugar que adoraríamos ir.
Íamos à Ponta do Leal – onde hoje rola a discussão sobre virar área de preservação permanente, parque público ou hotel de luxo e, enquanto não se decidem, funciona como um ótimo lugar para se fumar crack – e passávamos a tarde toda brincando nos troncos de árvore, no mato, nas paredes caídas daquilo que um dia foi uma construção. Depois íamos na sorveteria Baraúna tomar banana split. E brincávamos, corríamos, nos arranhávamos e depois, no fim do dia, voltávamos pra casa imundos de tanto brincar e felizes como toda criança merece ser.

Hoje, prestes a receber minha primeira filha, tenho a total consciência de que ela vai precisar de muita coisa vinda de mim, menos de uma babá.
E não, não estou falando mal de babá ou dizendo que elas não são necessárias, muitas vezes elas são a salvação da lavoura. Estou afirmando apenas que, fossem meus pais naquele horto, eles não estariam sentados na sombra, eles estariam brincando comigo, e isso me faria muito feliz!

Se eu for presente e participativo como foram meus pais, se conseguir deixar na memória da nossa Clarinha lembranças tão boas quanto as que meus pais deixaram na minha, vou ter certeza de ter feito meu papel direitinho.
Mãe, pai, muito obrigado! Sou um sortudo, um privilegiado por ter nascido de vocês, tanto quanto a Clara é uma baita duma mini-sortuda por ter avós tão legais!


3 comentários:

Priscila disse...

Lindo, lindo texto, vindo do coração!!

Bruna Rafaella disse...

Lindo texto, também adorei!!!!
Você é a cara do seu pai! rs...
Com quem será que a Clarinha vai se parecer?

Jônatas disse...

Muito bom !!
Tu escreve bem mesmo hein. Parabéns!
Vou acompanhar teu blog. Abraço.