segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Fim de caso


Cansamo-nos tanto de tanto sentir amor, que o amor se cansou de nós.

E você ainda trouxe cá pra perto esse balde cheio de ciúme.

O ciúme é azedo, no cheiro e no gosto.

E não me venha com essas frases feitas de que quem ama sente ciúme, nem que seja um pouquinho. Isto está errado.

Quem ama de verdade não sente ciúme, não entende o ciúme, não tem o menor interesse em provar o ciúme. Ele é mais danoso do que a nicotina, e vicia muito mais rápido. Você não seria idiota de começar a fumar agora, depois dos trinta. Você não precisa mais se incluir socialmente, a adolescência passou faz tempo, embora algumas das suas atitudes ainda sejam bastante questionáveis. E se você não vai ser idiota para começar a fumar agora, depois dos trinta, não entendo por que começar a sentir ciúme agora, depois de ter dito que sim. Eu e você dissemos que sim, o ciúme seria negar o que dissemos um ao outro.

Tire o seu balde de ciúme azedo de perto de mim.

Ciúme é sofrer por saber que não se tem, é perder a paz de espírito por saber que a escritura do outro não nos pertence. E por medo de perder o que já não se tem, sofre-se e faz-se sofrer do azedo ciúme. Ciúme é querer ter, amor é estar. Por favor, não os confunda.

Mas faz tempo que não estamos bem, e talvez essas minhas palavras tenham a mesma eficácia de um sorriso amarelado na televisão vendendo adesivos de nicotina para pessoas que querem abandonar o vício enquanto acendem mais um cigarro. Só mais um, só até terminar essa carteira, o maço está quase acabando, depois desse eu paro, cigarro nunca mais, eu juro. Quem acredita?

Rejeito soluções homeopáticas, minha vida é regida pela alopatia.

Você me procurou, eu aceitei. Quando você me ofereceu promessas, pedi que não as fizesse.

O amor sofre menos com as mentiras do que com as promessas não cumpridas.
Sim, eu vou me casar. Também tenho esse direito.

E que fique claro, não fosse o seu balde, nada precisaria mudar. Nossa história nunca precisou de capítulos, apenas parágrafos. Você continuaria escrevendo a sua história, eu passaria a escrever a minha e, vez por outra, nos encontraríamos nas entrelinhas, ora do meu enredo, ora do seu.

Mas não com o seu balde de ciúmes por perto. Nós dois somos algo que já não me basta, edredon gasto e fino que já não me aquece. E calor é o mínimo que um cobertor deve oferecer. Enfim, chega.

Agora vá, volte para o seu marido.

2 comentários:

Shuzy disse...

Eu achei que tava sério demais pra ser um texto teu!
Mããããs... Sempre tem o final!
hehehehe

Jotapê disse...

Gostei.