sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A voz da experiência


O problema, é que eu gosto de homens inteligentes e, embora ele seja bem bonitinho, muito querido, quase educado, não é exatamente uma pessoa culta.

Minha menina...

Não fale assim, eu me sinto uma criança, quando você fala assim.

Mas você é uma criança.

Não, eu já sou mulher. Sou nova, mas bem madura para a minha idade.

Tudo bem, pulemos esta parte. Vou tentar ser bem objetivo, de uma objetividade que teus amigos não terão contigo. Se você não quer, esqueça, bola pra frente. Faça somente o que você tem vontade e, sem querer lhe ofender, tampouco ofender a ele, ele que sofra um pouco, vai passar rápido, mais rápido do que você pensa.

Não é assim tão simples.

É assim tão simples sim!

Ele me agrada todos os dias, sempre com presentinhos, docinhos...

Não é por que ele lhe deu um bom-bom anteontem, ontem, hoje, que você tem a obrigação de beijá-lo por gratidão, por agradecimento, por pena. Você não vale tão pouco.

Você é muito frio, cruel!

Não, eu sou prático. Se você não quer, diga claramente, com todas as letras que você não quer. Evitar a recusa, para tentar fazer dela panos quentes para aplacar uma dor que ainda não existe, é só agravar uma mágoa que de algum modo virá. Ela vai vir, isso você não tem como impedir, mas, a única coisa que ainda está ao seu alcance, é dosar para mais ou para menos o impacto que essa pequena mágoa terá sobre o seu admirador. Sim, ele vai ficar decepcionado, mas isso não vai afetar em nada a vida dele. Acredite, daqui uns anos ele nem vai lembrar disso.

Ai, não fala assim, você faz parecer que eu não tenho importância alguma.

Você tem, e muita. Não é esta a questão. O fato é que ele é muito novinho, você mais do que ele, ele vai sofrer muito por amor ao longo da vida, você ainda mais, como todas as mulheres que já existiram. As mulheres sempre sofrem mais do que os homens, até por que elas podem sofrer de verdade, os homens não, pois está convencionado e aceito por todos que sofrer afeta a virilidade.

Você deve ser muito experiente nos assuntos do amor, para falar com tanta convicção.

Até que não. Sou um pouco, admito, mas ainda estou aprendendo. Sou um estudioso, digamos assim. A maior parte do que eu sei, absorvi de algumas experiências e dos livros. Eles são a melhor escola que uma pessoa pode ter.

Eu preciso ler mais.

Leia, minha menina, leia muito. Mas esqueça estes livros metódicos e óbvios da sua faculdade, cheios de tecnicidades inúteis para a vida de verdade. Leia os romances, leia os poetas. Entregue-se aos bons escritores, são eles que realmente sabem nos ensinar, mesmo quando não dominam os assuntos que discorrem. Só os bons escritores têm a coragem necessária de escancarar nossos medos. Nossos costumes, nossos valores. Nossa moral é um porão cheio de vespeiros adormecidos. Os bons escritores vão lá e cutucam os vespeiros, infectam nossos pensamentos com tudo aquilo que morremos de medo de pensar. São eles que nos infestam de dúvidas sobre tudo o que parecia certo. Não tema contestar suas convicções. Ter certeza de tudo não serve para muita coisa. Permita-se duvidar. Lendo, você se afogará em todas as dúvidas necessárias que farão de você a mulher inteligente e segura que você sonha ser.

Mas os meus amigos, todos eles estão armando tudo para que fiquemos juntos, para que eu dê uma chance.

Você pode até dar a chance que eles lhe pedem, mas só estará adiando e, mais do que isso, aprofundando a mágoa dele. Ele ainda não está apaixonado, uma recusa agora não vai fazer dele nem mais nem menos do que hoje ele é.

Acho que você tem razão.

Vá por mim, eu tenho.

É ótimo conversar com você.

Também gosto de conversar com você. Quando você quiser, e minha agenda permitir, será sempre um prazer.

Bom, eu tenho que ir.

Fique bem e, não esqueça: leia! Não tenha medo de cutucar os seus vespeiros.

Despediram-se com cordialidade, ela foi embora sentindo-se mais segura e pronta para dizer não.

Sem olhar pra trás, ela pensou, Como é bom conversar com alguém mais velho, mais vivido, mais inteligente.

Sem olhar pra trás, ele pensou, Até o fim da semana eu como essa menina.

2 comentários:

Shuzy disse...

A vida como ela é!
:P

É legalzinho esse, mããããs, o anterior, 'Mal entendido' matouuuu a pau!

hsuahsuahsuahsa

Nayana. disse...

Familiar...