quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A verdadeira história de Romeu e Julieta II


Aquele que agora jaz ao lado de uma garrafa long neck de cerveja caída e de um pequeno vidro de veneno, é Romeu.

Assim está, como nós todos podemos bem ver, lábios e dedos arroxeados, olhos saltados e opacos, a língua inchada para fora da boca, mãos contorcidas envolvendo o abdome, como se quisesse arrancar dele algum suplício, provavelmente por causa da dor que deve ter sentido em seu momento derradeiro.

Até poucos minutos atrás, antes de transmutar-se em cadáver, Romeu era, além de
simpatizante de um pequeno e inexpressivo time de futebol, um rapaz bastante vaidoso.
Escolheu aquela que considerava sua melhor roupa para findar sua existência. Uma calça jeans surrada, um par de tênis verde musgo, uma camiseta da marca Liverpool (Compre já a sua!), contendo a estampa que remete a um antigo festival de música e, por cima dela, uma camisa aberta. Só veste a camisa por cima da camiseta, pois a segunda possui manchas claras nas axilas, provocadas pelo seu desodorante Avanço, aroma: “Macho Mentolado”. É provável que se soubesse do aspecto que agora tem, escolheria outra a forma para se auto-vitimar.

Mas ele não sabia e, assim sendo, foi pelo escorregar garganta a dentro do veneno que ele próprio escolheu, que veio a dar cabo de sua pouca vida.

Na verdade, nem era tão pouca assim. Ele já tem –ou tinha, no caso – trinta e sete. Há os que morrem com menos. Há os que aos trinta, trinta e um, descobrem cânceres no pulmão, sem nunca sequer terem fumado e, disso, vão de encontro à senhora ceifadora que gosta muito de trajar preto. Todavia, Romeu aparentava bem menos do que os trinta e sete anos recém encerrados.

Esse cheiro forte e desagradável que você agora sente, não é do desodorante, é do veneno. É muito recente o óbito, para que seja já da decomposição do corpo do suicida apaixonado.

Talvez, ao chegar a seu próximo destino – por não conhecermos muitos detalhes da sua vida pregressa, não nos é possível afirmar se sua morada final será ao lado do Senhor, ou do Diabo – dê-se por falta de algo. Ou alguém, para melhor dizermos.

É que a morte por envenenamento era um tratado entre ele e sua amada, Julieta.

Acreditaram ambos, numa destas tantas idiotices que o amor injeta naqueles que amam, que em outro plano astral poderiam viver plenamente o amor que mutuamente sentiam mas, em função das tantas desventuras e orgulhos bestas desta vida, não conseguiam cultivá-lo por aqui, neste mundo que, por enquanto, ainda estamos a habitar.

Combinaram de tomar simultaneamente a dose de veneno que lhes seria suficiente para que o fim de ambos fosse inevitável. Escolheram beber o veneno num último drink, misturando aquilo que os mataria, na bebida que mais gostavam de beber em vida.

Romeu colocou sua dose de veneno em uma Heiniken, não muito gelada, importante que se
diga, pois fora comprada num posto de gasolina. Julieta, por sua vez, misturou a sua parte do veneno em um coquetel de frutas bem docinho, cor laranja com uma tirinha cor-de-rosa no fundo. Ninguém sabe ao certo do que é feito aquele coquetel, mas que ele embebeda rapidamente, disso não há duvidas.

Mas, para desventura do que fora combinado, o sabor interferiu no fim romântico e tolo que haviam planejado.

Romeu, por ter misturado sua dose de veneno em cerveja, sequer sentiu diferença no amargo do sabor visitante em sua bebida e, de um gole só, tomou o tanto que lhe cabia.

Já Julieta, no primeiro gole que dera em seu coquetel, sentiu o fel que maculava o drink que tanto gostava. Tomou um gole e cuspiu o resto fora.

O socorro médico veio rápido e Julieta, apesar do pouco que bebera, por ser muito magra, sentiu logo as cólicas assassinas da bebida matadora. Entretanto, contorcia-se menos da dor que sentia, do que do desespero por ver ao seu lado o doce Romeu, pronunciando palavras confusas, desconexas, enquanto sua vida se esvaía pela baba que escorria de sua boca. No delírio da morte iminente, ora cantarolava músicas do Bob Dylan, ora cantarolava Shakira.

Você pode até estar pensando que sim, mas lhe afirmo: não! Não se tratava de um mashup feito por Isaac Varzim.

Dos fatos, você ainda não sabe o resto. Mas eu sou um homem bom, não lhe deixaria na
curiosidade. Sigamos com eles, os fatos ocorridos após o ocorrido.

Romeu, como já se sabe, morto está. Julieta, não.

Fora socorrida por um enfermeiro muito gentil e atencioso, de aspecto indizível. Algo entre o Harry Potter e o Salsicha, fiel companheiro do Scoobydoo.

O enfermeiro apaixonou-se por Julieta, e quis lhe oferecer, além dos cuidados clínicos indispensáveis, todo o amor e carinho que sabia-se capaz de dar a alguém, mas que guardara desde sempre a espera da pessoa certa.

Contudo, não fora ele que cativara o coração partido e enlutado de Julieta, e sim, a médica que lhe atendera, já no hospital.

Uma mulher morena, alta, muito elegante que, então, era casada com um homem que
lembrava muito a imagem de Jesus Cristo nos seus melhores dias, mas com alargadores nas orelhas.

Bianca, chamava-se a médica.

Julieta apaixonou-se por Bianca.

E Bianca, a médica, achou o hálito doce de Julieta, ainda com o aroma do coquetel de frutas, melhor do que o bafo de palheiro do seu Jesus Cristo cover.

Antes mesmo de sair do hospital, já estavam decididas, viveriam juntas, felizes e para sempre.

Iriam a todos os lugares, conheceriam as mais belas cidades, as mais belas artes, as festas mais animadas. E, agora que estavam resolvidas em assumir a relação, freqüentariam religiosamente todas as festas GLS que houvesse nos lugares por onde andassem.

Tirariam fotos das pessoas das festas.

Fariam um blogue para postar as fotos das pessoas das festas.

Chamariam as pessoas fotografadas de “amigues”.

Falariam de moda no blogue.

Estando juntas, a vida seria linda, linda, linda.

Só faltava um nome para o blogue.

Bianca sugeriu algo muito delas, bem romântico, algo como Bia & Julie, dentro de um
coraçãozinho.

Mas não, Julieta queria prestar uma última homenagem àquele que, ainda agora, deveria estar sentado em algum banco de ônibus do purgatório, esperando pela sua chegada.

Julieta lembrou-se, então, dos instantes finais de Romeu, quando ele balbuciava palavras ininteligíveis, misturando Bob Dylan com Shakira e, com a concordância de Bianca, batizaram o blogue de: “Donde Estas Corazon”.

Bianca e Julieta, conforme haviam premeditado, viveram felizes para sempre. Chamavam-se de “marida”, no mimo de seus apelidinhos carinhosos.

Talvez a sua curiosidade, ainda descontente com este desfecho, deva estar se perguntando quanto ao destino dos outros três personagens desta triste e bela história.

Não, Jesus Cristo Cover não ficou com o enfermeiro Harry Potter-Salsicha, como talvez a sua mente poluída tenha presumido.

Jesus Cristo cover, depois de ter sido abandonado por Bianca, tornou-se modelo de camisetas e óculos modernosinhos.

O enfermeiro, aquele misto de Harry Potter com o Salsicha do Scoobydoo, bem, dele eu não sei. Dizem que tem dado aulas de clarinete para os aspirantes a músicos da fanfarra do Colégio Coração de Jesus. Mas também dizem que este colégio já não existe mais. Logo, não dou fé desta versão.

E Romeu?

Bem, é o que está escrito logo no primeiro parágrafo. Mas, sendo mais sucinto,acrescentarei um pouco de lirismo valendo-me do artifício das rimas para que, a despeito do infortúnio amoroso do nosso herói, a narrativa termine um bocadinho mais poética:

O Romeu se fodeu!

5 comentários:

Daca disse...

não era veneno, era nova Schin... e cadê o pastor pregador da NS do Imperatriz, pourra? E esse final Telma & Louise foi demais!!

Anônimo disse...

Hahaha fantárdigo!

Que final triste pro Cuki/Jesus, coitado!

:*

Bia

nop disse...

HAHAHAHAHA!!! Nem sei o que dizer. Dá um Restart nesse comentário.

jean mafra em minúsculas disse...

ahahahahahahahah

david, és um pervertido, nego.

beijocão.

Daca disse...

e dá-lhe bosta!!!!