quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Tá bom, eu admito, é exatamente isso que você está pensando.


Você não vai me dizer nada?

Dizer o quê?

Sei lá, não vai inventar uma desculpinha qualquer, com você faz sempre?

Não. Hoje não.

Desistiu das suas mentirinhas esfarrapadas?

Não, não é esse o caso. Mas, convenhamos, hoje seria ridículo tentar inventar o que quer que fosse.

Pelo menos você admite o seu ridículo.

Vou dizer o quê? Calma, não fique assim, vamos conversar, não é nada disso que você tá pensando, eu posso explicar.

Normalmente você diria alguma coisa assim.

Mas hoje não. Hoje eu assumo a minha culpa.

Ainda tem orgulho da sua sem-vergonhice...

Não se trata de orgulho, só estou meio de saco cheio pra me dar o trabalho de pensar em alguma desculpa esfarrapada.

Acho que se você inventasse uma desculpa esfarrapada, pelo menos demonstraria alguma consideração por mim.

Claro que eu tenho consideração por você. Muita, até.

Não parece.

Olha, eu sei que errei, e sei que não foi a primeira vez.

Eu não quero ouvir mais nada.

Não, espera, vamos conversar.

Conversar? Agora você quer conversar?

A gente pode se entender. Eu errei, admito, mas você sabe que a gente pode se entender.

Estou cansada dessas suas desculpinhas o tempo todo.

Eu sei, eu sei. E também não vou dizer que nunca mais vou fazer.

Cara de pau!

Pelo menos estou sendo sincero. Você não vive reclamando que eu minto demais, que eu deveria ser sincero com você? Então, estou sendo sincero. Sei que fiz uma cagada, mais uma, mas não foi para magoar você.

Ah, é?

É.

E foi por que, seu sem vergonha?

Sei lá, estava meio cansado de tudo, estava precisando fazer alguma coisa diferente, cansei da mesma rotina sempre.

Olha, você faz o que você quiser da sua vida, eu desisto, já tentei tudo o quanto estava ao meu alcance, mas cansei.

Não fale assim, vamos conversar.

Chega de conversa, não temos mais nada o que conversar.

Peraí...

E não venha atrás de mim, dessa vez não vai funcionar.


E saiu do quarto com os olhos cheios d’água, deixando-o esparramado na cama sob os lençóis amarrotados.

Ele percebeu que daquela vez tinha ido longe demais. Dessa vez ela estava realmente magoada. Em outros tempos, brigaria, gritaria, bateria boca, mas jamais sairia assim, deixando-o ali, sem uma ofensazinha sequer.

Ficou preocupado. Não conseguiria dormir em paz sabendo que ela ficaria acordada a noite inteira, chorando por mais uma das suas tantas mentiras.

E jurou para si mesmo:

Chega! Nunca mais mato aula. Minha mãe não merece passar por isso de novo.

Desligou o vídeo-game e foi dormir.

2 comentários:

Shuzy disse...

Sempre sugestivo

Bruna Rafaella disse...

E eu? nunca adivinho o final...
você sempre me surpreende!!
estava com saudades!
tem tanta coisa pra ler aqui,
mais não dá tempo...

apareço assim que puder!!

Beijo grande!

Ps- seus textos me viciam!