segunda-feira, 18 de julho de 2011

O amor segundo Thedy Corrêa


Se não me falha a memória, era amor o que sentíamos.

Dos bons, até.

Fui fiel, inclusive. E olha que isso não é do meu metier.

Você se encantou pelos meus olhos claros, seios grandes e sorriso luminoso.

Você gostou de eu gostar de Nenhum de Nós.

Quando você descobriu que tínhamos amigos em comum, você sorriu e disse, Diga a ela que me viu sozinho, diga que ela sabe onde eu estou.

Eu achei tão bonitinho...

Desculpe a sinceridade, mas nunca achei nada demais em você, exceto seu jeitinho tímido.

Sei lá, sempre tive um fraco por carinhas com cara de bocó, carinha de colono. Sabe aqueles que parecem que nasceram em Braço do Norte e cresceram plantando fumo ou criando porcos?

Não sabe?

Se olhe no espelho, você vai saber do que eu estou falando.

Enfim, a coisa começou a desmoronar quando aquele amigo em comum te perguntou meu aniversário e você disse, Acho que foi em julho de 83, sempre esqueço o dia, mas lembro do mês.

Aí você me convidou para comer uma pizza, gostei da ideia.

Achei que você me levaria em Coqueiros ou na Hercílio Luz, têm pizzarias ótimas por lá.

Mas você me levou no Kobrasol.

Só rodízio.

Meu Deus...

Esperei você pedir a carta de vinhos e, quem sabe, pelo menos um chileno para amenizar aquela ofensa a qualquer paladar civilizado que as bandejas dos garçons nos ofereciam. Mas você pediu uma Pepsi Twist, e emendou, Vai querer o quê, princesa?

Meu Deus...

No começo, tentei acreditar que as coisas aconteciam com alguma explicação.

E depois só conseguia pensar, Às vezes peço a ele que vá embora, que vá embora.

Quando você pediu pizza de banana com gemada, depois de ter comido três fatias de pizza de milho (puta que me pariu, pizza de milho???), quase levantei e te disse, Às vezes tenho medo até das suas mãos, às vezes tenho medo até do seu olhar, cuidado, o ódio cega e você nem percebe!

Mas não falei nada por medo de você sair dizendo para seus amigos que havia algo de insano nos meus olhos.

Eu poderia até te aceitar, mas quando pensei que se os homens normais já trocam suas famílias, suas filhas, as filhas de suas filhas, imagine você. Ambos sabemos que os homens criam coisas que não deviam conceber, mas eu não preciso criar ou, muito menos, conceber um amor com você.

Só conseguia pensar que, um dia, depois de morta, na hora em que fosse prestar contas a Deus e ele exigisse o recibo dos meus atos, o máximo que poderia dizer era algo como, Eu caminhava e fingia que o tempo passava, e fingia que gostava de alguém...

Deus não me levaria a sério.

Deus não levaria a sério o rock gaúcho.

O filho Dele foi fiel a doze amigos. Humberto Gessinger não conseguiu oferecer fidelidade sequer a dois daqueles que poderiam ser seus potenciais amigos.

Se Ele exigisse satisfação, poderia argumentar em minha defesa que o que eu sentia a respeito dos homens sempre foi estranho.

Na sua derradeira hora, você poderia olhar nos olhos Dele e dizer, Eu amei e acho que algumas vezes ela também me amou, mas não sei se Ele levaria isso em consideração.

Só não me venha com esse papinho de corno resignado dizendo que tá tudo bem se não deu certo, que achou que nós chegamos tão perto. O nosso amor não valeu a pena, e esse não é um final feliz. E eu não vou me lembrar de você. Desculpe.

E não vai ter beijo de despedida, mesmo que você realmente acredite que esse é o beijo que se dá uma vez só na vida, você vai morrer na baga, não vai rolar mesmo.

Chega, largue minhas mãos.

Minhas mãos estão cansadas, problema seu se você não tem mais onde se agarrar. Tudo já se foi, amizade, carinho e amor.

Vou deixar que você se vá.

Me deixe ir também.

Procure o seu caminho, antes de você, eu já tinha aprendido a ser sozinha.

É sério, esqueça, nem amanhã ou depois, sem chance, acabou mesmo.

Sei que você me apresentou para seus pais, e mesmo que sua mãe desmaie e seu pai diga que quer morrer, acabou.

E não é pelo rodízio de pizza, nem pelo blazer de couro e o gel no cabelo.

O problema é que na cama você sempre me pareceu um astronauta de mármore.

Distante e frio.

2 comentários:

camyli alessandra da silva disse...

e o nome dela é Camila? gostei do seu texto e curto um pouco nenhum de nós curto mais o Humberto Guessiguer

Bruna Rafaella disse...

Olha eu já nem sei mais o que dizer!
eu só digo: adorei, adorei e adorei...
meus comentários já estão por um fio, mas posso dizer que adorei de novo?

Adorei!!!!!


Te adoro!

Beijos