terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Coitados...

Não, ele não sabe. Pensa que sabe tudo, mas de mulher não sabe nada, coitado. Talvez eu seja mulher demais pra ele, ou ele homem de menos pra mim, mas de mulher, coitado, não sabe nada. E me sorri seus dentes feios, amarelos da nicotina, me obriga a sentir o cheiro do cigarro cada vez que passa atrás de mim, ou perto da minha mesa, ou quando vai no banheiro e eu estou saindo, ou quando se abaixa com aquele sorriso safado pra me pedir um favor qualquer. Talvez me ache bobinha demais, ingênua demais, criança demais, coitado... Pensa que sabe tudo, coitado... Deve pensar que perco minhas horas de sono pensando como deve ser o sabor amargo da sua língua fedida de nicotina e café. Coitado... Deve pensar que eu fico sonhando com aquelas mãos peludas de dedos curtos subindo pelas minhas coxas sem me pedir licença. Coitado... Deve pensar que quando fecho a cara no meio da tarde, assim, do nada, é por tê-lo ouvido falar ao celular todo melosinho com aquela esposinha certinha, perfeitinha, bonitinha, com carinha de santa. Coitado... Deve pensar que eu acordo cedo, demoro no banho pensando nele, escolho a lingerie pensando nele, deve imaginar que eu escolho uma lingerie bem safada na espera de que um dia ele me pergunte o que estou usando por baixo da minha roupa comportada, que eu finja timidez e responda baixinho toda cheia de uma vergonha simulada. Coitado... Deve pensar que eu escrevo poemas pensando nele, que eu choro ouvindo músicas românticas pensando nele, que ensaio receitas especiais que comerei sozinha na expectativa de um dia poder servi-lo. Coitado... Deve pensar que desabotôo o último botão da minha blusa só para que ele perceba o meu decote e se de conta que meus seios são maiores e mais bonitos do que os mirradinhos peitos da esposinha toda certinha, com carinha de santa. Coitado... Deve pensar que eu só fico até mais tarde quando ele resolve fazer hora extra, na esperança de que ele tome coragem de me jogar em cima da sua mesa quando todos os outros tiverem ido embora. Coitado... Deve pensar que sou amarga por ser mal comida, e que bem comida só seria por ele. Coitado... Deve pensar que minha boca grande de lábios finos sonham em ver meus joelhos encostando o chão diante dele, ele com aquela calça social sempre irritantemente bem passada pela esposinha com carinha de santa, toda certinha, arriada até os tornozelos para provar que ainda que sejam carnudos os lábios dela, minha boca grande pode mais. Coitado... Deve pensar que sempre que aceito os convites para o happy hour do escritório, sento propositalmente do lado dele e fico cruzando e descruzando as minhas pernas grossas para que minha saia comportada cada vez se descomporte mais, e ele perceba as coxas lindas que tenho. Coitado... Deve pensar que mudei o horário da academia só para fazer junto dele, só para que ele veja através da marca que fica na minha calça branca de ginástica como é pequena a minha calcinha. Coitado... Deve pensar que depois de ter me pedido para comprar o perfume que daria à esposinha certinha com cara de santa no aniversário de casamento, comprei um igual pra mim só para que ele confundisse o pescoço que deveria cheirar, lamber, morder. Coitado... Deve pensar que na viagem marcada pelo nosso chefe para a semana que vem, depois dos treinamentos todos, lá pelo terceiro ou quarto dia me chamará para tomar um drink no bar do hotel, que vou rir das suas piadas, que em algum momento vai tocar de leve as minhas mãos e elas vão estar geladas, suadas, vai me olhar fundo nos olhos e eu vou me tremer inteira de medo e tesão, que quando me disser o número do seu quarto e que a porta estará aberta, eu irei fazer charme, irei para o meu quarto, ficarei andando de um lado para o outro olhando para o relógio a cada cinco segundos, e quinze minutos depois irei até ele, tirarei a minha roupa e farei com ele tudo o que ele quiser que eu faça, sem negar, sem contestar, bastará ele mandar que prontamente eu atenderei. Coitado... Semana que vem eu não viajo. E ele uma semana longe de casa. Ele não sabe, e jamais pensaria que convidei, assim como quem não quer nada, a esposinha para uma cervejinha só entre mulheres. Ele não sabe do convite, ela não sabe que serão apenas duas as mulheres presentes. É que eu tenho um fraco por mulheres com carinha de santa. Comigo ele não tem chance, coitado... De mim ela não escapa, coitada...

2 comentários:

Shuzy disse...

aaah esses finais...!

Bruna Rafaella disse...

Finalmente você...
concordo com a sua leitora Shuzy,
eu nunca adivinho o final!
me surpreende, que raiva!

Adorei!

Estava com saudades dos seus temperos!!!


Grande Beijo!!!!!!