sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Desejo


Primeiro, minha mão esquerda espalmada te acariciou o ventre.

Depois a direita, em seguida ambas, ritmadas, constantes. E tu fechaste teus olhos de tanto prazer.

E deixei meu corpo se deitar sobre teu corpo, pois assim permitiste, e tu, ainda de olhos fechados, sorriste de tanto prazer.

E sentiste o jeito esguio, quase cafajeste, com que me fiz escorregar sobre ti, para que pudesses sentir o calor que emana de mim e sentir-te, ainda de olhos fechados e sorrindo, suspirar de tanto prazer.

E me ergui esbelto, para que sentisses n’alma o desejo de me tocar, tanto quanto já ardia em mim o desejo de ver tua mão deslizando sobre meu corpo inteiro.

E, talvez receosa, te permitiste acariciar-me a cabeça, sentir entre os dedos teus, meus cabelos curtos, ainda que macios, para em seguida fazê-los deslizar e emaranharem-se entre os vastos pelos do meu peito.

Até que olhaste o relógio, percebeste que já era avançada a hora, e me expulsaste fria e insensivelmente de tua alcova, onde instantes atrás dividias comigo teus lençóis.

VAGABUNDA!

Tudo isto, abandonado sozinho num canto do sofá da sala, rancorosamente pensou o gato.


2 comentários:

Letícia Palmeira disse...

Muito bom. Enquanto a rua parecia dar em outra esquina, seu texto tomou a contramão.

Perfeito.

Bruna Rafaella disse...

Bom!
mas há melhores!!!
não sei porque mas já sabia o
final no começo da leitura...

Estava com saudades, te adoro!!

Beijo Grande!