domingo, 20 de junho de 2010

Dica do Don: Aerocirco - Invisivelmente


Na última quarta-feira recebi de um dos meus melhores amigos, Lange, o privilégio de ouvir “Invisivelmente”, novo disco da Aerocirco, antes mesmo do seu lançamento, a ser realizado hoje, domingo, dia 20, no site da banda. Ele está disponível para que você, leitor amigo, leitora amiga, o baixe gratuitamente. Ele o disco, não o Lange.

Como não poderia deixar de ser, antecipo minhas impressões a respeito do quarto disco de estúdio desta ótima banda desterrense.

São várias as maneiras de se observar esta nova obra do quarteto. Poderia deixar minhas impressões partindo da linha evolutiva da discografia, fazendo comparações entre uma obra e outra, apontando os sinais de amadurecimento musical – ou não - na sucessão delas, culminando em “Invisivelmente”.

Poderia construir minha análise partindo do fato de que este é o primeiro disco em que Lange e Maurício participaram efetivamente de todo o processo de construção, após terem assumido respectivamente o baixo e a guitarra da banda.

Mas vou fazer minha resenha em cima do que o próprio disco propõe.

Há um tempinho atrás, Taís Michele (detentora do passe do craque Rafael Lange), havia me contado que o disco seria batizado com o título da terceira canção, “Invisivelmente”. Naquela oportunidade, com a sinceridade que me faz ser odiado por boa parte dos músicos do Clube da Luta, disse: “puta merda, que nomezinho meia-boca...”. Torcia para que o disco se chamasse “Faz de conta”, título da excelente sétima faixa.

Contudo, no início do encarte há um texto explicando a escolha do título, e ali já joga por terra toda a minha preferência por “Faz de conta”, e faz com que tudo o mais passe a ter sentido e, de fato, não poderia ter sido outra a escolha, que não “Invisivelmente”.

Embora para mim, e boa parte das pessoas de Florianópolis ligadas em música Aerocirco seja uma banda pronta, consolidada e com uma legião de fãs fiéis e apaixonados neste pedacinho de terra perdido no mar, no restante do país eles estão começando a engatinhar. Mais do que isso, ao se mudarem de mala e cuia para São Paulo no início deste ano, dividindo os quatro um mesmo teto, dedicando todo o tempo deles à música, seja ensaiando, divulgando ou tocando, eles agora já começam a dar, nacionalmente falando, os primeiros importantes e grandes passos.

Dentro deste contexto, que “Invisivelmente” entra como título-conceito, uma banda que já existe há um bom tempo, que na sua terra-mater é uma realidade, mas que para o resto do país estava invisível, até pelo pouco interesse que os grandes centros mostram pela cultura barriga-verde, como se depois de Victor Meirelles, Luis Henrique Rosa e Vera Fischer, nada mais tivéssemos de bom, artisticamente falando. Mas sim, meus caros amigos, temos muita coisa boa em todas as áreas das artes, e a Aerocirco é uma das tantas provas disso. E tanto o é, que escolheu ela mesma se tornar visível através deste quarto disco e da corajosa decisão de estabelecer morada em Sampa.

Sendo assim, eles conseguem a façanha de, depois de quatro discos (três de estúdio e um ao vivo), lançar de novo um novo disco de estreia!

Falemos dele, então, sob este prisma.

Companheiros e companheiras, escutei em primeira mão o disco de uma nova banda. Ela se chama Aerocirco, e apresenta-se a nós com o disco “Invisivelmente”.

A banda, um quarteto de músicos florianópolitanos competentes e versáteis, chega ao mercado nacional com uma rara qualidade encontrada em um material de estreia.

Os arranjos são muitíssimo bem trabalhados e embora tragam ao longo das doze faixas uma série de influências das mais importantes bandas da história do rock, conseguem condensar todas essas informações e apresentar uma sonoridade com ar de novidade, mas com o charme do antigo. Algo como um strip-tease, a fórmula já existe há um tempão, mas é sempre diferente, sempre uma novidade muitíssimo bem-vinda.

Num momento onde o excesso de informações que poderia contribuir para a diversificação, acaba pasteurizando o que se produz artisticamente, tornando tudo muito parecido, muito embalado para consumo, Aerocirco traz diversificação.

São muito corajosos ao ousar tocar rock de uma maneira madura, mas acessível. Sem firulas, mas com capricho.

As músicas são todas muito bem arranjadas, com variações de timbres e sons. Uma bateria bastante consistente, que não se limita ao 4x4 do rock’n’roll, alterna suas levadas, mostrando criatividade na medida certa, sem exageros, deixando que a música em si seja o destaque.

O mesmo vale para guitarras, que se alternam entre seis e doze cordas e, vez ou outra, um violãozinho aqui e outro acolá. São vigorosas e bem colocadas (huummm, que dúbio, isso). Duas guitarras que mostram se conhecer bem, conversando entre si com bastante intimidade.

O baixo é preciso e criativo, prepara o terreno com segurança, para que o resto se sobressaia. Uma boa banda precisa de um baixista seguro e que saiba oferecer o que a música precisa. Aerocirco tem esse cara.
Os vocais têm a força que uma banda de rock exige, mas com a exata dosagem de melancolia que as letras, de um modo geral, pedem. Arriscam-se em falsetes muito bem colocado, e o resultado do risco que se propõem a correr, é sempre positivo.

Algumas faixas trazem outros elementos que como se fossem cores novas em uma tela aparentemente pronta, tornam a pintura mais bonita. Teclados e cordas que se destacam quando presentes, mas com a discrição suficiente para que, nas faixas onde não estão presentes, não se sinta a falta deles.

As músicas todas são boas. Têm uma variação legal entre uma faixa e outra, o que torna o disco gostoso de ser ouvido, não cansa. As letras são fáceis e em alguns momentos trazem frases que mostram que a banda não se resume a bons instrumentistas (coisa que todos são, e muito!), mas também a pessoas que buscam colocar qualidade e verdade no que escrevem.

Uma ótima banda, coesa, não trata-se de um amontoado de tocadores de instrumentos, mas de quatro caras que se completam com precisão. Um dá a deixa para o outro, um sabe quando recuar para que o outro apareça. Aerocirco mostra-se íntima da música que faz e, embora isso possa ser uma coisa meio óbvia, algo que todas as bandas deveriam ser, poucas realmente o são. Isso se dá pela química do encontro deles, e de como somam seus talentos para produzir material próprio.

Desta sinergia, brindam-nos com “Invisivelmente”, um disco que vale muito a pena conhecer. Para tanto, basta acessar www.aerocirco.com.br, e baixar gratuitamente o álbum.

2 comentários:

Unknown disse...

Mattos mo quirido, obrigado pelas palavras! Saudade do amigo!
Aquele abraço,
Mauricio

Ligia Gastaldi disse...

Muito bem colocado Don Mattos!!!!