sexta-feira, 13 de agosto de 2010

As Ruas - Antonio Rossa


Há uns meses fiz um post falando sobre o EP “Nuvem”, então recém lançado, do meu querido amigo Antonio Rossa. Um texto enorme, tão grande que acredito que só ele e a menina que cantou em uma das faixas, e que na época eu disse que parecia cantora de jingle de loja de automóveis, devem ter lido inteiro.

Tentarei ser mais sucinto, o que pelo tamanho dos meus textos, você que lê com alguma freqüência estes meus rabiscos virtuais, já deve ter percebido que é uma grande dificuldade para mim.

Há pouco mais de uma semana este mesmo Antonio me mandou com alguma exclusividade sua nova canção. Mas relapso e preguiçoso que sou, fui adiando a audição do disco. Hoje, resolvi ligar o computador e ouvir “As ruas”, o tal novo single.

Para resumir, digo que é sem dúvidas a melhor música dele. Pelo menos das que eu ouvi, incluindo o EP supracitado.

Antonio tem um cuidado de confeiteiro premiado preparando a torta campeã, quando trata a produção das suas músicas. Não há na produção nada de complexo, mas é isso que a torna tão boa. O difícil na hora de manipular a arte, seja ela qual for, é saber cortar os excessos, evitando que um amontoado de efeitos e possibilidades sonoras que hoje os estúdios oferecem aos músicos, não acabe por suprimir das canções a sua essência.

Rossa foi cirúrgico no trato desta música. Poucos instrumentos, sem firulas, deixando que o que se destaque seja a música e só. Ficou bonito, muito bonito.

Jean Mafra disse na resenha que fez deste single, que o vocal de Antonio lembra o jeito de cantar de Humberto Gessinger, mas eu discordo. Acho que a letra sim, lembra bastante o modo como o gaúcho Engenheiro do Hawaii estrutura suas letras. Outra coisa que me lembrou bastante o trio/quinteto/quarteto/trio gaúcho, foi o efeito utilizado à 1:43 de bola rolando, na frase “quantos terabites?”, aquilo é muito “GLM”, disco de 1992, um ótimo disco. Até por que aquele disco tem uma bela milonga, “Pampa no walkman”, faixa 3, lado A; e “As ruas” tem uma melancolia meio milongueira, mas com um swing bem particular acrescido pela batida do violão e pela discreta, ainda que marcante, percussão. O corinho de vozes que tem no meio da música me lembrou alguma coisa de “A guerra dos meninos”, do bom e velho Robertão, apesar de uma estar em tom maior, a outra menor.

O que mais me agrada nas coisas que Antonio produz – ele também faz vídeos, fotos, textos, blogue – é o capricho. Tem muito cuidado na obra do obreiro Antonio. E o divertido nisso, é que talvez seja exatamente isso o que mais incomoda um punhado de pseudo-artistas da ilha.

Conheço muitos músicos, fiz cobertura de shows durante uns dois anos, já tive banda, e nessa jogada toda conheci muita gente. Alguns se tornaram grandes amigos, mas a grande maioria não me tem exatamente no melhor conceito. Isso por que eu não sei ser sutil, e não foram poucas as oportunidades em que eu disse que banda A. B ou C, então famosinhas, tinha feito um show de merda, com estas exatas delicadas palavras. Por causa disso, já fui taxado de músico frustrado, mas não sou. Meu objetivo como músico era aprender a tocar “Mil Perdões” e “Tarde em Itapoã”, logo, sinto-me plenamente realizado, mesmo com o lá do meu violão arrebentado. Quando crescer, não quero ser músico, quero ser escritor.

Acontece que muitos destes grandes artistas mundialmente famosos entre a roda de amigos deles, se consideram realmente excepcionais. Não são. São bons, mas nada de muito original. E pelo fato de Antonio ter se dedicado sempre muito mais a parte visual da arte, desde que ele se enveredou na música, sei que muitos destes caras têm torcido o nariz para a obra de Rossa. Dão tapinha nas costas, e por trás insinuam pequenezas a respeito do Antonio músico.

Mas isso me parece uma grande e dolorida ferida no cotovelo, pois Antonio conseguiu gravar com tal qualidade suas músicas, e elaborou com tanto esmero seus arranjos, que os tais ficaram mordidinhos, pois suas gravações não chegam nem perto dos registros de Antonio.

Não estou dizendo que a música dele seja melhor ou pior do que a de qualquer outro músico de Santa Catarina, cada uma tem sua beleza própria e são boas ou ruins por motivos distintos, mas a qualidade sonora que Antonio conseguiu, a produção das suas músicas, vejo pouca coisa parecida por estas plagas.

Enfim, mais uma vez já falei muito mais do que objetivava falar quando comecei a escrever, é que sou prolixo mesmo, tanto quanto sou destro, faz parte da minha natureza.

A música é boa, a produção é ótima!

Achei desnecessário o falsete final, a música já tinha cumprido sua missão na terra, não precisava daquilo. Isso na minha imodesta opinião, claro está.

No mais, parabéns Antonio, gostei!

Você, leitor amigo, leitora amiga, em breve poderá ouvir esta bela canção aqui!

(OS: Há umas semanas recebi um email de Billy Rezck, outro músico local –este eu não conheço, e fiquei bastante feliz pela lembrança dele em quere saber minha opinião sobre sua obra-, com o link do seu disco recém gravado. Caso você esteja lendo, Billy, saibas que eu ouvi, mas ainda não tenho opinião formada. Ou talvez tenha, mas preciso amadurecê-la melhor. Qualquer dia desses publico alguma coisa a respeito, ou então respondo teu email com minhas considerações sobre.)

5 comentários:

Nayana disse...

coemço a desconfiar fortemente que eu te prefiro na realidade, sabe?

beijo.

jean mafra em minúsculas disse...

david, querido,
eu gostei do falsete. gostei de tudo, mas não entendo muito de engenheiros do havaí. de todo modo, largue de ser prolixo e venha tomar um café!!!

abraço,
mafra.

p.s. ué, porque não colocastates a música aí?!?

Don Mattos disse...

jean, não coloquei pois como já manifestei em outras oportunidades, sou praticamente uma besta virtual, não me dou bem com estas tecnologias. Me surpreendo com o fato de ter um blogue, tamanha minha aversão à esse mundo que finge aproximar, mas afasta, não coloquei pois não sei como fazer. Um dia aprendo.

Café é uma boa!

abraço.

Gabriel Felipe Jacomel disse...

uma coisa que admiro muito na obra musical do Rossa é a consistência e a maneira como suas canções funcionam a longo prazo. geralmente elas não pegam na veia em um primeiro momento, soam até "estranhas", o que pra mim é ponto extremamente positivo! é essa estranheza que me fez retornar às músicas dele de novo, e de novo, e de novo... e em cada vez a música ia se descortinando de tal forma até elas fazerem parte orgânica de meus dias e eu me ver cantarolando seus versos em passeios pela Trindade. música de trânsitos que, porém, fica.

Carol disse...

Pelo que notei, acho que o Rossa não tem uma preocupação de tentar ser cult ou da modinha. Pelo menos o som dele passa isso e eu acho bom, soa honesto. O que as pessoas ou a patotinha terão que entender, é que o trabalho musical do Rossa não parece brincadeira, e tem uma qualidade muito boa, um nível alto.
Esperamos que venham mais músicas e aí será possível avaliar ainda melhor. As Ruas ficou fora dos padrões. Fiquei feliz em ouvir uma música tão linda.