segunda-feira, 31 de maio de 2010

Dúvida do dia: Será que "Ele" voltou? Marcelo Rubens Paiva pergunta, Don Mattos responde.


No último post do excelente blogue do Marcelo Rubens Paiva, ele faz um questionamento bastante comum entre muitas pessoas: será que "ELE" voltou?

Questiona-se o autor de, entre outras preciosidades, Feliz Ano Velho:

"Será que como carpinteiro novamente?
Como caixa de banco?
Cobrador de ônibus?
Um mendigo de esquina, que ninguém leva a sério?
Um pipoqueiro?
Ou um agente da Lei, para colocar ordem nesta baderna, que é a condição humana?
Será que ele voltou?"


Há alguns meses eu já respondi esta pergunta, mas considerando que a dúvida persiste, respondo-a novamente, com um pouco mais de detalhamento.

Caro Marcelo, mesmo pressupondo que não você não irá ler este humilde blogue, elucido a sua pertinente dúvida: Sim, ele voltou!

Voltou mas não está entre nós, pois voltou mais pop do que da outra vez.

Ele prefere baladas, nós botecos, vai ser difícil encontrá-Lo num desses tomando cerveja. Cerveja dá barriga, e Ele, assim como estampam as gravuras de antigamente, continua com a barriga sarada. Seria um crime tomar cerveja, no máximo um vinhozinho na hora da ceia com os amigos. Vale ressaltar que, diferente da primeira vez, Ele hoje aparenta ter bem mais do que doze chegados. Aliás, caso você queira entrar em contato com Ele, pode fazê-lo através do twitter do Cara. Vale ressaltar que Ele já não curte mais harpas, arcanjos e sinfonias de querubins, se você quiser saber o som que bomba no Ipod do Cara, você também tem a opção do Myspace do Homem.

Acredito que continue multiplicando peixes, pois carne branca é mais saudável, e também vai contribuir para a barriguinha sarada. Só acho que deve ter desistido dos pães, muito carboidrato prejudica a manuteção de um índice baixo da taxa de gordura do corpo, Ele deve estar investindo mais na multiplicação das tigelas de açaí e vitaminas com granola.

Resumo da ópera: Ele voltou, virou modelo, depois DJ(?) e tá comendo a Madonna. Ou seja, mesmo com mais de 2.000 anos nas costas, continua sendo "O" cara!

Espero ter elucidado sua dúvida.

(Se você também tem alguma dúvida, não fique na incerteza remoendo indagações aparentemente sem respostas. Pergunte ao Don!)

Eu tenho medo do Google!


Sou filho de Ogum e Oxum, do Google eu sou devoto!

Não tenho dúvidas de que o Google é deus!

Ele sabe tudo, está em todos os lugares, conhece todas as pessoas. O mundo, antes dele era algo desconexo, depois dele virou uma coisa só.

Já tive provas dos seus poderes.

Há alguns meses atrás, enquanto olhava meu g-mail a espera de um milagre que intercedesse pela minha fatura de cartão de crédito vencida, veio um link patrocinado, sugerindo apostas na Mega-sena, um desses sites de apostas virtuais. Pois bem, fui lá, apostei e ganhei na quadra, pouco mais de R$400,00. Com este pequeno milagre, escapei do temeroso crédito rotativo do meu cartão Mastercard das Casas Bahia.

Outro dia estava meio desanimado, tristonho com as constantes negativas que vinha recebendo das várias editoras com quem tenho entrado em contato, na tentativa de publicar meu romance. Eis que um outro link patrocinado, de uma editora carioca, surgiu no meu email. Mandei o material para análise, e desde então estamos evoluindo bastante nas negociações. Deus Google olhando por mim!

Contudo, numa outra oportunidade apareceu um link sugerindo um aparelho que aumentaria significativamente as dimensões do meu pênis. Algo como vários centímetros em poucos minutos. Dei um sorrisinho para o deus virtual, e respondi: "Valeu Senhor Google, mas essa vou deixar para outro. Não entenda como uma desfeita, por favor. Com minhas dimensões certamente não seria escalado para nenhuma produção cinematográfica da Brasileirinhas ou do Buttman, certamente que não, mas é mais do que o suficiente para o pão nosso de cada dia."

Mas acho que o deus Google não gostou da minha recusa, e hoje eu estou com medo da sua ira. Não sei se foi uma vingança pela minha negativa, mas acredito que devo ter magoado o deus do Olimpo dos megabytes.

Nas oportunidades anteriores, o Google interferiu na minha vida, meio que antevendo coisas que aconteceriam comigo, como que me alertando: “clique aqui, meu filho, e você terá uma revelação”. Nas oportunidades anteriores, foram alertas de certo modo positivos. Mas hoje cedo, estava lá nos links patrocinados do meu email, como um novo alerta, desta vez prevendo um futuro bastante obscuro:

“Problemas com hemorróidas? Clique: www.adeushemorroidas.com.br

Admito, estou com medo.
Muito medo!

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Futebolando: Copa do Mundo (parte I)


Enfim chegou a Copa do Mundo, e como é de praxe, cada um de nós tem a sua própria seleção, aqueles atletas que gostaria de ver usando a amarelinha, mas que acabaram esquecidos pelo comandante da nossa seleção.

Tenho grandes amigos falando que se o Chamusca (técnico daquele pequeno time do sul da ilha de Florianópolis) deixasse o Medina jogar, certamente ele estaria entre os 23 convocados. E eu afirmo sem medo de errar, não fosse a lesão no ombro que o Fernandes sofreu no início do ano, o ídolo do maior time de Santa Catarina, com certeza, vestiria a camisa 10 da seleção canarinho. Há inclusive rumores nos corredores do Monumental Orlando Scarpelli, de uma proposta feita pelo Real Madri oferecendo o Kaká e mais 180 milhões de euros, pelo empréstimo do Roberto Firmino. Pode até ser interessante, assim teríamos um reserva quase à altura do Fernandes.

Há alguns meses, a Fifa organizou um concurso de frases, no qual as vencedoras estampariam os ônibus das seleções de cada um dos países que participarão do campeonato mundial. Como já foi amplamente divulgado, o ônibus da seleção brasileira terá a frase: “Lotado, o Brasil inteiro está aqui dentro!”. Claro que preferíamos que ao invés do Brasil inteiro, o ônibus levasse o Neymar e o Ganso, mas fazer o quê...

Contudo, apesar da frase já ter sido escolhida, várias das que não foram aproveitadas, certamente estariam muito mais adequadas a nossa seleção, vamos a elas:

· Um ônibus, dez volantes!
· Estamos indo de ônibus, mas se fôssemos de Ganso seria mais rápido e fácil!
· Lotado! O Shrek ficou de fora, mas o Burro está aqui dentro!
· Lotado! Como todos os ônibus do Brasil...
· Bem amigos, com essa seleção: haaaaaajaaaa coração!
· 1 Dunga, 23 Felizes e 180 milhões de Zangados.
· Os tripulantes deste ônibus darão muitas alegrias! (aos argentinos, ingleses, espanhóis, alemães, franceses...)
· Ônibus da lei Seca! (Seca Portugal, seca Costa do Marfim, seca Coréia do Norte...)
· Cuidado, direção defensiva!
· Ultrapasse pela lateral-esquerda.
· Lotado nada, aqui está cheio de “banco”!
· Errar é Elano.
· Dunga Tour: aceitamos “reservas”.
· Grupo G da Copa do Mundo: Portugal, Costa do Marfim, Coréia do Norte e Amigos do Dunga.
· Eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou!
· Se o Grafite quebrar, o Robinho dá caneta?
· Faça como o Dunga, não use craque!
· Se você acha essa seleção boa, precisa ver a que deixamos em casa!

E aí, qual a sua preferida?

(Em tempo: importante parabenizar os três maiores clubes de Santa Catarina que colocaram atletas na seleção brasileira: Michel Bastos do Figueirense, Ramirez do Joinville e Maicon do Criciúma. Há rumores de que a quarta força do futebol catarinense também está chamando a atenção dos grandes clubes europeus. Isso aí, Chapecoense, você será a próxima!)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

A verdadeira história de Romeu e Julieta


Assim que terminou de ler “Tristão & Isolda”, Will fixou ideia em escrever um romance épico que, de tão marcante, faria dele, enfim, um grande autor.

Quando sua melhor amiga contou-lhe que sofria pelo fim do namoro com um jovem do bairro, Will percebeu que, fazendo-se uns ajustes aqui, outros ali, o namoro de Julieta, sua amiga, serviria de enredo para o romance que ansiava escrever.

De tão bem escrita, a versão de Will tomou ares de verdade. Uma verdade feita para consolar os corações despedaçados. Os casais passariam a acreditar que haveria sim uma maneira de ficarem juntos, por maiores que fossem os dissabores, mesmo que essa maneira fosse a morte.

Mas as coisas não sucederam exatamente da maneira como descrevera Will.

Julieta e Romeu, seu namorado, não se envenenaram. Essa ideia não lhes ocorreu em nenhum momento.

Apaixonaram-se por acaso, mas de maneira grandiosa. Desejavam-se tanto que o ar lhes era pouco, o mundo não era suficientemente bonito para a boniteza do amor que reciprocamente sentiam.

Algumas das afirmações de Will foram verdadeiras. Romeu e Julieta namoraram sim sob a varanda dela em noites quentes de um verão que, apesar de tórrido, não queimava tanto quanto o desejo que ardia o jovem casal. Naquelas noites de outrora, a lua indiscreta, gorda e branca, espiava-os cheia de inveja.

Contudo, diferente do que contara Will, as famílias de ambos não se odiavam. As mães até se conheciam e, cordialmente, se cumprimentavam todos os domingos ao final da missa.
Os irmãos de Julieta tinham um pouco de ciúmes, mas sabiam que Romeu era um bom rapaz. Se ainda não trabalhava, era para dedicar-se aos estudos.

Eis que um dia Romeu ganhou uma bolsa para estudar em outro país, passaria dois anos fora. Julieta era ainda muito nova para acompanhá-lo e, apesar de amarem-se, sabiam-se precoces para o matrimônio.

Na ansiedade pela posse do seu amado, Julieta exigiu-lhe abdicar dos estudos para que ficasse com ela. Tivesse Julieta pedido com carinho, é provável que Romeu ficasse ao seu lado, mas, pior que o ciúme, o orgulho envenena os amores, mesmo aqueles com ares de eternidade. Com o coração rasgado pela perda do amor que acreditava definitivo, Romeu partiu. Desde então, não mais procurou por Julieta.

Achou uma estranha coincidência o romance que outro dia chegou-lhe às mãos, e relatava uma trágica história de amor cujos personagens carregavam os mesmos nomes que ele e sua ex-namorada, mas não cogitou em nenhum momento ter sido parte da inspiração para tal enredo.

Romeu tornou-se professor e passou resto da sua vida longe da terra natal.
Julieta, anos mais tarde, casou-se com um amigo do seu irmão mais velho, teve filhos e acompanhou de perto o sucesso de Will.

Ainda hoje, já velhinhos, ficam imaginando o que teriam sido, caso tivessem ousado ser. Cada vez que o céu escancara-se para que a lua se exiba nas noites de verão, mesmo distantes, Romeu e Julieta contemplam-na com uma saudade dolorida e secreta, como o joelho que dói cada vez que o tempo vai mudar.

E essa mesma lua, que outrora espiava-os cheia de inveja, agora mingua de saudades do amor que já não tem mais como ser.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Dez maneiras de colocar sua vida em risco, respondendo carinhosamente a uma simples pergunta


“Benhê, você acha que estou gorda?”

1 - Que é isso meu amor, o importante é que você esteja se sentindo bem.

2 – Não, benzinho, você está mais confortável.

3 – Não querida, na verdade eu pensei que essa pochete estivesse aí por que você ia começar a vender vale-transporte.

4 – Meu amor, eu te amo pelo o que você é por dentro!

5 – Minha linda, não se preocupe com isso, lembre-se que por trás de todo grande homem, há sempre uma GRANDE mulher!

6 – Não, minha tchu-tchuquinha, você apenas está me oferecendo uma área maior para eu poder admirar.

7 – Não, amor da minha vida, você apenas está fazendo com que o seu corpo consiga comportar o tamanho do meu amor!

8 – De jeito nenhum! Mas acho que aquela sua roupa mais larguinha, mais soltinha, de cor preta, vai cair um pouquinho melhor.

9 – Imagine, claro que não, minha fofinha!

10 – Minha princesa, você sabe que eu prometi ser sempre sincero e verdadeiro, né?

Para alegrar um pouco o dia


Mamãe, mamãe... por que o papai não tem cabelo?
- Porque ele trabalha muito, é cheio de preocupações e é muito inteligente.
- Ah, e por que você tem tanto cabelo?
- Cala boca

_________ OOOOO_________

Mamãe, mamãe... o que é um orgasmo?
- Não sei querido, pergunte pro seu pai!

_________ OOOOO_________

- Mamãe, mamãe... na escola me chamaram de mafioso.
- Amanhã mesmo vou resolver isso meu filho.
- Bem... mas faça tudo parecer um acidente, ok mamãe...

_________ OOOOO_________

- Mamãe, mamãe... o leiteiro chegou. Tem dinheiro para pagar ou eu tenho que ir brincar lá fora?

_________ OOOOO_________

- Mamãe, mamãe... uma menina de 8 anos pode engravidar?
- Ai... claro que não.
- Oooooba!

_________ OOOOO_________

- - Mamãe, mamãe... me leva no circo?
- Não, filho... Se querem te ver, que venham aqui em casa..

_________ OOOOO_________

- Mamãe, mamãe... no colégio um menino me chamou de mariquinhas.
- E porque você não bate nele?
- Ai, é que ele é tão lindo!

_________ OOOOO_________

- Mamãe, mamãe... por que a noiva está vestida de branco?
- Porque é o momento mais feliz de sua vida.
- Ah! ... e por que o noivo está vestido de preto?
- Cala a boca!

_________ OOOOO_________

- Mamãe, mamãe... é verdade que descendemos dos macacos?
- Não sei, filho... seu pai nunca quis me apresentar a família dele!


_________ OOOOO_________


- Mamãe, mamãe... na escola me chamaram de dentuço.
- Não lhes dê bola, Marcos... e feche a boca que está riscando o chão!


_________ OOOOO_________


- Mamãe, mamãe... se Deus nos dá o que comer... a cegonha traz os bebês, e Papai Noel os presentes no Natal.
posso saber para que serve o papai?



_________ OOOOO_________


- Mamãe, mamãe... porque estamos empurrando o carro até o precipício?
- Fique quieto senão vai acordar seu pai.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Vinde a mim as criancinhas


Nos fundos da Igreja, onde tradicionalmente estão as pias batismais, mais de dez casais traziam nos braços seus rebentos, uns recém-nascidos, outros já bem grandinhos, para receber a benção do primeiro sacramento que os livraria do pecado capital congênito, e de toda a maldade ancestral que, ainda que não tivessem consciência, traziam dentro de si.

Do outro lado, Lucas. Não deste, do outro, Lucas, dizia com truculência o velho padre para o novo coroinha que buscava disfarçar o nervosismo para cumprir bem sua primeira missão eclesiástica.

O problema do mundo, é o distanciamento da Igreja. Se existe tanta gente nas drogas, se tem tanta safadeza na política, é por que os pais não levam mais seus filhos à Igreja, a família não pode se afastar da Igreja, dizia o Padre para a plateia de pais e parentes orgulhosos da primeira cerimônia oficial que o mais novo ente protagonizava.

Entre Lucas, tranque a porta.

Sou o penúltimo de quatorze filhos, dizia o velho sacerdote, e posso dar o endereço de cada um dos meus irmãos, e vocês verão que nenhum bebe, nenhum fuma. Meus pais souberam nos educar na Igreja. Aquele tio bêbado da família de vocês, afirmava o Padre, é culpa dos pais que não o levaram na Igreja, deixaram que ele se afastasse de Jesus. Aquele parente que se separou, que já está no segundo, no terceiro casamento, é um rejunte mal feito, uma parede que precisa de reforma constante no reboco, por que não foi feito no concreto firme e sólido dos ensinamentos de Cristo.

Vem aqui, Lucas, vem mais perto.

Os pais escutavam-no acuados, temerosos pelo tom inquisitivo que as afirmações do pastor daquela paróquia apontavam-nos. Esse é o milênio da putaria, milênio do Diabo. É o Diabo que está corrompendo as famílias, e as famílias estão deixando. É putaria nas famílias, nas escolas, nos políticos, isso é a falta da Igreja.

Me ajude a abrir o meu cinto, Lucas, ele está muito apertado, daqui a sua mãozinha, aqui, Lucas, assim, Lucas, isso, Lucas, assim...

Nós somos uma nação destruída pela falta de fé em Deus! Não dá para levar a sério um país cujo ministro diz na televisão, para todo mundo ouvir, que as pessoas precisam transar três, quatro, cinco vezes por dia, por semana que seja. Isso é falta da Igreja, é um político tentando afastar toda uma nação do caminho do bem, do caminho de Cristo!

Vou te ensinar outra oração, Lucas, uma oração que você vai ter que ficar em silêncio, se ajoelhe aqui, Lucas, aqui na minha frente, vem mais perto, assim, o seu rostinho aqui, assim, Lucas, abre a boquinha, Lucas, isso, assim...

Se alguém aqui não está feliz em ouvir as verdades que só a Igreja pode dizer, pode levantar e ir embora. Eu não sou moleque para ficar aqui lendo o evangelho enquanto uns engraçadinhos ficam conversando. Eu nem sei mais por que eu ainda faço batizados. É uma perda de tempo. Acho que vou falar para o Bispo que não faço mais batizados. Não adianta batizar e depois não trazer mais essas crianças à Igreja, as crianças têm que estar na Igreja, tragam seus filhos para a Igreja, essa é a primeira obrigação dos pais. E vocês, padrinhos, também têm a mesma obrigação, certifiquem-se que seus afilhados estejam vindo à Igreja.

Não Lucas, eu não mandei parar, faz de novo, reza daquele jeito de novo, só que mais rápido. Isso Lucas, assim Lucas...

Caríssimos, estamos aqui reunidos diante de Deus, da comunidade, e pergunto à vocês, pais, mães, padrinhos e madrinhas, vocês realmente desejam assumir o compromisso de educar seu filho, afilhado, ensinando os Dez Mandamentos, o Pai Nosso e os ensinamentos da Palavra de Deus, incentivando para uma verdadeira fé com seu exemplo pessoal diante de Deus e da comunidade Cristã?

Aqui, Lucas, coloca a mão aqui. Não pára, continua, mas coloca a mãozinha aqui, Lucas, assim...

Também à comunidade quero lembrar que o compromisso que tem de cuidar destas crianças, acompanhando elas e suas famílias no exercício da fé e na participação das atividades da Igreja.

Isso Lucas, isso, mais rápido, mais rápido...

Caros pais, mães, padrinhos e madrinhas, para o fiel cumprimento da sua tarefa aqui assumida, você estão dispostos a renunciar todo o poder do mal, com todas as suas artimanhas e armadilhas, renegam toda e qualquer falsa doutrina, que venha ao desencontro do compromisso que aqui assumem, e renegam as pregações que põem em dúvida o amor de Deus, revelado de uma só vez e por toda a eternidade?

Isso, Lucas... Bom Lucas... Não querido, isso você engole. Tudo, Lucas, engole tudo.

Vocês, crianças, estão batizadas em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, Amém.

Ali Lucas, pegue ali no bolso da minha calça, pegue vinte reais ali. Não querido, não é para mim, é para você, compre uma balinha, um picolé, é um presente para você.

Todo poderoso Deus, agradecemos-te por haveres libertado estes teus servos dos poderes do pecado, ressucitando-os em Cristo para uma nova vida.

Volte amanhã, querido, venha depois da missa.

Irmãos, pais, mães, padrinhos e madrinhas, tragam seus filhos e afilhados à Igreja, lembrem-se sempre do que está na bíblia, Vinde a mim as criancinhas!

Lucas? Não fale sobre isso com ninguém, é nosso segredo, e contar segredos é pecado. Você não quer viver em pecado, quer? Eu sei que não.

Vão em paz, e que o Senhor os acompanhe.

Vá em paz, e que o Senhor o acompanhe.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Rosebud - Jean Mafra: BAIXE JÁ, DE GRÁTIS, FACIM, FACIM!


Eu não costumo fazer sugestões. Tem coisas que eu gosto, mas sei que existem inúmeros motivos para que outros tantos não gostem.

Mas o trabalho de Jean Mafra eu sugiro, indico, aconselho, e quase que peço: ESCUTE!

Jean é um grande artista, e é pouco provável que se fique indiferente ao seu talento, tanto como compositor, quanto como intérprete e arranjador. Além disso, consegue criar obras bastante distitnas umas das outras, mas manter uma linha clara que mantém a unidade do todo.

Se for chamar de conceitual, para muita gente pode parecer coisa de gente cult e chata, mas não, quando uso a palavra conceito associada ao trabalho de Mafra, o faço por que é nítido o cuidado que ele tem em gerar unidade, mantendo sempre uma verve de originalidade rara. É como um livro de Tomaz Eloy Martinez, quando lido de maneira superficial parece um texto desconexo, mas quando se dá a ele a devida atenção, e encantamento é inevitável.

Chega de blá-blá-blá, baixe AQUI e deleite-se.

O cabra é da peste!

PS (para não perder a viagem): Amanhã (22/05), a partir das 23:00, tem show do gajo na Célula, no João Paulo. Será o show que marcará o lançamento deste belo EP que você, pessoa esperta e inteligente, certamente baixará!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Dica do Don: Trânsito!


Ok, ok, sei que tenho andado meio sério nos últimos textos, não que eu esteja abandonando meu imodesto talento para falar besteiras, mas é que eu prefiro (muito) escrever contos, e histórias iguais as últimas que postei aqui. Sei que estas histórias não são tão populares quanto as infâmias que desde as longínquas épocas de Tô Puto acostumei meus amados leitores a receber, mas, particularmente, gosto mais das histórias do que das infâmias.

Mas não abandonarei minhas besteiras, só não serão tão freqüentes daqui pra frente.

Assim sendo, vamos a mais uma Dica do Don, desta vez destinada a orientar nossos inábeis motoristas.

1 – Caro motorista, deixar o carro em ponto morto enquanto o semáforo está no vermelho, aumentará a economia de combustível do seu automóvel em 0,0002 centavos ao fim de um mês. Se você depende dessa quantia para viver feliz, o melhor a fazer é tentar o suicídio. Portanto, para evitar se tornar um estorvo sobre rodas, deixe esta porra deste carro engatado, para que assim que o sinal abra você possa sair de imediato, ao invés de olhar para o câmbio do seu carro, e pensar: “onde fica mesmo a primeira?”

2 – O semáforo nos oferece uma breve pausa na correria do dia-a-dia, mas é muito importante ter em mente que ela é realmente breve. Não é no tempo entre uma luz vermelha e outra verde que você refletirá sobre sua existência. Por mais brilhante que você seja, não vai ser neste momento que você fará uma descoberta que mudará para sempre os rumos da humanidade, você não irá compor uma canção nem escrever um poema neste curto espaço de tempo, logo, PRESTE ATENÇÃO PARA QUANDO A PORRA DO SINAL FICAR VERDE!

3 – Assim como o tempo é insuficiente para uma nova descoberta, ele não é necessariamente grande para que você se maquie. Deixe o retoque do batom para quando você realmente parar, e enquanto estiver no semáforo: PRESTE ATENÇÃO PARA QUANDO A PORRA DO SINAL FICAR VERDE!

4 – Tecnologia é uma coisa sensacional! Já reparou que há bem pouco tempo, desde 1940 mais ou menos, todos os carros saem de fábrica com um item fantástico? O pisca-pisca, ou seta, se você for de São Paulo. Talvez você não conheça este item, mas eu ajudo, é uma alavanca que fica posicionada no lado esquerdo do seu volante, e quando você for virar para a esquerda, coloque esta alavanca para baixo, quando for entrar à direita, coloque a alavanca para cima. Como se fosse mágica, este simples movimento fará com que uma luz na parte traseira do seu carro comece a piscar na exata direção em que você intenciona entrar, não é demais? Além de poder se vangloriar de ser uma pessoa moderna, atenta às últimas tecnologias, você ainda evitará que o carro que vem atrás de você seja obrigado a dar uma freada brusca por não saber que você, seu molóide, iria entrar na rua seguinte.

5 – Quando você for fazer amor com a pessoa amada, deixe as preliminares para o exato momento que anteceder ao ato carnal, não as faça no momento em que o seu príncipe encantado a deixar em frente à uma loja na Vidal Ramos, por exemplo. Eu sei que vocês se amam, dá para perceber. Mas acredite, esta não é uma despedida definitiva, vocês se encontrarão novamente.

6 – Ok, o seu som é potente e ele custou mais do que o seu Gol GTI 1983, e deu para perceber que você é fãzasso do Luan Santana, mas por mais que lhe doa, acredite, você não se mostrará um ser-humano melhor e/ou mais evoluído se alguém a 3 km de distância, ouvir o que você está ouvindo (com os vidros fechados).

7 – Você não sabe fazer baliza, certo? Tudo bem, sem problemas. Cada um de nós tem suas próprias limitações. Eu, por exemplo, não sei fazer neurocirurgias. Talvez, para você, estacionar o seu automóvel entre dois outros carros parados seja algo tão complexo, quanto para mim é retirar tumores dos cérebros alheios, mas a solução é simples. Como eu admito ser um total ignorante em neurocirurgia, não me meto no manuseio de bisturis, se você tem muita dificuldade em dimensionar o espaço externo do seu carro, PARE DE ATRAPALHAR O TRÂNSITO E VÁ PROCURAR UMA VAGA MAIS FÁCIL! Se você faz questão de estacionar em vagas próximas as entradas dos lugares, que normalmente requerem alguma manobra, tente negociar com o Detran, alegue uma pequena dificuldade do seu desenvolvimento intelectual, e tente o enquadramento na categoria dos deficientes mentais leves. Assim, você receberá aquele belo adesivinho azul para colar no seu para-brisas, e poderá estacionar sempre em vagas livres e espaçosas.

8 – Você está parado numa rua transversal, aguardando ansiosamente a oportunidade de entrar na via rápida, certo? Eis que o próximo carro que se aproxima está a uma distância segura, que permite o seu ingresso na via rápida, mas não esqueça: A VIA É RÁPIDA! Logo, ao ingressar nela, tenha na sua mente de raciocínio moroso, que aquele carro que vem lá longe, estará a uma velocidade de pelo menos 80 km/h, se você resolver transitar dois longos quilômetros a 40 km/h, ele fatalmente lhe homenageará com uma bela buzinada, e alguns adjetivos que minha educação questionável impede de publicar neste mal-afamado blogue.

9 - Engenheiros mecânicos estudaram, entre graduação e cursos de especialização, aproximadamente 10 anos antes de estarem aptos a projetarem o seu carro. Para fazê-lo, eles estudaram as condições das estradas brasileiras, os buracos que infelizmente elas possuem, calcularam o peso que o seu carro tem, logo, não é a toa que as molas do seu carro possuem a altura com que elas saem de fábrica. Rebaixar o seu carro, além de ser uma puta falta de consideração com os anos de estudos que os engenheiros dedicaram para proporcionar ao seu possante um mínimo de segurança e condições de trafegabilidade sobre as nossas mal cuidadas vias, é no mínimo assinar um atestado de imbecilidade de proporções bestiais.

10 – O seu carro anda para frente, certo? Colocar um neon azul o assoalho não melhorará em absolutamente nada, a sua visão noturna. Tirar aquela película 80% preta dos vidros, talvez ajude, mas o neon, certamente não. E acredite, não é bonito. Vai por mim, não é bonito MESMO!

11 – Quando paro para pensar nas mazelas que acometem a humanidade, nunca sei o que é pior: as enchentes no sul do Brasil, ou a zaga do Asa de Arapiraca; os maremotos da costa Americana, ou o sertanejo universitário; mas acho que o troféu “Pior merda do mundo”, deve ser dado com menções honrosas aos CGzeiros. Ser CGzeiro não significa necessariamente ser portador de uma moto 125 cilindradas. Eu tenho uma e só me locomovo com ela, mas com certeza não me enquadro nesta indesejada categoria. CGzeiro é uma espécie sub-desenvolvida de seres vivos, algo anterior aos Neardenthais, que empesteiam nossas vias terrestres. É fácil identificá-los. Mesmo que esteja nevando, eles estarão de bermudas floridas e/ou de veludo. Seus capacetes são, invariavelmente, cor de rosa. Por baixo do capacete, se você olhar com atenção, perceberá um boné virado para trás. A viseira do capacete estará sempre aberta, e ele estará usando um óculos de sol com as lentes espelhadas e a armação branca. Os retrovisores estarão virados para cima, como se fossem duas orelhas de Pit Bull. Por mais que você seja um motorista cauteloso, você jamais perceberá a chegada de um destes seres, eles surgem do nada, de repente, cortando a sua frente e já entram no corredor entre os carros, preparando o bote na frente do próximo motorista indefeso. Seus escapamentos possuem 3, 4 furos para aumentar o barulho das suas já escandalosas motoquinhas. Uma coisa importante para alertar aos CGzeiros, o que deve fazer barulho não é o escapamento, é o motor. Acredite no titio aqui, o escândalo do seu cano de descarga não tornará sua pobre 125 uma moto mais potente.

12 – Comentei por alto estas breves dicas com um rapaz da minha faculdade, um carinha com muito dinheiro no bolso e um belo carro importado para o seu diário ir e vir, da casa para a academia, da academia para a faculdade, da faculdade para o El Divino, e assim sucessivamente. Ele me disse o seguinte: “Qualé, ô Mané, tu falas isso por que és pobre, fica andando por aí de 125.” É verdade, ando de 125, mas esta fala do meu colega de estudo me fez lembrar de uma bela passagem bíblica, Deuteronômios, capítulo 17, versículo 5, se não me falha a memória, que diz mais ou menos assim:

“E subiu o Messias ao cume do Monte das Oliveiras, e olhando para os muitos que se aglomeravam a espera da palavra do Senhor, disse: ‘Bem aventurados irmãos, de verdade em verdade vos digo, sim, nasci pobre, e pobre permaneço. Mas para a cura deste mal eu trabalho, e se hoje transito a bordo de uma motocicleta 125, não tardará para que os talentos que eu recebi do Pai, e que estou semeando em terra de bons frutos, multipliquem-se de tal maneira que me permitam comprar uma moto de maior cilindrada. É verdade, sou pobre, mas isso se resolve. Mas e tu, fariseu de merda, que nasceste mais feio que a necessidade e tão inteligente quanto um pão ázimo?”

Tá lá na bíblia, pode procurar.
Palavra da salvação!

terça-feira, 18 de maio de 2010

Seu Tiriri


Depois que o chute violento e seco colocou a porta abaixo, quatro foram os tiros direcionados a ele. Três acertaram-no em cheio, dois no peito, e o último no pescoço, quase no queixo. O quarto tiro estilhaçou o espelho atrás da banheira redonda de hidromassagem. Um estrondo perfeito para o final marcante que, desde o enfarto, ansiara para si.

Antes deste evento, em três oportunidades quase escafedera para sempre da face da terra, mas como que por teimosia, recusava-se em abandonar a vida de uma maneira que julgasse inglória, mediante seus tantos feitos que, segundo ele, eram merecedores de algo tão impactante quanto sua desavergonhada falta de caráter.

Tinha trinta e nove quando os tiros de Bartolomeu, marido de Etelvina, uma frentista muito feia e bastante fácil que atendia-o toda semana no posto perto da sua casa, e que eventualmente comia, alvejaram-no.

Aos vinte e oito, ainda bastante jovem, enfartou numa mesa de pôquer. Os outros, acostumados com seus calotes, acreditavam tratar-se de mais um dos seus tantos golpes, uma encenação qualquer para evitar a cobrança do muito que devia.

Não era.

Quando a ambulância do SAMU chegou, já eram quase nulos os sinais vitais, e no hospital o plantonista residente que o atendera alertou à Dona Jandira, sua mãe, que se preparasse para o pior, pois muitos foram os minutos que permanecera com o coração estagnado. Provavelmente à vida não voltaria, e se voltasse, as seqüelas decorrentes da falta de oxigenação no cérebro seriam inevitáveis, irreversíveis e penosas, tanto para ele quanto para os entes que ainda suportavam a sua presença.

Não vou morrer de uma morte tão escrota quanto um enfarto, disse para sua mãe no dia em que, para surpresa dos médicos, recobrou os sentidos sem o menor sinal de qualquer conseqüência física que fosse, No dia em que eu morrer, vou morrer de uma morte à altura da minha indignidade.

Aos trinta e dois ganhara notoriedade nacional quando fora o primeiro a ser diagnosticado com aquela gripe que vive às voltas com a crise de identidade, ora suína, ora A, ora AH1N1, enfim. Fora atirado novamente à uma cama de hospital com uma gripe tão desconhecida quanto maldosa, e que asseverava-se sobre a saúde debilitada de boêmio, que ele cultivava a base de cigarro, cerveja, mulheres sujas e noites em claro. Outra vez, Dona Jandira fora alertada pelos médicos de que, por tratar-se de um paciente já enfartado, e o avanço quase incontrolável da gripe que já transmutara-se em pneumonia, nada mais havia que ser feito, desta vez não escaparia.

Escapou.

Já viu vagabundo morrer de resfriado? Já viu cafajeste morrer de catarreira? Não seria justo eu o primeiro, disse já na casa de sua mãe, enquanto tomava a canja que Dona Jandira lhe preparara com todo o amor materno de quem guarda a resignação de ter falhado na educação do único filho.

Quando recém completara trinta e seis, fora atropelado na calçada enquanto apostava cinqüenta reais no burro, com o Seu Garrafa, bicheiro-mor do bairro. Uma mulher perdera o controle do carro numa curva, ao desviar de um gato que atravessara a rua sem a cautela de olhar para os dois lados, e acertou-o em cheio. O diagnóstico assinalava rompimento do baço, hemorragia interna e fraturas múltiplas. Morte certa, inescapável.

O desgraçado sobreviveu.

No bar, meses mais tarde, os amigos – tão bêbados e sem valor quanto – riam dizendo que ele quase morreu por ter apostado errado, devia ter colocado a onça empenhada no gato que atravessara a rua, e não no burro, Se para cada mulher barbeira que existe no mundo, um homem for morrer, vai ser o fim da espécie humana, disse entre um copo e outro, Não era no gato que eu devia ter apostado, era na vaca. Meia-roda dos infernos.

Se ele fosse um pouco mais romântico, ou se o motel não fosse tão vagabundo, talvez a porta fosse mais resistente e tivesse resistido ao pontapé do Bartolomeu. Mas ele nunca foi de gastar dinheiro com essas coisas, e gabava-se dizendo que, Romantismo de cu, é rola, ostentando toda a sabedoria de quem não sabe nada.

Entre os gritos desesperados de Etelvina e a fúria de Bartolomeu, ele olhou para o seu sangue que tingia a água amarelada da banheira, e viu que isso era bom. Atrás do marido traído, só ele percebeu entrar no quarto arrombado um alegre cortejo de Exús, que vinham buscá-lo bebendo cachaça, fumando charutos vagabundos e gargalhando. Entre eles, uma Pomba-Gira linda, vestida de vermelho e com uma enorme rosa escarlate presa ao lado dos cabelos trançados, de nome Carmencita, dizia, Vem Seu Tiriri, vem que é chegada tua hora.

E antes que seus olhos fechassem para não mais abrir, disse sorrindo, Agora sim!

segunda-feira, 17 de maio de 2010

As canções que você fez pra mim


Era conhecido por Beto, mas chamava-se Erasmo.
Quando Afonso, pai de Beto, foi à quitinete de seu filho, foi acompanhado pela culpa. Teria que reconhecer o corpo de Beto, encontrado morto ao lado de uma carta fechada e um bilhete aberto. Há 26 anos, sabia que ao registrá-lo não estava dando-lhe um nome, e sim uma sina.
Tão logo sua esposa engravidou, combinaram que se fosse menina, seria Fernanda, menino, Fernando.

Ela convalescia na maternidade quando Afonso, embriagado e na companhia de seus irmãos de boteco, foi registrar o filho. Mas Afonso, tesoureiro do fã-clube oficial do Roberto Carlos, foi desafiado pelos amigos a batizar seu primogênito em homenagem ao Rei. Ele disse que não, não havia outro homem que fosse merecedor de carregar o nome do Rei. Então batiza de Erasmo, que não é Rei, mas tá sempre com ele, sugeriu um dos amigos. Foi o que ele fez.

Após a mágoa inicial, a mulher acostumou-se em não ser mãe de um Fernando. Mas para provocar o marido, chamava Erasmo de Roberto, que com o tempo virou Beto.
Beto cresceu, e além do sobrenome herdou do pai a paixão pelo Rei. Mas Beto não era apenas mais um fã, ele fez de sua idolatria um estilo de vida.
No início apenas vestia-se como o ídolo, roupas azul-claro, o mesmo corte de cabelo, os trejeitos, tudo muito parecido. Os amigos divertiam-se com o colega que ria daquela mesma maneira pausada e canastrona que tantas vezes viram Roberto Carlos, o verdadeiro, rindo nos especiais de fim de ano.

Todavia, com o tempo Beto passou a comunicar-se utilizando apenas trechos de músicas do Rei. Alguém perguntava por que ele agia daquele jeito, ele pensava, demorava, e dizia, "Estou fugindo de mim mesmo, fugindo do meu passado, do meu mundo assombrado."
Aos poucos aquela maneira de se comunicar tornou-se automática, como se todo o seu vocabulário fosse feito apenas de frases compostas por Roberto Carlos.
Júlia apaixonou-se por Beto, achou bonitinho o jeito que ele falava. "Eu te darei o céu meu bem, e o meu amor também", disse Beto no dia em que começaram a namorar, fazendo-a crer que era de fato um "Amante à moda antiga".
Mas aquela mania de conversar em versos tornou-se cansativa, e ela resolveu terminar o namoro. Findado o relacionamento ele a olhou nos olhos e disse, "Existem mil garotas querendo passear comigo, ‘báái’".

Desde a adolescência Beto escrevia cartas para Roberto Carlos, sem saber como reagiria caso recebesse uma resposta. Os mais próximos diziam que ele tinha problema, ele respondia, "É mais que um problema, é uma loucura qualquer."

Quando Afonso chegou à quitinete e viu o corpo do filho no chão, deitado sobre a poça de sangue que vertia da têmpora baleada, viu que ao lado dele havia uma carta lacrada, cujo remetente era o próprio Roberto Carlos.
Por não considerar-se digno de ler o que o Rei em pessoa lhe havia enviado, Beto deixou como último registro apenas um bilhete, uma única frase escrita com a letra trêmula:

"O importante é que emoções eu vivi."

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Não é o que parece


Eu gostava tanto dela...

Parecia doença, mas era só bem-querer.

Ela sempre gostou daquele cantor.
Aquele baiano, que fala fino, jeitinho de baitola.

Parecia frutinha, mas sei não.

O negócio é que ele fez uma apresentação numa cadadezinha aqui perto, viagem rápida. Eu levei ela.
Ela chorou de contenamento, ficou que só ela. Pediu pro segurança pra falar com o artista, chegar um pouco perto que fosse, mas deixaram não.
Ficou tão chororô, pobrezinha.

Parecia amargura, mas era só tristeza.

Dei meu jeito. Contornei os segurança, dei balão em todo mundo. Cheguei perto do artista, ele ficou assustado. Disse que ela gostava muito dele. Pedi pra que ele tirasse um retrato com ela, falasse um pouquinho, um minutinho que fosse, qualquer coisa. Pedi com educação, ele me tratou muito mal.

Parecia intromissão, mas era só carinho de admiradora.

Pra tentar se livrar de mim, chamou o segurança. Mas eu expliquei de novo, disse que ela gostava muito dele, que só precisava de um retrato, um minutinho que fosse, ela já ia ficar feliz. Talvez ele precisasse de muito pra ser feliz, ela não, um retratinho simples bastava, só aquilo já tava de bom tamanho.

Parecia invasão minha, mas era só meu amor por ela.

Ele deixou. Fui chamar ela pra tirar um retrato, a bonita ficou contente de dar gosto, feliz que só vendo. Fiquei mais satisfeito ainda de ver ela assim, toda boba de contente. Ela dizia que nem sabia como dizer o tanto que tava agradecida, ficou que não dava conta. Eu também fiquei todo faceiro, só de ver ela daquele jeito.
Quando ela chegou, o cantor ficou admirado.

Eu parecia povinho, ela parecia princesa.

E deu toda atenção pra ela, convidou pra sair com ele e tudo, esqueceu que eu tava do lado.

Parecia o cantor querido que aparecia na televisão, mas era o mesmo safado que há pouquinho não queria ver ninguém.

E conversaram bastante, como se não tivesse ninguém mais. Nem notaram eu ali do lado. Tomaram água, ele deu bebida pra ela, uma amarela com bolhinha. Ela ficou alegre, rindo que nem besta.

Parecia atenção, mas cheirava safadeza.

Ela ficou toda faceirinha, ria alto, mexia a barra da saia com a mão livre do copo.

Parecia alegria, mas era desfrute.

Quando ela pediu mais um pouco da bebida, ele puxou ela pra bem perto e deu um beijo. Ela deixou. Eu fiquei muito danado da vida.
Fiquei comido de raiva, virado no capeta. Puxei meu revólver e descarreguei tudo nos dois. Caíram na hora, mortinhos, mortinhos, os desavergonhados.

Parecia ciúme, mas era justiça.

Vim pra cadeia pagar pela safadeza dos outros. Aqui, honra de corno lavada no sangue é pena que merece respeito. E lençol no pescoço é direito que não se nega.
Pros outros é até bom, o furdunço que dá na cadeia abre brecha pro escape.
Lençol no pescoço é direito que não se nega.

Parece arrependimento, mas é só saudade.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Aquele amante à moda antiga


No auge da maturidade que se é possível ter nos seus recém-completados quatorze anos, ligou para aqueles lábios, os quartos que beijara, primeiros que forneceram-lhe coragem suficiente para um pedido de namoro, e disse, Amanhã te farei uma surpresa, Eu sei o que é, disse ela, Sabe nada, retrucou ele, Sei sim.

E nessa de sei não sei, foram uns tantos minutos, e umas duas advertências da mãe lembrando que já estava há tempo demais no telefone, e deste jeito não haveria jeito da conta baixar.

Tantos foram os “sei o que é; não sabe”, quanto os “então diz; não, diz você”.
Amanhã você saberá, Mas eu já sei, evoluía o diálogo sem sair do lugar, Mas se você quiser saber, eu digo o que é, disse ela, Não, deixa que eu digo, então, respondeu ele.
Não, não me diga, eu vou dizer o que acho que é, e você me diz se eu estou certa, Tudo bem, então diga.

Nem os anos conseguem ser tão arrastados quanto os segundos que antecedem revelações como aquela, ele estava nervoso, mas não deixava transparecer. Ela estava segura, e não fazia questão de disfarçar, até por imaginá-lo tão seguro quanto.

Amanhã você vai me comer!

Silêncio.

Viu? Acertei! Fala a verdade, era isso, né? Você vai me comer, essa era a surpresa, né? Eu sabia que você ia querer, eu também quero, tenho certeza que vai ser bem legal.

É. É isso. Vai ser legal.

Os segundos voltaram a ter sua duração habitual, e rapidamente a ligação foi findada.

Antes de dormir, perguntou para a mãe se poderia trocar de escola, já, amanhã. Não queria mais estudar naquele mesmo lugar que estudara desde o primário.

Não podia. Não havia razão para tanto. Eles moravam perto da escola, o ensino era bom e o preço era justo, continuaria estudando ali e ponto final.

Apesar da pouca idade e embora não houvesse na sua família qualquer vestígio de realeza, era também ele um amante à moda antiga, e por isso foi dormir chorando baixinho.

Sua tristeza não era pelo medo de perder a virgindade sem o prévio preparo emocional, mas por saber que a surpresa que planejara, não era bastante para sua jovem musa. Não seria no dia seguinte a primeira vez que diria: ‘eu te amo’.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Vermelho


Com o semblante frio e impassível, ouviu a advertência do escrivão de que, por tratar-se de um recinto fechado, não poderia fumar ali. Fora presa em flagrante após ter assassinado o próprio marido a facadas, dezessete no total, a maior parte delas na altura dos órgãos genitais.

Mal o delegado posicionara-se na cadeira giratória, ela começou a falar com raiva, com o dedo em riste apontado para a autoridade policial como se estivesse acusando, e não sendo acusada, Quando apareceu aquela empregada gostosinha da novela, aquela que dança rumba, tchá-tchá-tchá, salsa, sei-lá-o-quê, o desgraçado fez que não viu, mas deu um sorrisinho com o canto da boca que me fez entender tudo, disse ela. Pedi para ele ir à farmácia, o puto não quis, disse que iria amanhã. Mais tarde veio com aquela mão nojenta, grande, peluda nas minhas coxas, afastei ele, ‘vai bater uma para a empregadinha’, falei. Ele fez que não entendeu, fez cara de susto, mas aquela cara de susto fingida, que só homem com culpa no cartório sabe fazer. Virou para o lado e nem deu cinco minutos já estava roncando feito um porco. Não consegui dormir. Meia hora depois olhei para o lado e vi aquela careca sebosa, um braço embaixo do lençol, o outro para fora, deu para perceber que o puto estava de pau duro, desgraçado. Levantei devagar para não interromper o sonho que ele devia estar tendo com a empregadinha sem-vergonha dançarina de rumba, tchá-tchá-tchá, salsa, sei-lá-o-quê, fui na cozinha, afiei bem a faca que ele usava para cortar a carne de churrasco, voltei para o quarto e fui direto naquele pau nojento, naquele puto nojento, furei ele todo, ele começou a gritar, tentou me segurar, mas já estava todo furado, desgraçado. Ah, se os vizinhos não tivessem vindo...
Falou ao delegado que faria de novo, faria tantas vezes quantas fossem necessárias, faria pior, Se aquele merda não tivesse gritado tanto, ainda teria jogado água fervente em cima do pau ensangüentado, filho de uma puta, cão sarnento, disse ela.

Passou a noite numa cela com mais dezoito mulheres, ladras, arruaceiras, estelionatárias, presas por engano, ficou deitada no chão frio da cela, junto à um bacio sujo, transbordando fálicos dejetos amontoados ali há mais de semana. A raiva não passava, Só pedi para ir comprar o anticoncepcional, queria emendar a porra do anticoncepcional, mas o puto não podia fazer a gentileza de ir à farmácia para mim, era muito trabalho para o puto do cão sarnento, resmungava para si mesma. E assim, remoendo o ódio do marido esfaqueado, ela adormeceu com a cabeça recostada no braço que se apoiava na borda do bacio imundo.

No dia seguinte, quando vieram as cólicas e a enxurrada vermelha da menstruação, com sincero arrependimento ela chorou.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Para entrar no clima das eleições!


Lula morreu.

Deus e o Diabo brigam, pois nenhum dos dois quer ficar com ele. Sem acordo, pedem a mediadores uma solução, que decidem que o presidente do Brasil alternará um mês no céu e outro no inferno.

No 1° mês, Lula fica no céu.

Deus não sabe o que fazer, quase fica louco.

O metalúrgico bagunça tudo. Atrapalha todos os elementos das orações e da liturgia. Dissolve o sistema de assessoria pessoal dos anjos, tenta formar uma coligação de maioria absoluta na base da compra de votos.

Suborna os arcanjos e os querubins.

Transfere um km quadrado do céu para o inferno.

Nomeia anjos provisórios aos milhares. Intervém nas comunicações aos Santos.

Troca as placas das portas de São Pedro.

Envia um projeto de lei aos apóstolos para reformar os Dez Mandamentos e anistiar Lúcifer.

Funda o PTC, o "Partido dos Trabalhadores Celestiais", com estrela azul clarinho. O céu vira um caos.

As pessoas não o suportam mais e promovem piquetes e invasões. Deus não vê a hora de chegar o fim do mês para mandá-lo para o inferno.

Quando Lula, finalmente, se vai, Deus respira aliviado. Mas lá pelo dia 20, começa a sofrer novamente, pensando que dentro de 10 dias terá que voltar a vê-lo.

No primeiro dia do mês seguinte nada acontece e Lula não volta do Inferno.

No 5° dia, ainda sem notícias, Deus estava feliz, mas logo começou a pensar que, tendo passado mais tempo no inferno, Lula poderia querer passar dois meses seguidos no Paraíso...

Desesperado com a mera possibilidade, Deus decide ligar para o inferno para perguntar ao diabo o que estava acontecendo.

Ring...ring...ring...!!!

Atende um diabinho e Deus pergunta:

"Por favor, posso falar com o Demônio?"

"Qual dos dois?", - responde o empregado - "O vermelho com chifres ou o filho da puta sem dedo?"

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Cruel

Avisos paroquiais importantíssimos:

1 – O texto é longo, mas os diálogos são curtos. Mesmo sendo um diálogo, não deixa de ser um conto;

2 – Este não é um texto engraçado como normalmente eu procuro escrever para este espaço;

3 – Se alguma vez você já se sentiu ofendido(a) com algo que eu tenha escrito aqui, por favor, não leia este post. Mas volte, você é bem-vindo, apenas aguarde o próximo, ele não tardará por vir;

4 –Ainda que metaforicamente, manifestar o que eu penso não é desrespeitar o que você pensa;

5 – Não diga que eu não avisei.


_Então é assim?

_Pois é. Decepcionada?

_Um pouco. Sei lá, esperava algo mais iluminado, mais branco, mais claro.

_É, eu sei.

_Sabe? Ah, claro. Onipresente, onisciente...

_Pois é...

_Eu fiz alguma coisa de errado?

_Algumas, mas nada grave.

_Isso aqui é alguma espécie de juízo final?

_Não exatamente. Você não está em julgamento. Digamos que seja o último ato de um número de mágica, e caso você tenha interesse, eu te conto o segredo do truque.

_Que truque?

_Qualquer coisa. Se você tiver alguma curiosidade, dúvida e quiser a resposta, pode perguntar que eu respondo. Aliás, dúvidas eu sei que você tem. Várias. Mas escolha algumas, estou de bom humor.

_Por que doeu tanto?

_Ônus do bônus.

_Que bônus?

_A beleza da criação, da minha criação.

_A espécie humana? Eu?

_A beleza não era sua, era do câncer.

_Eu fui cobaia para que você observasse o câncer crescer?

_Cobaia não, alimento. Vocês não criam cobras venenosas, perigosas, letais, alimentando-as com inofensivos camundongos?

_Ah, claro. A cobra, você não gosta da cobra, a velha mágoa da maçã proibida.

_Nada disso, eu até gosto da cobra, e a maçã é uma das minhas frutas preferidas, só perde para a carambola. Só estou fazendo a analogia. Eu entendo a beleza que vocês percebem na cobra, ela tem um certo charme meio hipnótico. E entendo também que vocês a alimentem com os pobres camundongos. Eles não tinham mesmo muita utilidade.

_E é isso que você pensa da gente? Algo sem muita utilidade, como um camundongo?

_Não, vocês têm utilidade. Não tanta quanto acreditam ter, mas alguma sempre têm.

_E se eu não tivesse fumado, teria escapado do câncer?

_Se você não tivesse fumado não teria conhecido o grande amor da sua vida. Ele foi até você para acender o seu cigarro, lembra?

_É verdade.

_O que seria melhor, nunca ter fumado, ter escapado do câncer e morrer dois anos depois, sozinha, num acidente de carro, ou antecipar em vinte e quatro meses a sua morte, mas ter vivido trinta e dois anos ao lado do homem que você sempre quis? A propósito, para deixar você mais tranqüila, ele nunca te traiu. Por mais que frustre o seu discurso de uma vida inteira, os homens não são todos iguais. Sei que você desconfiava da Flávia, mas ele nunca teve o menor interesse nela. Ele sempre teve olhos exclusivamente voltados para você, se apaixonou pelo jeito que você tentava chamar atenção de algum garçom que tivesse um isqueiro para acender o seu cigarro, e aquele seu charme que só ele percebeu, nunca arrefeceu no coração dele.

_Mas ele não fumava.

_Ele saiu do bar, atravessou a rua correndo, comprou o isqueiro na padaria e voltou todo esbaforido, torcendo para que ninguém tivesse te emprestado um isqueiro. Um outro cara ia acender o seu cigarro, mas eu achei tão bonitinho o empenho do seu marido, que derrubei uma bandeja em cima do outro cara.

_E eu sempre fui tão ciumenta...

_E ele sempre te amou tanto. Você não faz ideia de como ele está sofrendo agora. Mais do que você no auge do câncer.

_É meio egoísta essa sua mania de brincar com as pessoas como se fossem marionetes, não? Meio narcisista.

_ Mas isso já estava claro no meu primeiro mandamento.

_Claro, te amar sobre todas as coisas.

_Pois é...

_Eu vou reencontrá-lo quando ele morrer?

_Não. Ele nunca duvidou da minha existência, você sim. Trouxe você aqui por desaforo, para mostrar como você errou. Quando ele morrer vai desaparecer direto. Não vai precisar se sentir culpado mais uma vez.

_E a vida eterna?

_Só a minha.

_Que sensação ruim, nunca me senti tão frustrada. Por que não estou chorando agora?

_Por que esta culpa que você está sentindo não dá para ser lavada.

_Mas tinha que doer tanto? Tinha que ser de câncer?

_Não, poderia ter sido enfarto. Mas o câncer é mais bonito. Você não faz ideia do que é ver o câncer crescendo, você se alimentando de coisas saudáveis para tornar suas células mais resistentes, e ele se alimentando destas mesmas células. É lindo, você não imagina como é bonito ver a velocidade com que ele vai se impondo, tomando conta de cada espaço saudável. É lindo, lindo, lindo.

_Mas minha garganta parecia que queimava, parecia que estavam cortando ela por dentro, devagar, com uma faca cega.

_Eu sei.

_Onipresente, onisciente...

_Pois é...

_Isso é maldade.

_Não exatamente. É uma espécie um pouco ácida de entretenimento, mas não chega a ser maldade.

_Brincar com a vida alheia para se entreter não é maldade? Um enfarto seria mais digno, mais rápido.

_A vida não era alheia, era minha. Lembra quantas vezes você espirrou meio tubo de SBP em cima de uma única barata e depois ficou parada vendo ela se debater de cabeça pra baixo, agonizando, as pernas balançando nervosas, agitadas, depois diminuindo a velocidade, até que uma das pernas faz um único movimento praticamente involuntário e pára pra sempre? Se você tivesse pisado na barata teria sido mais digno também, mais rápido. Mas você ficou parada olhando ela se debater até não poder mais suportar a asfixia do veneno.

_É verdade, havia alguma beleza naquilo. Estranho, mas talvez eu entenda você.

_Eu sei que você entende. Talvez não goste de admitir, mas eu sei que entende. Alguns sufocam baratas, outros incineram formigas com lupas, mas todos gostam dessa beleza que a crueldade tem.

_Tudo bem, sei da sua onisciência, mas saber não é necessariamente entender. Será que você me entende mesmo?

_Certamente. Não esqueça, você é minha imagem e semelhança.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Dicas para sobrevier à TPM


Frases e procedimentos para sobreviver a uma mulher com TPM nas situações
do dia-a-dia:

Você chega em casa com aquela fome...

PERIGOSO: O que tem pro jantar?
SEGURO: Posso te ajudar com o jantar?
SEGURÍSSIMO: Onde você quer ir pra jantar?
ULTRA-SEGURO: Aqui, come esse chocolate.

Vocês vão a uma festa e ela diz: Amor já estou pronta...

PERIGOSO: Você vai vestir ISSO?
SEGURO: Nossa, você fica bem de marrom!
SEGURÍSSIMO: Uau! Tá uma gata!
ULTRA-SEGURO: Aqui, come esse chocolate.

Ela diz: Como você é grosso!

PERIGOSO: Tá nervosa por quê?
SEGURO: Tudo bem que eu poderia ter avisado, assumo meu erro!
SEGURÍSSIMO: Vem, deixa eu te fazer um carinho...
ULTRA-SEGURO: Aqui, come esse chocolate.

Na hora daquele super almoço de domingo...

PERIGOSO: Será que você devia comer isso?
SEGURO: Sabe, ainda tem bastante maçã.
SEGURÍSSIMO: Quer um copo de vinho pra acompanhar?
ULTRA-SEGURO: Aqui, come esse chocolate.

Você chega em casa tarde, e ela está sentada no sofá...

PERIGOSO: O que você fez o dia todo?
SEGURO: Espero que você não tenha trabalhado demais hoje amor.
SEGURÍSSIMO: Adoro quando você usa esse baby doll!
ULTRA-SEGURO: Aqui, come esse chocolate.

E algumas definições para TPM:

TPM = Todos os Problemas Misturados
TPM = Tendências a Pontapés e Murros
TPM = Temporada Proibida para Machos
TPM = Tocou, Perguntou, Morreu
TPM = Tente no Próximo Mês
TPM = Tempo Pra Meditação

terça-feira, 4 de maio de 2010

Geração Smirnoff Ice


Este texto é uma reedição de um outro sob o mesmo título, publicado há quatro anos no site Tô Puto!

Sonho em ser pai, mas cada vez que penso no assunto várias interrogações me perseguem: religião, escola, time de futebol, horário para ver televisão, quais programas ele(a) poderá assistir, come MacDonalds, não come MacDonalds, enfim... muitos senões. Todavia, o que mais me desanima da idéia de ter um filho, é imaginar que um dia ele será adolescente.

Se os seres humanos passassem direto da infância – aquela fase em que são cheirosinhos, rechonchudinhos, engraçadinhos – para idade adulta – aquela fase em que se consegue ter um diálogo no mínimo razoável sobre as questões de maiores relevâncias na vida (sexo, literatura, música, vinho, massas, cerveja e futebol), eu teria uma dúzia de filhos. O problema é que, invariavelmente, eles serão adolescentes.

Em algum momento da sua vida aquela bolinha de carne carinhosa e bonitinha será abduzida por seres extraterrenos que colocarão no seu lugar um ser sombrio, macabro e inconformado com qualquer coisa que aparecer na frente dele. Será contra tudo aquilo que você defender. Serão detentores da verdade. Saberão mais do que você. Beberão mais do que você! (Só que escondidos).

Entretanto, existem algumas diferenças entre a adolescência atual e a de alguns anos atrás.
Antigamente (leia-se, na minha adolescência), quem era dark, gótico ou afins, era de verdade. Eram brancos como velas por que se recusavam a sair no sol. Hoje existe maquiagem que esconde até a marquinha do biquíni.

Carro rebaixado, rodão, vidro fumê, era coisa de playboy. Na sonzera do seu gol GTI 1.8 só tocava “poperô”: Ace of Base, Double You, Corona (a cantora, não o chuveiro: “the summer is magic, is magic, ô, ô, ô, the summer is magic).
Hoje em dia tem carro rebaixado com néon no assoalho tocando de tudo: dance, trance, pagode, funk, sertanejo, rock! Isso mesmo, até rock está tocando! Quem ouvia rock não tinha carro! Andava a pé até o All Star furar. E não era por que o All Star estava na moda, é por que era o tênis mais barato que tinha para vender no mercado público, depois do kichute.

Antigamente o punk tinha calça rasgada porque só tinha uma calça no guarda roupa, e ela era usada até se desmanchar. Hoje o cara entra mauricinho por uma porta do Shopping, e na outra sai transformado: piercing, moicano descolorido, calça rasgada, tatuagem, tudo que tem direito.

Hoje em dia as tribos não se encontram mais nas ruas e botecos, como acontecia antigamente. Elas se encontram no orkut, no msn, no twitter.

Tem a tribo dos “emos”, com seus cabelos lambidos, seus olhos com sombra preta e seu sofrimento sem fim. Adoro ver fotos desses caras. A cabeça baixa, o olhar deprê e a frase: “A noite não termina quando o anjo da solidão invade a nossa alma. Depois... só dor e desespero.”. Algo tão profundo e sofrido que nem o Renato Russo seria capaz de escrever.

Tem a tribo das patys/surfistinhas. Todas tiram fotos fazendo biquinho. Todas usam sapato plataforma, blusa três números a menos do que o seu (para criar a falsa impressão de que os seus púberes seios que mal começaram a nascer já são comparáveis aos de uma Fafá de Belém), 15843 pulseiras de prata em cada braço (o que me leva crer em uma forte descendência cigana), calça de ginástica vestida a vácuo enfiada no útero e, na legenda da foto o poeta da nova geração: Chorão! “Ela não é do tipo que se entrega na primeira e etc, etc, etc”.

Tem a tribo dos cyber-manos. Boa parte dos adolescentes orkutizados do sexo masculino, tende a tirar fotos com um boné torto na cabeça, estampado, de aba reta, óculos escuros e uma corrente de prata de oito quilos no pescoço. No meu tempo (um dos maiores indícios que estamos ficando velhos e quando começamos a falar com certa freqüência a frase: “no meu tempo...”) se um camarada aparecesse com o boné torto, coitado... HÁÁÁÁ, SERGINHO MALLANDRO, GLU, GLU, GLU. E pelo resto da adolescência carregaria a alcunha de Serginho Malandro. No meu tempo, se um cara aparecesse com o cabelo para fora do boné, parecendo uma moita por cima das orelhas, tal qual o fazem os garotos de hoje em dia: BOZO! VOCÊ TÁ FELIZ? ENTÃO DÁ UM BEIJO NO MEU NARIZ! Já ia me esquecendo da legenda: eH nOi$!!! sOh a dIreToRiaH!!! mExEu cUs irMauM AgoRaH GueNtAh!

E a onda agora são os adolescentes coloridos, maquiados, com superpenteados. Antigamente adolescentes envolviam-se em alguma espécie de movimente estudantil para protestar contra qualquer coisa. Hoje a principal preocupação é ter certeza que a franja está corretamente posicionada por cima de um dos olhos, e que o restante do cabelo está totalmente desfigurado, à base de muito mousse capilar.

Os tempos estão mudando.
Mas eu só me dei conta disso de verdade, quando ouvi dois carinhas conversando um dia desses:

_Tipo, pô cara, tá ligado, tipo, tomei maior ferro ontem, tá ligado?
_Só...
_Tipo, fui lá na parada, tá ligado, e tipo, tomei todas mano, tá ligado?
_Só...
_Tipo, na real, pode botar fé brôw, enchi a cara forte, só simrnoff ice a noite inteira!
_Só...

CACETE!!!!!
SMIRNOFF ICE ERA BEBIDA DE MENINA! Moleque que era macho tomava porre com vinho castelinho, aquele que vem em garrafa de plástico e que pode ser feito em casa (basta misturar tang de uva com álcool de cozinha. Líquido, o em gel não fica tão bom), ouvindo Geração Coca-Cola no toca-fitas.

Renato Russo e Cazuza eram os formadores de opinião.
Hoje é Smirnoff Ice com banda Restart, Cine e Hori no Iphone.

O Fiuk é o formador de opinião!

Acho que não vou ter filhos...