quarta-feira, 26 de maio de 2010

A verdadeira história de Romeu e Julieta


Assim que terminou de ler “Tristão & Isolda”, Will fixou ideia em escrever um romance épico que, de tão marcante, faria dele, enfim, um grande autor.

Quando sua melhor amiga contou-lhe que sofria pelo fim do namoro com um jovem do bairro, Will percebeu que, fazendo-se uns ajustes aqui, outros ali, o namoro de Julieta, sua amiga, serviria de enredo para o romance que ansiava escrever.

De tão bem escrita, a versão de Will tomou ares de verdade. Uma verdade feita para consolar os corações despedaçados. Os casais passariam a acreditar que haveria sim uma maneira de ficarem juntos, por maiores que fossem os dissabores, mesmo que essa maneira fosse a morte.

Mas as coisas não sucederam exatamente da maneira como descrevera Will.

Julieta e Romeu, seu namorado, não se envenenaram. Essa ideia não lhes ocorreu em nenhum momento.

Apaixonaram-se por acaso, mas de maneira grandiosa. Desejavam-se tanto que o ar lhes era pouco, o mundo não era suficientemente bonito para a boniteza do amor que reciprocamente sentiam.

Algumas das afirmações de Will foram verdadeiras. Romeu e Julieta namoraram sim sob a varanda dela em noites quentes de um verão que, apesar de tórrido, não queimava tanto quanto o desejo que ardia o jovem casal. Naquelas noites de outrora, a lua indiscreta, gorda e branca, espiava-os cheia de inveja.

Contudo, diferente do que contara Will, as famílias de ambos não se odiavam. As mães até se conheciam e, cordialmente, se cumprimentavam todos os domingos ao final da missa.
Os irmãos de Julieta tinham um pouco de ciúmes, mas sabiam que Romeu era um bom rapaz. Se ainda não trabalhava, era para dedicar-se aos estudos.

Eis que um dia Romeu ganhou uma bolsa para estudar em outro país, passaria dois anos fora. Julieta era ainda muito nova para acompanhá-lo e, apesar de amarem-se, sabiam-se precoces para o matrimônio.

Na ansiedade pela posse do seu amado, Julieta exigiu-lhe abdicar dos estudos para que ficasse com ela. Tivesse Julieta pedido com carinho, é provável que Romeu ficasse ao seu lado, mas, pior que o ciúme, o orgulho envenena os amores, mesmo aqueles com ares de eternidade. Com o coração rasgado pela perda do amor que acreditava definitivo, Romeu partiu. Desde então, não mais procurou por Julieta.

Achou uma estranha coincidência o romance que outro dia chegou-lhe às mãos, e relatava uma trágica história de amor cujos personagens carregavam os mesmos nomes que ele e sua ex-namorada, mas não cogitou em nenhum momento ter sido parte da inspiração para tal enredo.

Romeu tornou-se professor e passou resto da sua vida longe da terra natal.
Julieta, anos mais tarde, casou-se com um amigo do seu irmão mais velho, teve filhos e acompanhou de perto o sucesso de Will.

Ainda hoje, já velhinhos, ficam imaginando o que teriam sido, caso tivessem ousado ser. Cada vez que o céu escancara-se para que a lua se exiba nas noites de verão, mesmo distantes, Romeu e Julieta contemplam-na com uma saudade dolorida e secreta, como o joelho que dói cada vez que o tempo vai mudar.

E essa mesma lua, que outrora espiava-os cheia de inveja, agora mingua de saudades do amor que já não tem mais como ser.

Um comentário:

Anônimo disse...

Wow, Davi, que texto mais bonito. Muito bonito!
Parabéns, moço.

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O Rô-meu me falou do jantar. :)
Mas restinho que é bom, nada. :(

Beijo,
Julie(ta)