quarta-feira, 29 de junho de 2011

Volta pra mim II


Era tão pouco o que você me pedia...

Era tanto o que você me oferecia...

O erro foi termos mantido por tanto tempo nossa história em ponto morto, não seguimos adiante, nem permitimos que morresse. Acho que para economizarmos o combustível. Que besteira a minha, permitir que isso acontecesse. Embora assim tenha parecido, lhe garanto, não me faltava combustível. Não para você que, mesmo sem ter demonstrado da maneira que você merecia, era tão importante para mim. Não seguimos adiante, nem permitimos que morresse. Carro parado no farol vermelho, ponto morto. Até que você desceu do carro.

E, desde então, tudo virou uma desordem só. Esse apartamento, tão pequeno, já não comporta a sujeira que lhe obrigo porta adentro. É que, você sabe, eu faço a comida, mas a louça é com você. Preciso comprar louças novas para ter onde comer, enquanto você não resolve voltar. Preciso de uma pia nova para amontoar a pilha nova de louças novas que estará esperando pelo momento em que você vai resolver voltar.

Esse apartamento aqui, que você sempre achou tão bonitinho, tão charmosinho, apartamento antigo, pequeno, mas de peças amplas, não faz sentido sem você por perto. Admito, embora tenha sido eu que o tenha escolhido, odeio esse apartamento sem você por perto.

O erro foi meu, eu sei, eu admito. Mas você sabia desse meu modo de ser desde o começo, deixei tudo bem claro para evitar frustrações futuras, mas, mesmo você tendo dito no começo que aceitava, depois foi difícil de tolerar meu descuido, mesmo com toda a sua paciência, sei que é difícil ficar muito tempo perto de mim. Mas a vida é assim, fazer o quê?

A vida é dura, como já bem disse o Mutarelli.

A vida tá difícil sem você.

Você não faz ideia do quão difícil está.

E era tão pouco que você me pedia...

E era tanto o que você me oferecia...

Mas, isso, só percebi depois que você foi embora.

Chega a ser engraçado quando nos falamos, quando ligo como quem não quer nada para saber como você está, e você me pergunta se já tenho outra.

Não tenho e dificilmente terei, acredite.

É difícil aceitar outra mulher por aqui depois de ter tido você por perto.

Você me conhece, sabe das minhas manias, dos meus cacoetes, das minhas superstições, sabe que fico puto se algum dos vários livros que leio simultaneamente não estiver na precisa desordem que deixo na cabeceira da cama todas as noites, quando minha vista já vê as letrinhas das páginas se misturando dizendo que tá na hora de dormir, não espere mamãe mandar, um bom sonho pra você e um alegre despertar.

Lembra do comercial?

É antigo, mas sei que você lembra.

É do seu tempo.

Não, não estou te chamando de velha, temos quase a mesma idade, pouquíssima diferença.

Se bem que estou ficando velho, logo, você também está.

Enfim, sei que você se lembra do comercial.

Muito mais fácil você já estar com outro do que eu arranjar outra. Acho até que você já tem outro. Tenho pesadelos noturnos, diurnos, dormindo, acordado, imaginando que você já tem outro. Uma mulher como você não ficaria disponível no mercado muito tempo.

Só um estúpido muito, muito, muito grande para permitir que, por falta de cuidado, por falta de oferecer o mínimo que se pede, o mínimo que é justo numa relação como a nossa, ver uma mulher igual a você partir e não fazer nada para tentar evitar, não se esforçar um bocadinho que fosse.

Como você faz falta.

Era tão pouco o que você me pedia...

Era tanto o que você me oferecia...

Se pudesse voltar no tempo, faria tudo diferente, juro que faria!

Queria ser o Marty MacFly, pegar o Deloren e voltar no tempo, só para fazer tudo diferente.

Lembra do Marty MacFly?

Eu sei que você lembra, é do seu tempo.

Desculpe, do nosso tempo.

Volta pra mim?

Por favor...

Você sabe bem o quanto eu sou orgulhoso, e o quanto está sendo difícil para mim te pedir isso.

Volta pra mim, por favor...

Por favor, dona Judite, volta pra mim.

Eu pago o aumento que a senhora me pediu.

Eu pago o dobro!

O triplo!

Eu fui promovido, dona Judite, eu assino a sua carteira, pago todos os encargos, INSS, décimo terceiro, deposito seu fundo de garantia, pago férias!

A senhora vai poder tirar férias, dona Judite!

Mas sabe o estado em que vai encontrar o meu apartamento quando voltar das férias, mais ou menos como ele está agora.

Por favor, dona Judite, volta pra mim!

Por favor...

Um comentário:

Bruna Rafaella disse...

É né?
eu toda empolgada com o "romance" e
lógico, você, meu querido, sempre me surpreendendo no final, eu
tento não pensar nisso, mas sempre acontece né? amei...
Irresistível, você, seus textos.

Beijo Grande!!!!!