sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

(NÃO!!!!) Toca Raul!


Nesse momento no apartamento debaixo, toca incessantemente “Canceriano sem lar”. Boa música, do também bom Raul, que deus o tenha (apesar de ser mais provável que o diabo o tenha carregado.)

Gosto da música, gosto do Raul. A merda toda é que junto ao CD, a vizinha canta.
A vizinha é simpática, apesar de gaúcha (sim, eu sou bairrista. É mais uma das incontáveis virtudes que tenho, além da inteligência, beleza e modéstia).

Há uns meses atrás ela vivia com um vagabundo, como diria Luis Carlos Prates. O safado (que por sinal parecia alguma criatura entre o Raul Seixas e o Patropi), ofendia diariamente a pobrezinha. Gritava em alto e bom som os mais indelicados e grosseiros impropérios. Ela chorava, gritava também, mas dificilmente xingava. Era sempre o alvo, nunca a seta. Não raro percebia-se através do barulho as agressões físicas. Umas tantas vezes tentei chamar a polícia, condoído pela situação da minha pobre vizinha gaúcha. Os policiais diziam entender a minha preocupação, mas alegavam que nada poderiam fazer, se não fosse a agredida quem denunciasse o agressor. Acabei por me habituar a sinfonia de gritos, ofensas e lamentos advindos do andar debaixo.
Eis que um belo dia ela tomou coragem e colocou o safado pra fora de casa. Passou a morar sozinha.

Desde então aparenta felicidade, e fiquei feliz por ela. Os gritos não existem mais, ela não passa mais de cabeça baixa pelos corredores do prédio, com vergonha por saber que toda a vizinhança acompanhava silente e inconformada as agressões de outrora.
Agora ela demonstra orgulho pela coragem de botar o sacana pra rua.
Fiquei feliz por ela, e ela ficou mais feliz ainda por si mesma.
Mas a felicidade costuma trazer consigo um efeito colateral muito grave e sério: a vontade de cantar.

Há mais de um mês que minha vizinha gaúcha resolveu externar sua felicidade cantando. Já teve a fase Legião Urbana, já teve a fase Barão Vermelho, a fase Cazuza pé-na-cova, e agora faz uma semana que não sai do cd player dela um disco em tributo ao Raul Seixas.
O que me incomoda não é que o som esteja ligado no volume máximo. Até gosto do que se fez de música na década de 80, já gostei mais, mas ainda guardo uma sensação saudosa e boa daquela época.
O que me incomoda é que ela insiste em cantar ainda mais alto que o CD player.
E agora, neste exato momento em que a Clínica Tobias afasta o Raul do aconchego do lar, sou obrigado a confessar. É horrível, eu sei, mas sou obrigado a confessar:

Estou com saudades da época em que ela apanhava.

2 comentários:

Nayana disse...

Aff. A seta e o alvo, te odeio por me fazer lembrar dessa música!! =S

Mas fora isso, rialto. ^^

:*

Jai disse...

Cara, melhor cazuza, legião e rauzito do que reginaldo rossi e toda a patrulha brega que a vizinha de cima insiste em por no máximo nos finais de semana...
By the way, sou o amigo baiano da nayana. A guria fala bem de você, parabens pelos textos.