terça-feira, 31 de agosto de 2010

A Crente e o Garotão


Ei, presta atenção!

Presta atenção, eu tô falando. Só escuta, presta atenção!

Quero te ver morta, tanto quanto te quero minha.

Alimento esse amor involuntário e doente que sinto à sombra do ódio, da raiva. Sua velha desgraçada!

Sou novo, mas não sou criança. Sou homem, embora não me acredites. Sou bem homem, sou bastante homem, inclusive. Sou muito mais homem do que aquele velho barrigudo que te encheu de filhos, te deixou toda pelancuda e caída, gasta mais por ele do que pelos anos, que nem chegam a ser muitos, mas és tão relaxada que pareces ter dois séculos.

Foda-se o maldito do pastor evangélico que te disse que sexo é pecado! De verdade em verdade lhe digo, sua evangélica desgraçada, foi deus quem fez o sexo, e viu que era bom pra caralho! Ele viu que era tão bom, mas tão bom, que entulhou o mundo de filhos que diz serem seus. Sexo é bom, comigo seria melhor, sua velha desgraçada!

Eu sou rico, poderia te dar tanta coisa... Poderia te dar uma vida de verdade! Tu não obedecerias mais as ordens da minha mãe, e eu sei que ela é uma tirana. Especialmente contigo, ela é uma tirana.

Fico louco quando vejo a pele flácida do teu braço balançando, cada vez que te despedes da tua filha.

A propósito, comi a tua filha. Só de raiva, de picuinha, por vingança.

Pergunte pra ela, se não sou bem homem.

Tu deves saber, embora finjas que não, que de pura tua filha não tem nada. Só mais uma crente do cu quente. E como é quentinho...

Presta atenção...

Fico louco com essa tua saia até os tornozelos, deixando só uma frestinha das tuas canelas cabeludas à mostra.

Fico louco com esse teu cabelo seboso até a cintura, sempre preso num rabo de cavalo muito do mal feito.

Fico louco com essa tua pele cheia de rugas, sem maquiagens, ressecada pelo medo do inferno.

Inferno é a vida que levas, não percebes, sua velha burra?

Tu bem que podias fumar, fumar muito, fumar até ter um enfarto ou um câncer e morrer, assim sumirias da minha vida.

Já pensei em enfiar alguma coisa naquela sacola de supermercado em que trazes teus trapos de faxina, te acusar de roubo e forçar minha mãe a te mandar embora pra nunca mais ter que olhar pra essa tua cara velha, que eu tanto amo e odeio.

Eu sou muito inteligente, caso tu não saibas. Sou muito culto. Poderia te ensinar a ler e escrever. Assinar o nome não é saber escrever. Eu te mostraria livros ótimos, histórias lindas, cheias de amor, com desfechos cheios de esperança, sem que pra isso alguém precisasse ser crucificado.

Presta atenção...

Eu me converteria, se te fizesse feliz.

Eu doaria dez, quinze, trinta, noventa por cento de tudo o que a minha família tem, e não é pouco, para a tua igreja, só pra te fazer feliz.

Eu viraria pastor, pra te fazer feliz.

Compraria uma igreja inteira, mandava construir uma catedral, se isso fosse te fazer feliz.

Odiaria católicos, protestantes, macumbeiros, ateus, praguejaria contra todos que não fossem da nossa igreja. Só pra te fazer feliz.

E se não fosses tão velha, te faria uma carrada de filhos, nos multiplicaríamos feito coelhos, do jeitinho que determina a bíblia surrada que trazes embaixo do sovaco.

Presta atenção...

Eu poderia matar o teu marido, para sermos felizes juntos. É só tu me pedires, é só tu fazeres que sim com a cabeça, que eu darei um jeitinho nele. Garanto que ele não sofrerá, assim tu não te sentirás tão culpada. Farei tudo muito rápido e indolor.


Ah, menino...

Ah, se isso fosse verdade...

Pena que amanhã a bebedeira passa e tu não vais lembrar de nada.

Tu precisas é de um bom banho frio, meu filho, antes que teus pais cheguem e percebam que andasse enchendo a cara de novo.

Tu já sabes o que te acontece quando tua mãe sente esse teu cheiro de bebedeira.

Eles ainda demoram um pouco.

Vamos lá, deixa que eu te dou um bom banho. Deixa que eu te dou o banho que estás precisando. Deixa que eu te lavo, deixa que eu te ensaboo. Vou te lavar bem direitinho.

Amanhã tu não vais lembrar de nada mesmo.

3 comentários:

Daca disse...

o que eu mais gostei no texto foi a foto da gata.

mar. disse...

medo.

jean mafra em minúsculas disse...

adorei, david!

duca!