quinta-feira, 4 de março de 2010

Momento Luís Carlos Prates: o caso da "Loirinha Peituda"


Li uma notícia ontem, dizendo que uma mulher está processando uma lanchonete pois um dos atendentes a chamou de “loirinha peituda”, exigindo uma indenização por danos morais.

O caso foi julgado, considerado procedente, e a juíza responsável decretou uma indenização de R$1.500,00. A autora da ação achou pouco, pobrezinha. Ela está recorrendo na justiça, requerendo a quantia de R$30.000,00.

Não estou aqui defendendo a lanchonete, ou considerando correta a maneira pouco elegante com a qual o atendente cortejou a senhorita, autora da ação.

O que me chama a atenção é que a autora da ação não achou pouco por ainda estar se sentindo ofendida, mas assim considerou, pois sua intenção com o dinheiro da ação é trocar suas próteses de silicone, que hoje são de 300ml, por outras novas de 400ml e, para tanto, R$1.500,00 não são suficientes.

O que me leva a crer que aquilo que a ofendeu, não foi o “loirinha peituda”, e sim a pouca ênfase dada aos seus seios.

Tivesse o atendente chamado a mulher de “loirinha peitudaça!”, “loirinha dos peitos gigantes”, “loirinha boing-boing”, é provável que sequer houvesse a ação supracitada.

Momento didático: o mote de toda indenização por danos morais é estabelecer uma quantia que sirva de penalização à parte ofensora, com fins educativos, de tal grandeza que a impeça de repetir o desagravo, ou seja, sinta no bolso a cagada que fez, e nunca mais faça de novo; mas que não seja grande o suficiente a ponto de enriquecer a parte ofendida. O dinheiro tem que compensar a ofensa, mas não a ponto de a parte ofendida pensar: “pô, valeu a pena! Tomara que mais uns trinta desses me chamem de loirinha peituda!”.

Alguém que se sente ofendido a ponto de exigir R$30.000,00 de indenização, jamais retornaria ao estabelecimento ofensor. Contudo, entretanto, porém e todavia, a senhorita em questão, apesar de extremamente ofendida que ficou, continua a freqüentar assiduamente a lanchonete.

Em 2008, um grande supermercado da Grande Florianópolis foi condenado a pagar uma indenização por danos morais à um dos seus colaboradores, pois exigia a realização de revista íntima ao final de cada turno, para verificar se o funcionário não estava saindo com algum produto furtado. Isso mesmo, o cara era obrigado a ficar peladão, em posições constrangedoras para verificar possíveis ocultações em orifícios escusos (vá que ele estivesse com vontade de comer uma baguete com salaminho, por exemplo...). O advogado do funcionário exigiu uma indenização de R$30.000,00, o juiz decretou uma indenização de R$10.000,00, fim de caso. Acontece que o supermercado reincidiu, e outros dez funcionários entraram com a mesma ação, pelo mesmo motivo. Novamente, a indenização foi de R$10.000,00, ou seja, um montante de R$300.000,00 em indenizações, para ver se dessa vez o supermercado aprenderia. Não aprendeu. Um fornecedor de aproximadamente 60 anos, foi exposto ao mesmo tipo de constrangimento que os colaboradores haviam sido expostos, entrou com a ação. Quanto foi a indenização?

R$1.000.000,00 (hum milhão de reais). Opa, peraí, a ofensa dele foi mais cara que a dos outros? O cachê para o velhinho ficar pelado era mais caro?

Não, neste caso, o mérito da questão é que a pena que deveria ser educativa para a empresa, não vinha sendo, por isso a necessidade de desta vez dar uma cacetada bem dada. Agora, até então, o supermercado aprendeu, pois o fato não mais se repetiu. R$1.000.000,00 é muito para uma pessoa, mas não foi na ocasião, pelo histórico da causa. Ainda que a quantia seja grande para uma pessoa, foi necessária para, finalmente, educar a empresa. Ou coibí-la.

Voltemos a “loirinha peituda”.

A ação dela é absurda!
Trata-se explicitamente de um caso de tentativa de enriquecimento ilícito, como existem tantos no nosso estimado país. Se a moda pega, as construtoras do Brasil estão ferradas! Imagina, se para cada cantada que um pedreiro der, a construtora tiver que pagar uma indenização de R$30.000,00, ninguém mais vai se aventurar a empreender no mundo da construção civil.

O jeitinho brasileiro me irrita!
O problema do Brasil, como já disse João Ubaldo Ribeiro, não são os políticos, são os brasileiros.

Mania desgraçada de querer se dar bem do jeito mais fácil, ainda que não seja o correto. Não há avaliação de certo ou errado, a simplesmente a avaliação do que é mais conveniente para mim, onde posso levar mais vantagem.

O Brasil é essa merda que é (sim, o Brasil é uma grandessíssima merda), por que somos geridos por pessoas incompetentes em todas as esferas, levando vantagens pessoais em todas as esferas. E isso não se resume à vida pública, na vida privada é a mesma coisa, uma cabeçada se achando esperta por que ficou com R$0,50 a mais no troco errado que o cobrador de ônibus deu, ou melhor ainda, quems sabe faturar R$30.000,00 de uma lanchonete que talvez não fature isso em dois meses de trabalho (estou falando de faturamento bruto, não líquido),e além da grana ainda ter meus quinze minutos de fama, por ter levado uma cantada de mau gosto do atendente.

VAGABUNDOS! LEVA ESSES VAGABUNDOS NA MINHA DELEGACIA! VAGABUNDOS!

Pronto, acabou meu momento Luís Carlos Prates, mas não folga não, se não eu me irrito e ele volta!

Um comentário:

Anônimo disse...

Concordo em gênero, número e grau contigo David. E ouso completar, enquanto as famílias continuarem delegando a educação moral às escolas (isso quando delegam alguma coisa) e não tiverem autoridade peranto aos filhos nada disso vai mudar. O que falta no Brasil, e nas famílias de um modo geral, é carinho, autoridade, transmissão de valores, bons exemplos e a atenção necessária às crianças.