terça-feira, 2 de março de 2010

Por favor, encerrem a Samambaia Sound Club!



Jean Mafra é o maior, e talvez único, artista de fato na nossa ilha.

Não é babação de ovo de amiguinho para amiguinho, e eu não quero comer o Jean, e espero do fundo do meu coração que ele também não queira me comer, detestaria partir o coraçãozinho dele.

O fato é que existe uma penca de ótimos músicos, ótimas bandas na nossa encantadora ilha, mas só há um artista, e ele é o Jean.

Jean é o melhor compositor brasileiro da atualidade!

"Porra Mattos, menos, bem menos!"

Não, menos não. Realmente penso isso.
Acho que o Jean e a dupla Camelo/Amarante, são os melhores compositores da nossa geração, nós nascidos na segunda metade da década de 1970. A diferença entre o primeiro e os segundos, é que os últimos estouraram nacionalmente, Jean (ainda) não. São lindos os versos de Marcelo Camelo, mas só Jean é capaz de compor uma música tão delicada, mas tão delicada, que quase torna subjetivo o erotismo que nela está, como é em Rosebud (acesse o myspace do gajo, clique aqui). Jean tem ainda o talento de, sem grana, estar sempre cercado por músicos de primeiríssima linha.

Se eu puder te dar um conselho (não, eu não vou mandar usar filtro solar), eu digo: Fique atento, e na próxima vez que houver um show solo do Jean, seja no Teatro do Sesc, ou no Credicard Hall, não perca de jeito nenhum. Cada show dele é algo novo, e é impossível dizer qual é melhor, pois eles são bons por motivos diferentes. Só não é bom quando tem participação daquele baterista barulhento da música livre, se é que se pode chamar aquilo de música. Sim, sou radical mesmo. Radical e exagerado, tá no DNA da minha família, o exagero. Mas não é exagero quando elogio Jean.

Jean Mafra tem uma capacidade inventiva singular, e uma energia inesgotável para se mobilizar e mobilizar os que estão a sua volta na busca por algo melhor no campo das artes. Ele é incansável.

Busca parceiros para produzir coisas novas, busca coisas novas para encontrar parceiros. Não se limita às fronteiras de Santa Catarina, interage com o Brasil inteiro, o tempo todo. Está sempre aqui, ali, lá e além. É talentoso e sabe disso, por isso aceitou ser este paladino da boa arte num país tão desleixado com suas crias artísticas.

Jean saiu da Samambaia Sound Club.

Uma banda ótima, sempre divulguei para todos os meus amigos, tanto de Floripa quanto de fora, comprei CDs deles só para dar de presente para amigos de fora, mas sempre com a seguinte ressalva: "Cara, escute o disco, mas te aviso, Samambaia Sound Club não é música para ouvir, é música para ver! Tu só vais entender o que está aí nesse disquinho, depois que assistires um show da banda!" E assim era. Samambaia sempre foi radiante no palco, pulsante, com uma presença de palco incendiária. Todos da banda contribuíam para isso, a entrada de Jaguarito fez da Samambaia uma banda completa.

Primeiro saiu Jaguarito, que foi uma perda enorme para a banda. Por melhor guitarrista que seja o Ulysses, e todos sabemos que ele é muito, muito foda, Jaguarito foi imprescindível para tornar a SSC o que ela se tornou, tanto pelo talento enquanto músico, quanto pela sua presença de palco. Jaguarito é foda!

Agora saiu Jean.

Aos que ficaram, eu desejo boa sorte, mas faço um apelo: por favor, encerrem a Samambaia Sound Club!
Não faz sentido Samambaia sem Jean. Já era esquisito ver a Samambaia sem o Jaguarito, mas sem o Jean a banda perde o sentido. Ele é o principal compositor, ele é o frontman, ele é o deboche que faz da SSC uma banda diferente das outras.

Não estou sugerindo que parem de tocar. André Guesser é, para mim, o melhor baterista de Floripa, Thiago é um fazedor de sons na guitarra, é muito criativo com seus 15685798463513 pedais. Embora não seja uma virtuose (e quem disse que é necessário ser?) ele tem uma coisa que muitos outros guitarristas, por mais técnicos que sejam, não têm, um som próprio. Inúmeras vezes eu ouvi um outro som qualquer, e comentei com quem estivesse comigo: "Olha só, isso aí é guitarra de Thiago Gomes", conseguir isso é prova de talento. Daniel é gente fina pra caramba, toca bem, mas não chega a ser um grande músico (Daniel, meu querido, como diria o Don, o outro, não eu, "não é pessoal, são apenas negócios").

Façam outra banda, criem outro repertório, vocês são ótimos juntos, mas já não são mais a Samambaia Sound Club. Deixem a Samambaia descansar na nossa saudade, na lembrança de uma banda incendiária e única por estas plagas. Isso é uma prova de respeito à vocês mesmos.

Gosto muito de todos da banda, fiz Escola Técnica com o Guesser, o segundo ano do segundo grau com o Thiago, enfim, os considero meus amigos. Mas se aceitam a opinião de quem é (ou foi) fã da SSC, permitam-se ocupar na memória da ilha, o lugar que vocês merecem ter.

Estou ansioso para ouvir o disco que está pronto. Das músicas que ouvi, sei que vem coisa muito boa por aí. Mas por melhor que seja o que ali estiver, não será o mesmo se não for com Jean e Jaguarito, logo, não fará sentido. Usem o disco como o Gran Finale. Permitam-se um Gran Finale!

Se formos sinceros, já percebia-se um desgaste na banda há algum tempo, mas a qualidade de vocês sempre se sobrepunha aos desgastes que todo relacionamento gera.

Salvadas as devidas proporções, não cometam o mesmo erro dos Titãs, que deveriam ter acabado depois do primeiro acústico, talvez estendido até o segundo.

Os elefantes são considerados sábios não por terem boa memória, mas por saberem a hora de se afastar da manada.

6 comentários:

Unknown disse...

O Jean é o nosso Caêzuza!

Tio Ronnie disse...

Assim como a maioria das bandas da ilha, A SSC perde quando seus integrantes tem interesses conflitantes com relação ao futuro da banda. Digo isso, acreditando que os conflitos existem e fazem parte de qualquer relacionamento. Mas quando esses conflitos não convergem para interesses comuns (no caso a SSC) então já não existe mais banda.

O fato é que a maioria dos nossos músicos ainda NÃO acreditam nos seus próprios talentos, abdicando da "carreira musical" (pode não ser o caso do Jean, mas com exemplos na banda) para trilhar hits em uma repartição pública, ou em uma "firma"...é mais firmeza, garante o dindin (complexo de Marty Macfly).

E assim caminha a música em SC... Perde o público (por mais pequeno que seja) que gostava das bandas...Left, Jerusos, Capitão Caverna, Phunky Buda, Udigrudis... Não sou um fãããã como o Mattos (menos Mattos, bem menos)mas lamento a perda, vivi isso em família... diante desse quadro o que tenho que admirar é a coragem da Aerocirco em converger talentos para um único objetivo...tocar e se divertir JUNTOS, caminhando contra a maré, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza.

Anônimo disse...

Nunca fui a um show da SSC por contratempos do destino, apesar de ter muita vontade. Mesmo conhecendo uma parcela ínfima da produção da banda e do Jean, ele representava, pra mim, a alma da banda. Confesso que sem o Jean tudo perde o sentido. Uma pena, agora me resta assistir a um show apenas dele, não que isso seja ruim, bem pelo contrário, mas SSC acabou, a energia e a autenticidade da Samabaia findaram. Realmente uma lástima, a Ilha precisa de bandas assim.

David, que bom que voltaste a colocar textos genuinamente teus aqui no blog, eles fazem bastante falta!

Josué Mattos disse...

O cheirinho! Lindos os elogios rasgados e sempre fui da opinião, elogie em público, critique em particular..

Acho uma opinião interessante a sua, mas eu, no lugar de qualquer um dos citados, mandaria um caloroso "vai tomar no #$*(%)" para você..

Sabe aquela máxima de não meter a colher.. relacionamento quem decide o fim, é quem está relacionando.. e você é fã, assiste, lamenta, comemora, e aí vai.. sugerir o fim só cabe à banda..

Eles sabem a hora de parar, trocar de nome, ou continuar. Deep Purple teve um monte de gente à frente da banda e sempre foi Deep Purple, No futuro, se o SSC continuar, quem sabe o Jean volte.. ou não.. quem sabe a SSC seja uma fábrica de talentos e apareça outro artsta? Quem sabe? Eu não sei e nem você.. os integrantes da banda? Talvez..

Não estou dizendo que devam continuar ou parar, acho que devem eles, decidir.. não um fã!

Desculpa cheirinho, mas defendo novamente "Elogiar em público e criticar no privado"

Beijos

André Guesser disse...

David, acho que não tens o total, nem mesmo parcial conhecimento do que foi, como foi e do que é a SSC. Eu tenho algo muito claro: ninguém ocupa o lugar de ninguém, o que acontece é que mudamos as coisas, neste caso, a arte. Eu, sinceramente, não dependo de ninguém pra chegar aonde quero, como outros não devem depender de mim. Quando reiniciamos a SSC, em 2004, eu trabalhei muito, mas muito, pra ocupar o espaço que ocupamos e isso conseguimos independente das pessoas, foi através de uma meta, de uma planejamento, de coisas bem feitas. Acho que pro Jean e pra SSC está sendo melhor assim, essa é minha visão. Nós vamos continuar, claro, obvio, ou tu acha que depois de anos de trabalho vou jogar uma empresa no lixo, sem mais sem menos? A SSC não é brincadeira de arte, é um pilar da minha vida. Tudo aquilo que fizemos, podemos fazer melhor, só que diferente.
Pena que vc olhe a SSC pelo ponto de vista da frente de um palco, é lamentável isso, não é só por “ali” que as coisas andam.
Tu já pensou em jogar o teu certificado universitário fora e começar outra coisa?
Eu sou amigo do Jean, tipo irmão, vamos continuar a compor, etc, mas trabalho é trabalho.
Quando tu ver um show, vais ver outra SSC, porque a mesma não existe mais, só isso. O nome é o mesmo por razões obvias, mas garanto: melhor ou pior, 70% da samambaia que tu conhece está aí e sempre foi assim, porque como disse, da frente do palco é uma coisa, de trás outra, completamente diferente.

Abs do Guesser

Anônimo disse...

Seguindo essa ótica... O Santos devia ter fechado as portas quando o Pelé saiu? Vi alguns jogos semana passada (10x0 / 9x1)e um time com Neymar, Robinho, Marquinhos e muitos outros jovens talentos e achei bem interessante!

O talento de alguns é incontestável... E daí?