quarta-feira, 24 de março de 2010

Samambaia Sound Club X Don Mattos - Segundo Round


Há alguns dias eu escrevi um texto solicitando que a Samambaia Sound Club encerrasse as atividades após a saída do vocalista e compositor Jean Mafra.

Neste texto deveras polêmico, três comentários bastante interessantes, dois deles muito inteligentes, contestaram minha solicitação, apresentando argumentos contrários a minha opinião.

ÓTIMO!

Isto é excelente!
Gosto de debate, quando alicerçado em bons argumentos ao invés de achismos ou pela vontade exclusiva em ser do contra.

Sir Mattos, meu irmão, e André Guesser, baterista da referida banda e amigo de velha data, contestaram meu ponto de vista com ótimos argumentos.

Sir Mattos embasou seu ponto de vista partindo da ideia de que quem deve opinar sobre o relacionamento em questão (a continuidade ou não da banda) é quem se relaciona, e não quem assiste ao relacionamento.

André Guesser , por sua vez, argumentou em defesa da continuidade da SSC o fato de que ela é um dos pilares da sua vida, que bons e longos anos de trabalho foram dedicados por ele à esse projeto, e que depois de tanto empenho não faria sentido ele abdicar dos litros de suor derramados em prol de um novo projeto. Disse ainda que a minha percepção ao fato é limitada, por ter restringido a minha observância à frente do palco, sem um necessário conhecimento dos bastidores, para que pudesse ter uma correta compreensão do todo.

Teve ainda um terceiro comentário, este assinado pelo Sr. Anônimo, comparando a banda com um clube de futebol. O Santos, no caso, usando como argumento o fato de nas décadas de 50/60 do século passado apresentou ao mundo Pelé, Coutinho, Pepe e cia., e agora nos brinda com Neymar, Ganso, André e o já semi-veterano (e não por isso menos talentoso) Robinho. Segundo o raciocínio do Sr. Anônimo, tivesse o Santos encerrado as atividades com a saída de Pelé, não teríamos hoje os Meninos da Vila. E que de certo modo, a SSC é uma espécie de Santos, Jean é Pelé, e em breve Neymar subirá ao palco para nos alertar que, aconteça o que acontecer, não devemos confundir Maracatu com Maculelê.

Cada um dos argumentos rende um post em resposta, mas condensarei as respostas em um texto um tanto quanto extenso.

Sir Mattos, meu Cherinho, sim, o relacionamento diz respeito a quem se relaciona. Contudo, entretanto, porém e todavia, o relacionamento de uma banda é com o seu público. As atitudes deles refletirão na minha reação que impactará novamente neles e assim infinitamente. É lindo o discurso que vários artistas utilizam dizendo que criam suas obras apenas pelo seu impulso artístico, sem se preocupar nas opiniões favoráveis ou contrárias, sem pensar se irão ou não agradar. Mas isso é uma grandessíssima balela.

Quando se cria, se cria para alguém. Ao menos a partir do momento em que se resolve mostrar o que foi criado à outrem. A partir desse momento, o público passa a fazer parte do relacionamento. Se não estiver interessado em saber a opinião do público, não mostre para ninguém, passe o resto da vida tocando no seu quarto ou na garagem de casa, e estará tudo certo. Neste caso sim, o relacionamento se restringe apenas à banda. A partir do momento em que o que é feito é exposto, haverá sim uma reação e uma relação com quem recebe. Isso faz parte de qualquer processo comunicativo: Emissor – Mensagem – Canal – Receptor – Feedback. Não quer o feedback, elimine o receptor.

Contudo, ao defender esta argumentação, não estou dizendo que quando se cria algo deve-se pensar em fazê-lo exclusivamente no intuito de agradar aos outros. A arte prima pela originalidade, e isso inevitavelmente vai gerar reações favoráveis e contrárias ao que foi criado. Assim como eu lamento a saída do Jean, é provável que hajam pessoas que tenham dado graças a deus por isso. E é aí que mora a graça da coisa toda.

Sei que talento todos têm, e talvez façam algo tão bom quanto, ou até melhor. Mas já não será mais a Samambaia Sound Club. Como o próprio Guesser falou, vai ser uma coisa nova, que pode ser melhor, ou não. Certamente eu vou assistir, para só depois emitir minha opinião, mas para mim não será a SSC. Será a nova banda de pessoas que eu gosto e por quem tenho uma profunda admiração.

Ser uma coisa nova pode ser bom, pode ser ótimo, pode ser muito melhor, mas em nenhum momento será a Samambaia Sound Club. Não o que eu tenho como SSC na minha ideia, e não digo isso querendo afirmar que o Jean é melhor do que os outros que permaneceram, mas que a química do encontro deles, é que fazia da banda o que ela era. Essa perda de punch já ficou muito clara com a saída do Jaguarito. Com a saída do Jean, há uma profunda descaracterização.

Pegue o Eric Clapton para o lugar do George, o David Gilmour para o lugar do Jhon e refaça os Beatles. Eles são ótimos! Tecnicamente a banda com certeza ficará muito melhor! Mas não serão, nem de longe, o que foram os Beatles.

O Deep Purple faz décadas que se tornou uma banda cover de si mesma.

André, entendo teu sentimento em relação à Samambaia e a valoração que queres dar ao teu empenho em fazê-la dar certo. Mas se algum dia vocês realmente foram uma banda, o foram por que a soma dos talentos de vocês, dos ideais que cada um de vocês tinha para a música, criou o projeto Samambaia Sound Club.

Joãozinho se casou com Mariazinha, nesta época, planejaram ter dois filhos, um menino que se chamaria Pedrinho, e uma menina que se chamaria Paulinha. Planejaram ainda que morariam na praia e que teriam um fusquinha, e além disso um cachorro, um poodle, chamado Totó. Eis que os anos se passaram, e o divórcio se meteu no casamento de Joãozinho e Mariazinha. Algum tempo depois Mariazinha conheceu Alfredinho, e reciprocamente se apaixonaram. Estavam planejando se casar, mas a coisa ficou complicada por que Mariazinha insistia veementemente que queria ter dois filhos, um chamado Pedrinho, e uma menina chamada Paulinha, ela ainda queria morar na praia e ter um fusquinha, e além disso um poodle chamado Totó. Não faz sentido.
Os planos eram com aquela primeira pessoa, eram os planos dos dois.
Eram sim planos muito bons, mas não faz sentido querer realiza-los com outra pessoa assumindo o papel de executor de algo que fora planejado por outra. É injusto com quem foi e com quem vem.

Mas isso não impede que novos planos sejam traçados, que planos tão bons quanto aqueles sejam feitos, ou até mesmo melhores do que os anteriores.
Dia desses li um texto excelente do Marcelo Rubens Paiva, chamado “E daí que acaba?”. O texto falava exatamente dessa questão de acabar ou não algo pelo qual tenhamos apostado tantas fichas. O enfoque do texto são os relacionamentos amorosos, mas ele dá vários exemplos interessantes, como: “Uma noite de prazer acaba. Um banquete acaba. Uma viagem inesquecível acaba. O fim de semana na ilha paradisíaca, um campeonato, o dia, o ano, o gozo, um livro, um disco, um banho de banheira acabam. Não por isso, evitamos outros.”

Acabar, neste caso e no meu ponto de vista, não significa uma traição e/ou abandono ao empenho que foi dado ao projeto, mas apenas um reconhecimento de que a banda alcançou um patamar que poucas por estas plagas conseguiram: uma identidade. Se eu defendo o fim da banda, é exatamente por achá-los muito bons! Não acho que o Jean seja o melhor de vocês e que ele carregava a banda nas costas, em hipótese alguma acho isso. Acho que vocês juntos, eram ótimos, excelentes. E de tão bons que foram, conseguiram uma unidade, uma identidade muito forte. Não vejo outra banda de Florianópolis com essa característica. Isso é uma virtude, não um defeito.

Tanto quanto eu quero ver o Jean no teatro do SESC com seus tantos projetos, eu também quero te ver tocando, admiro demais tua versatilidade enquanto baterista, e tens uma musicalidade realmente muito apurada. Um dos meus programas preferidos é ir no Donovan ver TH e a Claudionor’s tocar. O fato de terem feito algo muito bom, pelo qual se empenharam tanto juntos, não significa que mudar os rumos seja negar o que foi feito, pelo contrário. A vida, absolutamente tudo na vida, é cíclico.

Sim, eu vejo a banda da frente do palco. Mas não acho que a banda seja a pessoa que está no centro do palco. A frente do palco é o lugar que me cabe, os bastidores não estão ao meu alcance, e ainda que estivesse, não tenho interesse nele. Mas a vista da frente do palco me dá uma visão totalizada da obra que vocês são, e que dos bastidores vocês não conseguem enxergar. Do palco, vocês vêem uns aos outros. Da frente do palco, eu vejo a banda.

Dar sequência neste projeto então coletivo, em função do empenho e do sonho pessoal, seria algo como tornar a banda Samambaia Sound Club, em: André Guesser e a Samambaia Sound Club.

Por fim, ao terceiro comentário, praticamente um comentário infanto-juvenil, eu quase não respondi, exatamente por achá-lo tão superficial, bobinho. Mas vamos lá. Quando se torce para um time, tu torces pela instituição, o time é maior do que as pessoas, o Santos existia antes do Pelé, e existirá depois do Neymar. Por vezes ele dominará o Brasil, e em outras ocasiões será o saco de pancadas do Brasil, e mesmo assim ele continuará com a grandeza do coração dos seus torcedores. Torcedor independe dos jogadores que estão em campo. Utilizemos o próprio Guesser, que por dez anos seguidos viu o seu Avaí ser o grande freguês do meu Figueira, e nem por isso tornou-se menos avaiano. Agora ele sente o doce sabor da breve inversão de papéis, mas não é isso que o tornará mais avaiano. A relação time-banda, é uma falácia de generalização apressada, falsa indução ou, tecnicamente falando: Dicto Simpliciter. Pegar duas entidades que não possuem nenhuma relação direta, que não tem fins convergentes e compará-las, é ingênuo demais. Digo ingênuo, para ser cortês.
Repito a canção que já citei anteriormente: NÃO CONFUNDA MARACATU COM MACULELÊ!

Eu não quero ser o dono da verdade e nem determinar o que deve ou não ser feito, mas tenho a plena convicção de que, hoje, a SSC já faz parte da história da música catarinense. Ela é/foi única, em estilo, em pegada, em presença de palco, em provocação, e isso tudo pela soma dos talentos que só a minha querida Barreiros seria capaz de unir. Mas ao modificar, ainda que surjam novos talentos, será sempre a banda que será comparada com ela mesma, e isso é totalmente desnecessário. Até pelo fato de que todos os que fazem parte da banda têm plenas capacidades de criar novas coisas, tão boas quanto aquelas que criaram com a SSC. Mas separados (e ainda juntos), correrão o sério risco de se tornarem uma banda cover de si mesma.

10 comentários:

André Guesser disse...

David, acho que estou dando muita atenção para tanta merda que andas falando. Não sei se queres chamar a atenção ou fazer sensacionalismo, mas que esse tal contra-argumento é idiota, isso é.
Agora vamos ficar discutindo isso pro resto da vida? Eu só tentei explicar que as coisas não são bem assim, mas Infelizmente não compreendesse meus argumentos.
Se tu fosse músico, talvez compreendesse melhor, porque da frente do palco tu só pode analisar a música, a performance. Tu não sabe como surgiu aquele arranjo, como desenhamos um figurino, como montamos um material, como conseguimos tocar em determinado lugar, etc, etc, etc, coisas que acontecem muito antes do palco e que sem isso nada seria possível.
Acho a tua análise muito boba, fraca e obvia. Ora, a SSC mudou e daí? Queres mudar o nome? Muda o teu, do teu filho, deixa que o nosso nós cuidamos.
Tu nunca vai entender do lado de fora, mas se um dia eu tiver um tempo, tomamos um café e te explico como funciona a máquina. Aliás, vê se vai ao show e presta atenção, porque sempre estás bêbado, berrando e atrapalhando.

Abs
André Guesser

p.s. pior que a historinha do futebol tem tudo a ver. O time muda, mas o nome não. O jogador muda, a finta muda, mas o time não. O técnico muda, a tática muda, mas o time não. E mesmo assim continuamos torcendo.

Anônimo disse...

Com licença Mattos, essa é uma resposta para o líder da SSC.
É assim que se perde os poucos fãs que ainda restam. Sinto muito que uma banda que era tão boa seja atingida por toda essa soberba. E de tão superiores, não conseguem ouvir críticas. Estejam abertos meus queridos, quem dá ibope a vcs é o público, se a opinião deles não importa, pra que subir ao palco?

Anônimo disse...

pessoal, caaaaalllllmmaaaa. Vamos esperar pra ver?

André Guesser disse...

Anônimo, veja bem quem não aceitou a contra-crítica. Tu tens um blog, falas o que queres, mas não queres escutar?
Acho que os textos do David são bons, mas apenas cômicos, como era no To Puto.
Doa a quem doer (olha que está doendo em poucos), a SSC está aí mas viva e linda do que nunca. E podem apostar que o Jean está lindo e melhor do que nunca, porque ele não depende da SSC, é bom pra caralho, como está mostrando e isso vale pra nós.
A vida continua!
Se tu tivesse mandado o teu nome, colocaria na lista dos Vips no próximo show.
Abs
André Guesser

Josué Mattos disse...

Confesso que nunca fui um grande fã da SSC, nunca parei para escutá-los, essa é a verdade.. mas sei que são bons, ótimos e que a banda virou uma instituição, a unidade que você falou.. podem sair todos, um passa o legado para o outro e a coisa continua..

Sou fã do Guesser! Sou fã do Jean. Aprendi a ser fã do Thiago (é que ele era da ChapAção que me derrotou na campanha pela presidencia do Gremio Estudantil no Elisa), sou fã do Zenk (faz tempo que saiu), ou seja, sou fã das pessoas, e agora, mais do que nunca, quero vê-los e acompanhá-los.. Agora que eu quero ver a banda estourar e provar que eles podem sim ter identidade nova..

Na minha frustada e breve estória de músico, quando eu tinha uns 16 anos, eu achava que Raul Seixas era um Deus, até rezava para ele.. coisa de adolescente, mudei, mas continuo sendo eu mesmo, apenas melhorado (ou não), mas ainda sou eu.. como disse o Guesser, não vou mudar meu nome por isso..

Ps. Ainda gosto de Raul Seixas, das músicas e dele também, mas sei que ele não é,não foi e nem será um Deus..

Beijundas

Anônimo disse...

Não necessariamente pela saída do Jean a banda vai perder a sua identidade, talento ou reputação, todos os integrantes são bons e acabam se complementando. O problema é que sem o Jean a SSC perde a graça, fica "sem sal".

Josué Mattos disse...

Vamos acalmar os ânimos? Acessem e participem da minha campanha para restituir a paz! hehe

http://sirmattos.blogspot.com/2010/03/vamos-falar-de-amor.html

Anônimo disse...

Pelo o que eu tenho ouvido por aí, o Mattos só verbalizou o que todos estão dizendo por trás. Teve a coragem que ninguém teve. E concordo com ele.

Tanto Faz! disse...

Nunca gostei de Samambaia. Com ou sem Jean, dá no mesmo pra mim. Agora uma coisa é fato, esse André Guesser é um babaca.

Anônimo disse...

Rapazi, a samambaia sempre foi um terror, aquela gazela vocal é muito chata, repetitiva e indigesta. Na verdade acho que os outros tinham vergonha daquilo. Agora o negócio deve continuar ruim, porque vazo ruim não quebra, mas talvez eu volte a assistir os shows. Jean vai pra outro estado meu filho.