quinta-feira, 13 de maio de 2010

Aquele amante à moda antiga


No auge da maturidade que se é possível ter nos seus recém-completados quatorze anos, ligou para aqueles lábios, os quartos que beijara, primeiros que forneceram-lhe coragem suficiente para um pedido de namoro, e disse, Amanhã te farei uma surpresa, Eu sei o que é, disse ela, Sabe nada, retrucou ele, Sei sim.

E nessa de sei não sei, foram uns tantos minutos, e umas duas advertências da mãe lembrando que já estava há tempo demais no telefone, e deste jeito não haveria jeito da conta baixar.

Tantos foram os “sei o que é; não sabe”, quanto os “então diz; não, diz você”.
Amanhã você saberá, Mas eu já sei, evoluía o diálogo sem sair do lugar, Mas se você quiser saber, eu digo o que é, disse ela, Não, deixa que eu digo, então, respondeu ele.
Não, não me diga, eu vou dizer o que acho que é, e você me diz se eu estou certa, Tudo bem, então diga.

Nem os anos conseguem ser tão arrastados quanto os segundos que antecedem revelações como aquela, ele estava nervoso, mas não deixava transparecer. Ela estava segura, e não fazia questão de disfarçar, até por imaginá-lo tão seguro quanto.

Amanhã você vai me comer!

Silêncio.

Viu? Acertei! Fala a verdade, era isso, né? Você vai me comer, essa era a surpresa, né? Eu sabia que você ia querer, eu também quero, tenho certeza que vai ser bem legal.

É. É isso. Vai ser legal.

Os segundos voltaram a ter sua duração habitual, e rapidamente a ligação foi findada.

Antes de dormir, perguntou para a mãe se poderia trocar de escola, já, amanhã. Não queria mais estudar naquele mesmo lugar que estudara desde o primário.

Não podia. Não havia razão para tanto. Eles moravam perto da escola, o ensino era bom e o preço era justo, continuaria estudando ali e ponto final.

Apesar da pouca idade e embora não houvesse na sua família qualquer vestígio de realeza, era também ele um amante à moda antiga, e por isso foi dormir chorando baixinho.

Sua tristeza não era pelo medo de perder a virgindade sem o prévio preparo emocional, mas por saber que a surpresa que planejara, não era bastante para sua jovem musa. Não seria no dia seguinte a primeira vez que diria: ‘eu te amo’.

5 comentários:

Daca disse...

bebende pela manhã e no trabalho.. que vergonha, Mattos..

Lamaringoni disse...

sensível.

eu gosto!

beijinho

Clarice disse...

O texto ficou romântico, fofo, adorei! Mas a melhor parte dele é a foto, à moda antiga mesmo está é o figurino do rapaz que está nela.


Beijos Mattos

Anônimo disse...

lindo.

jean mafra em minúsculas disse...

uau!!!

e que precoce, hein?!?