quarta-feira, 30 de junho de 2010

Fidelidade


Foi no silêncio agressivo que veio na pausa após o gole simultâneo que demos nos nossos capuccinos, o meu com creme, o seu sem, que tive certeza, Se for para ter um filho, terá que ser desse homem.

Mas você torce para o Palmeiras, e homem nenhum oferece a mim o que o Corinthians me traz.

Um pouco mais cedo, lá no trabalho, em vão tentei resistir, mas mandei um email para você confessando o impacto da sua presença em mim, como um tapa bem forte, meio na face, meio na têmpora, desses que deixam a mulher tonta por minutos que assemelham-se a séculos.

Inventava desculpas para levantar da minha mesa, só para ver você, esforçando-me para que ninguém percebesse o imã que sua imagem era para meu olhar. Nunca tomei tanto café na vida, nunca tomei tanta água na vida, nunca fui tanto ao banheiro – sem precisar – na vida, só para ver você um pouco mais. Pensei, Se for para ter um filho, terá que ser desse homem.

Mas você torce para o Palmeiras, e ainda que lindo, beleza nenhuma se compara àquela camisa branca com o timão no lado esquerdo do peito.

Eu tenho a mais convicta certeza de que você tem a exata dimensão da simetria dos seus traços, da sua beleza inequívoca, do seu porte irretocável, da sua elegância ímpar. Você sabe, seja pelo seu perfume ou pelo seu porte, não há mulher que não repare no tanto que você é.

Ainda no trabalho, você levantou para pegar um café, eu fui atrás, como quem não quer nada, só para sentir um pouco do seu perfume que me desnorteia. Você sorriu para mim como quem olha para uma qualquer, como que sabendo que me desmontava com aquele sorriso, e piscou com o olho direito de um jeito que nenhum outro mortal é capaz. Eu pensei, Se for para ter um filho, terá que ser desse homem.

Mas você torce para o Palmeiras, e homem nenhum, por mais belo que seja, traz a beleza do branco sobreposto ao preto, como o Corinthians traz na sua carga genética.

Foram dois os seus casamentos e, de um deles, ainda que tenha sido sofrido pela possessividade dela, nasceu o que você fez de melhor na vida, uma filha linda, com traços tão perfeitos quanto os seus. Quis ser ela, sua primeira esposa, só para ser eu a privilegiada que gerou um filho seu.

Mas você torce para o Palmeiras, e sua filha também. E no Parque Antártica eu só entro se for na torcida visitante.

Pensei em conquistar você, eu sei que posso. Posso até não ser o ideal da beleza feminina, ando meio fora de forma, eu sei disso, tanto quanto sei que ainda tenho meu charme. Pensei em conquistar você só para mostrar-lhe que, por mais esperança que o verde traga, para o Corinthians nada é impossível.

Tive que me conter para não dar pulos de alegria quando meu celular acusou uma mensagem sua me convidando para um capuccino após o expediente.

Foi tão lindo ver você tão lindo e tão perto de mim, tão só meu, ao menos naquele momento. Pensei, Se for para ter um filho, terá que ser desse homem. Naquele Café que fomos, tive certeza, mulher nenhuma faria por você o que eu faria. Homem nenhum faria por mim o que você já faz.

Mas, meu amor, por mais amor que talvez eu já sinta, você não é o Corinthians.

3 comentários:

Lamaringoni disse...

é, essa é mesmo a maior das fidelidades.

saudades de ti!

beijim!

jean mafra em minúsculas disse...

adorei isso.

Shuzy disse...

Tá parecido com os meus textos apaixonados... hahaha
Claro a única diferença é que onde no seu há humor, nos meus há depressão! ;*P